quarta-feira, 30 de novembro de 2022

No final do mês dedicado aos mortos: Dies Irae em português

Dia de ira, aquele dia,
Volve o mundo em cinza fria:
Diz David e a Sibila.

Que terror não há-de haver,
Quando Deus comparecer
Para julgar com rigor!

Nos sepulcros ressoando,
Vai a tuba convocando
Os mortos a tribunal.

A terra inteira estremece,
Quando o homem comparece
Para o juízo final.

Um livro será trazido,
Em que tudo está contido
Para o mundo ser julgado.

Quando o Juiz Se sentar,
Tudo se há-de revelar:
A justiça e o pecado.

Pobre de mim, que direi,
Que patrono invocarei
Ao ver o justo em temor?

Rei de excelsa majestade,
Que salvais só por bondade,
Salvai-me no vosso amor.

Recordai-Vos, bom Jesus:
Por mim deixastes os Céus,
Não me condeneis então.

A buscar-me Vos cansastes,
Pela Cruz me resgatastes:
Tanta dor não seja em vão.

Justo Juiz do castigo,
Usai de graça comigo
Antes de chegar o fim.

Como réu envergonhado,
Sinto-me tremer, culpado:
Tende compaixão de mim.

A pecadora absolvendo
E o bom ladrão acolhendo,
Grande esperança me dais.

Embora não seja digno,
Vós me livrareis, benigno,
Dos tormentos infernais.

Entre os cordeiros contado,
Dos precitos separado,
Ponde-me à vossa direita.

Repelidos os malvados
E a vivas chamas lançados,
Suba eu à pátria eleita.

Com profunda contrição
Imploro o vosso perdão:
Ajudai-me na agonia.

Quando nesse triste dia,
Das cinzas em que jazia,
Ressurgir o homem réu,
Perdoai-lhe, Deus do Céu.

Jesus, Deus de majestade,
Vivo esplendor da Trindade,
Contai-nos entre os eleitos.

Ámen.

Oração
Despertai, Senhor, a vontade dos vossos fiéis, para que,
correspondendo mais generosamente à acção da graça divina,
recebamos maiores auxílios da vossa bondade. Por Cristo Nosso
Senhor. Amem.


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Dia de Santo André, irmão de São Pedro

Hoje é dia de Santo André, o primeiro Apóstolo a ser chamado por Jesus Cristo para O seguir. Dos 12 Apóstolos, 10 morreram mártires. Santo André foi morto numa cruz em forma de X, na região de Patras (Grécia), para onde tinha ido evangelizar. Enquanto se encaminhava para a dita cruz, rezou deste modo:

"Salve Cruz, santificada pelo Corpo de Jesus e enriquecida pelas gemas preciosas de Seu Sangue... Venho a ti cheio de segurança e alegria, para que tu recebas o discípulo d'Aquele que sobre ti morreu. Cruz boa, há tempos desejada, que os membros do Senhor revestiram de tanta beleza! Desde sempre te amei e desejei abraçar-te... Acolhe-me e leva-me até o meu Mestre."

Um homem que enfrenta assim a morte, com a certeza que nada acaba ali - antes, o que vem depois é incomparavelmente melhor do que qualquer coisa que se possa ter ou viver nesta vida - é um homem verdadeiramente livre. Fazem falta homens livres.


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terça-feira, 29 de novembro de 2022

Um jesuíta mostra como caem as almas no inferno

Este episódio passou-se em Giuliano (Itália), durante um sermão do Beato Antonio Baldinucci SJ († 1717), pregador de missões, no dia 12 de Abril de 1706. A pregação ocorria sob um grande olmo, e sem vento, de acordo com vários relatos de testemunhas oculares, entre eles um testemunho emitido com juramento perante 4 canonistas, quando o Beato disse: 

"Meu povo, sabeis como caem as almas no inferno? Como as folhas caem desta árvore! " 

Imediatamente começaram a cair folhas daquela árvore como se nevasse e a árvore ficou sem folhas, enquanto as outras árvores continuavam com todas as folhas.

As pessoas começaram a chorar e pedir perdão a Deus, durante meia-hora. 

in ‘Sperare per tutti?’ (Hauke Manfred) 


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À espera de Jesus



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domingo, 27 de novembro de 2022

História e propósito do Advento

Começa hoje o Advento, que antecede o tempo de Natal:

1. Prioridade dos ciclos

A formação do Ano Litúrgico teve início pelas festas de Páscoa e Pentecostes. Só mais tarde acrescentou-se o Ciclo do Natal. 

2. Natureza do ciclo do Natal

O ciclo principia pelo Advento (= vinda), que abrange 4 semanas de preparação. As festas centrais deste ciclo são o dia de natal de N. S. Jesus Cristo e a Epifania. A Epifania é mais antiga e liturgicamente superior (2i. ordinis), o Natal, porém, (3i. ordinis) tem a prioridade nos Mistérios do Redentor e dá o nome ao ciclo. Objeto deste ciclo é a aparição de Cristo na gruta, na circuncisão, perante os magos, perante os discípulos em Caná, perante o povo no Jordão, perante Simeão no templo, perante os doutores (Dom. inf. oct. Ep.) 

3. História do Advento 

Em Espanha, já o Sínodo de Saragoça (380) [1º Concílio de Saragoça; ao todo, foram quatro] prescreveu 3 semanas de preparação para a Epifania, em que se celebrava outrora o Natal de Cristo. Em Tours, o Bispo Perpétuo (+ 491) ordenou 6 semanas de preparação para o Natal em 25 de Dezembro. Em Roma, o Advento é mencionado no [Decreto] Gelasiano (fins do século V). Os Domingos do Advento foram, por muito tempo, em alguns lugares, cinco; ainda hoje no Rito Ambrosiano são seis; em Roma, quatro, desde o V século. O Rito Grego não conhece o Advento, mas sim um jejum de 40 dias. 

O Advento começa no Domingo próximo da festa de Santo André (30 de Novembro). Se a festa ocorre na primeira metade da semana, o Advento começa na festa ou no Domingo precedente, do contrário, no seguinte. A razão mística pela qual Santo André introduz o Ano Eclesiástico é o seu empenho em conduzir seu irmão Pedro a Nosso Senhor. A razão natural é o cálculo das 4 semanas do Advento. Este não poderia começar a 26 de Novembro, porque seriam mais do que 4 semanas (29 dias), nem a 4 de Dezembro, porque seriam menos que 4 semanas até a festa de Natal. Só o dia 30 de Novembro regula o cálculo litúrgico entre 27 de Novembro e 3 de Dezembro. 

