Santa Teresinha do Menino Jesus disfarçada de Santa Joana d'Arc, numa peça de teatro que fizeram no seu convento. A fotografia é muito rara e data de finais do século XIX.
terça-feira, 30 de maio de 2023
segunda-feira, 29 de maio de 2023
Ex-Núncio Apostólico apaixonou-se pelo Rito Antigo
O Arcebispo Thomas Gullickson, ex-Núncio Apostólico na Suíça, apaixonou-se pelo Rito Romano no de há alguns anos a esta parte, disse ao SfCatholic.org: "Amo a liturgia antiga e estou muito impressionado com os leigos católicos tradicionais".
Mons. Gullickson tem ordenado regularmente diáconos e padres no Seminário da Fraternidade de São Pedro em Denton, Nebraska.
Ele também celebrou hoje a Missa Solene na Catedral de Chartres, nesta Segunda-Feira de Pentecostes, no final da Peregrinação de Notre Dame de Chrétienté de Paris até Chartres.
Rezar a missa e ouvir confissões é o que mais lhe agrada na vida sacerdotal. O maior desafio é ser fiel aos seus compromissos de oração e crescer mais na oração.
in gloria.tv
A Oitava de Pentecostes acabou e Paulo VI chorou
Eu contei esta história da 'Segunda-feira de Pentecostes' há uns anos e ela tem estado a circular. Circulou por todos os lados, mas sou eu a origem da história, que publiquei há uns anos atrás. Imensas pessoas apanharam-na. Merece uma repetição. Isto serve como uma lição pelo que acontece quando perdemos de vista a continuidade.
Esta história foi-me contada há uns atrás...já décadas, agora...por um Ceremoniere (Mestre de Cerimónias) do Papa, já reformado que, segundo o próprio, esteve presente no acontecimento que vai ser agora contado.
No calendário Romano litúrgico tradicional [NT: antes da reforma feita pelo Papa Paulo VI] a enorme festa do Pentecostes tinha a sua própria Oitava. Liturgicamente falando, o Pentecostes era/é uma coisa muito importante, de facto. Tem um Communicantes e um Hanc igitur próprios, uma Oitava, uma Sequência, etc. Em alguns sítios do mundo, como a Alemanha e a Áustria, a Segunda-feira de Pentecostes, Whit Monday como lhe chamam os ingleses, era razão para ser um feriado civil, bem como observância religiosa [NT: dia de Missa obrigatória]. [NT: Em Portugal há uma grande tradição no Santuário de Nossa Senhora do Pranto, em Dornes, de fazer romarias e festejar o Pentecostes nestes dias.]
O Novus Ordo [NT: a forma da Missa mais comum actualmente, que segue o Missal do Papa Paulo VI] entrou em vigor no Advento de 1969.
Em 1970, na Segunda-Feira depois de Pentecostes, Sua Santidade o Papa Paulo VI foi para a capela, para celebrar a Santa Missa. Em vez dos paramentos encarnados, para a Oitava que todos sabiam seguir-se ao Pentecostes, estavam lá preparados para ele paramentos verdes.
Paulo VI perguntou ao Ceremoniere designado para aquele dia, "Mas que é isto? É a Oitava de Pentecostes! Onde estão os paramentos encarnados?"
"Santità," respondeu o Ceremoniere, "agora é o Tempus per annum [NT: Tempo comum]. Agora é verde. A Oitava de Pentecostes foi abolida."
"Verde? Não pode ser!", disse o Papa, "Quem é que fez isso?"
"Santidade, fostes vós."
E Paulo VI chorou.
Fr. John Zuhlsdorf in Fr. Z's Blog
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domingo, 28 de maio de 2023
As pétalas no dia de Pentecostes em Roma
O fogo do Pentecostes deve ser espalhado
Há uma admirável harmonia na obra da salvação do mundo. O povo hebreu teve o seu tempo Pascal, em memória da sua libertação da opressão egípcia, pelo sangue do cordeiro, figura profética da Páscoa cristã que é a libertação da opressão do mundo sob o jugo de Satanás, pelo sangue do verdadeiro Cordeiro, Nosso Senhor Jesus Cristo. Cinquenta dias depois de os hebreus deixarem o Egipto, eles receberam no Monte Sinai a Lei que os governaria e faria deles, no meio dos gentios, o povo de Deus. Foi também a primeira figura profética de Pentecostes do segundo, o pentecostes cristão.
Mas o Pentecostes Cristão não chama a atenção para o trovão e o relâmpago do Sinai. Ela só lembra que, 50 dias depois da Ressurreição de Nosso Salvador, o Espírito Santo desceu, sob a forma de línguas de fogo, sobre os Apóstolos unidos no Cenáculo. Esta não é mais a promulgação aterradora da Lei que acorrentou o povo hebreu em sua observância pelo medo de castigos; antes, é o dom da luz e da força que deve difundir a caridade de Deus em todo o mundo e, por essa caridade, a prática da lei evangélica.
Com o Espírito Santo, é uma Caridade substancial que toma posse do mundo para trazê-lo de volta a Deus. E uma vez desceu sobre a terra, esta Caridade não a deixará novamente. Ela permeará todos os povos, insinuará a si mesma em todas as almas, conquistador divino e, pouco a pouco, sob seu suave e forte impulso, descobriu-se que o mundo era católico. Obra de Caridade, esta maravilhosa transformação que lançou aos pés de Jesus tantos Povos e os ensinou a dizer a Deus: Pai Nosso! Grito de amor filial, choro do Espírito Santo nas almas.
