domingo, 30 de novembro de 2014

Lutar contra a soberba

Ouvimos falar de soberba e talvez pensemos numa atitude despótica e avassaladora, com grande barulho de vozes que aclamam o triunfador que passa, como um imperador romano, debaixo dos altos arcos, inclinando a cabeça, pois teme que a sua fronte gloriosa toque o alvo mármore...

Sejamos realistas. Este tipo de soberba só tem lugar numa fantasia louca. Temos de lutar contra outras formas mais subtis, mais frequentes: o orgulho de preferir a própria excelência à do próximo; a vaidade nas conversas, nos pensamentos e nos gestos; uma susceptibilidade quase doentia, que se sente ofendida com palavras ou acções que não são de forma alguma um agravo... Tudo isto, sim, pode ser, é uma tentação corrente. O homem considera-se a si mesmo como o sol e o centro dos que estão ao seu redor. Tudo deve girar em torno dele. Por isso, não raramente acontece que ele recorre, com o seu afã mórbido, à própria simulação da dor, da tristeza e da doença: para que os outros se preocupem com ele e o mimem.

A sua amargura é contínua e procura desassossegar os outros, porque não sabe ser humilde, porque não aprendeu a esquecer-se de si mesmo para se entregar, generosamente, ao serviço dos outros por amor de Deus. 

S. Josemaria Escrivá in Amigos de Deus, 101


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sábado, 29 de novembro de 2014

Conheça a freira que foi economista do Banco de Portugal durante 13 anos


Lúcia Maria é licenciada em economia pelo ISEG e trabalhou durante 13 anos no Departamento das Reservas Externas do Banco de Portugal, onde coordenava o grupo que fazia a avaliação da performance da gestão de reservas sobre o exterior. Estava num banco que "pagava bem, com perspetivas boas de carreira e tinha um trabalho aliciante", mas não se sentia feliz e decidiu arriscar um caminho diferente.

Em 2004, chegou ao Carmelo de Nossa Senhora Rainha do Mundo, da ordem dos Carmelitos Descalços, no Patacão (concelho de Faro). Menos de um ano depois, foi revestida do hábito de Nossa Senhora do Carmo e, hoje, faz parte de uma comunidade de 16 carmelitas descalças. Em entrevista à Folha do Domingo, Lúcia Maria explica como decidiu mudar de uma carreira no Banco de Portugal para uma vida de clausura no Algarve.

"A missão principal [do Banco de Portugal] é o bem estar da situação monetária e financeira do país. Dava-me gosto quando lá estava e agora, como religiosa, dá-me gosto também ter essa consciência de que trabalhava para o bem. Contribuíamos para o bem-estar. Pelo menos tentávamos trabalhar com toda a responsabilidade e empenho para o bem-estar público, o bem-estar comum", lembra a carmelita, na entrevista à publicação propriedade da Diocese do Algarve.

Entrou para o Banco de Portugal através de um estágio, ao mesmo tempo que vários colegas do então Instituto Superior de Economia, e ficou efetiva no final do estágio. Gostava de aprender e de estudar, fazia "aquilo que era próprio dos jovens", apaixonou-se três vezes e queria casar e ter muitos filhos.

Depois da morte da mãe, no seu último ano de curso, percebeu que "havia variáveis exógenas que aparecem e que ninguém controla". Nessa altura, não se revoltou, mas deparou-se com "algo muito superior" a si. A mãe era catequista e o grupo a quem ensinava ficou sem catequista. "Levei o grupo até à primeira comunhão mas depois comecei-me a afastar", conta. Gostava de pensar pela minha cabeça e havia certas coisas na Igreja que achava que não estavam bem. O erro está não só em não pensarmos a sério no porquê das coisas, mas também em não irmos procurar as suas razões profundas. Ficamos na onda do que ouvimos dizer e foi isso que me aconteceu. Fui-me afastando porque achei que havia certas coisas que não faziam sentido nenhum".

Mas, em 2000, o seu sentimento mudou. "É uma experiência muito bonita de se ser enamorada por Deus. As coisas iam-me acontecendo e eu ia tendo consciência de que alguma coisa estava a mudar e a chamar por mim, mas não percebia o que era. Olhando agora para trás, percebo que logo no princípio do ano 2000 o evangelho de cada domingo mexia muito comigo. Aquilo era para mim! Eu ouvia e Ele estava a falar comigo! Mas continuava a minha vida normal".

Depois de quase 10 anos sem se confessar, teve "um impulso" na quinta-feira santa desse ano e confessou-se na igreja de São Nicolau, em Fátima. "Foi um momento de graça porque me senti pecadora e o quanto o nosso pecado ofende ao Senhor, mas, ao mesmo tempo, como Ele derramava a sua misericórdia". Ainda nesse ano, foi à Terra Santa, numa viagem organizada pela sua paróquia. Foi nesse momento que percebeu que "ser religioso e ser cristão não é só ir ao domingo à igreja, tentar não fazer o mal e portar-me bem. É mais do que isso, é viver intimamente com Deus. Então, viver intensamente o real era eu, com a consciência que Ele me envolvia, ser economista e fazer o melhor que sabia com o sentido de, com o meu trabalho, dar glória a Deus", diz.

Aí, decidiu que queria ser carmelita, que "nem sabia o que era". Começou a procurar sites de ordens religiosas na internet e ia sempre parar aos dos Carmelos. "Imprimi o horário de vida de um dos Carmelos e a minha mana entrou de repente no meu quarto. Eu estava com o papel na mão e meti-o rapidamente num livro sobre os mártires do século XX, não fosse ela pensar que eu estava maluquinha se soubesse que andava a consultar ordens religiosas", relembra.

A sua decisão foi "muito dolorosa" para a sua família, particularmente para a irmã. Trabalhou durante mais um ano no Banco de Portugal, pediu à instituição para regressar eventualmente e o regresso foi concedido. "Mas o Senhor continuou a insistir e aqui estou".

Quando o seu orientador espiritual a aconselhou a escolher uma comunidade, lembrou-se de um visitante com quem esteve no Carmelo de Fátima, que comentou que tinha gostado muito da comunidade de Faro. "Fui à lista telefónica, liguei para cá e vim passar uns dias".

Nove anos depois de ter chegado à ordem dos Carmelitos Descalços, Lúcia Maria, que nunca tinha pegado numa agulha, faz os hábitos. Levanta-se às 6h, faz uma hora de oração silenciosa e vai à missa às 7h30. Reza, toma o pequeno-almoço e trabalha até ao meio dia, altura em que vai de novo rezar e, depois, almoçar. A seguir ao almoço, tem uma hora de recriação e convive com as restantes carmelitas. No final do recreio, faz uma visita ao Santíssimo Sacramento e tem uma hora livre. Volta ao trabalho, volta à oração silenciosa e janta. Depois de mais de uma hora de recriação e oração, vai dormir.