4. Carácter do Advento

1) É o tempo da preparação para o aniversário da vinda do Salvador, causa de novas graças. Pois só a esta se pode aplicar o invitatório nas vésperas de 24 de Dezembro: Hodie scietis, guia veniet Dominus et mane videbitis gloriam ejus, repetido várias vezes; a antífona: Crastina die delebitur iniquitas terrae; em 21 de Dezembro, a antífona: Quinta die veniet ad vos Dominus

Esta ideia manifesta da vinda do Redentor inspira toda a Liturgia do Advento.

No 1º Domingo do Advento, o Senhor está longe. A antífona das primeiras vésperas é: Nomen Domini venit de longínquo; Aspiciens a longe. (1° Resp.); Prope est regnum Dei. (Evang.)

No 2° Domingo: O desejo da Igreja é mais ardente, quase impaciente: Jerusalem, cito veniet salus tua, quare mcerore consumeris. (1.° Resp.) Tu es, qui venturas es. (Evang.)

No 3° Domingo Gaudete: Prope est iam Dominus. (Invit.) Alegrai-vos. Pois o Senhor já está perto. Gaudete, Dominus enim propeest. (Capit.) Medias vestrum stetit. (Evang.)

No 4.° Domingo: Pulchriores sunt oculi eius vino et dentes eius lacte candidiores (2° Resp.); Videbit omnis caro salutare Dei. (Evang.) Depois os textos do dia 21-24 de Dezembro.

2) 0 Advento é o tempo de preparação para a segunda vinda de Jesus Cristo, como muitos textos o provam, mas só em segundo lugar. Os hinos nas matinas, laudes e vésperas mencionam primeiro o Nascimento de Jesus, em segundo lugar o Último Juízo, do mesmo modo a oração da vigília. 

3) Na Liturgia encontramos continuamente os dois elementos: penitência e alegria.

a) Os sinais de penitência: no ofício do tempo, não se canta Te Deum; rezam-se as preces feriais; Missa sem Glória, com paramentos roxos, sem órgão, ornato simples do altar; o diácono e o subdiácono não usam dalmática nem tunicela (vestimenta laetitiae: Pontif.); em lugar delas usa-se o estolão para o diácono, nas igrejas maiores; e as igrejas paroquiais, quanto a este efeito, são igrejas maiores (d. 3352 ad 7); nas outras, o diácono e subdiácono vestem só alva, estola e manípulo. (Miss. rubr. XIX, 6, 7.) 

b) Os sinais de alegria são: sempre aleluia; o vivo desejo do Redentor nas antífonas ad laudes nos domingos e na última semana; as antífonas O ad vesperas; no Domingo Gaudete, em que os paramentos podem ser cor de rosa, é permitido o órgão e o uso da dalmática e da tunicela. 

4) As regras litúrgicas mencionadas obrigam só nas funções litúrgicas do tempo, não obrigam porém nem nas festas nem nas funções extra-litúrgicas, p. ex., devoções e bençãos. 

5. O Advento é símbolo do tempo antes do Nascimento de Jesus Cristo. Os suspiros: Rorate, caeli, desuper et nubes pluant Iustum (Is 45, 8) e numerosas aspirações distribuídas por todas as partes do Ofício e da Missa claramente provam-no. 

6. O uso do Presépio, antigamente muito espalhado no Brasil, merece ser preferido ao da árvore de natal, que é ornada também pelos incrédulos e pagãos modernos.  

7. Entre os sinais de alegria deve-se contar o culto especial da SS. Virgem, devido a Ela, como Mãe do Menino Deus. Nos responsórios e antífonas é Ela muitas vezes mencionada; a oração de Beata está prescrita como comemoração comum, e em muitos lugares cantam-se as Missas: Rorate. Durante o tempo do Advento, ocorrem duas festas solenes com as suas oitavas. 

a. Imaculada Conceição, a 8 de Sezembro, em honra de Maria, concebida sem pecado.

Os primeiros vestígios desta festa encontram-se no Oriente, em meados do século VIII, no Ocidente, no século IX, em Nápoles; na Inglaterra, pelo ano 1100, já se encontra com o nome de "Conceição da B. V. Maria". Espalhou-se rapidamente. Papa Sixto V, O.F.M., a introduziu no Calendário Romano. Papa Clemente IX (+ 1670) acrescentou a oitava. Papa Pio IX, com imenso júbilo de todos os fiéis, definiu em 1854 o Dogma da Imaculada Conceição e elevou a festa a dia santo de guarda. 

b. Nossa Senhora de Guadalupe, no México, Padroeira da América Latina, a 12 de Dezembro; antigamente a 26 de Fevereiro. 

Em 1531, Maria SS. apareceu a um índio mexicano, João Diogo, e o encarregou de pedir ao Bispo que mandasse construir um santuário em honra dela. Como o prelado desejasse uma prova da veracidade da mensagem, Maria Santíssima apareceu a Diogo outra vez, entregando-lhe rosas lindíssimas, apesar do inverno, tempo em que não havia flores. Na capa, em que as levou ao bispo, apareceu pintada a imagem da Mãe de Deus tal qual Diogo a tinha visto. Foi prova suficiente para se reconhecer que a mensagem era genuína. Erigiu-se um templo magnífico.

Pe. João Batista Reus SJ in 'Curso de Liturgia' (Artigo I. Ciclo de Natal. § 67 - O Advento)


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sábado, 26 de novembro de 2022

A fraude que deu origem à tradução do Missal para português

D. Clemente Isnard conta, com as suas próprias palavras, as maquinações e esquemas engendrados para enganar a Congregação para o Culto Divino e a Conferência Episcopal, e assim conseguir a aprovação da tradução do Missal de Paulo VI para português com várias "novidades" impensáveis até à data.

O primeiro trabalho que se nos apresentava era o das traduções, para introdução do vernáculo na Liturgia. E aí surgia a questão: será uma tradução brasileira ou portuguesa? Parecia-nos então que o começo seria um entendimento com os Bispos de Portugal. Fomos os quatro ao Seminário Português em Roma, onde estavam hospedados os portugueses, e depois de uma tarde de entendimento, concluímos que seria preciso adoptar uma tradução comum da Bíblia. Chegámos até a combinar algumas coisas práticas. Mas não houve seguimento. 