É esta tomada de posse do mundo pela caridade que celebramos neste dia de Pentecostes. E assim nossos corações se alegram: Profusis gaudiis totus em orbe terrarum mundus exultat, como canta o Prefácio. (Por que o mundo inteiro se alegra com grande alegria?)
Elevemos nossas almas a estas alturas para celebrar com devoção, com gratidão a descida da Caridade sobre a terra.
Aconteceu em Jerusalém, no Cenáculo, onde os discípulos de Jesus estavam reunidos em torno de Sua Santa Mãe. Até a hora é mencionada, porque foi um momento solene, decisivo para a salvação das almas: a hora do terceiro de acordo com a maneira antiga de dividir o dia, o que corresponde às 9 horas da manhã.
Em Sua Liturgia, a Igreja, que vive pelo Espírito Santo, celebra diariamente esta hora de caridade eterna que se tornou seu tesouro, pelo hino que os sacerdotes recitam na Terceira. É a invocação perpétua para a perpétua descida da Caridade Divina.
Surgiu um violento vento ao redor do Cenáculo e em toda a cidade e, ao mesmo tempo, línguas de fogo apareceram sobre os apóstolos.
É a impetuosidade da caridade, que se manifesta por essa rajada de vento. Significa que aqueles que recebem o Espírito Santo, que vivem em Sua presença, que se deixam conduzir por Ele, devem se doar sem reservas. A caridade é sem medida. Se calcula, não é mais Caridade. Ele segue o seu caminho e ninguém pode pará-lo, assim como ninguém pode parar uma tempestade. A Caridade Divina lançaria os Apóstolos num redemoinho irresistível em todo o mundo, como sempre deve lançar em redemoinho todos os que amam a Deus, seja pelo apostolado da pregação, seja pelo da penitência e da oração.
Foi línguas de fogo que desceu sobre os apóstolos. "Eu vim para lançar fogo sobre a terra", disse Nosso Senhor, "e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?" (Lucas 12, 49).
Está feito. O fogo é descendente, foi lançado, a rajada irá acender o fogo em todo o mundo. Quem pode escapar de suas faíscas divinas? Hoje também queimamos com esse fogo quando amamos a Deus; quando, para provar a Ele, resistimos ao mal; quando sentimos em nós o imenso e insaciável desejo de amá-lo mais; quando o fazíamos conhecido, torná-lo amado por aqueles que nos rodeiam, por aqueles distantes de nós e de todos os lugares. Então, é o fogo da Caridade Divina que nos abraça.
Manter isso para si mesmo não é possível. Quem quer que guarde para si mesmo, tem apenas um pouquinho. Este fogo deseja ser comunicado, para ser espalhado. Quem possui em si mesmo sente a necessidade imperiosa de dar aos outros.
Manter isso para si mesmo não é possível. Quem quer que guarde para si mesmo, tem apenas um pouquinho. Este fogo deseja ser comunicado, para ser espalhado. Quem possui em si mesmo sente a necessidade imperiosa de dar aos outros.
Pe. Mortier O.P. in 'La Liturgie dominicaine' (Paris, DDB, 1922, t. 5, p. 240-241)
Traduzido por: Fr. Vicente Ferrer, T.O.P.
Traduzido por: Fr. Vicente Ferrer, T.O.P.
sábado, 27 de maio de 2023
7 bons motivos para um Sacerdote usar batina
A ordem sacerdotal, uma vez recebida, não se esquece facilmente. Porém um lembrete nunca fez mal a ninguém: algo visível, um símbolo constante, um despertador sem ruído, um sinal ou bandeira. O sacerdote que vai à paisana é um entre muitos, o que vai de batina, não. É um sacerdote e ele é o primeiro persuadido. Não pode permanecer neutro, o traje denuncia-o. Ou se faz um mártir ou um traidor, se chega a tal ocasião. O que não pode é ficar no anonimato, como um qualquer. E logo quando tanto se fala de compromisso! Não há compromisso quando exteriormente nada diz do que se é. Quando se despreza o uniforme, se se despreza a categoria ou classe que se representa.
2 - PRESENÇA DO SOBRENATURAL NO MUNDO
Não resta dúvida de que os símbolos nos rodeiam por todas as partes: sinais, bandeiras, insígnias, uniformes… Um dos que mais influencia é o uniforme. Um polícia, um guardião, deve actutar, deter, passar multas, etc. Basta a sua presença para influenciar os outros: conforta, dá segurança, irrita ou deixa nervoso, segundo sejam as intenções e conduta dos cidadãos. Uma batina suscita sempre algo nos que nos rodeiam. Desperta o sentido do sobrenatural. Não faz falta pregar, nem sequer abrir a boca. Ao que está de bem com Deus dá ânimo, ao que tem a consciência pesada avisa, ao que vive longe de Deus produz arrependimento.
As relações da alma com Deus não são exclusivas do templo. Muita, muitíssima gente não entra na Igreja. Para estas pessoas, que melhor maneira de lhes levar a mensagem de Cristo do que deixar-lhes ver um sacerdote consagrado vestido com a sua batina? Os fiéis lamentam a dessacralização e os seus devastadores efeitos. Os modernistas denunciam o suposto triunfalismo, tiram os hábitos, rechaçam a coroa pontifícia, as tradições de sempre e depois queixam-se de seminários vazios; de falta de vocações. Apagam o fogo e queixam-se do frio. Não há dúvidas: o “desbatinamento” ou “desembatinação” leva à dessacralização.
