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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

São Martinho de Tours: Militar, monge e Bispo

São Martinho de Tours nasceu na Panónia (Hungria), por volta de 316 ou 317 d.C., e faleceu em Candes, França, em 397 d.C. É um dos maiores santos da Igreja e a sua imagem com o cavalo encontra-se em inumeráveis templos católicos. O santo aparece a dividir a sua capa de oficial romano com um pobre, miserável, nu. Na noite seguinte Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com o pedaço de capa que o oficial havia doado.

O facto foi decisivo para a sua conversão e São Martinho acabou por tornar-se bispo de Tours, atraindo para a Igreja uma quantidade prodigiosa de pagãos e fazendo incontáveis milagres. Ele é chamado o “Pai das Gálias” visto que depois da conversão retirou-se para uma gruta. Mas lá ficou pouco tempo, porque foi chamado a ser bispo da região central da província romana que depois foi baptizada como França. 

À sua volta reuniram-se muitos convertidos ao catolicismo que imitavam a sua vida exemplar. Ele instituiu a primeira escola e transformou o local – que hoje é a cidade de Tours – no grande centro de irradiação do cristianismo na actual França. 

O seu túmulo e a capa do milagre (ainda hoje guardada) foram visitados pelo rei pagão Clóvis. O rei estava agoniado pela perspectiva da batalha de Tolbiac contra a temível horda também pagã dos alamanes (496 d.C.). Sobre o túmulo do santo, Clóvis prometeu converter-se ao “Deus de (Santa) Clotilde”, a sua mulher católica, se obtivesse a vitória. 

Clóvis venceu miraculosamente e foi baptizado, juntamente com 3000 dos seus soldados, no Natal do mesmo ano por São Remígio, em Reims. Foi o nascimento de França, a primeira nação cristã da Europa. São Martinho de Tours recebeu tal culto, que o templo onde se venerava a sua capa recebeu o nome de “capela”, palavra hoje largamente generalizada. 

A família real francesa recebeu o nome de “Capeto” por ter recebido, há mais de um milénio, um pedaço dessa célebre relíquia, outorgada pelo capítulo de religiosos da cidade. Essa doação pesou decisivamente no facto da família ser escolhida para reinar em França. Reinado esse que durou até Luís XVI, e com intermitências até à queda de Luís Felipe, em 1848. 

O santuário ficou tão famoso, rico e importante, que para os bárbaros invasores saqueá-lo era o máximo objetivo no território francês. Por isso mesmo, a cidade se encheu de muros e torres militares defensivas. Daí provém o nome da cidade “Tours”, ou seja, Torres. 

São Martinho de Tours é padroeiro de cidades tão diversas como Buenos Aires, Mainz, Utrecht, Rivière-au-Renard e Lucca. Quatro mil igrejas, no mundo, lhe estão dedicadas. Ele é também padroeiro dos alfaiates, peleiros, soldados, cavaleiros, restauradores (hotéis, pensões, restaurantes), produtores de vinho, e, obviamente, dos mendigos. 

O seu santuário principal, onde se encontra o seu túmulo fica na cidade de Tours, na região do Loire. No século XIX, um piedoso levantamento de fundos permitiu construir uma bela basílica inteiramente nova. A basílica primitiva foi devastada pelos protestantes que também arrasaram muros e torres. 

Posteriormente, em continuidade com o espírito protestante, a Revolução Francesa demoliu a basílica restaurada e fez passar uma rua por cima do túmulo do padroeiro nacional, a fim de garantir que ele seria definitivamente esquecido. 

No século XIX, Leão Papin-Dupont (1797-1876), aristocrata francês conhecido como “o santo homem de Tours”, promoveu em França cruzadas de reparação pelas blasfémias. Entre elas figura a construção da actual basílica que guarda o túmulo de São Martinho de Tours. 

A tradição oral dos habitantes de Tours e dos devotos do grande santo sempre afirmou que no braço da grande estátua que abençoa a França do alto da cúpula da basílica havia guardadas relíquias de São Martinho. Porém, as tendências decadentes e dessacralizantes dos tempos modernos aprazem-se em contestar ou fingir ignorar tudo o que diga respeito ao sobrenatural, aos santos, aos seus milagres e às suas veneráveis relíquias. 

Essa tendência, presente em certo clero e fiéis modernizados, também dizia não saber nada do que todos sabiam sobre as relíquias do santo. A confusão acabou por ser dissipada ao se confirmar que a tradição oral tinha razão: os ossos estavam ali a abençoar o mundo. 

No dia 17 de Fevereiro de 2014, um impressionante dispositivo de guindastes foi instalado em volta da basílica para descer a grande estátua. A obra visava restaurar o seu pedestal, que precisava de manutenção e reparos. Na ocasião, aconteceu o gaudioso achado: os ossos do primeiro bispo de Tours estavam ali. Após a descida da estátua de bronze – de quatro metros de altura e de mais de duas toneladas de peso – os funcionários descobriram uma caixa de madeira no seu braço direito, o mesmo que abençoa. Dentro dessa caixa havia ainda outra, feita de chumbo e fechada com um selo de cera vermelha e o sigilo de um bispo que autentificava a relíquia. 

Tendo sido aberto, encontrou-se um fragmento de osso. A multidão acompanhou os trabalhos que duraram algumas horas, e não ocultou a sua emoção. A relíquia de São Martinho encontrava-se entre flores – obviamente já secas – e vinha acompanhada de mais três relicários com ossos de três outros bispos santos de Tours: São Gregório, São Brice e São Perpétuo, sucessores do santo. A autenticidade das relíquias foi confirmada por Jean-Luc Porhel, conservador-chefe do património histórico de Tours.

in Ciência Confirma a Igreja



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terça-feira, 10 de setembro de 2024

São Nicolau de Tolentino, Taumaturgo

Nicolau nasceu nas Marcas, em Itália, no ano de 1245, fruto das preces de seus pais a São Nicolau de Bari. Como São Zacarias e Santa Isabel, eles já estavam avançados em anos e não tinham filhos. Fizeram então a promessa àquele Santo de ir visitar seu santuário no reino de Nápoles, se suas preces fossem ouvidas. O que ocorreu no mês de Setembro de 1245 com o nascimento de um menino, que recebeu o nome de seu protector.

Ainda pequeno, Nicolau fugia de tudo o que fosse efeminado, mundano, e mesmo dos divertimentos das outras crianças. A sua pureza era angélica. Fugia das mulheres imodestas e dos meninos maliciosos, e aplicava-se em imitar as virtudes que brilhavam nos bons cristãos. Servia os pobres na casa paterna com as suas próprias mãos. A sua devoção profunda e o seu porte, faziam os fiéis crerem que ele via a Cristo com os olhos corporais. “Se Deus conservar a vida deste menino – diziam – será, um dia, um grande Santo”.