Surgiram logo dificuldades, e entre elas a maior: que tratamento dar a Deus, “tu” ou “vós”. Os portugueses queriam “Vós“ e os brasileiros da comissão queriam “Tu“, mas os Bispos brasileiros estavam divididos. Mais tarde, numa assembleia geral, em São Paulo (no Ipiranga), foi feita a votação por escrito, e o resultado foi surpreendente: empate rigoroso. Enquanto isso, os padres que trabalhavam nas traduções, sob a orientação de D. Timóteo Amoroso Anastácio, optavam pelo “tu “e 'ciclostilavam' os primeiros textos em “tu“. Era angustiante, e não se via solução: Portugal era “vós" e Brasil empatado entre “vós” e “tu”.

A discussão “vós” e “tu” voltou mais de uma vez à Assembleia Geral. D. Lamartine citava em apoio do “tu” uns versinhos do século XVI ou XVII: “se a Deus se chama de “tu” e a El-Rey de “vós”, como chamar o Juiz de Igarassi: ‘tu” e “vós” , “vós” e tu”. O mais difícil é que Roma queria um acordo entre Brasil e Portugal, e sem o acordo recusava-se a aprovar qualquer revisão. O assunto chegou ao Papa, e o grande Paulo VI decidiu que não se devia ter todas as versões iguais, em Portugal e no Brasil, mas que seria suficiente ter o texto do povo igual, de modo que o povo pudesse rezar em Portugal e no Brasil da mesma forma. Assim, a Oração Eucarística poderia ter uma tradução em Portugal e outra no Brasil, mas as resposta do povo deveria ser idênticas. E assim foi feito. Mas era preciso resolver o problema do “tu” e “vós”.

Como estavam as coisas não se via possibilidade de solução. Os portugueses no fundo achavam que eles deveriam resolver por serem os donos da língua e por assim fazerem com os países da África, que, na época, eram chamados a opinar. Impunha-se um acordo, ou, caso contrario, não haveria nunca nenhuma tradução aprovada em Roma. O acordo foi feito numa reunião em Portugal. Representando o Brasil fomos eu e o Padre José António de Moraes Busch, do clero de Campinas, então assessor na CNBB, e, representando Portugal três Bispos e três peritos. Reunimo-nos, oito pessoas, na casa de Retiro da Buraca, perto de Lisboa. 

Na abertura dos trabalhos estabeleci que os votos seriam por país, quer dizer, os seis votos portugueses teriam o mesmo valor que os dois brasileiros. De contrario, nós estaríamos perdidos. Eles concordaram. E mediante discussões infinitas estabelecemos o texto do povo, tanto no Ordinário da Missa como em outras partes da Liturgia. Foi ai que se fixou “Ele está no meio de nós” como resposta ao “Senhor esteja convosco”, e outras versões pouco literais (nada! literais). Os portugueses até foram liberais ao atender às nossas preferências. Saliento no principio da Missa “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”; apenas dois “por minha culpa, minha tão grande culpa” no “Confesso” ; “paz na terra aos homens por Ele amados” no Glória; “desceu a mansão dos mortos” no Credo; “é nosso dever e nossa salvação” no diálogo do Prefácio; “o amor de Cristo nos uniu” como resposta ao “Pax Dominum sit semper vobiscum”. A presença de Padre Busch foi muito importante para convencer os portugueses.

No fim do encontro tínhamos uma fórmula aceitável, que os Bispos da Conferência Portuguesa adoptaram sem modificação e que eu e os assessores de liturgia adoptámos sem consultar a Assembleia da CNBB, sob os protestos de D. Geraldo Fernandes. Ele disse-me uma vez: “D. Clemente, como teve coragem de modificar sozinho o Credo?” Fiz e não me arrependo, pois não havia outro jeito. Lembrem-se do empate entre “tu” e “vós”.

O acordo com Portugal consagrou o “vós” e agradou aos Bispos conservadores. A alma do Encontro da Buraca foi o Padre Busch, um dos mais eficientes assessores que tivemos. (...)

Destacaram-se as Semanas Nacionais de Liturgia de Valinhos (perto de Campinas) e de Belo Horizonte. Não me lembro exactamente de quantas foram. O trabalho de reflexão, indispensável para uma reforma, fazia-se nas reuniões mensais especialmente nas Semanas de Liturgia, onde se estabelecia o contacto e o convívio com liturgistas de outros lugares. Assim conhecemos Pe. Reginaldo Veloso, de Recife, e outros, como o Pe. Jocy Rodrigues, do Maranhão, que é o compositor da Oração Eucarística número V (enfim conheci o nome do Gregório Magno do Maranhão!) e de belíssimos outros cantos litúrgicos. Desta maneira a reforma era obra não de um pequeno grupo do Sul e do Centro, mas abrangia a colaboração de gente de todo o Brasil, com apoio em Pernambuco e no Maranhão, sem falar no Centro Oeste. Iniciamos, ao voltar de Portugal, a redacção do Ordinário da Missa com “vós”. 

É pena que não tenha havido um episcopado tão numeroso e tão diversificado em matéria de opiniões aquilo que alcançamos em Lisboa. Resolvi então proceder por própria conta – coisa de admirar mas não de imitar e que tanto irritou D. Geraldo Fernandes, que chegou a ser Vice-Presidente da CNBB. Apresentei em Roma, e a Congregação para o Culto Divino aprovou nossa versão. 

A nossa sorte foi que naquele momento não havia, na Congregação, nenhum perito em língua portuguesa. Desta forma obtivemos apuração da simplificação do Cânon Romano, que tinha sido apresentada pelos franceses e negada... Nós simplesmente havíamos copiado a proposta francesa. A aprovação do Ordinário da Missa era um grande passo dado. Mas não era o mais longo. Era preciso traduzir o Missal. Já haviam circulado traduções parciais. Aproveitando na medida do possível o trabalho feito, uma comissão de liturgia, presidida pelo Pe. Busch, assumiu o trabalho de preparar a tradução completa do Missal Romano. Padre Busch obteve para isso a cooperação do venerável Arcebispo de Campinas, D. Alves de Siqueira, que durante muitos meses vinha passar uma semana no Rio de Janeiro, hospedando-se na própria CNBB e trabalhando intensivamente na companhia do Padre Busch. Foi uma grande alegria quando pudemos enviar à Congregação do Culto Divino o pacote do missal traduzido. 