3 - É DE GRANDE UTILIDADE PARA OS FIÉIS
O sacerdote o é não só quando está no templo administrando os sacramentos, mas nas vinte e quatro horas do dia. O sacerdócio não é uma profissão, com um horário marcado; é uma vida, uma entrega total e sem reservas a Deus. O povo de Deus tem direito a que o auxilie o sacerdote. Isto é facilitado se puderem reconhecer o sacerdote entre as demais pessoas, se aquele leva um sinal externo. O que deseja trabalhar como sacerdote de Cristo deve poder ser identificado como tal para o benefício dos fiéis e melhor desempenho da sua missão.
4 - SERVE PARA PRESERVAR DE MUITOS PERIGOS
A quantas coisas se atreveriam os clérigos e religiosos se não fosse pelo hábito! Esta advertência, que era somente teórica quando a escrevia o exemplar religioso Pe. Eduardo F. Regatillo, SJ, é hoje uma terrível realidade. Primeiro, foram coisas de pouca monta: entrar em bares, lugares de recreio, diversão, conviver com os seculares, porém pouco a pouco se tem ido cada vez a mais. Os modernistas querem fazer-nos crer que a batina é um obstáculo para que a mensagem de Cristo entre no mundo. Porém, suprimindo-a, desapareceram as credenciais e a mesma mensagem.
De tal modo que já muitos pensam que o primeiro que se deve salvar é o mesmo sacerdote que se despojou da batina supostamente para salvar os outros. Deve-se reconhecer que a batina fortalece a vocação e diminui as ocasiões de pecar para aquele que a veste e para os que o rodeiam. Dos milhares que abandonaram o sacerdócio depois do Concílio Vaticano II, praticamente nenhum abandonou a batina no dia anterior ao de ir embora: tinham-no feito muito antes.
5 - AJUDA DESINTERESSADA AOS DEMAIS
O povo cristão vê no sacerdote o homem de Deus, que não busca o seu bem particular mas o dos seus paroquianos. O povo escancara as portas do coração para escutar o padre que é o mesmo para o pobre e para o poderoso. As portas das repartições, dos departamentos, dos escritórios, por mais altas que sejam, se abrem diante das batinas e dos hábitos religiosos. Quem nega a uma monja o pão que pede para os seus pobres ou idosos? Tudo isto está tradicionalmente ligado a alguns hábitos. Este prestígio da batina tem-se acumulado à base de tempo, de sacrifícios, de abnegação. E agora, desprendem-se dela como se se tratasse de um estorvo?
6 - IMPÕE A MODERAÇÃO NO VESTIR
A Igreja preservou sempre os seus sacerdotes do vício de aparentar mais do que se é e da ostentação dando-lhes um hábito singelo em que não cabem os luxos. A batina é de uma peça (desde o pescoço até os pés), de uma cor (preta) e de uma forma (saco). Os arminhos e ornamentos ricos deixam-se para o templo, pois essas distinções não adornam a pessoa se não o ministro de Deus para que dê realce às cerimônias sagradas da Igreja. Porém, vestindo-se à paisana, a vaidade persegue o sacerdote como a qualquer mortal: as marcas, qualidades do pano, dos tecidos, cores, etc...
Já não está todo coberto e justificado pelo humilde hábito religioso. Ao se colocar no nível do mundo, este o sacudirá, à mercê dos seus gostos e caprichos. Haverá de ir com a moda e sua voz já não se deixará ouvir como a do que clamava no deserto coberto pela veste do profeta vestido com pêlos de camelo.
7 - EXEMPLO DE OBEDIÊNCIA AO ESPÍRITO E LEGISLAÇÃO DA IGREJA
Como alguém que tem parte no Santo Sacerdócio de Cristo, o sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina ajuda-o a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote do seu importante papel e da sua missão sagrada ou confundirá o seu traje e sua vida com a do mundo.
Padre Jaime Tovar Patrón
Pentecostes: Vigília restaurada ou cortada?
O Missal promulgado pelo Papa Paulo VI, a 3 de Abril de 1969, eliminou praticamente
as antigas vigílias e oitavas para as principais festas.
As oitavas são agora limitadas à Páscoa e ao Natal. Quanto às vigílias,
permanecem, para algumas festas, uma "Missa na noite anterior", que muitas
vezes passa despercebida nas paróquias. É uma antecipação da festa e
já não um dia de jejum e preparação para a festa.
A Missa da Vigília de Pentecostes é um caso especial. Ela oferece a
opção de quatro textos para a primeira leitura. São textos do Antigo
Testamento que preparam para o dom do Espírito Santo. Isso é tudo o que
resta da antiga e rica liturgia da vigília de Pentecostes.
A "desmontagem" da liturgia de Pentecostes foi feita em duas etapas. A
vigília caiu durante a reforma dos anos 50, e a oitava foi abolida
durante a promulgação do novo missal.´
A antiga Vigília de Pentecostes e o seu carácter baptismal
"A vigília de Pentecostes não possui mais nada de baptismal, transformou-se num dia como qualquer outro, fazendo mentir o missal no cânone. Esta vigília era um vizinho chato, um rival formidável! A posteridade educada será provavelmente mais severa do que a visão actual em relação à pastoral." [2]
Ele refere-se aqui à recuperação próxima da vigília baptismal de
Páscoa pelos cristãos, praticada desde os tempos antigos na véspera de
Pentecostes.
Os cristãos primitivos celebravam primeiramente todo o Mistério Pascal:
morte, ressurreição, ascensão e o dom do Espírito Santo durante a grande
noite da Páscoa. No entanto, muito rapidamente, o ensinamento da Igreja
destacou os diferentes aspectos dela, dividindo as celebrações de
acordo com a cronologia dos evangelhos.
Por outro lado, sabemos que os sacramentos da iniciação cristã: baptismo,
confirmação e Eucaristia, eram anteriormente administrados aos candidatos
durante a mesma celebração, uma prática mantida pelas igrejas orientais.