Nicolau era puro e tão piedoso, que o Menino Jesus lhe aparecia na hóstia no momento da elevação. Jovem ainda, mas já senhor de uma prebenda de cônego, um dia ficou tão tocado pelo sermão de um eremita de Santo Agostinho, que decidiu entrar para a Ordem.

Ordenado sacerdote em 1270, apesar de já ser um religioso consumado, Nicolau mostrou bem o muito que pode a graça do Sacramento da Ordem em uma alma bem disposta. Sendo já santo, o novo sacerdote logo deixou ver, quando estava no altar, brilhar a virtude com novo esplendor. O seu rosto se inflamava com o fogo do amor divino, e escorriam lágrimas de amor de seus olhos.

Enviado para o eremitério de Pésaro, uma vez, quando ia celebrar o Santo Sacrifício, apareceu-lhe uma alma do Purgatório pedindo que celebrasse a Missa por ela. Como Nicolau estava encarregado da Missa conventual, e só se podia então celebrar uma Missa por dia, respondeu que não lhe era possível atendê-la. Viu então uma multidão de almas que esperavam por uma Missa sua para se livrar do Purgatório.

Nicolau foi apresentar o problema ao seu Superior, e obteve dele licença para, durante uma semana, celebrar o Santo Sacrifício por intenção dessas santas almas. Aquela primeira alma apareceu-lhe de novo, vindo agradecer-lhe a caridade. Junto com ela vinham várias outras almas do purgatório que tinham sido libertadas graças às celebrações do santo.

Enviado para Tolentino, Nicolau aí passou os últimos 30 anos de sua vida, edificando a todos. Foi assaltado pelo demónio numa guerra contínua, sendo por ele tão maltratado, inclusive fisicamente, que ficou semi-inválido para o resto da vida.

Narram-se muitos prodígios operados pelo Santo. Um deles foi,  como Santo Elias, multiplicar a farinha de generosa mulher que lhe dera tudo o que tinha, ficando na miséria. Outra mulher, que só dava à luz a nados-mortos, recorreu a ele, e Deus fez com que, depois disso, fosse mãe de numerosa prole. Curou também outra mulher da cegueira e muitas pessoas de várias doenças. O remédio ordinário que São Nicolau usava nessas curas era fazer o Sinal da Cruz sobre a pessoa enferma.

Por fim, o Santo foi favorecido nos últimos seis meses de vida com a visão e a música harmoniosa dos Anjos. Via muitas vezes a Santíssima Virgem e Santo Agostinho, que lhe davam a gozar antecipadamente as doçuras celestiais.

O Santo expirou no dia 10 de Setembro de 1306, nos braços de Nossa Senhora e de Santo Agostinho, e foi canonizado no dia 1 de Fevereiro de 1446. Foi incluído no Martirológio em 1585.

in IPCO


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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

5 de Agosto, o dia em que nevou em Roma por causa de uma Basílica

Roma. Segundo a Tradição, caiu neve em plena seca, delimitando o lugar onde deveria ser edificada uma igreja dedicada à Virgem Maria. É a maior basílica mariana de Roma, por isso conhecida como Santa Maria Maior. 

A Basílica de Santa Maria Maior (Santa Maria Maggiore), também conhecida como Basílica de Nossa Senhora das Neves, ou Basílica Liberiana, é uma das basílicas patriarcais (representada o Patriarcado de Antioquia) de Roma. Foi construída entre 432 e 440, durante o pontificado do Papa Sisto III, e dedicada ao culto de Maria, Mãe de Deus, cujo dogma da Divina Maternidade acabara de ser declarado pelo Concílio de Éfeso (431). Entretanto, a data da fundação da Basílica remonta ao pontificado do Papa Libério (352-366).   

O título de Maria como Nossa Senhora das Neves surgiu por volta do ano de 352, em Roma, onde viviam Giovanni Patritio (João Patrício) e a sua esposa, que não podiam ter filhos. Conformados com a vontade de Deus, pensavam, certo dia, a quem deixariam a fortuna. Por serem muito devotos de Nossa Senhora, queriam torná-lA herdeira de todos os seus bens. E para que Ela aceitasse a oferta fizeram muitas orações, deram muitas esmolas, fizeram muitas penitências. 

Nossa Senhora ouviu a prece desse bondoso e fiel casal e numa noite particularmente quente de Agosto apareceu-lhes num sonho para avisá-los que no dia seguinte fossem ao Monte Esquilino e lá encontrariam tudo coberto de neve. Naquele local deveriam erguer um Templo onde pudesse ser honrada pelos seus devotos. Na manhã seguinte, comentaram o sonho - ou revelação - que ambos tiveram e mandaram comunicar ao Papa Libério, ao qual a Virgem havia feito a mesma revelação. Foi convocado o clero e o povo, e fez-se uma procissão. Quando chegaram no Monte, encontraram coberto de neve um espaço suficiente para uma Igreja bem ampla. O local foi marcado, e o casal erigiu a basílica, adornando-a sumptuosamente.  

Primeiro, foi chamada Santa Maria das Neves, pelo milagre ocorrido. E também Basílica ou Templo de Libério, porque foi no seu tempo que ocorreu o milagre. Depois, foi chamada Basílica de Sisto, por haver Papa Sisto III, sucessor do Papa Celestino, renovado e reedificado a igreja, adornando-a de excelentes imagens e sagradas pinturas. Também foi chamada de Santa Maria do Presépio, por causa do da manjedoura do presépio, na qual Cristo Nosso Senhor fora colocado quando nasceu em Belém, que foi posta numa das capelas. Mas, tendo sido edificadas muitas e muitas igrejas a Nossa Senhora, e sendo esta a maior, ficou o nome de Santa Maria Maggiore, para diferenciá-la das outras e mostrar a excelência desta igreja sobre as demais em Roma.  

Nela, o Senhor operou muitos milagres pela intercessão de Sua bendita Mãe. A esta igreja (fiéis) ordenou São Gregório Magno que andasse em solene procissão, de todos os status, de todas as condições de pessoas que se encontrassem em Roma, quando aquela cruel e horrível peste a infestava e destruía. Desta igreja, ordenou o Papa Estevão II que saísse outra procissão para aplacar a ira de Deus. E Papa Leão IV, no tempo do Imperador Lotário, com outra procissão, da Igreja de Santo Adriano Mártir à de Santa Maria Maior, libertou a Cidade de uma cruel e venenosa serpente que a ameaçava. E São Martinho Papa, celebrando nela, e querendo Olímpio Efsarco matá-lo, por ordem do Imperador seu patrão, que era herético, ficou cego e não conseguiu seu intento, não permitindo a Santíssima Virgem que no seu Templo fosse cometida tão grande maldade. Muitos outros milagres o Senhor operou naquele Templo, por intercessão de sua puríssima Mãe.  

A Basílica de Santa Maria, em Roma, foi consagrada em honra a Nossa Senhora pouco depois do Concílio de Éfeso (431) que proclamara a Divina Maternidade de Maria.