Hoje, usando o Missal, achamos alguns textos merecedores de melhoramento. Mas na época, D. Siqueira, com enorme paciência, traduziu sobretudo o texto das orações, e quase sempre chegou a resultado satisfatório. Quem trabalha para liturgia faz uma obra anónima: não consta no Missal o nome dos tradutores, como não consta o nome dos redactores das Orações Eucarísticas e de outras peças importantes. É um trabalho de amor e desinteressado. Quem iria reconhecer os méritos de Bugnini e de Martimort e de outros grandes liturgistas, também brasileiros? Só Deus. A impressão do Missal foi uma grande vitória.

Entrementes conseguimos preparar a tradução de outros livros litúrgicos e mandar a Roma para aprovação. Não vou apresentar um catálogo das edições litúrgicas. (...)

À medida que os textos iam sendo aprovados em Roma, nós iniciávamos a tradução aqui. O processo de aprovação de textos em Roma foi lento; alguns eram elaborados mais rapidamente, outros encalhavam em dificuldades, como o do sacramento da Penitência e o dos Ministérios, antigas Ordens Menores. A Liturgia das Horas era uma outra maratona, talvez mais complicada do que o Missal. Foi o ultimo livro que vi com a edição definitiva. Lembro-me de que quando D. Celso Queiroz me apresentou o primeiro volume, não contive as lágrimas. O trabalho final foi feito em Brasília e para isso contamos com a dedicação em tempo integral de duas pessoas. Era preciso ter uma boa tradução dos salmos, como que a matéria prima do livro. Disso se encarregou o Padre José Weber, que eu havia pescado em Roma por indicação de Cónego Amaro.

Precisaríamos de uma tradução exacta, recitável e bonita. Creio que o nosso texto do saltério em português é magnifico. Graças ao acordo da Buraca com os portugueses, os textos da Liturgia das Horas não precisavam ser comuns aos dois países, o que facilitou muito. (...)

O trabalho dos tradutores seria corrigido por uma comissão de Bispos. Houve uma, que deveria rever a tradução do Evangelho de S. João, e que envergonhou a CNBB. Mandou para Roma um texto tão mau que obrigou a Congregação a rever ela mesma. Ainda bem que fizeram em Roma esse trabalho que não lhes cabia. (...)

Cada vez que se editava em português do Brasil um livro Litúrgico, sentíamos alegria e alivio. Era o caminho andado para o cumprimento da missão. Mas não era tudo o que devíamos fazer. Era preciso comentar os livros, animar a vida litúrgica e descobrir o que deveríamos fazer para enriquecer a própria liturgia. Não éramos apenas tradutores, mas tínhamos de ser criativos!, e isso nos preocupava desde o inicio.

Numa de nossas reuniões mensais no Rio, foi feita sugestão de compor uma Oração Eucarística para o Congresso Eucarístico Nacional de Manaus. Naqueles dias nós contávamos em Roma com o apoio clarividente de Bugnini. Eu ia duas vezes por ano a Roma para reuniões do Conselho e depois da Congregação para o Culto Divino e podia advogar a causa. Encontrei boa receptividade em Bugnini, e mãos a obra. Marcamos reunião preparatória no Cenáculo, com a assessoria dilatada. E preparámos dois textos: um meu, e outro do padre maranhense.

Eu li o meu texto e enquanto ouvia o do padre maranhense tinha vontade de imitar o que fizera o concorrente de Santo Tomás de Aquino para textos da festa de Corpus Christi: ir rasgando silenciosamente. Mas não fiz... Evidentemente, o grupo reunido escolheu o do padre maranhense, que é o texto da Oração Eucarística número V.

Esse foi levado a Comissão Episcopal de Pastoral (CEP), onde recebeu uma ou duas pequenas modificações, e depois enviado a Roma. Em Roma, sem levar em consideração o ritmo do nosso texto, também fizeram duas pequenas modificações. Parece que, além do Culto Divino, o projetco enfrentou a Doutrina da Fé, mas venceu as etapas. E a Oração número V, bastante breve, é usada, apesar de não agradar a alguns.

A aprovação de uma Oração Eucarística brasileira era um sinal dos tempos. Bugnini estava no auge do seu prestigio e podia permitir-se gestos de benevolência para com uma Conferência Episcopal numerosa mas sem prestigio.

Infelizmente, os ventos não tardaram a mudar em Roma. Bugnini cada vez mais ousado e contando com a confiança de Paulo VI, aprovou a Oração Eucarística para a Missa com crianças e outras coisas mais. A oposição romana, tendo como porta voz o Cardeal Felici, conseguiu derrubá-lo de modo insidioso; foi supressa a Congregação para o Culto Divino e unida a Congregação para a Disciplina dos Sacramentos. Bugnini estava fora de Roma, em férias. Para ele não ter a notícia pela imprensa, o Cardeal Tabera foi onde se encontrava para avisar. 

Cada Congregação tinha um Prefeito e um Secretário; unindo duas Congregações sobraria um Prefeito e um Secretario. Ora, o secretário dos Sacramentos era mais antigo como Bispo (era um antigo Núncio, que nada entendia de Liturgia), e teve prudência para continuar no cargo da nossa Congregação. Bugnini não era mais nada. Eu escrevi uma carta ao Papa e o Cardeal Secretário de Estado, Cardeal Villot, respondeu perguntando se o Papa não tinha direito de escolher os seus auxiliares. Eu não podia negar isso, mas diria que deve escolher bem, e não como fez dessa vez. Esse facto lançou uma sombra sobre o pontificado de Paulo VI, que estava envelhecido e fazendo algo em contradição com toda a sua linha de conduta anterior.

A saída de Bugnini foi desastrosa, não só para a Congregação em Roma, mas para o mundo inteiro. Uma das últimas vezes que conversei com Bugnini em Roma, uma das melhores conversas que tivemos, ele falou dosseus planos. Disse que faltava um Directório para Missas “cum rudibus” e que pretendia fazer isso. Mas não teve tempo; os inimigos já estavam a movimentar-se e o golpe preparado. Voltando para o Brasil, na primeira reunião mensal dos assessores, falei do assunto e encontrei bom acolhimento. Com efeito, o Brasil precisava de um Directório para gente simples. Foi nome que dei. E pusemos mão à obra. 