Cito o cardeal Schuster sobre a ligação intrínseca e ao mesmo tempo
distinta entre Baptismo e Confirmação:
"Embora o sacramento do Baptismo seja distinto do da Confirmação, recebe esse nome porque a descida do Espírito Santo na alma do fiel completa a obra de sua regeneração sobrenatural. Através do carácter sacramental, é conferido ao neófito uma mais perfeita semelhança com Jesus Cristo, que imprime o último selo ou confirmação à sua união com o divino Redentor. A palavra confirmação era também utilizada em Espanha para indicar a oração invocatória do Espirito Santo durante a missa: Confirmatio sacramenti; também a analogia existente entre a epíclese (que na missa, pede ao Paráclito a plenitude de seus dons sobre aqueles que se aproximam da Santa Comunhão) e a Confirmação, que os antigos administravam imediatamente após o baptismo, esclarece o profundo significado teológico que está escondido sob o vocábulo “Confirmação” atribuído ao segundo sacramento." [3]
Tertuliano já fala da celebração dos baptismos, não só na grande vigília de Páscoa, mas também para o Pentecostes:
"Outro dia solene do baptismo é o Pentecostes, quando acontece um longo intervalo de tempo para dispor e educar aqueles que devem ser baptizados."
A escolha não é inocente, porque no baptismo, o bispo coloca a sua mão direita sobre a cabeça do neófito, chamando o Espírito Santo por meio de uma bênção. [4]
Temos também uma carta do Papa Sirício (384-399) [5] ao bispo de
Tarragona, Himera, atestando essa prática. Além disso, numa carta aos
bispos da Sicília, o Papa S. Leão Magno (440-461) exorta-os a imitar
São Pedro, que baptizou três mil pessoas no dia do primeiro Pentecostes.
[6]
Os livros litúrgicos posteriores dão-nos um diagrama de uma celebração
do mesmo tipo da Vigília Pascal, que encontramos em todos os missais que
precederam a reforma de Trento e no Missal de São Pio V até a reforma
da década de 1950.
Vamos deixar a Dom Guéranger o cuidado de descrever essa prática:
"Nos tempos antigos, esse dia se assemelhava a véspera da Páscoa. À noite os fiéis iam à igreja participar nas solenidades da administração do baptismo. Na noite que se seguia, o sacramento da regeneração era conferido aos catecúmenos cuja ausência ou alguma doença os tinha impedido de se juntarem aos outros na noite de Páscoa. Aqueles que ainda não tinham sido considerados suficientemente aprovados, ou cuja educação não parecia completa, tendo satisfeito as justas exigências da Igreja, também ajudavam a formar o grupo de aspirantes ao novo nascimento que se recebe a partir da fonte sagrada. Em vez das doze profecias que se liam na noite de Páscoa, enquanto os sacerdotes executavam os ritos preparatórios aos catecúmenos para o baptismo, costumavam ler seis; Isto leva à conclusão de que o número de baptizados na noite de Pentecostes era menos considerável." [7]
"O círio pascal reaparecia durante esta noite de graça, para educar o novo recruta o que fazia a Igreja, respeito e amor pelo Filho de Deus que se fez homem para ser "a luz do mundo”. Todos os rituais que temos descrito e explicado no Sábado Santo realizavam-se nesta nova oportunidade, onde aparecia a fecundidade da Igreja, e o Divino Sacrifício do qual tomaram parte os felizes neófitos começava ainda antes do amanhecer." [8]
Como apresentou Pio Parsch:
“Hoje é uma vigília solene e, portanto, de penitência completa, com jejum e abstinência (em algumas dioceses, no entanto, esta obrigação não se impõe mais com a pena do pecado; isso não é mais do que um simples conselho). A vigília é sempre um dia de preparação. A casa da alma deve ser limpa e preparada para a grande festa. Dois pensamentos ocupam o cristão que vive com a Igreja: a) lembra-se do seu baptismo; b) prepara-se para o Pentecostes.” [9]
Tempo e Estrutura da Vigília
Esta é a rubrica que antecede a celebração da Vigília de Pentecostes nos
missais. O seu tempo é o mesmo que o da vigília pascal. Anteriormente
celebrada na noite de Sábado para Domingo, em seguida, no início da
tarde, ele caiu dentro do âmbito do decreto de São Pio V, que impôs a
antecipação dos ofícios ao amanhecer. A Vigília de Pentecostes,
portanto, é celebrada na manhã de sábado.
A sua estrutura é semelhante ao do Sábado Santo, com a excepção da bênção do fogo e do Círio Pascal. Pius Parsch chama-lhe uma imitação abreviada do Sábado Santo.
Ela começa pelas leituras das profecias, cada qual seguida de uma
resposta e uma oração pelo celebrante, que é precedido por um convite do
diácono: Oremus. Flectamus genua.
Depois, partimos em procissão até o baptistério com a bênção da água, cantando versos do Salmo 41 (Sicut Cervus ad fontes aquarum).
Depois de uma oração, o celebrante diz a oração de bênção da água, como
na Vigília Pascal. Em seguida, retornamos para o altar em procissão
cantando a Ladainha dos Santos, enquanto os celebrantes vão para a
sacristia, a fim de revestir os paramentos para a Missa. [10]
A cor da vigília é o roxo. É especificado que o sacerdote utilize a capa
de asperges para a procissão para o fonte baptismal. O diácono e
subdiácono levam a casula plicada (dobrada). A missa é em vermelho, a
cor de Pentecostes.