Somos devotos desta Rainha dos Anjos, sirvamo-la com afeição e solicitude, recorramos a Ela em todas as nossas tribulações e necessidades com grandíssima confiança, imitemos as suas virtudes e os exemplos, que nenhum dos que assim fizerem restará confundido. 

Pe. Pietro Ribadeneira in 'Flos sanctorum, historia das vidas, e obras insignes dos santos'


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quinta-feira, 13 de junho de 2024

Santo António, a mula e o Santíssimo Sacramento

Disputando Santo António com um herege obstinado sobre a verdade do Sacramento, depois que não valeram razões, Escrituras, nem argumentos contra a sua obstinação, veio a um partido, que todos sabeis: que ele fecharia a sua mula três dias sem lhe dar de comer, que ao cabo deles a traria à presença de Santo António, quando estivesse com a Hóstia nas mãos, e que, se aquele animal assim faminto deixasse de se arremessar ao comer que ele lhe oferecesse, por adorar e reverenciar a Hóstia, ele então creria que estava nela o corpo de Cristo. 

Assim o propôs obstinadamente o herege, e assim o aceitou Santo António, não só sobre todas as leis da razão, senão ainda parece que contra elas. O mistério da Eucaristia distingue-se de todos os outros mistérios que confessamos em ser ele por antonomásia o mistério da Fé. Os brutos distinguem-se dos homens em que os homens governam-se pelo entendimento, e os brutos pelos sentidos. Pois, se o Santíssimo Sacramento é o mistério da fé, como deixa Santo António prova dele no testemunho de um animal que se governa só pelos sentidos? Porque era Santo António. 

Antes de Santo António vir ao mundo, era o Santíssimo Sacramento mistério só da fé, e só podia testemunhar nele entendimento; mas, depois de Santo António vir ao mundo, ficou o Sacramento mistério também dos sentidos, e por isso podiam já os sentidos dar testemunho nele: bem se viu nos mesmos dois sentidos de gostar e ver.

Amanheceu o dia aprazado, veio a mula faminta, e após dela toda a cidade de Tolosa, assim católicos como hereges, para ver o sucesso. Posto o bruto à porta da igreja, aparece Santo António com a Hóstia consagrada nas mãos, e o herege, com os manjares do campo, naturais daquele animal, que tinha prevenidos. Mas, oh! poder da divindade e omnipotência! Por mais que o herege aplicava o comer aos olhos e à boca do bruto, ele, como se fora racional, dobrou os pés, dobrou as mãos, e, metendo entre elas a cabeça, com as orelhas baixas, esteve prostrado e ajoelhado por terra, adorando e reverenciando a seu Criador. 

Vede se dizia eu bem que Santo António é o sal e a luz da mesa do Santíssimo Sacramento, e sal para o sentido do gosto, e luz para o sentido da vista. O herege tentava aquele animal pelo sentido da vista e pelo sentido do gosto: pelo sentido da vista, pondo-lhe o comer diante dos olhos; e pelo sentido do gosto, quase metendo-lhe o comer na boca. Mas aqueles dois sentidos, posto que irracionais, estavam tão suspensos e tão satisfeitos no manjar divino, que tinham presente: o sentido do gosto com tal sabor, e o sentido da vista com tal luz, que nem quis ver com os olhos, nem tocar com a boca, o comer que o herege lhe oferecia. Confessando, porém, a mesma boca e os mesmos olhos, confessando o mesmo sentido de gostar e o mesmo sentido de ver, a verdade e presença real de Cristo no Sacramento. Julgai agora se é já o Sacramento mistério dos sentidos. 

Até agora dizia a Igreja: Praestet fides supplementum sensuum defectui (Supra a fé o que falta aos sentidos) mas, à vista de Santo António, mude o hino, e diga: Praestet sensus supplementum filei defectui (Supram os sentidos o que faltar à fé) porque a fé, que faltou ao herege, a supriram os sentidos do animal. O gosto, saboreado naquele sal: Vos estis sal – a vista, alumiada por aquela luz: Vos estis lux.


Oh! que grande passo este para parar aqui o sermão à vista deste bruto e deste herege! À vista deste herege, que dirá quem tem nome de católico? À vista deste bruto, que dirá quem tem o nome de homem? A reverência do bruto e a irreverência do herege, tudo é confusão nossa. O bruto venera sem conhecer, o herege não venera porque não conhece. Se o bruto venera o Santíssimo Sacramento sem conhecer, eu, que sou homem racional, que conheço, por que tenho tão pouca reverência? Se o here­ge não venera porque não conhece, e porque não crê, eu, que creio, e que conheço, porque tenho tão pouca reverência? 

Ah! Portugal! Ah! Espanha! que por este pecado te castiga Deus. Quem viu os templos dos hereges, e o silêncio e respeito que neles se guarda, pode chorar mais esta miséria. Nos templos dos hereges, ainda que exterior, há reverência, e falta o Sacramento; nos templos de muitos católicos há o Sacramento, e falta a reverência. Vede qual é maior infelicidade! Os dois sentidos que no bruto mos­traram maior reverência são os que em nós mostram maior devassidão. Os olhos, onde está o sentido do ver, a língua, onde está o sentido do gostar, que é o que fazem na presença do Santíssimo Sacramento? Que é o que falam aquelas línguas sacrílegas, quando deveriam venerar aquele Sacramento com a oração e com o silêncio? 

Que é o que olham, e para onde, aqueles olhos inquietos e loucos, quando deveram estar enle­vados naquela Hóstia de amor, ou pregados na terra, de modéstia e de confusão. Que fazeis, ó divino sal, e divina luz do Sacramento? Saboreai como sal estas línguas, alumiai como luz estes depravados olhos. Sarai estas línguas como sal, posto que línguas tão sacrílegas mais mereciam salmouradas; alumiai estes olhos como luz, posto que olhos tão descompostos mais mereciam ser cegos.

Padre António Vieira: Sermão de Santo António - São Luís do Maranhão (1653)

in Ad te levavi


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domingo, 26 de maio de 2024

São Filipe Néri levitava durante a Missa

São Filipe Néri ficou conhecido como "o santo da alegria" pelo seu constante bom-humor e por pregar 'partidas' aos jovens que o seguiam pelas ruas de Roma e nos seus oratórios.

Ao mesmo tempo era um homem de oração profundíssima, de tal maneira que muitas vezes entrava em êxtase e levitava, a dois palmos do chão, enquanto celebrava a Missa. De tal forma isto era frequente que as pessoas se habituaram a abandonar a Missa depois do "Cordeiro de Deus". 

O acólito, que servia à Missa, apagava as velas, acendia uma lamparina, deixava na porta um letreiro no qual se dizia que Filipe estava celebrando Missa e ia também embora. Voltava cerca de duas horas depois, acendia as velas e a Missa continuava.