Como não tratava de uma tradução de um documento romano, usei de grande cautela, evitando cuidadosamente coisas que pudessem criar dificuldades em Roma. O Directório para Missas com gente simples foi preparado e levado à Assembleia Geral, onde foi aprovado, sem grande oposição, e baptizado por D. Waldyr como “Directório para Missas com Grupos Populares”. O nome me pareceu bom, mas não foi feliz, porque era a época em que o colombiano Lopes Trujillo fazia uma campanha contra a “Igreja Popular” em toda a América Latina. Eu achei que nosso Directório não continha nada de avançado, e que por isso não precisava ser submetido a Roma.

Mas Roma recebeu as actas da Assembleia Geral e ficou a saber de tudo o que se passou. Um belo dia na CNBB, que ainda estava no Rio, disseram-me que a Congregação tinha pedido nosso Directório para examinar. Fiquei surpreso, disse que não havia necessidade, mas acabei tendo de mandar. Não tardou muito a chegar uma proibição de usar o Directório, que já estava impresso e distribuído.

Foi a grande humilhação que tive no relacionamento com Roma. Humilhação injusta, pois o Directório não tinha nada que merecesse essa condenação. Mas não ficou nisso; como eu também actuava no CELAM, e o perito do CELAM, Álvaro Botero, um colombiano inteligente e bem orientado, havia apreciado nosso Diretório e feito traduziu em castelhano, a Secretaria de Estado mandou uma circular aos Núncios do mundo inteiro comunicando a condenação. Assim o nosso modesto Directório transformou-se num perigo para a Igreja!

Ainda tenho em meu poder um exemplar da 4ª edição do Diretório. Depois de redigir esta breve noticia, dei-me ao trabalho de reler todo o Directório. Desafio qualquer perito em Liturgia para mostrar algo que motivasse sua condenação. Tudo o que é aconselhado no Directório está hoje posto em prática nas comunidades. Se não me engano, a razão decisiva para a condenação romana está na expressão “Grupos populares”. À época, D. Afonso Lopes Trujillo movia no ambiente latino-americano uma guerra ao que chamava “Iglesia Popular”, e que ele considerava uma perversão da Igreja Católica. Acontece que ao pensar nos “Grupos populares”, nós brasileiros nem de longe tínhamos em vista a fenómeno cismático que estava a acontecer em alguns países latino-americanos.

Apesar desta atitude, depois da saída de Bugnini, houve durante anos a fio uma boa colaboração da Congregação para o Culto Divino com a CNBB. Primeiro a compreensão dos problemas de língua entre Brasil e Portugal.

Neste caso Bugnini disse-me que o Papa Paulo VI havia recomendado não exigir demais porque conhecia as diferenças de linguagem; e a solução foi boa: unidade para as partes do povo e liberdade para o resto. Segundo, a Oração Eucarística brasileira, a V, que foi uma bela concessão ao Brasil, que nenhum outro pais da América Latina tem. Terceiro, as aclamações na Oração Eucarística, que nem todos os países da Europa têm. Quarto, a aprovação da versão do Cânon Romano com as simplificações. Quinto, o tratamento cordial dado ao Brasil durante as negociações. 

D. Clemente Isnard, osb
Conferência - testemunho
Encontro dos Liturgistas do Brasil
Belo Horizonte, 28 de janeiro de 2002


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Dia de São Silvestre, Abade

Silvestre Guzzolini nasceu numa família de nobres, na pequena Osimo (Itália), em 1177. Os pais, Gislério e Branca, deram ao filho uma boa formação religiosa, não poupando os esforços para que Silvestre seguisse a carreira de jurista.

Estudou Direito na Universidades de Bolonha. Mas decidiu abandonar o curso para estudar teologia em Pádua. Foi ordenado sacerdote na sua cidade natal, tornando-se, em seguida, cónego da catedral.

Mais tarde, em 1227, quando já estava com cinquenta anos de idade, decidiu retirar-se para a vida eremítica numa gruta perto de Frassassi. A fama de santidade e de grande espiritualidade fez chegar outros religiosos com a mesma aspiração ascética. Assim se formou uma nova comunidade monástica.

Silvestre teve de procurar um local maior, por causa do grande número de monges lá agrupados. Foram, então, para uma localidade próxima chamada Montefano, onde, em 1231, fundou a Congregação Beneditina masculina, mais tarde chamada de monges silvestrinos, da qual o fundador se tornou o abade.

Ele era uma alma contemplativa, desejosa de coerência evangélica, por isso tornou-se eremita. Praticou uma vida monástica rigorosa e amadureceu uma profunda e forte espiritualidade. Escolheu a Regra de São Bento porque desejava constituir uma nova família religiosa dedicada à contemplação, mas que não abandonasse a realidade social à sua volta.

Silveste unia ao recolhimento o apostolado de uma sublime paternidade espiritual e a pregação do Evangelho às populações da região. Morreu em santidade no Ermo de Montefano, a 26 de Novembro de 1267.

Sobre sólidas bases, a sua Congregação percorreu mais de oito séculos de história da Igreja, ultrapassando muitas dificuldades. Na metade do século XIX, atravessou os horizontes europeus, levando pela primeira vez a Regra Beneditina à Ásia, para a ilha de Ceilão, hoje Sri Lanka. No século XX, apareceram novas fundações nos Estados Unidos da América, na Austrália, na Índia e, recentemente, nas Filipinas. Em virtude desse florescimento continua a dar valorosos frutos apostólicos e missionários.

in Paulinas


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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

As últimas palavras do Papa Pio XII: "Orai, Orai, Orai!"



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Morte...o instante em que tudo muda

Considerai que sois pó, e que em pó vos haveis de tornar. Virá um dia em que morrereis e sereis lançado à podridão num fosso, onde o vosso único vestido serão os vermes. Tal é a sorte reservada a todos os homens, aos nobres e aos plebeus, aos príncipes e aos vassalos. Logo que a alma saia do corpo com o último suspiro, dirigir-se-á à eternidade e o corpo deverá reduzir-se a pó.

Imaginai que estais vendo uma pessoa que acaba de exalar o último suspiro; considerai esse cadáver deitado ainda no leito, com a cabeça pendida sobre o peito, os cabelos em desalinho banhados ainda nos suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, a língua e os lábios cor de ferro... o corpo frio e pesado. Empalidece e treme quem quer que o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou de um amigo morto, não mudaram de vida e não deixaram o mundo!