Tem a certeza de que conseguiu atingir a felicidade que antes não havia conseguido encontrar e sente-se "plenamente realizada". "Não posso dizer que atingi a meta da felicidade porque isso é sermos santos e ainda não somos. É um caminho que Deus vai fazendo connosco".

in Dinheiro Vivo


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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Pensamento sobre a morte - Papa Paulo VI

Aproxima-se a hora da minha partida: Tempus resolutonis meae instat (2 Tim 4,6)

Sei que em breve deixarei a minha tenda: Certus quod velox leste depositio tabernaculi mei (2 Ped 1, 14)

O fim aproxima-se; aproxima-se o fim: Finis venit, venit finis (Ez 2,7)

Impõe-se-nos esta óbvia consideração sobre a precariedade da vida temporal, e sobre a aproximação inevitável e cada vez mais próxima do seu fim. Não é sábia a cegueira perante um tão inevitável destino, perante a desastrosa ruína que traz consigo, perante a misteriosa metamorfose que está prestes a dar-se no meu ser, perante o que está para vir.

Vejo que a consideração prevalente se torna extremamente pessoal : eu, quem sou? o que resta de mim? para onde vou? E portanto extremamente moral: o que devo fazer? quais são as minhas responsabilidades?

Vejo também que é vão ter esperanças a respeito da vida presente; a respeito desta vida, têm-se deveres e expectativas funcionais e momentâneas; as esperanças são para o além.

E vejo que esta suprema consideração não pode desenvolver-se num monólogo subjectivo, no normal drama humano que, ao crescer da luz faz crescer a obscuridade do destino humano; deve desenvolver-se em diálogo com a Realidade Divina, de onde venho e para onde certamente vou; segundo a lâmpada que Cristo nos põe nas mãos para a grande passagem. Creio, ó Senhor.

Vem a hora. Desde há algum tempo que eu tenho este pressentimento. Mais ainda do que o cansaço físico, prestes a ceder a qualquer momento, o drama das minhas responsabilidades parece sugerir como solução providencial o meu êxodo deste mundo, a fim de que a Providência possa manifestar-se, trazendo a Igreja a uma melhor sorte. Sim, a Providência tem muitos modos de intervir no jogo formidável das circunstâncias, que limitam a minha pequenez; mas o modo da minha chamada para a outra vida parece óbvio, para que possam intervir outros mais válidos e não vinculados pelas presentes dificuldades. "Servus inutilis sum": sou um servo inútil.

Ambulate dum lucem habetis: Caminhai enquanto tendes a luz (Jo 12, 35). No meu fim, gostaria de estar na luz.

Normalmente, o fim da vida temporal, se não é obscurecida pela enfermidade, tem uma clareza nebulosa: a das memórias, tão belas, tão atraentes, tão nostálgicas; e finalmente tão clara, para denunciar o seu passado irrecuperável e para zombar da sua desesperada recordação.

Há a luz que revela a decepção de uma vida baseada em bens efémeros e em falsas esperanças: aquela de obscuros e já ineficazes remorsos. E há a luz da sabedoria, que finalmente entrevê a vaidade das coisas e o valor da virtude que devia caracterizar o curso da vida: "vanitas vanitatum": vaidade das vaidades.

Quanto a mim, quero ter finalmente uma noção resumida e sapiente sobre o mundo e sobre a vida: penso que tal noção deveria exprimir-se em reconhecimento: tudo foi dom, tudo foi graça; e como foi belo o panorama através do qual tudo se passou; muito bom, tanto que se me deixou atrair e encantar, quando devia aparecer como sinal e chamada.

Mas, de qualquer modo, parece que a despedida se deva exprimir num grande e simples acto de reconhecimento, mais ainda, de gratidão: esta vida mortal é, não obstante as suas dificuldades, os seus obscuros mistérios, os seus sofrimentos, a sua fatal caducidade, um facto belíssimo, um prodígio sempre original e comovente, um acontecimento digno de ser cantado em alegria e em glória: a vida, a vida do homem!

Não menos digno de exaltação e de feliz surpresa é o quadro que circunda a vida do homem: este mundo imenso, misterioso, magnífico, este universo das mil forças, das mil leis, das mil belezas, das mil profundidades. É um panorama encantador. Parece prodigalidade sem medida. Assalta-me, neste olhar retrospectivo, o remorso de não ter observado, tanto quanto mereciam, as maravilhas da natureza, as riquezas surpreendentes do macrocosmos e do microcosmos. Porque não ter estudado o suficiente, explorado e admirado a instância em que a vida se desenvolve? Que imperdoável distração, que repreensível superficialidade!

No entanto, pelo menos in extremis, deve-se reconhecer que aquele mundo, "qui per Ipsum factus est", que foi feito por meio d'Ele, é estupendo. Eu te saúdo, eu te celebro, no último instante, sim, com imensa admiração; e, como dizia, com gratidão: tudo é dom; por trás da vida, por trás da natureza, do universo, está a Sabedoria; e finalmente, eu o direi nesta despedida luminosa (Tu no-lo revelaste, ó Cristo Senhor): está o Amor!

O cena do mundo é um desígnio, hoje na sua maior parte ainda incompreensível, de um Deus Criador, que se chama o Nosso Pai que está nos céus! Obrigado, ó Deus, graças e glória a Ti, ó Pai!

Neste último olhar, eu percebo que esta cena fascinante e misteriosa é um revérbero, um reflexo da primeira e única Luz; é uma revelação natural de uma extraordinária riqueza e beleza, que deve ser uma iniciação, um prelúdio, uma antecipação, um convite para a visão do invisível Sol quem nemo vidit unquam, que ninguém jamais viu (cf. Jo 1,18): unigenitus Filius, qui est em sinu Patris, Ipse enarravit, o Filho unigénito, que está no seio do Pai, Ele é que o revelou. Assim seja, assim seja.

Mas agora, neste ocaso revelador, um outro pensamento, além do da última luz vespertina, preságio da eterna aurora, ocupa o meu espírito: e é a ânsia de aproveitar, na undécima hora, a pressa de fazer qualquer coisa de importante, antes que seja demasiado tarde. Como reparar as acções mal feitas, como recuperar o tempo perdido, como agarrar, nesta última possibilidade de escolha, o lunum necessarium, a única coisa necessária?

À gratidão sucede o arrependimento. Ao grito de glória a Deus, Criador e Pai, sucede o grito que invoca misericórdia e perdão. Que ao menos isto eu saiba fazer: invocar a Tua bondade, e confessar com a minha culpa a Tua infinita capacidade de salvar. "Kyrie eleison; Christe eleison; Kyrie eleison". Senhor, tem piedade! Cristo, tem piedade! Senhor, tem piedade!