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sexta-feira, 5 de abril de 2024

São Vicente Ferrer: o "Anjo do Apocalipse"

Recebeu, durante uma visão, a ordem de Nosso Senhor para pregar pelo mundo inteiro a verdadeira Fé, sendo favorecido largamente com o dom dos milagres. Os seus inflamados sermões atraíam multidões, obtendo a graça de incontáveis conversões, inclusive de judeus e maometanos

São Vicente Ferrer nasceu em 1350, em Valência, cidadela do catolicismo numa Espanha que se encontrava ainda em guerra contra o maometano invasor. A sua casa natal não era distante do Real Convento da Ordem dos Pregadores. Isto favoreceu a decisão do jovem Vicente de vestir o hábito dos dominicanos.

A partir da sua profissão religiosa, em 1368, até ser ordenado sacerdote, em 1374, alternou o estudo e o ensino da filosofia com a aprendizagem da teologia em Lérida, Barcelona e Tolosa. Com perfeito conhecimento da exegese bíblica e da língua hebraica, regressou a Valência, onde ensinou teologia, escreveu, pregou e aconselhou.

Anos mais tarde, em Avignon (França), caiu gravemente doente a ponto de quase falecer. Foi quando teve a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo, acompanhado de São Domingos e São Francisco, conferindo-lhe a missão de pregar pelo Mundo. E, repentinamente, recuperou a saúde. A 22 de Novembro de 1399, deixou aquela cidade francesa para levar ao Ocidente a Palavra de Deus. E, em meio à grande crise espiritual na qual estava imersa a sociedade daquela época, passou a derramar tesouros de sabedoria.

Com efeito, a França encontrava-se assolada pela Guerra dos cem anos; na Itália havia os conflitos entre guelfos e gibelinos; as regiões espanholas de Castela e Aragão estavam mergulhadas na anarquia; e fora das fronteiras da cristandade havia o perigo maometano. Nessas condições, percorreu inúmeras aldeias e cidades dos citados países, chegando até à Suíça.

A sua oratória, brilhante e cheia de fogo, mantinha entretanto a lógica imperturbável das argumentações escolásticas. Mas a atracção que as pessoas sentiam pelas suas palavras era devida principalmente a dois factores: a percepção da presença de Deus nele e o enlevo, cheio de consolações, ocasionado pela graça divina.

Graças à sua voz as inimizades públicas cessavam, os pecadores sentiam-se movidos ao arrependimento e as pessoas sedentas de perfeição seguiam-no. O auditório das suas pregações era sempre de multidões, às vezes mais de 15000 pessoas, portanto ao ar livre. Contemporâneos do Santo relatam que, falando na sua própria língua, era entendido mesmo pelos que não a conheciam.

Dez mil pessoas oscularam as suas mãos em onze dias

Nos dias em que São Vicente Ferrer pregou em Toulouse, por exemplo, não houve pregador que quisesse fazer sermão, porque toda a gente ia atrás do Santo. E sendo tão grande o afluxo de pessoas, que não podiam acomodar-se bem no claustro do convento onde ele falaria, o Arcebispo pediu que ficasse hospedado no seu palácio e pregasse na praça de Santo Estêvão, onde podia caber público maior.

Condescendeu o Santo, pelo facto de pertencer o Arcebispo à sua Ordem religiosa, e foi para o palácio. Pregou quase todos os dias e celebrou Missa solene na referida praça, à qual acudiam as pessoas com tão grande empenho que, para conseguir lugar, se levantavam à meia-noite e para lá iam com archotes, cada um trazendo seu próprio assento.

Porque, embora se diga que era ouvido de longe como de perto, e assim o era comumente, todos queriam estar próximos dele, para vê-lo bem e observar como oficiava as cerimónias religiosas, como curava os doentes que vinham ao palanque onde se encontrava e, finalmente, para poder beijar-lhe as mãos, logo que terminava o sermão, e voltar para casa tendo recebido a sua bênção.

Num vilarejo, as dez mil pessoas que se reuniram para ouvi-lo puseram-se a oscular a sua mão, repetindo tal gesto nos onze dias subsequentes. Referia todas essas a Deus, e dizia com o coração e com os lábios: "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam - Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória" (Salmo 113).

Para evitar a vanglória que de tais honras lhe poderia advir, antes de entrar nas diversas localidades, seguindo o conselho do Divino Mestre que diz: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação" (Mt 26, 41), ajoelhava-se com os que vinham à sua companhia e, as mãos postas em oração, erguia os olhos ao céu. Provavelmente rogava a Deus que o guardasse da soberba e da vanglória, a qual, como afirma Santo Agostinho, está sempre espreitando as nossas boas obras, para que percam os seus méritos diante de Deus.

Estava o santo tão longe de comprazer-se com a honra que lhe prestavam e com a autoridade que lhe davam, que, algumas vezes, pedindo-lhe os enfermos a bênção para alcançar de Deus a saúde, não queria dá-la, a fim de fugir da vanglória; se bem que, depois, movido de misericórdia, fazia o que lhe rogavam e os despedia muito contentes.

Para não ser esmagado, andava no meio de um quadrado de madeira

Ao chegar perto de uma cidade, a população vinha ao seu encontro, e todos disputavam um lugar próximo dele. E só escapava de ser esmagado porque andava no meio de pranchões sustentados por homens possantes. Em várias cidades, enquanto durava a sua pregação, os negócios paravam, as lojas fechavam, as audiências dos próprios tribunais eram suspensas.

Os sermões duravam habitualmente duas ou três horas. Numa Sexta-feira Santa, em Toulouse, prolongou-se por seis horas seguidas! Os moradores dessa cidade espanhola costumavam dizer: "Este homem veio a esta terra para a nossa salvação ou para nossa perdição. Para que nos salvemos, se fizermos o que ele nos diz; para que nos condenemos, se nos descuidarmos de obedecer-lhe. Porque até aqui podíamos dizer que não tínhamos quem nos ensinasse tão bem o que somos obrigados a fazer. E agora já não podemos dizê-lo".

Foi tão grande a devoção que os tolosanos lhe dedicaram que, após a sua partida da cidade, ficaram com relíquias suas e não quiseram desfazer o palanque no qual havia pregado; antes o beijavam e tocavam como coisa de Deus.

O Santo ressuscita uma desafiante judia e a converte

São Vicente trabalhou ardentemente pela conversão dos judeus e dos maometanos. Há historiadores que afirmam que converteu 25000 judeus e 8000 mouros. 

Assim, no Domingo de Ramos de 1407, na igreja de Ecija (Espanha), uma dama judia, rica e poderosa, que seguia os seus sermões por curiosidade e desafio, sem ocultar os sarcasmos que fazia a meia voz, atravessou de improviso a multidão para sair. Não conseguia conter-se de raiva. O povo, explicavelmente, ficou indignado. "Deixai-a sair, disse o Santo, porém afastai-vos do pórtico", o qual caiu sobre ela, matando-a.