Mais horrível ainda é o cadáver quando principia a corromper-se. Há apenas 24 horas que esse moço morreu, e já o mau cheiro se começa a sentir. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é preciso quanto antes enviar esse corpo à igreja e entregá-lo à terra, com receio de que venha a infectar toda a casa...

No que se tornou esse orgulhoso, esse dissoluto! Ainda há pouco acolhido e desejado nas sociedades, agora objeto de horror e de desgosto para quem o vê! .... Há bem poucos instantes ainda, não se falava senão do seu espírito, da sua polidez, das suas belas maneiras, dos seus bons ditos; mas apenas está morto, já se perdeu a lembrança de tudo isto.

Santo Afonso de Ligório in 'Preparação para a Morte' (Edit. Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 5a. edição, 1922, p. 10 e ss)


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quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A ajuda do Padre

Nesta fotografia histórica vemos o Padre Luis Maria Padilla a socorrer um soldado gravemente ferido em Puerto Cabello (Venezuela) numa zona chamada 'La Alcantarilla'. Esta cena passou-se durante um tiroteio aquando da sublevação contra o governo da Venezuela. 

O Padre Luis Maria, pároco e capelão da base naval, arriscou a vida para dar os últimos sacramentos, a Extrema Unção, aos feridos em combate. Esta fotografia, tirada em 1962, ficou conhecida como "A ajuda do Padre", foi distribuída pela Associated Press e acabou por ganhar o prémio Pullitzer no ano seguinte. 


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São João da Cruz, um dos maiores místicos da Igreja

A vida de São João da Cruz é magnífica e desconcertante. Nasceu em Fontiveros, província de Ávila (Espanha) pelo ano de 1542. O seu nome de baptismo era João de Yepes e, juntamente com a também doutora da Igreja Santa Teresa d'Ávila, reformou a Ordem Carmelita. 

João era 27 anos mais novo do que a sua amiga Teresa, que o chamava de “pequeno Séneca”, por causa da sua baixa estatura. Amavelmente, chamava-o de “meio homem”, mas não hesitava em considerá-lo pai da sua alma. Dizia que não era possível conversar com ele sobre Deus sem vê-lo em êxtase. 

São João da Cruz foi um grande mestre da vida espiritual. O resumo da sua vida monástica encontra-se nestas palavras: “Não faças coisa alguma, nem digas palavra alguma, que Cristo não faria ou não diria se se encontrasse nas mesmas circunstâncias e tivesse a mesma saúde e idade.” “Nada peças a não ser a cruz, e precisamente sem consolação, pois isso é perfeito.” “Renuncia aos teus desejos e encontrará o que o teu coração deseja.” Aos 21 anos de idade ingressou na Ordem dos Carmelitas.

Foi atacado por uma grande desilusão pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os conventos carmelitas. Em dado momento encontrou-se com Santa Teresa, a reformadora do Carmelo feminino, passando a fazer o mesmo junto ao Carmelo masculino. Nessa época era um jovem frade de 26 anos, extremamente sério, físicamente franzino. 

Logo em seguida fundou em Durvelo o primeiro convento dos carmelitas descalços. Foi então que mudou o seu nome para João da Cruz. Esse regresso à mística religiosidade do deserto custou ao santo maus tratos físicos e difamações, chegando a ser preso em 1577 durante oito meses, no cárcere de Toledo. Foi exactamente aí que floresceu a sua grande poesia espiritual. Escreveu “A noite escura da alma”, “A subida do monte Carmelo”, “Cântico espiritual”, e “Chama de amor viva”.

São João de Cruz foi um dos maiores místicos da História da Igreja, por isso é normal que os seus pensamentos nos toquem a alma e o coração:

"O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é Ele."

"Para possuir Deus plenamente, é preciso nada ter; porque se o coração pertence a Ele, não pode voltar-se para outro."

"Para buscar a Deus, requer-se um coração despojado e forte, livre de tudo o que não é puramente Deus."

"Que felicidade o homem poder libertar-se da sensualidade! Isto não pode ser bem compreendido, a meu ver, senão por quem o experimentou. Só então verá claramente como era miserável a escravidão em que se estava."

"Adquire-se a sabedoria através do amor, do silêncio e da mortificação; grande sabedoria é saber calar e não inserir-se em ditos ou fatos e na vida alheia."

"O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo Amado."

"Quem não busca a cruz de Cristo não busca a glória de Cristo."

"Quando tiveres algum aborrecimento e desgosto, lembra-te de Cristo crucificado e cala-te."

"Quando tiveres teus desejos apagados, tuas afeições na aridez e angústias, e tuas faculdades incapazes de qualquer exercício interior, não sofras por isso; considera-te feliz por estares assim. É Deus que te vai livrando de ti mesmo, e tirando-te das mãos todas as coisas que possuis."

"O que busca satisfação em alguma coisa não está livre para que Deus o plenifique de seu inefável sabor."

"Ainda que estejas no sofrimento, não queiras fazer a tua vontade, pois terás assim o dobro de sofrimento."

"A alma que verdadeiramente ama a Deus não deixa de fazer o que pode para achar o Filho de Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregado todos os esforços, não se contenta e julga não ter feito nada."

"A alma que busca a Deus e permanece em seus desejos e comodismo, busca-o de noite, e, portanto, não o encontrará. Mas quem o busca através das obras e exercícios da virtude, deixando de lado seus gostos e prazeres, certamente o encontrará, pois o busca de dia."

"A mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer sente-se impedida em sua liberdade e contemplação."

"Por causa de prazeres passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos."

"Quem se queixa ou murmura não é cristão perfeito, nem mesmo bom cristão."

"Quem souber morrer a tudo terá vida em tudo."


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terça-feira, 22 de novembro de 2022

A diferença entre morrer em estado de graça ou em pecado mortal



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Dia de Santa Cecília

Hoje é dia Santa Cecília, padroeira dos músicos e artistas. Martirizada em Roma, por volta do ano 180, o seu corpo foi encontrado incorrupto 14 séculos depois, no ano 1599. O seu túmulo, juntamente com esta belíssima escultura de Stefano Maderno, encontram-se na Basílica de Santa Cecília, em Trastevere (Roma).