Aqui aflora à mente a pobre história da minha vida, tecida, por um lado, pelo urdido de singulares e inumeráveis benefícios, provenientes de uma bondade inefável (é esta que, espero, poderei um dia ver e "in eterno cantare"); e, por outro lado, atravessada por uma trama de miseráveis acções, que seria preferível não recordar, tanto são faltosas, imperfeitas, erradas, incipientes, ridículas. Tu scis insipientiam meam: Deus, Tu conheces a minha estultícia (Sl 68,6). Pobre vida miserável, tacanha, mesquinha, tão tão necessitada de paciência, de reparação, de infinita misericórdia. Sempre me parece suprema a síntese de Sto. Agostinho: miséria e misericórdia. Miséria minha, misericórdia de Deus. Que eu possa pelo menos agora honrar Quem Tu és, o Deus de infinita bondade, invocando, aceitando, celebrando a Tua dulcíssima misericórdia.

E depois um acto, enfim, de boa vontade: não mais olhar para trás, mas fazer, de boa vontade, simplesmente, humildemente, fortemente, o dever resultante das circunstâncias em que me encontro, como Tua vontade. Fazer imediatamente, fazer tudo, fazer bem. Fazer alegremente: aquilo que Tu agora queres de mim, ainda que supere imensamente as minhas forças e se me peça a vida. Finalmente, nesta última hora. Inclino a cabeça e elevo o espírito. Humilho-me a mim próprio e exalto a Ti, Deus, "la cui natura è bontà" (São Leão). Deixa que nesta última vigília eu preste homenagem, a Ti, Deus vivo e verdadeiro, que amanhã serás o meu juiz, e que Te dê o louvor que mais desejas, o nome que preferes: tu és Pai.

Depois eu penso, aqui diante da morte, mestra da filosofia da vida, que o acontecimento entre todos maior foi, para mim, como o é para quantos têm a mesma sorte, o encontro com Cristo, a Vida. Tudo aqui seria para voltar a meditar, com a clareza reveladora que a lâmpada da morte dá a um tal encontro. Nihil enim nobis nasci profuit, nisi redimi profuisset. A ninguérm de facto teria valido a pena nascer se não tivesse sido redimido.

Esta é a descoberta da proclamação da Páscoa, e este é o critério de valoração de todas as coisas respeitantes à humana existência e ao seu verdadeiro e único destino, que não se determina senão em ordem a Cristo: "o mira circa nos tuae pietatis dignitatio", ó maravilhosa piedade do Teu amor por nós! Maravilha das maravilhas, o mistério da nossa vida em Cristo. Aqui a fé, aqui a esperança, aqui o amor, cantam o nascimento e celebram as exéquias do homem. Eu creio, eu espero, eu amo, no Teu nome, ó Senhor.

E depois ainda eu me pergunto: porque me chamaste, porque me escolheste? Assim inepto, assim renitente, assim pobre de mente e de coração? Eu sei: quae stulta sunt mundi elegit Deus… ut non glorietur omnis caro in conspecto eius. Deus escolheu o que é débil no mundo, para que nenhum homem se possa vangloriar diante de Deus (1Cor 1, 27-28). A minha escolha indica duas coisas: a minha pequenez; a Tua liberdade, misericordiosa e potente. Que não se deteve nem mesmo perante a minha capacidade de Te trair: "Deus meus, Deus meus, audebo dicere, ... in quodam aestatis tripudio de Te praesumendo dicam: nisi quia Deus es. Nos Te provocamus ad iram. Tu autem conducis nos ad misericordiam!": Meu Deus, meu Deus, ousarei dizer ... num êxtase de alegria, de Ti direi com presunção: se não fosses Deus, serias injusto, porque pecámos gravemente ... e Tu Te aplacaste. Nós provocámos-Te à ira; e Tu, em vez disso, nos conduzes à misericórdia! (Pl. 40, 1150).

E eis-me ao Teu serviço, e eis-me ao Teu amor. Aqui eu estou num estado de sublimação, que não me consente mais cair na minha psicologia instintiva de pobre homem, se não para me recordar a realidade do meu ser, e para reagir na mais ilimitada confiança com a resposta, que por mim é devida: "amen, fiat; Tu scis quia amo te", assim seja, assim seja, Tu sabes que eu Te amo. Um estado de tensão toma conta e fixa um acto permanente de absoluta fidelidade a minha vontade de serviço por amor: in finem dilexit, amou até ao fim. Ne permittas me separari a Te. Não permitas que eu me separe de Ti.

O ocaso da vida presente, que sonharia ser repousado e sereno, deve, pelo contrário, ser um esforço crescente de vigília, de dedicação, de espera. É difícil; mas é assim que a morte sela a meta da peregrinação terrena e faz ponte para o grande encontro com Cristo na vida eterna. Reuno as últimas forças, e não desisto do dom total, consumado, pensando no Teu: consummatum est, tudo está consumado.

Recordo o pré-anúncio feito pelo Senhor a Pedro, sobre a morte do apóstolo: Amem, amen dico tibi... cum... senueris, extendes manus tuas, et alius te cinget, et ducet quod tu non vis. Hoc autem (Jesus) dixisset significans qua morte (Petrus) clarificaturus esset Deum. Et, cum hoc dixisset, dicit ei: sequere me: Em verdade, em verdade te digo ... quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e um outro te cingirá e te levará onde não queres. Isto lhe disse para indicar com que morte ele haveria de glorificar a Deus. E, dito isto, acrescentou: "Segue-me" (Jo 21, 18-19).

Eu sigo-te; e sinto que não posso sair secretamente da cena deste mundo; mil fios me ligam à família humana, mil à comunidade que é a Igreja. Estes fios romper-se-ão por si; mas eu não posso esquecer que eles me exigem um supremo dever. Discessus pius, morte pia. Terei diante do espírito a memória de como Jesus se despediu da cena temporal deste mundo. Recordarei como Ele teve contínua previsão e frequente anúncio da sua paixão, como mediu o tempo na espera da "sua hora", como a consciência dos destinos escatológicos encheu o seu ânimo e o seu ensinamento, e como da sua morte iminente falou aos discípulos nos discursos da última ceia; e, finalmente, como quis que a sua morte fosse perpetuamente comemorada mediante a instituição do sacrifício eucarístico: mortem Domini annuntiabitis donec veniat: anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha.