"Mulher, em nome de Cristo, volte à vida!", ordenou ele, e assim se fez. Após um tal milagre, não é de causar estranheza que essa senhora se tenha prontamente convertido à verdadeira Religião. Naquela cidade, uma procissão anual passou a comemorar a morte, ressurreição e conversão da judia.

O próprio Santo profetiza a sua canonização

Com o correr dos anos, sentindo o peso da idade, o cansaço e os males físicos muitas vezes obrigavam-no a caminhar amparado por outras pessoas.

Porém, quando começava a pregar tudo desaparecia. O seu rosto transfigurava-e como se a pele retomasse o frescor da juventude, os seus olhos brilhavam, a voz era clara e sonora. O tom de convicção, que transparecia nas suas palavras, deixava atónitos os ouvintes. Por isso, não causa admiração que, por efeito da graça, os frutos dos sermões fossem tão copiosos, de maneira que eram sempre necessários muitos sacerdotes para ouvir as confissões.

São Vicente Ferrer fez laboriosos esforços para obter a conclusão do Cisma do Ocidente, pesando para isso a sua extensa influência na Cristandade. Apesar de tantas viagens, fadigas e penitências, a sua missão apostólica continuava ainda em 1419. Quando se encontrava na Bretanha (França), percebeu que a sua vida estava chegando ao fim, por causa de uma chaga que lhe envenenara a perna.

Como desejavam que morresse na sua terra natal que tanto amava, colocaram-no num navio a toda pressa, o qual navegou toda a noite. Enquanto isto, nas ruas as senhoras gritavam: "Já não temos o santo". Mas, pela manhã, inexplicavelmente, o navio ainda se encontrava no porto. Sinal evidente que Deus queria que morresse na Bretanha.

Depois de dez dias de agonia, assistido pelos amigos, pelos irmãos dominicanos e pelas damas da corte da Duquesa da Bretanha, entregou a sua bela e combativa alma a Deus, com 69 anos de idade e várias décadas de luta no cumprimento da sua missão. Era o dia 5 de abril de 1419.

O processo de canonização começou no dia seguinte à sua morte e Roma reconheceu como fidedignos 873 milagres. Foi elevado à honra dos altares em 1455 pelo Papa Calisto III, o qual recebera, muito antes de ocupar a Sé de Pedro, uma profecia do Santo. 

Com efeito, durante uma das pregações que este último fez em Valência, entre a multidão dos que se aproximavam de São Vicente Ferrer para se encomendar às suas orações, prestou atenção a um sacerdote, que lhe pedia também a caridade de uma prece, ao qual o grande taumaturgo dirigiu as seguintes palavras: "Eu te felicito, meu filho. Tendes presente que és chamado a ser um dia a glória da tua pátria e da tua família, pois serás revestido da mais alta dignidade a que pode chegar um homem mortal. E eu mesmo serei, após a minha morte, objeto da tua particular veneração".

Noutra oportunidade, São Vicente Ferrer cumprimentou um jovem franciscano, a quem disse: "Oh! Vós estareis nos altares antes do que eu". Tratava-se do futuro São Bernardino de Siena, canonizado em 1450.

Queira o Anjo do Apocalipse, como costumava se auto-intitular São Vicente Ferrer, operar novos e mais portentosos milagres para nossa época, incomparavelmente mais corrompida e endurecida que a dele pelos pecados dos indivíduos, das sociedades e dos seus governantes.

in catolicismo.com.br

Fontes de referência:

* Frei Vicente Justiniano Antist, Vida de San Vicente Ferrer, in Biografía y Escritos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid, 1956.
* Ludovico Pastor, Historia de los Papas, vol. II, Ediciones G. Gili, Buenos Aires, 1948.
* José Leite S.J., Santos de Cada Dia, vol. I, Editorial A.O., Braga, 1987.
* Matthieu-Maxime Gorce, Saint Vincent Ferrier, Librairie Plon, Paris, 1924.
* Henri Gheon, San Vicente Ferrer, Ediciones e Publicaciones Espanholas S.A., Madrid, 1945.


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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Santa Ágata, padroeira das doenças mamárias

Santa Águeda (também conhecida por Santa Ágata) é uma das mais gloriosas heroínas da Igreja primitiva, cuja intercessão é invocada no Cânone da Santa Missa.

Natural da Sicília, pertenceu a uma das famílias mais nobres do país. De pouca idade ainda, Águeda consagrou-se à Deus, pelo voto da castidade. O governador Quintiano, tendo tido notícia da formosura e grande riqueza de Águeda e acusada do crime de pertencer à religião cristã, mandou-lhe a ordem de prisão.

Águeda, vendo-se nas mãos dos perseguidores, exclamou:

“Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas, vós vedes o meu coração e lhe conheceis o desejo. Tomai posse de mim e de tudo que me pertence. Sois o Pastor, meu Deus; sou vossa ovelha. Fazei que seja digna de vencer o demónio.” 

Levada à presença do governador, este achando-a de extraordinária beleza, ficou tomado de violenta paixão pela nobre cristã, à qual se atreveu importunar com propostas indecorosas. Águeda, indignada, rejeitou-lhe as impertinências desavergonhadas e declarou preferir morrer a macular o nome de cristã.

Quintiano aparentemente desistiu do plano diabólico, mas para conseguir os seus maldosos fins, mandou entregar a donzela a Afrodisia, mulher de péssima fama, na esperança de, na convivência com esta pessoa, Ágata se tornasse mais acessível. Enganou-se. Afrodisia nada conseguiu e depois de um trabalho inútil de trinta dias, pediu a Quintino que tirasse Águeda de sua casa.

Começou então o martírio da nobre siciliana. Disse-lhe o governador em pleno tribunal: “Não te envergonhas de rebaixar-te à escravidão do cristianismo, quando pertences a nobre família?” 

Ágata respondeu-lhe: “A servidão de Cristo é liberdade e está acima de todas as riquezas dos reis.” 

A resposta a esta declaração foram bofetadas, tão barbaramente aplicadas, que causaram lhe causaram uma forte hemorragia no nariz. Depois desta e de outras brutalidades a santa mártir foi metida no cárcere, com graves ameaças de ser sujeita a torturas maiores, se não resolvesse a abandonar a religião de Jesus Cristo.

O dia seguinte trouxe a realização dessas iniquidades. O tirano ordenou que a donzela fosse esticada sobre a catasta, os membros lhe foram desconjuntados e o corpo todo queimado com chapas de cobre em brasa, e os peitos atormentados com torqueses de ferro e depois cortados.

Referindo-se a esta última brutalidade, Águeda disse ao juiz: “Não te envergonhas de mutilar numa mulher, o que a tua mãe te deu para te aleitar?” 

Após esta tortura crudelíssima, Águeda foi levada novamente ao cárcere, entregue às suas dores, sem que lhe fosse administrado o mínimo tratamento. Deus, porém, que confunde os planos dos homens, veio em auxílio da sua pobre serva. Durante a noite lhe apareceu um venerável ancião, que se dizia mandado por Jesus Cristo, para trazer-lhe alívio e curá-la. O ancião, que era o Apóstolo São Pedro, elogiou-lhe a firmeza e animou-a a continuar impávida no caminho da vitória.

