sábado, 22 de agosto de 2020

Beato Contardo Ferrini, modelo de professor e intelectual católico


Filho de Ricardo Ferrini e de Luísa Buccellati, um casal muito católico, Contardo era um jovem de memória prodigiosa. Estudioso, chamavam-lhe o Aristóteles. Aprendia tudo o que lhe ensinavam com a maior facilidade. Um dia, apareceu pela Ambrosiana, a pedir ao prefeito da biblioteca que lhe ensinasse o hebreu. Estudou o hebreu, e depois o siríaco, o sânscrito e o copta.

Em Pavia, em 1876, com 17 anos, começou o curso de Direito. Ali, o abade Buccellati, seu tio, ministrava o direito penal. Dos colegas debochados, dos ditos obscenos, dos risos que as ordinarices provocavam, o jovem Ferrini fugia, atormentado. Trazia o cilício sempre bem apertado e procurava o confessionário todos os dias.

Em 1881, fez um voto de castidade. Um dia, um colega apontou-lhe duas jovens irmãs, bastante bonitas, de boa família, e, pois, óptimos partidos. Qual delas escolheria Contardo? O jovem respondeu:

– Eu sou pela terceira, ainda por nascer.

Em Junho de 1880 defendeu, brilhantemente, em Pavia, a sua tese – uma dissertação latina que girava em torno da importância de Homero e de Hesíodo para a história do direito penal – tese que lhe valeu uma bolsa de viagem. (...)

Do professorado, Contardo fez o seu sacerdócio. Foi mestre sempre compenetrado, sério, grande estudioso, que não procurou matérias que levam ao sucesso fácil, mas o direito penal romano e o direito bizantino. Nesta última disciplina, foi quase que um iniciador na Itália. (...)

Assistindo à Missa todos os dias, diante do tabernáculo, Contardo, a orar, chegava ao êxtase.

Aos Domingos, se o procuravam em casa, o porteiro avisava:

– Não é fácil, em dias de festa, achar o professor em casa. Não! Está sempre na igreja, onde tem tanta coisa para fazer!

Terciário franciscano, desde 1886, Ferrini era doce, humilde, paciente, sempre procurando a perfeição.

'Eu procurarei, escreveu duma feita, ser modelo de mansidão, de doçura, de caridade e de humildade. Repararei cada falta por uma redobrada atenção, para evitá-las, e procurarei, todos os dias, ocasião de praticar as virtudes'.

Depois:

'Durante o dia, farei uma visita a Jesus no Santo Sacramento, lembrando-me do seu amor, da sua ternura e da sua doçura inefáveis: a Ele irei em espírito de afectuosa confiança e de humildade. Permanecerei unido a Ele todo o dia com frequentes aspirações e uma grande pureza de intenção. A caridade espiritual para com os outros será meu primeiro cuidado; hei de ser humilde e afável. Falando de Deus aos outros, rogarei a Ele que termine a minha obra com a sua acção inefável'.

De real espírito de pobreza, Ferrini era verdadeiramente indiferente pelo dinheiro. Professor em Pavia, hospedara-se na casa da irmã. Metódico, levantava-se às cinco horas e meia, invariavelmente. Ao final das aulas, depois de atender às perguntas dos alunos, sempre a rodeá-lo, tornava a pé para casa.

Contardo Ferrini faleceu aos 43 anos, em 1902. Foi o tipo do homem que mostrou, e de modo cabal, que a ciência e a religião não são incompatíveis. Beatificado em 1947.

Pe. René François Rohrbacher in 'Vidas dos Santos' (Volume XVIII) - Editora das Américas (São Paulo), 1961, pp. 292-294


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1 comentário:

Prof. Francisco Castro disse...

Admirável exemplo de um leigo casto e celibatário sem precisar ser um religioso ou padre.