Um aspecto sobre todos os outros principal: tradidit semetipsum, entregou-se por mim; a sua morte foi sacrifício; morreu pelos outros; morreu por nós. A solidão da morte foi plena da nossa presença; foi penetrada de amor: dilexit Ecclesiam, amou a Igreja (recordar "le mystère de Jésus", de Pascal). A sua morte foi revelação do seu amor pelos seus: in finem dilexit, amou-os até ao fim. E do amor humilde e ilimitado deu no termo da vida temporal exemplo impressionante (cfr. o lava-pés), e do seu amor fez termo de comparação e preceito final. A sua morte foi testamento de amor. Deve ser lembrado.

Portanto, peço ao Senhor que me dê a graça de fazer, da minha próxima morte, dom de amor à Igreja. Poderei dizer que sempre a amei; foi o seu amor que me tirou do meu selvagem e tacanho egoísmo e me enviou para o seu serviço; e que para ela, e não por outra coisa, me parece ter vivido. Mas desejo que a Igreja o saiba; e que eu tenha a força de lho dizer, como uma confidência do coração, que só no último momento da vida se tem a coragem de fazer.

Quero finalmente compreendê-la toda na sua história, no seu desígnio divino, no seu destino final, na sua complexa, total e unitária composição, na sua humana e imperfeita consistência, nos seus infortúnios e sofrimentos, nas fraquezas e nas misérias de tantos dos seus filhos, nos seus aspectos menos simpáticos, e no seu esforço perene de fidelidade, de amor, de perfeição e de caridade. Corpo Místico de Cristo.

Quero abraçá-la, saudá-la, amá-la, em todos os seres que a compõem, em todos os bispos e sacerdotes que a assistem e guiam, em todas as almas que a vivem e a ilustram; quero abençoá-la. Também porque não a deixo, não saio dela, mas mais e melhor com ela me uno e me confundo: a morte é um progresso na Comunhão dos Santos.

Aqui é de recordar a prece final de Jesus (Jo 17). O Pai e os meus; são todos um; no confronto com o mal que está sobre a terra e na possibilidade da sua salvação; na consciência suprema de que era minha missão chamá-los, revelar-lhes a verdade, torná-los filhos de Deus e irmãos entre si: amá-los com o Amor, que é em Deus, e que de Deus, mediante Cristo, veio à humanidade, e pelo ministério da Igreja, a mim confiado, lhe é comunicado.

Ó homens, compreendei-me: a todos vos amo na efusão do Espírito Santo, que eu, ministro, vos devia participar. Assim vos guardo, assim vos saúdo, assim vos abençoo. A todos. E a vós, mais próximos de mim, mais cordialmente. A paz esteja convosco.

E à Igreja, a quem tudo devo, e que foi minha, que direi? As bênçãos de Deus sejam sobre ti; toma consciência da tua natureza e da tua missão; tem o sentido das necessidades verdadeiras e profundas da humanidade; e caminha pobre, isto é, livre, forte e amorosa para Cristo.

Pensiero alla morte, 14/VII/1973


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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Não são os outros que devo culpar quando caio

«Amai os vossos inimigos», diz o Senhor. Amar verdadeiramente o inimigo é em primeiro lugar não se lamentar pelas injustiças sofridas. É sentir dolorosamente o pecado cometido pelo outro como uma ofensa ao amor de Deus, e é provar-lhe, por acções, que ainda o amamos. 

«Cometi um pecado? A culpa é do diabo! Sofri uma injustiça? A culpa é do outro!» – esta é a atitude de muitos cristãos. Mas não são os outros que devo culpar, pois o inimigo está nas mãos de cada um; o inimigo é o egoísmo que nos faz cair em pecado.

Feliz, portanto, o servo que sempre mantiver acorrentado este inimigo entregue em suas mãos, e estiver armado contra ele com sabedoria; desde que se comporte assim, nenhum outro inimigo, visível ou invisível, poderá fazer-lhe mal.

S. Francisco de Assis in Admoestações, 9-10 


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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Papa Francisco discursou no Parlamento Europeu

"O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida – como vemos, infelizmente, com muita frequência –, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças mortas antes de nascer."

Discurso completo aqui.


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Novo Prefeito para a Congregação da Disciplina dos Sacramentos

Ontem o Papa nomeou o novo Prefeito para a Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Esta é a congregação do Vaticano que trata de todos os aspectos ligados com a Sagrada Liturgia.

Foi esta Congregação que publicou, a pedido do Papa S. João Paulo II, o famoso documento Redemptionis Sacramentum sobre "algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia".

Também foi a mesma congregação que publicou há alguns meses instruções para se ter em conta no rito da paz, aquela parte da Santa Missa onde as pessoas se cumprimentam umas às outras. Por exemplo, foi explicado que não se deve cantar ou tocar nenhum "cântico de paz" na Missa, mas sim o "Cordeiro de Deus". O documento pode ser encontrado aqui no blog Senza.

Há um ano, o Prefeito do Culto Divino era o Cardeal Cañizares, actual Arcebispo de Valência. Ontem, o Papa nomeou o novo Prefeito, o Cardeal Robert Sarah.


Esta é uma nomeação pela qual devemos agradecer ao Santo Padre! (Como todas as nomeações, já agora.)

Em 2012, em Lyon (França), num discurso sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II, o Cardeal Sarah disse:
Por vezes, o espírito do Concílio tem sido entendido de uma forma errada como, por exemplo, na tentação de se usar os critérios do mundo para entrar em diálogo com o mundo. Estou a pensar em particular nos desvios litúrgicos, na redução da salvação a um messianismo passageiro, a uma compreensão da vida Cristã como uma espécie de compromisso humanitário, a uma fundamentação das acções sociais inspirada pela dialéctica e, portanto, perdendo a originalidade da mensagem Cristã. 
Mas "abrir-se ao mundo" não significa acabar com a contradição entre o Evangelho e o mundo, nem em suavizar a mensagem Cristã. Pelo contrário, consiste em apresentar ao nosso mundo a mensagem do Evangelho em toda a sua pureza. É Cristo que é a luz do mundo, como o Concílio afirma.


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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Centenas de milhares manifestam-se em Madrid contra o aborto

Com o lema "Cada vida importa", foi convocada por 40 associações civis uma manifestação nas ruas da capital espanhola na qual estiveram presentes 150 organizações e movimentos de todo o mundo, no passado Sábado.

Estas centenas de milhares de pessoas reuniram-se para defender a Vida e para deixar um aviso ao primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Recorde-se que Rajoy tinha prometido na campanha eleitoral que caso fosse eleito iria revogar a liberal lei abortista do anterior primeiro-ministro, José Luis Zapatero.

Dando razão às evidências que mostram o baixo índice de promessas cumpridas depois das eleições, o líder do PP deu o dito por não dito e voltou atrás na revogação da lei do aborto em Espanha. A primeira consequência deste volte-face foi a demissão do ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón, que tinha sido o autor da nova lei que deveria ter sido aprovada pelo Partido Popular.