No final das ladainhas, acendem-se as velas, os ministros vão para o
altar enquanto o coro canta o Kyrie, eles recitam as orações ao pé do
altar e o sacerdote incensa e entoa o Glória, durante o qual se tocam os
sinos. [11]
Plano Da Vigília de Pentecostes:
Proclamação das seis profecias:
Leitura + resposta + Flectamus genua + Oração
Procissão a pia baptismal
Salmo 41
Bênção da Água
Procissão até o altar
Ladainha dos Santos
Missa
As Profecias
No rito primitivo havia doze leituras, como na Páscoa. Este número foi
reduzido para seis por S. Gregório Magno, e foi assim mantida até o
século VIII, quando, sob a influência do Sacramentário Gelasiano,
devolvemos à Vigília Pascal as suas leituras originais.
As leituras de Pentecostes são tiradas da Páscoa, mas numa ordem diferente.
Leitura
|
Pentecostes
|
Páscoa
|
1
|
Gn. 22 - Sacrifício de Abraão
|
3
|
2
|
Ex 14 e 15 - A passagem do Mar Vermelho
|
4
|
3
|
Dt 31 - O Testamento de Moisés, o cumprimento da Lei
|
11
|
4
|
Is 4 - A libertação de Jerusalém
|
8
|
5
|
Bar 3 - O retorno à Terra Prometida
|
6
|
6
|
Ez 37 - Ossos secos
|
7
|
A cada leitura se segue um responso. Três desses são os mesmos que na
Vigília pascal. As orações que se seguem, no entanto, são diferentes,
retiradas do Sacramentário Gregoriano [12].
Elas reforçam, à sua própria maneira, a continuidade entre os dois
Testamentos, e entre a passagem do Israel do Antigo Testamento, liberto
da escravidão, ao novo Israel, de pessoas baptizadas, libertas do pecado.
Citamos aqui apenas aqueles que seguem a segunda e a quarta leitura,
que são admiráveis:
“Deus, Vós revelastes pela luz da Nova Aliança o significado dos milagres realizados nos primeiros tempos: o Mar Vermelho tornou-se a figura da fonte sagrada do baptismo, e as pessoas libertados da escravidão no Egipto expressam os mistérios do povo cristão: fazei com que todas as nações que receberam pelo mérito da fé o privilégio de Israel sejam regeneradas através da participação no Vosso Espírito”.
“Deus eterno e Todo-Poderoso, Vós tendes mostrado através de seu Filho unigênito que Vós sois o jardineiro de sua Igreja, misericordiosamente cuidador de todos os ramos frutificados em seu Cristo, que é a videira verdadeira, para que produzam mais frutos: fazei que os espinhos do pecado não sobrepujem vossos fiéis, que libertastes do Egipto como uma vinha pela fonte do baptismo; e que, fortalecidos pela santificação do Vosso Espírito, sejam enriquecidos por uma colheita sem fim”.
A descida para a pia baptismal e a bênção da água, após a oração da sexta
profecia, reutiliza todos os textos da Vigília Pascal, com excepção da
colecta que precede a bênção da água, a qual fala da festa do dia:
“Concedei, nós vos rogamos, Deus Todo-Poderoso: nós, que celebramos a solenidade dos dons do Espírito Santo, que inflamados dos desejos celestes, tenhamos sede da fonte da vida.”
Vemos claramente, através destes textos, a íntima conexão entre o baptismo, o dom do Espírito Santo e vida cristã.
Missa
Como vimos, a missa segue imediatamente a Ladainha. Como na Páscoa, não
há Introito. Só mais tarde, quando se espalhou o uso de missas
privadas, se acrescentou o Intróito "Cum sanctificatus”, emprestado da Quarta-Feira da quarta semana da Quaresma.
"Fazei, nós vos rogamos Deus Todo-Poderoso, que o esplendor de Vossa luz brilhe sobre nós; e o brilho de Vossa luz confirme, pela iluminação do Espírito Santo, os corações daqueles que Vossa graça tem revivido. Por Nosso Senhor..."
Esta ligação é enfatizada ainda mais na carta dos Actos dos Apóstolos
[13]. Trata-se do encontro de Paulo com os discípulos de João Baptista.
Eles nem sequer tinham ouvido dizer que existe um Espírito Santo, depois do que Paulo baptiza-os em nome de Jesus Cristo.
O resto da Missa é inteiramente centrada em Pentecostes, com o Evangelho
[14] em que Jesus prometeu a seus discípulos que não os deixaria
órfãos, mas que deviam orar ao Pai para que Ele enviasse o Consolador.
A Secreta e a Pós-comunhão pedem a purificação dos corações por meio do derramamento do Espírito Santo.
A oração do Canon contém duas partes próprias. No Communicantes menciona-se a festa do dia:
“Unidos numa comunhão e celebrando o santo dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo apareceu aos Apóstolos sob a forma de múltiplas línguas de fogo, e venerando primeiro a memória da gloriosa Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo nosso Deus e Senhor (...)”
Enquanto o Hanc igitur, como na Páscoa, reza pelos baptizados da noite:
“Então, Senhor, este sacrifício que nós oferecemos, e com todos os Vossos filhos, hoje especialmente para aqueles que vós vos dignastes a regenerar pela água e pelo Espírito Santo, concedendo-lhes a remissão de todos os seus pecados...”
A reforma de 1955
O caráter baptismal da vigília foi apagado e a liturgia é inteiramente direcionada para a vinda do Espírito Santo.
Mantivemos a letra, que faz a conexão entre os dois sacramentos. Mas pode-se perguntar por que mantivemos o Hanc igitur que intercede pelos baptizados da noite. E isto para a Vigília, dia e Oitava de Pentecostes, como era feito na Páscoa.