A visão desapareceu e Ágata, com muita admiração, viu-se completamente restabelecida. Cheia de gratidão, entoou cânticos, louvando a misericórdia e bondade de Deus. Os guardas, ouvindo-a cantar, abriram a porta do cárcere e vendo a mártir completamente curada, fugiram cheios de pavor. 

As companheiras de prisão de Ágata aconselharam-na que fugisse. Ela, porém, disse: “Deus me livre de abandonar a arena antes de ter segura em minha mão a palma da vitória.”

Passados quatro dias, foi novamente apresentada ao juiz. Este não pode deixar de se mostrar admirado, vendo-a completamente restabelecida. 

Águeda disse-lhe: “Vê e reconhece a omnipotência de Deus, a Quem adoro. Foi Ele que me curou as feridas e me restituiu os seios. Como podes, pois exigir de mim que O abandone? Não poderá haver tortura, por mais cruel que seja, que me faça separar do meu Deus.” 

O juiz não mais se conteve. Deu ordem para que Ágata fosse arrastada sobre vidros e brasas. Nesse momento a cidade foi abalada por um forte tremor de terra. Uma parede, bem perto de Quintiano, desabou e sepultou dois amigos seus. 

O povo, diante disto, não mais se conteve e em altas vozes exigiu a libertação da Mártir, dizendo: “Eis o castigo que veio, por causa do martírio da nobre donzela. Larga a tua inocente vítima, juiz perverso e sem coração!” 

Águeda voltou ao cárcere e lá chegada, de pé e de braços abertos, orou a Deus nestes termos: “Senhor, que desde a infância me protegestes, extinguistes em mim o amor ao mundo e me destes a graça de sofrer o martírio, ouvi as preces da vossa serva fiel e aceitai a minha alma.”

Santa Águeda acreditava que a morte seria um feliz final para as suas torturas. Os carrascos tinham o cuidado de não a deixarem morrer e carregaram-na de volta a cela, enquanto ela orava pela liberdade. Naquele exacto momento um terramoto sacudiu a prisão e ela veio a falecer. Deus ouviu a voz da sua filha e recebeu-a na Sua glória no ano 252. 

O milagre do Vulcão

Passado um ano da morte da Santa, a cidade de Catania assistiu apavorada a uma erupção do vulcão Etna. O povo, em total aflição, quando viu as ondas da lava ameaçar a cidade, correu ao túmulo da Santa, tomou o véu que cobria o seu rosto e estendeu-o contra a torrente de fogo. Imediatamente a cidade ficou a salvo do perigo da lava e o milagre tornou-se bastante conhecido. 

Adaptado de santossanctorum.blogspot.com


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domingo, 10 de dezembro de 2023

A miraculosa trasladação da Casa da Sagrada Família de Nazaré até Loreto

Em Loreto, Itália, venera-se a Santa Casa: quer dizer o edifício onde Nossa Senhora nasceu, viveu e recebeu o anjo São Gabriel na Anunciação, momento em que o 'Sim' da Virgem permitiu a Encarnação do Verbo e o início da Redenção do género humano.

Em Nazaré, Terra Santa, sob a cúpula da igreja da Anunciação também se venera o local onde aconteceu este sublime mistério. Como se explica essa aparente duplicidade de endereços?

Esta contradição comporta maravilhosos acontecimentos que envolvem a translação da Santa Casa de Nazaré até Loreto por obra de Anjos.

Mas, o que diz a ciência a respeito? Não é tarefa da ciência declarar se um facto foi miraculoso ou não, se foram os anjos ou não. Mas, analisar a realidade segundo os seus métodos, instrumentos e objetivos próprios. E a ciência, trabalhando sobre o mistério da Santa Casa de Nossa Senhora, vêm trazendo a lume revelações materiais que explicam o acontecido e reforçam a fé. Eis um apanhado de algumas descobertas feitas nas últimas décadas.

O Altar dos Apóstolos na Santa Casa

O arquitecto Nanni Monelli e o Pe. Giuseppe Santarelli, director-geral da Congregação da Santa Casa de Loreto, constataram que as pedras que se encontram na Gruta da Anunciação, em Nazaré, Terra Santa, têm a mesma origem da pedra do altar dos Santos Apóstolos que está na Santa Casa de Loreto, em Itália. O Altar dos Apóstolos é constituído por uma pedra – hoje coberta por uma grade de metal – trabalhada em estilo nabateano, típico da Palestina. E leva esse nome porque nele os Apóstolos teriam celebrado a Missa quando iam a Nazaré visitar a casa de Nossa Senhora.

O Professor Giorgio Nicolini, especialista na matéria e autor do livro 'La veridicità storica della miracolosa Traslazione della Santa Casa di Nazareth a Loreto' (A veracidade da milagrosa trasladação da Santa Casa de Nazaré a Loreto), explicou à agência Zenit que “sobre a autenticidade da Santa Casa de Loreto enquanto verdadeira Casa de Nazaré de Maria jamais houve dúvida alguma, a não ser da parte daqueles que não conhecem os estudos científicos a respeito. Isso é tão verdadeiro que todos os Sumos Pontífices, durante sete séculos, confirmaram a autenticidade com solenes actas canónicas de aprovação”.

Nicolini acrescentou que este estudo sobre o Altar dos Apóstolos “é importante porque, além de proporcionar uma ulterior prova da autenticidade da Santa Casa de Loreto como a Casa de Maria em Nazaré, proporciona também uma prova ainda mais espetacular da milagrosa trasladação da Santa Casa de Nazaré”.

Percurso da Santa Casa desde a Palestina até Loreto

A tradição sempre afirmou que entre 1291 e 1296 três paredes da Santa Casa de Nazaré foram miraculosamente transportadas por anjos a “vários lugares”.

Isto está registrado em documentos antigos nos quais se fala da presença desse Altar unido às três paredes. Por exemplo, em Tersatto, Dalmácia (hoje Trsat, Croácia), onde a Santa Casa esteve entre 10 de Maio de 1291 e 10 de Dezembro de 1294.

Por isso pode-se afirmar que houve um duplo milagre: o transporte milagroso das três santas paredes na sua integridade e, em segundo lugar, junto com elas, mas como um objecto distinto da casa, o Altar dos Apóstolos.

No seu livro Nicolini demonstra que, do ponto de vista histórico e arqueológico, pelo menos cinco translações milagrosas ficaram constatadas de modo indiscutível entre 1291 e 1296.

A primeira levou a Santa Casa até Tersatto (Croácia); a segunda até Posatora (província de Ancona, Itália); a terceira até a floresta da senhora Loreta, na planície que está sob a actual cidade de Loreto (cujo nome deriva precisamente do nome dessa senhora); a quarta até a roça de dois irmãos sobre o morro lauretano (conhecido também como Monte Prodo); e a quinta até uma estrada pública, onde ainda se encontra sob a cúpula da magnífica basílica posteriormente construída em volta.