Está desde já convocada outra manifestação com o mesmo propósito para o próximo dia 24 de Março, também em Madrid.






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A senhoria de Deus - D. Nuno Brás

O mundo parece esquecer-se cada vez mais de Deus. Ou antes: procura, como Adão, construir um deus à sua medida. Com efeito, o “divino” ou aquilo que diga respeito a uma outra eventual dimensão da vida humana que não aquela que vivemos neste momento e neste lugar da história, continua a estar presente (e muito) no nosso quotidiano. Habitualmente associado ao medo e ao horror. Como se não nos bastasse o mundo em que vivemos.

Longe vão os tempos dos racionalistas empedernidos, onde tudo era (ou parecia ser) fruto daquela lógica fria que a razão humana, com todos os seus limites, conseguia estabelecer: com um certo estoicismo, todos os comportamentos eram determinados pela lógica e pelo pensamento.

Da insuficiência da razão, resultou depois uma atitude contrária, onde tudo é sentimento, opinião, “apetecer” e “achar”. Colocámos a razão de lado. Vivemos consoante nos apetece, sem pensar, e querer assumir as responsabilidades pelo que fazemos, dizemos ou somos. Pelo menos nos tempos livres, porque no trabalho há que seguir as normas e as regras, em grande parte ditadas pela fria razão económica. Por isso muitos detestam o trabalho, ainda que o reconheçam essencial para sobreviver.

E o ser humano sente-se ou cada vez mais prisioneiro de si e das suas decisões, ou estupidamente inconsciente, a vaguear numa espécie de vazio em que transformou a sua vida.

Bem diferente é o Reino de Deus. Àquele que vive com Deus é dada a liberdade de ser. Não apenas aquela liberdade que todos os seres humanos vivem por sua natureza, mas a própria liberdade infinita que nos é dada a partilhar cada vez mais à medida que nos deixamos conhecer por Deus – e, assim, podemos ser nós próprios, conscientes das diferentes opções que tomamos e responsáveis por elas, mas com um horizonte de vida que vai muito para além do momento.

Sem que nos seja descartada a responsabilidade dos nossos actos, das nossas escolhas ou palavras, o seu peso é partilhado por Deus. E o jugo torna-se suave. E, depois, o cuidado do irmão – daquele que, ao nosso lado e connosco, de um modo ou de outro, é igualmente convidado a perceber Deus presente na sua vida.

Longe de nos tirar o que quer que seja, a senhoria de Deus na nossa vida dá-nos tudo, porque tudo é dom da Sua bondade.

in Voz da Verdade


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domingo, 23 de novembro de 2014

Juiz Carlos Alexandre: Um católico em luta pela verdade

O juiz Carlos Alexandre está nas bocas do mundo depois de ter ordenado a detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates, por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

O "juiz sem medo" ou o "Baltasar Garzón português", como alguns o tratam, é também responsável pela detenção de Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, e por grandes investigações de corrupção: Operação Furacão, Caso BPN, Máfia da Noite, Face Oculta, Remédio Santo, CTT, Operação Labirinto.

Este "super-juiz" é um católico convicto e diz quem o conhece que carrega anualmente o andor na procissão de Páscoa na sua terra-natal, a vila de Mação (distrito de Santarém).

O seu amor à verdade ficou patente neste testemunho no qual descreveu como alguém do "sistema" o tentou dissuadir de aprofundar um caso. Rezemos para que continue incorruptível na luta pela verdade e a fazer bem o seu trabalho.


"Foi-nos dito por uma pessoa com importância na praça que sabia o que estava ali a fazer porque estava ali a mando de alguém que lhe pagava e que essa pessoa contava com ele para fiscalizar aquele acto porque quando o dinheiro falava a verdade calava.

E que se esperava que nós soubéssemos também o que estávamos ali a fazer, no caso eu e o Ministério Público, porque havia um princípio muito básico e perene ao longo das civilizações – quando o dinheiro fala a verdade cala. 

E portanto nós não nos deixamos até hoje, pelo menos eu, contaminar por essa vertigem do dinheiro."


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Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo



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sábado, 22 de novembro de 2014

As corrupções de José Sócrates

Ao longo da minha (longa) vida já assisti a alguns eventos verdadeiramente inesperados, como por exemplo: O 11 de Setembro, o Cristiano Ronaldo a jogar à bola, a renúncia do Papa Bento XVI, o pintinho piu e (ontem) a detenção de José Sócrates.

Se José Sócrates é corrupto ou não não sei, a Justiça o dirá. Que é fraudulento todos sabemos porque foi uma fraude enquanto primeiro-ministro. Que é mentiroso compulsivo também, mas não sei se isso é crime.

Se realmente for culpado é justo que seja condenado, como qualquer outra pessoa. Infelizmente estamos habituados à impunidade da classe política, mas há esperança que este seja o princípio do fim dessa regalia.

Mas uma coisa é certa, mesmo que seja condenado por corrupção, nenhum tribunal condenará José Sócrates pela pior corrupção que fez: a corrupção dos valores.

Enquanto primeiro-ministro prejudicou gravemente o País com a aprovação das leis: reprodução artificial, aborto livre e a pedido, divórcio expresso, educação sexual obrigatória nas escolas, casamento entre pessoas do mesmo sexo, mudança de nome e sexo…

Os prejuízos morais causados por estas leis iníquas é incalculável e continua a aumentar, visto que o actual governo não as revogou.

Quem vai pedir contas a Sócrates por isto? Nenhum de nós tem o poder para o fazer. Mas seria bom e justo que mais do que alguém que terá “roubado” 20 milhões ou 400 milhões, José Sócrates ficasse na História como o político que mais corrompeu o direito à Vida e à Família em Portugal.

João Silveira


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Entrevista ao Embaixador de Portugal junto da Santa Sé

O Embaixador de Portugal junto da Santa Sé, António Almeida Ribeiro, projecta a vinda do Papa Francisco a Portugal, por ocasião do centenário das Aparições, em Fátima, no ano 2017.

As funções de Embaixador junto da Santa Sé são muito diferentes das funções em outras embaixadas onde já trabalhou?

Sim, são funções com uma natureza especial, ligadas à tradição católica de Portugal. O Vaticano é também um Estado e não é só a sede da Igreja Católica. Como tal, o Papa é também um chefe de Estado e, por isso, temos a presença de um Embaixador português, junto da Santa Sé, tal como a Santa Sé tem um representante – Núncio Apostólico – em Portugal. 

Portugal é um país de tradição católica e é natural que tenhamos com a Santa Sé uma relação estreita. Essa relação vem desde o ano 1179, com a bula Manifestis probatum, do Papa Alexandre III, que declara a independência do, então, ‘Condado Portucalense’. Este facto torna Portugal num dos países com relações mais antigas com a Santa Sé. Temos também os acontecimentos de Fátima, que nos aproximaram mais nos últimos 100 anos. A Igreja Católica tem um papel universal e isso é muito relevante em Portugal. Tudo isso faz com que uma presença permanente no Vaticano tenha sentido.