Esta oração já era simbólica antes da reforma, já que quase nunca havia
baptismos durante a celebração. No entanto, ela alargava o caráter
baptismal da vigília e [por isso] manteve o seu lugar. A sua conservação aqui
[após 1955], isola-a do resto da celebração e redu-la, mais do que
antes, a um simples vestígio.
O missal de 1969
A antífona de abertura não é mais o velho Intróito "Cum sanctificatus", mas uma citação de Romanos 5, 5: "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Seu Espírito que habita em nós, aleluia."
O aspecto baptismal não é mais explicitamente mencionado e a ênfase é
sobre a vinda do Espírito Santo e o encerramento do Tempo Pascal.
A antiga colecta foi mantida, mas é uma alternativa a outra, que está
listada em primeiro lugar. Isto é, aparentemente, uma nova composição:
“Deus Todo-Poderoso e eterno, Vós quisestes que a celebração do mistério pascal crescesse durante estes 50 dias de alegria; fazei que as nações e os povos espalhados se reúnam apesar da divisão linguística para confessar juntos o teu nome. Jesus ...”
Esta é uma alusão a Babel, à divisão de linguagem, e à leitura do dia
seguinte, dos Actos, onde todos entendem na sua própria língua a pregação
dos Apóstolos.
A peculiaridade desta Missa, única no missal, é uma escolha entre quatro textos como primeira leitura:
- Génesis 11, 1-9: A torre de Babel
- Êxodo 19, 3-20: Deus manifestou-Se no fogo, no meio do povo
- Ezequiel 37, 1-14: Os ossos secos
- Joel 3, 1-5: O Espírito vem habitar em todos os homens
À parte do texto de Ezequiel, todos os outros são diferentes das profecias da antiga vigília.
A continuação da Liturgia da Palavra é fixa:
- Salmo 104, 1: Senhor enviai o Vosso Espírito e renovai a face da terra!
- Romanos 8, 22-27: O Espírito ajuda-nod na nossa fraqueza
Quanto ao evangelho, manteve-se Jo 7, 37-39: Jesus promete o Espírito aos crentes
O communicantes próprio da Oração Eucarística I é o do antigo missal:
“Na comunhão de toda a Igreja, celebramos o santo dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo se manifestou aos Apóstolos em inúmeras línguas de fogo; e nós queremos mencionar primeiro a bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo ...”
A mesma fórmula, adaptada, também é transferida para as outras orações eucarísticas e, portanto, à Oração III:
“É por isso que estamos aqui reunidos na vossa presença e na comunhão de toda a Igreja, celebramos o santo dia Pentecostes, quando o Espírito Santo se manifestou aos Apóstolos em inúmeras línguas de fogo. Deus Todo-Poderoso, nós vos imploramos consagrar as ofertas que trazemos ...”
Há logicamente mais menções de baptizados no Hanc igitur ou o seu correspondente nas novas orações.
A Oração sobre as Oferendas e a Oração Após a Comunhão referem-se frequentemente ao Espírito:
“Nós oramos, Senhor, derramai a bênção de Vosso Espírito nas nossas ofertas; que a Vossa igreja receba essa caridade que fará brilhar no mundo a verdade da Vossa salvação.”
e
“Senhor, que esta comunhão nos seja aproveitável, fazendo-nos viver do fervor do Espírito Santo com o qual Vós preenchestes os Vossos apóstolos maravilhosamente.”
Quanto à Antífona da Comunhão, ela é tirada do Evangelho:
“O último dia da festa, Jesus levantou-se e gritou: ‘Se alguém tiver sede, venha a mim e beba’ Aleluia.”
É de se perguntar por que a sequência da frase, " Quem crê em mim", não foi adicionada.
Continuidade ou ruptura?
"A obrigação de rever e enriquecer as fórmulas Missal Romano foi sentida. O primeiro passo dessa reforma foi o trabalho de nosso predecessor Pio XII, com a reforma da Vigília Pascal e do rito da Semana Santa. Esta é a reforma que deu o primeiro passo para a adaptação do Missal Romano à mentalidade contemporânea”. Assim se expressa Paulo VI na Constituição Apostólica Missale Romanum [15].
Aqui vemos uma prática antiga completamente abolida. Esta eliminação,
assim diz Mons. Gromier, remove todo o carácter baptismal deste dia e
centra-o na vinda do Espírito Santo. Provavelmente era o objectivo dos
membros da Comissão insistir sobre o baptismo na Páscoa e sobre a
confirmação em Pentecostes, através do dom do Espírito Santo.
No entanto, a Missa foi conservada, ainda que contenha elementos que
lembram a vigília. Isto é, no mínimo, uma inconsistência. A "restauração"
dos anos 50, aqui, nada restaurou. Não há necessidade de grande
erudição para se perceber que esta reforma foi realizada às pressas e
descobrir nela muitas inconsistências.
Quanto à forma de 1969, ela é, como já mencionado, uma nova criação. Actualmente a maioria das dioceses organizam uma "Vigília de Pentecostes”, às vezes com a Missa da Vigília, frequentemente com o sacramento da Confirmação, mas com largo espaço para "criação" e "criatividade" devido à falta de orientações suficientes da parte do Missal.
Longe do “desenvolvimento orgânico” [16] querido pelo Padre Reid,
devemos, mais uma vez, ver a falta de lógica e continuidade nos
trabalhos das comissões. Neste caso, muita coisa foi removida, deixando
um vácuo e criando um amplo espaço para a improvisação. Talvez mais do
que em qualquer outro dia do ano litúrgico, as práticas da Vigília de
Pentecostes nos diferentes lugares – dioceses e paróquias -, mostram uma
diversidade que é uma lembrança de uma das leituras oferecida a escolha
dos celebrantes: a de Babel.