Todas estas mudanças foram registradas nos diversos lugares por testemunhas oculares contemporâneas. As mudanças foram rigorosamente controladas pelos Bispos diocesanos da época, que emitiram pronunciamentos canónicos sobre a veracidade dos factos e dos testemunhos. Tal é confirmado pelas igrejas construídas nos diversos locais na época das mudanças e consagradas pelos Bispos de Fiume, Ancona, Recanati, Macerata e Nápoles, entre outros.

Nicolini esclareceu que em Loreto se encontram apenas as três paredes que constituíam o quarto de Nossa Senhora, geralmente chamado de Santa Casa, local onde aconteceu a Anunciação. A quarta parede do quarto é a gruta, a qual pode ser visitada na igreja da Anunciação em Nazaré, Terra Santa. Ali ficaram apenas a gruta e os alicerces da Casa. Enquanto em Loreto se venera a Casa desprovida dos seus alicerces, em Nazaré ficaram a gruta e os alicerces sem a casa.

Análise de pedras, tijolos e argamassa

Ao mesmo tempo em que a análise química da massa que une as pedras apresenta características típicas da zona de Nazaré, a sua homogeneidade exclui qualquer possibilidade de uma hipotética desmontagem e remontagem das pedras. A massa foi feita com sulfato de cálcio hidratado (gesso) engrossado com pó de carvão de madeira, segundo uma técnica utilizada na Palestina há 2000 anos, mas jamais empregada na Itália.

Portanto, a Santa Casa chegou a Loreto com as pedras e os tijolos unidos pela mesma massa usada para uni-los há 2000 anos em Nazaré, assim se encontrando até hoje.

Ensinamento dos Papas sobre a Santa Casa de Loreto

O Bem-aventurado Papa Pio IX escreveu na 'Bula Inter Omnia', de 26 de Agosto de 1852:

Entre todos os santuários consagrados à Mãe de Deus, a Imaculada Virgem Maria, um encontra-se no primeiro lugar e brilha com incomparável fulgor: a venerável e augustíssima casa de Loreto. consagrada pelos mistérios divinos, ilustrada por inumeráveis milagres, honrada pelo concurso e afluência dos povos, a glória do seu nome atinge toda a Igreja universal, e constitui muito justamente objecto de culto para todas as nações e para todas as raças humanas. Em Loreto venera-se aquela casa de Nazaré, tão querida ao coração de Deus, e que, fabricada na Galileia, foi mais tarde separada das suas bases e, pela força divina, trasladada além do mar, primeiro à Dalmácia e logo à Itália.

E o santo pontífice acrescentou: 

Naquela casa, a Santíssima Virgem, que por eterna e divina disposição ficou perfeitamente isenta da culpa original, foi concebida, nasceu e cresceu, e o celestial mensageiro a saudou ‘cheia de graça’ e ‘bendita tu és entre todas as mulheres’. Naquela casa, Nossa Senhora, repleta de Deus e sob a acção fecunda do Espírito Santo, sem perder nada da sua inviolável virgindade, tornou-se a mãe do filho unigénito de Deus.

Também o Sumo Pontífice Leão XIII escreveu, na sua 'Encíclica Felix Lauretana Cives', de 23 de Janeiro de 1894: 

Compreendam todos, e em primeiro lugar os italianos, quão especial dom lhes foi concedido por Deus que, com suma providência, subtraiu prodigiosamente a Casa a um poder indigno [N.: refere-se aos muçulmanos ] e com um expressivo acto de amor a ofereceu a eles. Naquela beatíssima moradia foi sancionado o início da salvação humana, com o grande e prodigioso mistério de Deus que Se fez homem, e que reconcilia a humanidade perdida com o Pai eterno e renova todas as coisas.” 

E ainda: 

Deus quis de tal maneira exaltar o Nome de Maria para tornar realidade neste lugar (Loreto), aquela famosa profecia: ‘Todas as gerações chamar-me-ão bem-aventurada.’”

Numerosos Papas aprovaram ininterruptamente desde o início a veracidade histórica do milagroso traslado da Santa Casa, desde Nicolau IV em 1292 até João Paulo II em 2005 e o Papa Bento XVI em 2007.

in cienciaconfirmaigreja.blogspot.com


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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

A Medalha Milagrosa e a conversão de Afonso Ratisbonne

Este é um pequeno resumo da inesperada e súbita conversão do austríaco Afonso Ratisbonne. Afonso era judeu e maçon. Nutria pela Igreja Católica, e tudo o que estivesse relacionado com o catolicismo, um profundo ódio e desdém. Poucos dias antes da sua conversão, tinha aceitado usar no bolso uma medalha de Nossa Senhora das Graças (medalha milagrosa) para provar que não tinha qualquer efeito.

20 de Janeiro de 1842: Ratisbonne encontrava-se em Roma. Saindo de um café onde acabara de conversar com dois amigos, encontra a carruagem do Barão de Bussière que o convida para dar um passeio. Afonso, sem muito entusiasmo, mas para não fazer uma descortesia àquele do qual pouco antes tinha sido hóspede, aceita o convite. Acharam-se logo diante da igreja de Sant'Andrea delle Fratte. O piedoso conde de Laferronays devia receber as honras fúnebres e o Barão de Bussière fora encarregado de reservar uma tribuna para a família do defunto.

“Será coisa de dois minutos", diz ele a Afonso que, durante este tempo resolve visitar a igreja. Tenta Afonso descrever o que então se passou na sua alma: “Esta igreja é pobre e deserta; creio que nela me achei mais ou menos só… Nenhum objecto de arte atraiu a minha atenção… Subitamente nada mais vejo… ou antes, ó meu Deus, vejo uma só coisa! Como seria possível falar do que vi? Oh! não, a palavra humana não deve tentar exprimir o que se não pode exprimir; toda descrição, por sublime que seja, não seria mais que uma profanação da inefável realidade…”

Tornando à igreja, o Barão de Bussière não encontra Afonso onde o havia deixado, mas ajoelhado diante da capela de São Miguel Arcanjo e de São Rafael, submergido em profundo recolhimento.

“A esta vista, pressentindo um milagre - depõe o barão - apoderou-se de mim um frémito religioso. Dirijo-me a ele, agito-o várias vezes sem que ele dê conta da minha presença. Finalmente, voltando para mim o seu rosto banhado de lágrimas, junta as mãos e me diz: “Oh! como este senhor rezou por mim!”

Compreendi logo que se tratava do falecido Conde de Laferronays. Amparado, quase levado por mim, sobe à carruagem. Onde quereis ir? pergunto-lhe eu.

“Levai-me para onde quiserdes. Depois do que vi, obedeço”.

Declara-me em seguida que só falará com o consentimento de um padre, porque "o que eu vi – acrescenta ele – só o posso dizer de joelhos”.