Quais as principais funções desta embaixada?

O dia a dia nesta embaixada é bastante diferente de uma outra representação diplomática pelo mundo. A nossa primeira função é estarmos presentes e representarmos Portugal no Vaticano, sobretudo nas cerimónias para as quais o corpo diplomático é convidado. Para além disso, a função do embaixador é de procurar manter e reforçar, a todos os níveis, as relações que existem, procurando pontos de comum interesse, projetos comuns, promover contactos ao mais alto nível entre os governos de Portugal e os responsáveis da Santa Sé.

Nesta embaixada destaco uma função muito importante que é a actividade cultural que se desenvolve com o Instituto de Santo António dos Portugueses, em Roma. Segundo a legislação em vigor, o Embaixador de Portugal junto da Santa Sé é o ‘Patrono e Protector’ do Instituto e, como tal, compete-lhe promover e apoiar as iniciativas organizadas, nomeadamente em matéria cultural. O Instituto de Santo António dos Portugueses tem uma ação notável na área cultural, quer através de concertos que são feitos ao longo de todo ano – normalmente ao Domingos, porque a Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, dispõe de um órgão extraordinário, que é reconhecido como um dos melhores que existem em Roma e até na Europa –, quer através de outras iniciativas, tais como lançamentos de livros, conferências e exposições, que são uma constante da actividade do instituto, sempre em colaboração com a Embaixada Portuguesa junto da Santa Sé.

Quase a completar dois anos como Embaixador de Portugal junto da Santa Sé, qual o balanço que faz?

Muito positivo. Penso que Portugal tem mantido a sua visibilidade junto das instâncias da Santa Sé a um nível muito evidente e claro. Devo recordar a vinda do Presidente da República à cerimónia do início do Pontificado do Papa Francisco e, posteriormente, a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros na cerimónia de Canonização de João Paulo II e de João XXIII. São dois exemplos da relevância e do nível de relacionamento entre os dois Estados.

As relações entre Portugal e a Santa Sé estão a correr muitíssimo bem. Há uma Concordata que funciona. Há uma comissão bilateral permanente que reúne regularmente em Lisboa, com representantes do Governo Português e da Santa Sé e todos os aspectos da Concordata são ali tratados e a Concordata é aplicada. É mais um exemplo de como as relações funcionam a um nível impecável e sem qualquer sobressalto.

in patriarcado-lisboa.pt


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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Preparar o Natal e a Santa Missa ad Orientem

O Natal está a chegar. O frio, as luzes nas ruas. No próximo Domingo a Igreja celebrará o último Domingo do Tempo Comum - o Domingo de Cristo Rei.

Na verdade, a Igreja, na sua liturgia de Advento, prepara melhor que ninguém as pessoas para o Natal.

No Nebraska (USA), na diocese de Lincoln, o Bispo James Conley emitiu um comunicado oficial. Ele explica que neste Advento 2014 vai aproveitar ainda melhor a liturgia para preparar para o Natal.
Deixamos aqui um pequeno excerto.

"Desde tempos antigos, os Cristãos voltaram-se para Este durante o Santo Sacrifício da Missa para se lembrarem de olharem para Cristo. Juntos, o sacerdote e o povo viravam-se juntos para oriente, esperando e vigiando por Cristo. Mesmo nas igrejas que estavam voltadas para oriente, o sacerdote e o povo mantinham-se juntos na Missa a olhar para Cristo no crucifixo, no altar e no sacrário, para lembrar a importância de esperar pelo seu regresso. O simbolismo do sacerdote e do povo voltados ad orientem - para o oriente - é uma lembrança memorial do regresso de Cristo. 
Recentemente, tornou-se normal para o sacerdote e para o povo estarem virados uns para os outros durante o Santo Sacrifício da Missa. O sacerdote coloca-se atrás do altar enquanto consagra a Eucaristia voltado para o povo. O povo vê a cara do sacerdote enquanto ele reza e ele vê as caras das pessoas. Esta forma pode ter também um simbolismo importante. Lembra-nos que somos uma comunidade - um corpo em Cristo. E pode lembrar-nos que a Eucaristia, no centro da assembleia, também deve ser o centro das nossas famílias e das nossas vidas
Mas o simbolismo de olhar juntos e esperar por Cristo é rico, tem imensa história e é importante. Especialmente durante o Advento, enquanto esperamos a vinda do Senhor, voltarmo-nos juntos para oriente - mesmo simbolicamente voltados juntos para Cristo no altar e no crucifixo - é um testemunho poderoso da vinda imininente de Cristo. Hoje, num tempo em que é fácil esquecer que Cristo está a vir - e fácil ser complacentes com as nossas vidas espirituais e com o trabalho da evangelização - precisamos de coisas que nos lembrem que Cristo virá. 
Durante os Domingos do Advento, os sacerdotes na Catedral de Cristo Ressuscitado (Cathedral of the Risen Christ) vão celebrar a Missa ad orientem. Com o povo de Deus, o sacerdote estará voltado para o altar e para o crucifixo. Quando eu celebrar a Missa do Galo no Natal, vou também celebrar ad orientem. Isto também poderá acontecer noutras paróquias da Diocese de Lincoln. 
Na postura ad orientem da Missa, o sacerdote não está virado de costas para o povo. Ele vai estar com ele - no meio das pessoas e a conduzi-las - voltado para Cristo e a aguardar o seu regresso."
O texto completo pode ser encontrado aqui.
Papa Francisco celebra a Santa Missa ad Orientem.
via patheos.com/blogs/deaconsbench/


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Dia da Apresentação de Nossa Senhora no Templo


“Desde os tempos mais remotos, a Bem-Aventurada Virgem é honrada com o título de Mãe de Deus, a cujo amparo os fiéis acodem com suas súplicas em todos os seus perigos e necessidades”.
Lumen Gentium, 66


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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"As crianças têm o direito de crescer com um pai e uma mãe" - Papa Francisco

Discurso do Papa Francisco aos participantes no encontro internacional sobre a complementaridade entre homem e mulher promovido pela Congregação para a Doutrina da Fé (17/XI/2014)

Estimados irmãos e irmãs!

Dou-vos cordiais boas-vindas e agradeço ao Cardeal Müller as palavras com as quais introduziu este nosso encontro.

