A Eucaristia é o que há de
mais sagrado no mundo. Ao dizê-lo assim, parece que estamos a dizer muito e, no
entanto, não dizemos quase nada, porque se poderia passar a ideia errada de que
haveria outras coisas comparáveis, ainda que menos sagradas.
No entanto, nada há de
comparável, porque na Eucaristia está Deus em Si mesmo, em Sua completa,
integral, real presença. É esta a certeza dos católicos. Sim, o mundo, naquele
sentido que lhe dava São João, dirá que isto é uma loucura, e nós sabemos que é
uma loucura, sabemos que é a loucura do amor de Deus pelos homens e sabemos
também, por outro lado, que a sabedoria de Deus parece loucura aos olhos dos
homens.
A Eucaristia não é, por
isso, coisa pouca, nem, naturalmente, a forma consequente como a recebemos,
pois nos gestos expressamos justamente toda a reverência que devemos ao
Criador, a fonte do nosso ser; e se não somos hipócritas, os gestos devem ser a
expressão coerente, natural, da nossa crença. O Anjo de Portugal deu-nos em
Fátima este exemplo, justamente, ao reverenciar a Sagrada Eucaristia
prostrando-se com o rosto no chão.
Por esta razão, a Igreja
veio a definir, durante séculos, como a única forma possível de receber tão
alto sacramento, aquela que melhor expressa a completa reverência do crente:
receber a Comunhão na boca e de joelhos, porque a Eucaristia é uma dádiva que
nenhum crente merece e que, apesar disso, o Senhor quer dar, por ela Se quer
dar ou, como nos mostram objectivamente os milagres eucarísticos, por ela nos
quer dar o Seu Sagrado Coração.
Vale a pena, por não ser
muito conhecido, referir, apenas a título de exemplo, um milagre eucarístico
contemporâneo e aprovado pela Igreja; em 2013, em Legnica, na Polónia, durante
a Santa Missa de Natal, numa hóstia que caíra ao chão inadvertidamente, ao fim
de alguns dias, depois de colocada, como define a Igreja, em água para se
dissolver, apareceram manchas de sangue e depois tecido biológico. Foram
entregues amostras a dois laboratórios, com pedido de identificação e a
conclusão de ambos autonomamente foi a de que se tratava de músculo cardíaco
humano em estado de agonia…
Quando se fala em receber a
Eucaristia na boca ou na mão, é bom termos em mente a realidade de que se trata
e, por isso, a reverência que devemos ao mais alto dos sacramentos, aquele em
que o Rei dos reis se faz o mais humilde, vulnerável e pobre de todos.
À Igreja, e só à Igreja,
foi dada a missão de custodiar e distribuir o Santíssimo Sacramento e, sendo
este um mandato divino, nenhuma autoridade secular tem poder sobre ele.
Nos anos setenta, a Igreja
permitiu, depois de pressão e desobediência por parte de países muito
protestantizados, que as Conferências Episcopais que o quisessem pudessem pedir
um indulto, isto é, uma excepção, para a Eucaristia poder ser distribuída na
mão. Assim, nos países em que este indulto foi concedido é possível distribuir
a comunhão na mão, mas isto é uma excepção, pois a norma, quer dizer, a forma
preferida da Igreja para a recepção da Eucaristia é na boca.
Como pode espantar que os Srs.
Bispos se escandalizem por os crentes virem pedir apenas aquilo que é a norma?
Como podem colocar-se numa posição tal que não os queiram ouvir? Venham sentir
o cheiro das ovelhas que balem o seu lamento, o Senhor disse que o bom pastor
deixaria noventa e nove para salvar apenas uma que se perdesse, como não
deixaria então as noventa e nove apenas para ouvir o lamento de uma? Ouçam-nos,
não se coloquem numa posição que não nos pode senão fazer pensar naquele
clericalismo que o Papa Francisco tanto tem procurado combater.
Como esperavam que não
houvesse crentes que se escandalizassem ao ler aquele documento, divulgado pela
Conferência Episcopal, em que a Direção Geral de Saúde (sic!) define quais os
“Passos necessários para comungar”? É nesse documento que a DGS (sic!) definiu
que a comunhão é recebida apenas na mão.
A Eucaristia foi dada aos
fiéis por Cristo; a tarefa dos sacerdotes é torná-la disponível; não é sua
posse. E se o crente quer receber a Eucaristia na forma que sabe que é aquela
que a Igreja recomenda e mais ama, então, os sacerdotes, os bispos, devem
procurar encontrar formas seguras de fazê-lo e não desistir imediatamente, como
se fosse uma coisa menor; e menos ainda deveriam entregar assunto tão grave nas
mãos da DGS…
O Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos, máxima autoridade vaticana nesta
matéria, confrontado, recentemente, com a decisão da Conferência Episcopal
Italiana de proibir a distribuição da comunhão na boca, respondeu de forma
inequívoca (La Nuova Bussola Quotidiana, 2.5.2020): “Já existe uma regra na
Igreja que tem de ser respeitada: os fiéis são livres de receber a Comunhão na
boca ou na mão.” As conferências episcopais não deveriam respeitar as normas da
Igreja?
Em 2009, por causa da pandemia da gripe suína (gripe A, H1N1), a
mesma Congregação foi questionada sobre a possibilidade de continuar a receber
a Eucaristia na boca e a resposta foi esta: “Este Dicastério assinala que a sua
Instrução Redemptoris Sacramentum (25 de março de 2004) claramente determina
que ‘todo o fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada
Comunhão na língua’ (n. 92)”.
Dir-se-ia que é um risco não razoável a distribuição da Eucaristia
na boca, no entanto, mesmo esta questão é discutida entre virologistas! Por
exemplo, a Conferência Episcopal Americana, fez-se aconselhar por uma equipa de
dezasseis especialistas de várias áreas que confirmaram não haver mais risco na
distribuição na boca do que na mão e, assim, nos Estados Unidos, a sua
Conferência Episcopal decidiu que continua a ser o crente que escolhe como quer
receber. O Professor Filippo Maria Boscia, Presidente da Associação de Médicos
Católicos de Itália, vai mesmo mais longe, afirmando que a Comunhão na mão é
mais perigosa; a Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos
(FIAMC) endossa rigorosamente as declarações do Prof. Boscia; assim também o
Dr. Fabio Sansonna, com mais de cem artigos científicos publicados; e ainda
assim os especialistas a que recorreu a Arquidiocese de Portland, Oregon, etc.
Os Srs. Bispos poderiam seguir o parecer da Federação Internacional das
Associações de Médicos Católicos, porque não o fizeram?
Sentimos, e cremos que é legítimo, que os Srs. Bispos deveriam ter
defendido melhor a Sagrada Eucaristia, que deveriam preservar as normas que a
Igreja, em sua sabedoria, definiu; sentimos que não querem ouvir todo o seu
rebanho; sentimos que não deveriam ter entregado esta decisão, o ponto mais
alto do Catolicismo, a uma entidade secular.
Jesus ensinou-nos que devemos dar a César apenas o que é de César
e nunca a dar a César o que é de Deus e só de Deus é.
Pedro Sinde in paroquiadoamial.pt