Conduzido à igreja do Gesú, dos padres jesuítas, ao lado do padre Villefort que o convida a explicar-se, tira Afonso a medalha, abraça-a, mostra-a e exclama: “Eu vi-A! Eu vi-A!… Havia uns instantes que eu estava na igreja, quando repentinamente me senti dominado por uma turbação inexprimível. Ergui os olhos; todo o edifício desparecera à minha vista; só uma capela tinha, por assim dizer, concentrada toda a luz; e, no meio desta irradiação, apareceu, em pé sobre o altar, grande, brilhante, cheia de majestade de doçura a Virgem Maria, tal qual está na minha medalha; uma força irresistível atraiu-me para ela. A Virgem com a mão fez-me sinal para que me ajoelhasse. Pareceu dizer-me: “Está bem! Não me falou nada, mas eu compreendi tudo”.

Mais tarde dirigiu-se Afonso à Basílica de Santa Maria Maior a fim de agradecer à sua celeste benfeitora o grande benefício recebido.

Ao entrar na capela de Nossa Senhora, exclamou: “Oh! como estou bem aqui! Gostaria de ficar aqui para sempre: parece-me que já não estou na Terra!”

Ao fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, por pouco não desfaleceu. Apavorado, exclamou: “que coisa horrível estar na presença do Deus vivo sem ser baptizado!”

Afirma o Padre Roothan, geral da Companhia de Jesus, que “depois da sua conversão o senso da fé nele se manifestava de modo tão intenso que lhe fazia sentir, penetrar e reter tudo o que lhe era proposto, tanto que em pouco tempo o julgaram suficientemente instruído para receber o santo Baptismo”.

Ratisbonne recebeu sem dúvida uma assistência toda especial de Deus e da Santíssima Virgem.

A 31 de Janeiro, 11 dias após a aparição, Afonso Ratisbonne abjura solenemente à maçonaria e recebe o baptismo na igreja do Gesú das mãos do cardeal Patrizzi. O vasto e sumptuoso templo estava repleto. Ali se encontrava o escol da sociedade romana e estrangeira. Acompanhado pelo Padre Villefort e pelo seu padrinho, o barão de Bussière, Afonso foi levado à porta da igreja. Vestido de uma longa túnica de damasco branco, trazia o Terço e a medalha de Nossa Senhora nas mãos.

– Que pedes à Igreja de Deus? pergunta-lhe o oficiante.
– A fé!

Ah! diz uma testemunha ocular dessa cena majestosa, já tinha a fé católica aquele a quem a Estrela da Manhã iluminara com os seus raios.

Afonso beija a terra e fica prostrado até ao fim dos exorcismos.

Levanta-se e, guiado pelo pontífice, encaminha-se para o altar entre as bênçãos de uma imensa multidão que respeitosamente se abre à sua passagem.

Perguntam-lhe qual é o seu nome.

– Maria! responde num arrebatamento de amor e de gratidão.
– Que desejas?
– O baptismo.
– Crês em Jesus Cristo?
– Creio!
– Queres ser baptizado?
– Quero!

Com um sorriso de celeste beatitude levantou sua cabeça ainda humedecida da água baptismal. Acabava de transpor um abismo: era cristão.

Afonso, cheio de Deus, radicalmente transformado pela graça, deixa o mundo e entra na Companhia de Jesus. Nela viveu dez anos vida exemplar e só a deixou, desfeito em lágrimas, para fazer a vontade de Deus que o queria ao lado do seu irmão, o Padre Teodoro, para com ele trabalhar numa obra tão grata ao mesmo Deus e de tanta relevância: a conversão dos judeus.

O piedoso Padre Maria Afonso Ratisbonne nunca se esqueceu da sua Mãe amantíssima que o arrancou das trevas da incredulidade para os esplendores da verdadeira fé.

Inclinava-se profundamente sempre que ouvia no canto das ladainhas a invocação: “Refúgio dos pecadores, rogai por nós!”

Os que o ouviam falar da sua Mãe Celeste adivinhavam o que se passava no seu coração; o seu olhar fulgurante parecia que ainda contemplava a mais bela e a mais pura das virgens.

A medalha milagrosa, que exercera papel preponderante na sua conversão, era o seu mais caro tesouro. Julgou um dia que a havia perdido; a sua aflição foi extrema; parecia-lhe que fora abandonado pela Virgem misericordiosíssima. As suas lágrimas não cessaram de correr até que a encontrou.

Maria Santíssima foi a sua consolação em todas as penas e o seu grande motivo de esperança em todas as provações. Dizia que Maria Santíssima não é outra coisa que uma mão de Deus, não a mão que castiga, mas a mão das misericórdias.

Dizem os historiadores que quando o Padre Ratisbonne pregava sobre Nossa Senhora, todos os ouvintes se comoviam, muitos pecadores se convertiam. 

Padre Élcio Murucci in Fratres in Unum


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Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa

A aparição de Nossa Senhora das Graças ocorreu no dia 27 de Novembro de 1830 a Santa Catarina Labouré, irmã de caridade (religiosa de S.Vicente Paulo). A santa encontrava-se em oração na capela do convento, em Paris (rua du Bac), quando a Virgem Santíssima lhe apareceu.

Tratava-se de uma "Senhora de mediana estatura, o seu rosto tão belo e formoso... Estava de pé, com um vestido de seda, cor de branco-aurora. Cobria-lhe a cabeça um véu azul, que descia até os pés... As mãos estenderam-se para a terra, enchendo-se de anéis cobertos de pedras preciosas ..." A Santíssima Virgem disse: "Eis o símbolo das graças que derramo sobre todas as pessoas que mas pedem...".

Formou-se então em volta de Nossa Senhora um quadro oval, em que se liam em letras de ouro estas palavras: "Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós". Nisto voltou-se o quadro e eu vi no reverso a letra M encimada por uma cruz, com um traço na base. Por baixo, os Sagrados Corações de Jesus e Maria - o de Jesus cercado por uma coroa de espinhos e a arder em chamas, e o de Maria também em chamas e atravessado por uma espada, cercado de doze estrelas. 

Ao mesmo tempo ouvi distintamente a voz da Senhora a dizer-me: "Manda, manda cunhar uma medalha por este modelo. As pessoas que a trouxeram por devoção hão de receber grandes graças.

O Arcebispo de Paris Dom Jacinto Luís de Quélen (1778-1839) aprovou, dois anos depois, em 1832, a medalha pedida por Nossa Senhora; em 1836 exortou todos os fiéis a usarem a medalha e a repetir a oração gravada em torno da Santíssima Virgem: "Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós."

Esta piedosa medalha - segundo as palavras do Papa Pio XII - "foi, desde o primeiro momento, instrumento de tão numerosos favores, tanto espirituais como temporais, de tantas curas, protecções e sobretudo conversões, que a voz unânime do povo lhe chamou desde logo Medalha Milagrosa". 

in EAQ


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