Antes de tudo, gostaria de compartilhar convosco uma reflexão a propósito do título do vosso Diálogo. «Complementaridade»: trata-se de uma palavra preciosa, com múltiplos valores. É possível referir-se a diversas situações, nas quais um elemento completa o outro ou supre a uma sua carência. No entanto, complementaridade é muito mais que isto. Os cristãos encontram o seu significado já na primeira Carta de são Paulo aos Coríntios, onde o apóstolo afirma que o Espírito conferiu a cada um diferentes dons, de tal forma que, assim como os membros do corpo humano se completam para o bem do organismo inteiro, também os dons de cada um podem contribuir para o bem de todos (cf. 1 Cor 12). Ponderar acerca da complementaridade significa simplesmente meditar sobre as formas de harmonia dinâmica que se encontram no cerne de toda a Criação. Eis a palavra-chave: harmonia. O Criador fez todas as formas de complementaridade para que o Espírito Santo, que é o Autor da harmonia, realize esta harmonia.

Oportunamente, congregastes-vos para este Diálogo internacional a fim de aprofundar o tema da complementaridade entre homem e mulher. Com efeito, esta complementaridade encontra-se no fundamento do matrimónio e da família, que constitui a primeira escola onde aprendemos a valorizar os nossos dons e dos outros, e onde começamos a descobrir a arte de viver juntos. Para a maioria de nós, a família constitui o lugar principal onde começar a «respirar» valores e ideais, assim como a realizar a nossa potencialidade de virtude e de caridade. Ao mesmo tempo, como sabemos, as famílias são um lugar de tensões: entre egoísmo e altruísmo, entre razão e paixão, entre desejos imediatos e finalidades a longo prazo, etc. 

Contudo, as famílias proporcionam inclusive o âmbito onde resolver tais tensões: e isto é importante! Quando falamos de complementaridade entre homem e mulher neste contexto, não podemos confundir tal termo com a ideia simplista segundo a qual todas as funções e relacionamentos de ambos os sexos estão fechados num modelo único e estático. A complementaridade adquire numerosas formas, porque cada homem, cada mulher, oferece a contribuição pessoal que lhe é própria para o matrimónio e para a educação dos filhos. A sua riqueza pessoal, o seu carisma pessoal, e desta maneira a complementaridade adquire uma grande riqueza. E não é apenas um bem, mas também uma beleza.

Na nossa época, o matrimónio e a família estão em crise. Vivemos numa cultura do provisório, na qual cada vez mais pessoas renunciam ao matrimónio como compromisso público. Esta revolução nos costumes e na moral agitou com frequência a «bandeira da liberdade», mas na realidade trouxe devastação espiritual e material a numerosos seres humanos, de maneira especial aos mais vulneráveis. É cada vez mais evidente que o declínio da cultura do matrimónio está associado a um aumento de pobreza e a uma série de numerosos outros problemas sociais que atingem em medida desproporcional as mulheres, as crianças e os idosos. E são sempre eles quem mais sofre nesta crise.

A crise da família deu origem a uma crise da ecologia humana, porque os ambientes sociais, do mesmo modo como os naturais, devem ser salvaguardados. Não obstante hoje a humanidade tenha compreendido a necessidade de enfrentar aquela que constitui uma ameaça para os nossos ambientes naturais, somos lentos — somos vagarosos na nossa cultura, inclusive na nossa cultura católica — somos lentos a reconhecer que também os nossos ambientes sociais estão em perigo. Por conseguinte, é indispensável promover uma renovada ecologia humana, fazendo-a progredir.

É preciso insistir sobre os pilares fundamentais que sustentam uma nação: os seus bens imateriais. A família permanece na base da convivência, como garantia contra a desintegração social. As crianças têm o direito de crescer numa família, com um pai e uma mãe, capazes de criar um ambiente apropriado para o seu desenvolvimento e para a sua maturação afectiva. Por este motivo, na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, salientei a contribuição «indispensável» do matrimónio para a sociedade, contributo que «supera o nível da afectividade e das necessidades contingentes do casal» (n. 66). É por isso que vos agradeço a ênfase conferida pelo vosso Diálogo aos benefícios que o matrimónio pode proporcionar aos filhos, aos próprios cônjuges e à sociedade.

Durante estes dias, enquanto meditais acerca da complementaridade entre homem e mulher, exorto-vos a dar evidência a mais uma verdade, relativa ao matrimónio: ou seja, que o compromisso definitivo em relação à solidariedade, à fidelidade e ao amor fecundo corresponde às aspirações mais profundas do coração humano. Pensemos, acima de tudo, nos jovens que representam o futuro: é importante que eles não se deixem seduzir pela mentalidade prejudicial do provisório, sejam revolucionários e tenham a coragem de procurar um amor vigoroso e duradouro, isto é, de ir contra a corrente: é necessário agir assim! A este propósito, gostaria de vos dizer algo: não podemos cair na armadilha de ser qualificados com conceitos ideológicos. 

A família é uma realidade antropológica e, consequentemente, social, cultural, etc. Não a podemos qualificar com conceitos de natureza ideológica, que só são válidos num determinado momento da história, e depois caducam. Hoje em dia não se pode falar de família conservadora,nem de família progressista: a família é família! Não vos deixeis qualificar por este ou por outros conceitos de natureza ideológica. A família possui uma força em si mesma.

Possa este Diálogo ser um manancial de inspiração para todos aqueles que procuram sustentar e fortalecer a união entre o homem e a mulher no matrimónio como um bem único, natural, fundamental e maravilhoso para as pessoas, as famílias, as comunidades e as sociedades.

in vatican.va


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Bispos do Gana sem medo: "Deus quis o matrimónio indissolúvel"

Um mês depois do Sínodo pela Família 2014, a Conferência Episcopal do Gana publicou um comunicado sobre "Os Desafios Pastorais da Família no Contexto da Evangelização".

Vale a pena dar uma vista de olhos e, por isso, deixamos aqui um pequeno excerto:
"O ensinamento perene e imutável da Igreja sobre a família baseia-se na natureza do homem, mas especialmente na Escritura e na Sagrada Tradição, nomeadamente quando Deus ordenou o casamento entre homem e mulher, quando "Deus os fez homem e mulher e os abençoou". 
Deus também queria que o matrimónio fosse aberto à vida quando, "os abençoou e disse para crescerem e multiplicar-se" (Gen 1 27,28). 
Mais ainda, Deus quis o matrimónio indissolúvel como Jesus afirmou, "Não separe o homem o que Deus uniu." (Mt 19 6)."
Vemos que, tal como há muitos anos eles aprenderam a Fé através do povo português, também nós temos muito a aprender hoje com os nossos irmãos africanos.




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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sinais de Perdão



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As matérias da segunda página


Certas matérias envolvendo a Igreja Católica são consideradas dignas, pelos media anti-clericais, de ocupar com estardalhaço as manchetes das primeiras páginas: são as notícias pouco abonatórias para a imagem da Igreja, ou as de fofoca eclesiástica que, no meio de um diz-que-disse sem fim, pretendem induzir o leitor incauto a crer que o Papa Francisco está para mudar a bimilenar doutrina moral da Igreja na próxima semana.