Pe. Jean-Pierre Herman in Salvem a Liturgia
Bibliografia
- SCHUSTER, I., Liber Sacramentorum. Notes historiques et liturgiques sur le Missel romain. Tome IV : Le baptême dans l’Esprit et dans le feu (la Sainte liturgie durant le cycle pascal). Bruxelles, 1939.
- GUERANGER P., L’année liturgique, Tome ii: Le Temps pascal, Mame & Fils, Paris, 1920,
- PARSCH, P., The Church’s Year of Grace, Liturgical Press, Collegeville, 1953.
- REID A., The Organic Development of the Liturgy, St Michael’s Abbey Press, Farnborough 2004
Notas
[3] Schuster, I., Liber Sacramentorum. Notes historiques et liturgiques
sur le Missel romain. Tome IV : Le baptême dans l’Esprit et dans le feu
(la Sainte liturgie durant le cycle pascal). Bruxelles, 1939.
[4] Tertuliano, De Baptismo 8, 1.
[5] Epist. ad Himerium cap. 2 : Patrologia Latina vol. XIII, col. 1131B-1148A
[6] Epist. XVI ad universos episcopos per Siciliam constitutos : P.L. LIV col. 695B-704A
[7] Durante a leitura das profecias do Sábado Santo, os sacerdotes
terminavam os ritos de preparação dos catecúmenos ao Baptismo, o que
tomava um certo tempo. Daí o comentário de Dom Guéranger sobre a
relativa brevidade das profecias.
[8] GUERANGER P., L’année liturgique, Tome ii: Le Temps pascal, Mame & Fils, Paris, 1920, p. 260
[9] PARSCH, P., The Church’s Year of Grace, Liturgical Press, Collegeville, 1953.
[10] A rubrica especifica: nos lugares onde não há pia baptismal,
depois da sexta profecia com a sua oração, o celebrante tira a casula e se
prostra com os ministros diante do altar. E, estando ajoelhados
todos os outros, cantam-se as ladainhas. São cantadas por dois cantores
no meio do santuário, as dois coros respondem juntos. Ao verso
Peccatores, te rogamus o padre os ministros levantam-se e vão à
sacristia, e vestem paramentos vermelhos.
[11] Citamos novamente a rubrica: Ao fim das ladainhas, canta-se o
Kyrie Eleison para a missa, repetindo-o conforme o costume. Durante
esse tempo o celebrante e os ministros vão para o altar e fazem a
confissão. Ao fim do Kyrie Eleison se entoa o Gloria in excelsis Deo e
tocam-se os sinos.
[12] Este documento, catalogado Codex Regina 337, foi
recentemente publicado pela Biblioteca Vaticana. É um manuscrito do
século VIII que descreve a liturgia papal em Latrão, depois da
organização da liturgia pelo Papa São Gregório Magno e seus sucessores,
até o tempo do papa Adriano I (+795), que enviou o manuscrito ao
imperador Carlo Magno a fim de estabelecer a liturgia romana em todo o
seu império. O Codex Regina 337 foi analisado por H.A. Wilson no livro The Gregorian sacramentary under Charles the Great, publicado pela Henry Bradshaw Society em Londres em 1915.
[13] Actos 19, 1-8.
[14] João, 14, 15-21.
[15] 3 de Abril de 1969.
[16] Alcuin Reid OSB, The Organic Development of the Liturgy, St Michael’s Abbey Press, Farnborough 2004.
sexta-feira, 26 de maio de 2023
Não há nada que o demónio tema mais do que a oração mental
O homem que não reza é como um animal sem razão. Não há nada melhor para o homem do que a oração; e sem ela não é possível sustentar-se por muito tempo na vida da graça. É por isso que é necessário recorrer todos os dias a este meio poderosíssimo de salvação.
É por isso que o demónio tem tanto medo da oração, e não há nada que o enfureça tanto, e nada que ele tente impedir com maior determinação, do que a oração".
São Filipe Néri (Codesal: 'Antologia de textos sobre a oração')
São Filipe Néri, o santo que dizia "Prefiro o Paraíso"
Hoje é dia de São Filipe Néri. Poucos são os santos da Igreja privilegiados
como São Filipe Néri. Filho de pai nobres e piedosos, Filipe nasceu em 1515, na
cidade de Florença. De boa índole, de modos afáveis e inclinação à oração
mereceram ao menino de 5 anos o apelido de "o bom Filipe".
Um incêndio destruiu grande parte da fortuna dos pais e Filipe passou a
morar com um primo que era negociante riquíssimo em São Germano. Este primo
prometeu estabelecê-lo como herdeiro de todos os seus bens, se quisesse tomar-lhe
a gerência dos negócios. O bom Filipe, porém, pouca inclinação sentia para ser
negociante; o que queria, era ser santo e apesar das repetidas insistências do
primo, resolveu dedicar-se ao serviço de Deus. Fez os estudos de Filosofia e
Teologia em Roma e começou desde logo a observar a regra de vida austeríssima,
que o acompanhou até o fim da vida. Alimentava-se de pão, água e legumes; para
o sono reservava poucas horas, para a adoração, porém, muitas.