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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Frei Junípero e a capacidade de suportar as críticas e a maldicência

Frei Junípero, um dos primeiros discípulos e companheiros de São Francisco de Assis, não conseguia manter-se em silêncio quando era repreendido ou quando alguém lhe fazia uma observação desagradável. Para se corrigir desse defeito fez o propósito de, durante seis meses, não dar réplica nem mesmo às mais pesadas injúrias que eventualmente lhe fossem feitas.

Essa luta contra si mesmo custou-lhe grandes sacrifícios. Certa vez, ao ser insultado de forma brutal, fez um tal esforço para se conter que sentiu subir-lhe aos lábios uma golfada de sangue que vinha do seu peito. Nesse dia, muito aflito, o bom frade entrou numa igreja, prostrou-se diante de um crucifixo e exclamou:

– Vede, meu Senhor, o que suporto por amor a Vós!

Então, cheio de temor e encanto, viu o divino Crucificado despregar do madeiro a mão direita e colocá-la sobre a chaga aberta pela lança do centurião, enquanto que lhe dizia:

– E Eu, o que suporto por amor a ti? Profundamente emocionado, Junípero era outro homem ao levantar-se. Ele, que antes não conseguia aturar sem sofrimento qualquer pequena injúria, passou a receber com alegria as mais graves ofensas, como se fossem pedras preciosas para ornar a sua alma.


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1700 pessoas na Peregrinação Summorum Pontificum 2022 em Roma



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sábado, 19 de novembro de 2022

Gretl, o canário de Pio XII

É sabido que o Papa Pio XII tinha um grande amor aos animais, em especial ao seu canário - Gretl. Mas de onde veio o canário?

Certo dia, Sua Santidade estava a passear nos jardins do Vaticano quando reparou num canário deficiente. Ele não atravessou para o outro lado. Não ordenou a um jardineiro para se livrar do pássaro. Como o Bom Samaritano, pegou nele cuidadosa e ternamente, levou-o de volta para o Vaticano (que já havia visto animais de estimação papais antes, p.e. o cão de Leão XIII) e tomou conta dele até o canário ficar saudável e forte. 

Depois disto, o pássaro só estava contente, quando na presença do Santo Padre. Quando o Papa fazia a barba o pássaro voava à volta dele e até pousava na sua cabeça, apreciando uma intimidade que nenhum outro, homem ou animal, possuia. Foi um momento muito triste quando a Irmã Pasqualina carregou o pássaro de volta para um Vaticano que não conheceria mais Pio XII.[1]

Abria a porta da gaiola, o canário voava pelo escritório do Papa, e quando este levantava o braço, pousava no dedo dele, falavam disto e daquilo, o Papa punha-se a escrever (à máquina), por exemplo uma Encíclica ou uma carta, o canário voava e quando se cansava voltava pacificamente para a gaiola.[2]

Homem de Deus, ele alimentava-se da oração. Quando rezava, às vezes ficava tão absorto que não ouvia qualquer pessoa que o chamasse, nem reparava no canário que costumava pousar e piar sobre as suas mãos juntas.[3]

São Tomás de Aquino ensina-nos que os animais, como o próprio nome indica, possuem alma (ainda que material e portanto irracional, mas sensitiva) e a sua ligação ao homem é, portanto, uma significativa para ele. Isto apenas mostra a virtude do Papa Pio XII.

 PF

Notas:
1.  corbiniansbear.blogspot.pt
2. porabrantes.blogs.sapo.pt
3. Pe. Ernesto Buonaiuti - Contemporâneo de Sua Santidade Pio XII


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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A redenção do Padre X

Foi num dia de Novembro, há alguns anos, que enterrámos o Padre X. Um sacerdote com quase noventa anos, que confessava todos os dias, e quase durante todo o dia, numa igreja nos subúrbios de uma grande cidade e ajudou a servir a todos, mesmo nos trabalhos mais humildes. Nenhum dos seus paroquianos conhecia o "grande milagre silencioso" que ele vivera aos quarenta e dois anos de sua vida.

Alguns anos depois de ter sido ordenado sacerdote, ele abandonou tudo; e, para evitar provocar escândalo aos seus paroquianos, partiu para um país distante para "refazer a sua vida", como ele disse.

A sua vida não foi exemplar: duas uniões civis fracassaram, graças a Deus sem nenhum filho. Não faltou o álcool, também. Com a consciência entorpecida foram passando os anos, um após outro, sem grandes horizontes ou sacrifícios especiais, enquanto trabalhava como contabilista num armazém e vivia uma vida infeliz; muitas vezes com manifestações de ateísmo.

Um dia, sentado no seu escritório, enquanto fazia os últimos balanços do mês, ouviu uma voz que gritou pedindo ajuda: Um padre, um padre! Na entrada do prédio, um grupo de pessoas cercou uma jovem desmaiada no chão. Um amigo, ajoelhado, tentou reanimá-la. Ele era médico e tinha percebido que era um ataque cardíaco agudo, que deixava poucas possibilidades de sobrevivência. Mais uma vez gritou procurando por um sacerdote. 

X chegou naquele momento e quando viu a jovem em agonia, que abriu os olhos e olhou para ela reviveu todo o seu passado como um terremoto na sua alma. "Tu es sacerdos in aeternum - para sempre - secundum ordinem Melchisedech." As palavras da sua ordenação surgiram vigorosamente na sua cabeça e no seu coração.

O médico amigo da moribunda, quando o viu chegar, percebeu a expressão no seu rosto e perguntou-lhe sem hesitar: você é padre? X sentiu um calafrio por todo o corpo. Como é que aquele homem poderia saber? Ele hesitou e finalmente respondeu: sim.

Absolva-a imediatamente, ela está prestes a morrer! Ela fez um aborto há algumas semanas, estava com uma depressão profunda e queria pedir desculpas ao Senhor pelo seu pecado. Absolva-a, por favor!

As palavras da absolvição sacramental vieram imediatamente à sua boca. Com voz trémula disse: "Eu te absolvo dos seus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". E os seus olhos ficaram húmidos.

Demorou alguns meses até deixar o Espírito Santo entrar na sua alma, mas finalmente abriu as portas do seu coração, depois de uma visita a um Santuário da Virgem Maria. Ele não chegara a pedir uma dispensa de seus deveres sacerdotais. Seria possível voltar ao ministério sacerdotal?