Outras matérias, contudo, somente a muito contragosto são noticiadas, na segunda página, em minúsculas notas de rodapé, que é para que o menor número possível de leitores tome conhecimento delas. É a típica informação que via de regra não interessa aos editores que seja lida.

Exemplo cristalino desta segunda categoria é esta notícia, divulgada anteontem sem nenhum tipo de alarde: Vaticano oficializa excomunhão de padre que defende gays em SP. Refere-se ao famigerado caso do Pe. Beto, que no ano passado protagonizou um escândalo de dimensões consideráveis na Terra de Santa Cruz (afinal de contas, nos dias de hoje não é qualquer herege que ganha uma excomunhão oficial…) e não poupou nem mesmo uma patética incursão na justiça civil (!) para tentar reverter a sua pena canónica. «Nós como advogados, estaremos aptos a defender o nosso cliente até o com o Santo Padre em Roma se for preciso», disse à época um dos advogados contratados pelo padre. Não sei se eles chegaram a cumprir a ameaça. De um modo ou de outro, contudo… não deu.

No comunicado da Diocese de Bauru, o Pe. Wenceslau – «Juiz Instrutor para as “matérias reservadas a Sé Apostólica”» – informa que a Congregação para a Doutrina da Fé (a quem fora submetido o caso), em comunicação oficial datada do dia 14 de outubro p.p., «ordenou que [se] tornasse formalmente pública a pena e a situação canónica» do Padre Roberto Francisco Daniel. E, em obediência à determinação da Santa Sé, a Mitra de Bauru explica i) que o padre Beto «está e permanece excomungado segundo o Cân. 1364 § 1 enquanto perdurar a sua «contumácia»; ii) que esta está presentemente caracterizada «nos seus repetidos pronunciamentos e atitudes em relação à Igreja Católica e nos processos movidos nas instâncias judiciais do Estado brasileiro, contra a Igreja»; e, por conseguinte, que iii) «a Sé Apostólica confirma a referida pena até a pública retratação do réu».

Não se trata de nada excepcional: a coisa mais banal do mundo é que uma pessoa que não comunga com a visão de mundo da Igreja Católica não seja, ela própria, considerada católica. A Igreja é uma instituição que não está obrigada a manter em Seus quadros os que d’Ela discordam em matérias onde Ela entende não ser possível haver discordância. Um mínimo de identidade é necessário para qualquer pertença a qualquer grupo e, se alguém não se identifica com a imagem de «fiel» que determinada religião apresenta, é evidente que tal não pode ser identificado como a ela pertencente. Tudo isto são trivialidades tão óbvias que até cansa repeti-las.

O ponto, o grande ponto aqui, é que – nada surpreendentemente… – a realidade indómita está em franca oposição à agenda mediática. A Igreja continua excomungando. Ora, isto não condiz com a imagem que querem passar do Novo Catolicismo: a de um Papa que, atento às novas necessidades do século XXI e liberto dos dogmas intolerantes da Idade das Trevas, abre enfim as pesadas portas da Igreja para receber alegremente a todos os que católicos não querem ser. Como poderão continuar a vender esta imagem falsificada se a Santa Sé tem a pachorra de reafirmar, pública e oficialmente!, a excomunhão de um padre que não crê no que a Igreja ensina?

Fala-se muita coisa sobre a Igreja nos dias de hoje. Olhando de fora, sob as lentes dos media anti-clericais, tem-se a nítida impressão de que o Inferno venceu. Os católicos, contudo, depositários da Esperança, têm o dever de dar um pouco mais de crédito àquelas palavras de Cristo sobre non praevalebunt. Bem como de anunciar essa Boa-Nova mundo afora. E, muitas vezes, tal missão reveste-se de contornos extremamente práticos e fáceis. Muitas vezes, fazê-lo consiste simplesmente em chamar a atenção para as matérias das segundas páginas dos jornais.

in Deus lo vult


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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Família de Beatos e Mártires

[hoje é dia dos Beatos Domingos Jorge e família]

Domingos Jorge nasceu em Vermoim da Maia, perto do Porto (Portugal). Muito jovem, partiu como soldado para a Índia. Aventureiro por natureza, empreendeu viagem para o Japão, onde nesse tempo reinava furiosa perseguição. O catolicismo era proibido. Todos os missionários que fossem identificados, eram mortos, e acontecia o mesmo também todos aqueles que os acolhessem em suas casas. Apesar de todos os riscos, os missionários não quiseram abandonar os cristãos para os instruir, animar e lhes administrar os sacramentos.  Estes martírios deram-se entre 1603 e 1639, sob o “shogunato” (governo militar) dos Tokugawa, que consideravam o Cristianismo um “elemento de influência ocidental e um perigo para a ordem social e religiosa”.

Domingos Jorge casou com uma jovem japonesa, à qual o missionário português, Padre Pedro Gomes, oito dias após o nascimento, dera o nome de Isabel Fernandes. Vivia este casal modelo no amor de Deus, na paz e na felicidade, em Funai, perto da cidade de Nagazáki. Eram membros fervorosos da Fraternidade do Rosário, ligada aos jesuítas. Por bondade e piedade, receberam em sua casa dois missionários jesuítas escondidos, o padre Carlos Spínola, italiano, e o Irmão Ambrósio Fernandes, português, além do catequista japonês João Kingoku.

Na noite de 13 de Dezembro de 1618, o governador de Nagasáki, Gonrócu,  ordenou aos seus soldados que prendessem os dois missionários juntamente com o dono da casa,  Domingos Jorge. Após um ano de prisão, Domingos Jorge foi morto juntamente com outros quatro companheiros. Leonardo Kimura, o único consagrado do grupo, era neto do primeiro japonês baptizado por S. Francisco Xavier. Domingos Jorge, após escutar a sentença, pronunciou estas palavras: "Aprecio mais esta sentença do que se me fizessem Senhor de todo o Japão". Quis ir a pé e descalço até ao monte, chamado “Monte Santo”, situado à saída da cidade, que ganhou o nome por ser regado por tanto sangue cristão, desde o de S. Paulo Miki, 22 anos antes. A multidão seguia com interesse o que ia acontecer, mas muitos cristãos procuravam apenas escutar as últimas exortações dos mártires. Dessa vez não houve sangue, porque todos, incluindo Domingos Jorge, foram queimados, rezando o Credo. As suas cinzas foram deitadas ao mar.

Três anos depois, a 10 de Setembro de 1622, também a esposa, Isabel, e o filhinho, Inácio (de quatro anos de idade), foram martirizados.

in Evangelho Quotidiano


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