No grande desejo de dedicar-se à vida contemplativa,
vendeu a biblioteca, deu os bens aos pobres e aprofundou o espírito na
meditação da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Todo o tempo disponível
passava-o nas igrejas ou de preferência catacumbas. A graça de Deus tocou-lhe o
coração com tanta violência que, prostrado por terra, exclamou muitas vezes:
"Basta, Senhor, basta! Suspendei a torrente de vossas consolações, porque
não tenho forças para receber tantas delícias. Ó meu Deus tão amável, por que
não me destes um coração capaz de amar-Vos condignamente?" Foi nas
catacumbas de São Sebastião, no ano de 1545, que recebeu o Espírito Santo, em
forma de bola de fogo. Naquela ocasião sentia em si um ardor tão forte do amor
de Deus que, devido às palpitações fortíssimas do coração, foram deslocadas a
segunda e a quarta costelas.
Com o amor de Deus, grande era-lhe também o amor do próximo. Filipe,
possuía o dom de atrair todos a si, circunstância para a qual concorriam muito
sua afabilidade, cortesia e modéstia. Recorria a mil estratagemas, para ganhar
os jovens das ruas e nas oficinas de Roma. Era amigo de todos e uma vez
adquirida a confiança preparava-os para a recepção dos Sacramentos e
encaminhava-os para o bem. As noites passava-as nos hospitais, tratando os
doentes como uma mãe. O monumento mais belo de sua caridade é a Irmandade da
Santíssima Trindade, cujo fim principal era receber os romeiros e tratar dos
doentes.
No início de cada mês convidava o povo para adoração ao SS. Sacramento e
nesta ocasiões, embora leigo, fazia admiráveis alocuções aos fiéis. A piedosa
ideia achou eco entre o povo que, abundantes esmolas deitavam para a nova
instituição. Cardeais, Bispos, Reis, Ministros, Generais e Princesas viam
grande honra em poderem pertencer a esta irmandade.
Seguindo o conselho do seu confessor, Filipe recebeu o santo Sacramento da
Ordem , tendo a idade de 36 anos. Tinha a vontade de trabalhar nas índias e de
morrer mártir pela religião de Cristo. Pela vontade de Deus, porém, sua Índia
havia de ser Roma, e lá ficou.
Deixando-se guiar pela Providência Divina, tornou-se Apóstolo da capital da
cristandade, sendo sua obra principal a fundação da Congregação da Oração para
a qual chamou homens igualmente distintos pelo saber e piedade. As conferências
espirituais tinham grande concorrência entre cardeais, bispos, sacerdotes e
leigos, os quais confiavam-se à direcção de São Filipe, a quem veneravam como
um pai.
Grande Parte do dia passava no confessionário e só Deus sabe o número das
almas que a seus pés acharam a paz, o perdão e a salvação. Todos nele
depositavam uma confiança ilimitada. Ilimitada também era a inveja e o ódio de
Satanás e seus sequazes. Os confrades tiveram que saborear muitas vezes o
escárnio, a calúnia e perseguição. O ódio dos inimigos chegou a tal ponto, que
levaram uma acusação falsa à autoridade eclesiástica, de que resultou para
Filipe a suspensão de ordens. Privado da celebração da Santa Missa, da pregação
e da administração do SS. Sacramento, o Santo não perdeu a calma e só dizia:
"Como Deus é bom, que me humilha!" A suspensão foi retirada e o
inimigo principal do Santo, caindo em si, fez reparação pública e tornou-se seu
discípulo.
Pelo fim da vida já não lhe era possível dizer a Santa Missa em público,
tanta era a comoção que lhe sobrevinha, na celebração dos santos mistérios.
Estando no púlpito, as lágrimas lhe embargavam a voz quando falava do amor de
Deus e da Paixão de Cristo. Quando celebrava a Missa, chegando à santa
Comunhão, pelo espaço de duas a três horas ficava arrebatado em êxtase enquanto
o corpo se lhe elevava à altura de dois palmos. Não é para admirar que o Papa o
consultasse nos negócios mais importantes e quisesse beijar-lhe as mãos e a
batina.
À sua prudência e clarividência deve a França a felicidade de ter
permanecido país católico. Henrique IV, calvinista, tinha abjurado a heresia e
entrado na Religião Católica. No ardor das guerras civis, tornou a voltar ao
calvinismo, para depois outra vez se agregar à Igreja. O Papa Clemente VIII com
o apoio dos cardeais, negou ao rei a absolvição e opôs-se-lhe à reconciliação.
Filipe, prevendo a apostasia da França, no caso de o Papa persistir nesta
resolução, fez jejuns e orações extraordinárias e pediu a Barónio, que era
confessor do Papa, que o acompanhasse nestes exercícios, para alcançar a luz do
Divino Espírito Santo. Posteriormente, Henrique IV obteve a absolvição do Papa
e foi solenemente recebido no seio da Igreja.
Fatigado e exausto de trabalhos e alquebrado pela idade, Filipe foi
acometido de grave doença, tendo os médicos o examinado e saindo do quarto
desanimados, ouviram o doente exclamar: "Ó minha Senhora, ó dulcíssima e
bendita Virgem!" Voltaram para ver o que tinha acontecido e encontraram o
Santo elevado sobre o leito e, em êxtase exclamou: "Não sou digno, não sou
digno de vós, ó dulcíssima Senhora, que venhais visitar-me!"Os médicos,
respeitosos, indagaram ao doente o que sentia. Este, voltando a si e tomando a
posição costumeira no leito, perguntou: "Não a vistes, a Santíssima
Virgem, que me livrou das dores?" A verdade é que se levantou,
completamente curado, e viveu mais um ano.
Tendo predito a hora da morte, Filipe fechou os olhos para este mundo no
dia 2 de Maio de 1595. O túmulo tornou-se glorioso e poucos anos depois da
morte, Filipe foi beatificado pelo Papa Paulo V, em 1622, e canonizado por
Gregório XV.
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