O seu Bispo já havia falecido. Depois de pensar um pouco decidiu falar com um Bispo de uma diocese longe da sua diocese de origem. A sua Mãe também havia morrido e ele não tinha irmãos nem outros laços familiares. Tudo começou de novo.

Um padre amigo, e seu companheiro de seminário, esteve ao seu lado durante todo o processo de reintegração. O Diabo sabe como tentar nesses momentos, mas falhou. Uns exercícios espirituais e a recepção amigável do Bispo deixaram-no em paz. X, arrependido de todo o coração, voltou a exercer o seu ministério. A primeira vez que ele vestiu a batina, e se viu ao espelho, chorou amargamente. Lembrou-se de São Pedro.

Ernesto Juliá in Infocatolica
Tradução: Senza Pagare


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A capela móvel "Santa Teresinha"

Esta era a capela móvel "Santa Teresinha" na antiga diocese de Monterrey-Fresno (Califórnia). Levava o Santo Sacrifício da Missa aos que não tinham acesso a uma igreja. Era uma bênção para muitos imigrantes sul-americanos que trabalhavam nas zonas mais rurais da diocese. A fotografia terá sido tirada entre os anos 20 e os anos 30, do séc. XX.


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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Santa Gertrudes, a Grande

Santa Gertrudes nasceu na Alemanha a 6 de Janeiro de 1256 e ficou órfã muito jovem. Quando tinha cinco anos  foi levada para a Abadia Beneditina em Helfta, na Saxónia, para ser educada pelas freiras de lá. Era uma criança adorável e de raciocínio rápido que respondeu bem a quem a ensinou.

Ao terminar os estudos, aos 15 ou 16 anos, Gertrude ingressou na comunidade de Helfta. Era forte de carácter e personalidade e tornou-se numa presença vivificante no mosteiro. Quando jovem, porém, Gertrude não era muito piedosa e ficou tão absorta nos seus estudos seculares que negligenciou o chamamento espiritual. Aos 24 anos, começava a achar as rotinas do mosteiro cansativas. Durante o Advento de 1280, suportou uma severa provação emocional e espiritual. Pouco depois do seu 25º aniversário, a 27 de janeiro de 1281, Gertrudes experimentou um encontro repentino e inesperado com Cristo ressuscitado, que ela considera a sua “conversão”. No fundo do coração ela ouviu Cristo dizer-lhe: “Não tenhas medo. Eu vou salvar-te e libertar-te.”

Em 1289, Gertrudes ouviu Cristo pedir-lhe que escrevesse um relato das muitas graças que havia recebido. Relutantemente, Gertrude escreveu uma curta autobiografia espiritual, chamada "O Arauto da Bondade Amorosa de Deus". Nele, descreve o seu despertar, que tornou Cristo tão real que ela foi capaz de superar todas as resistências dentro de si mesma e gradualmente mover-se em direcção à entrega incondicional ao amor de Deus. A sua vida espiritual foi baseada nas escrituras e nutrida na liturgia. A sua oração era centrada em Cristo, especialmente na Sua humanidade representada pela imagem do Sagrado Coração, o tesouro divino da graça. 

Santa Gertrudes experimentou um amor intenso pela Eucaristia, um abraço amoroso do pecador, amizade pelos rejeitados e uma confiança duradoura na misericórdia de Deus. À medida que amadurecia, os seus olhos abriam-se para o mistério do amor de Cristo na Igreja e para a sua missão evangelizadora no mundo.

Santa Gertrudes morreu a 16 de Novembro de 1301 ou 1302, mas o seu legado espiritual continua vivo na Igreja, especialmente na sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus:

“Ó coração que difunde a gentileza;
Ó coração que transborda de bondade amorosa;
Ó coração que transborda de caridade;
Ó coração que destila prazer;
Ó coração cheio de compaixão!
Ó querido coração, absorve o meu coração totalmente em ti.
Concede-me, querido Jesus, que te ame em todas as coisas e acima de todas as coisas, que me apegue a ti com fervor e tenha esperança em ti sempre.
Amém."

Santa Gertrudes, a Grande, rogai por nós!

in stgertrude.org


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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Novembro, o mês das Almas

Estamos a viver o mês das Almas. Tempo propicio para reflectirmos nos Novíssimos do homem: Morte, Juízo, Inferno ou Paraíso. 

A nossa vida neste mundo é uma passagem, muito breve, comparada com a eternidade. Precisamos aproveitar o tempo para nos convertermos e sermos realmente melhores. Rezar pelas Almas Benditas do Purgatório, faz-nos pensar na eternidade, nas contas que todos um dia, teremos que dar a Deus Nosso Senhor.

Perguntemo-nos:

1. A vida que levo agrada a Deus e faz-me feliz?
2. Qual o meu defeito dominante, o meu pecado maior e mais frequente?
3. Luto para não ofender a Deus, a mim próprio e ao meu semelhante?
4. Conto com a Graça de Deus, a Sua força, para mudar o que tenho que mudar? 
5. Quero realmente esforçar-me por ser melhor cristão? 

Aproveitemos para fazer uma boa confissão. Talvez não a façamos há anos! Procuremos um sacerdote para abrirmos a nossa alma e pedirmos orientação para a nossa vida espiritual. Peçamos às Almas Santas do Purgatório que nos alcancem a graça da conversão, enquanto com toda a fé por elas rezamos:

"Eterno Pai, eu Vos ofereço o Preciosíssimo Sangue de Jesus, derramado na Sua Paixão, na Cruz; em união com as Lágrimas de Nossa Senhora e todas as Dores do Seu Imaculado e Doloroso Coração; com a intercessão de S. Miguel Arcanjo, de todos os Anjos e Santos, para aliviar as Almas do Purgatório. Eu vos ofereço o Sangue da Agonia , para expiar as suas faltas de oração. O Sangue da cruel Flagelação, para expiar as suas faltas de pureza. O Sangue da Coroação de Espinhos, para expiar as suas faltas de humildade. O Sangue do Caminho do Calvário, para expiar as suas faltas de cumprimento do dever. O Sangue do Alto da Cruz, para expiar as suas faltas de Caridade."

Pai Nosso e Avé Maria.

V. Dai-lhes Senhor o eterno descanso.
R. Entre os esplendores da luz perpetua.

V. Que descansem em paz.
R. Ámen.

Viva Jesus, Maria e José.
Deus vos abençoe.

Pe. Henrique José Maçarico


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