quinta-feira, 6 de março de 2025

Ainda sobre o dia de ontem





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Santa Perpétua e Santa Felicidade, Mártires

Origens

Uma nobre e uma escrava. O que sabemos sobre as origens das duas é pouco, porém digno de nota. Perpétua era uma senhora nobre da cidade de Car­tago, no Norte da África. Felicida­de era escrava de Perpétua, também de Cartago. As duas tinham cerca de 20 anos e eram cristãs numa região dominada pelo Império Romano, em tempos de perseguição contra os cristãos.

Senhora e escrava unidas pela Fé

Perpétua era rica, de família tradicional e nobre. O seu pai era pagão. Quando da prisão, ela tinha apenas vinte e dois anos e era mãe de um bebé recém-nascido. Felicidade estava com oito meses de gravidez.

Prisão

As duas foram presas no ano 203, por ordem do imperador romano Severo, pelo simples facto de serem cristãs. Severo, cujas origens familiares também estavam na África, tinha emitido um decreto de pena de morte aos cristãos. As duas sofreram as atrocidades da prisão unidas pela Fé, em oração e encorajando uma a outra.

O diário da prisão

Estando na prisão, Perpétua escreveu um diário que está entre os mais comoventes e realistas da História da Igreja. Nesse diário ela narra todo o sofrimento pelo qual passaram e descreve esperança cristã na vida eterna de maneira maravilhosa. No diário conta que o seu pai foi visitá-la à prisão para pedir que ela renunciasse à Fé e, assim, salvasse a sua vida. Ela, porém, preferiu a morte em vez de negar o Senhor da sua vida, Jesus Cristo.

Um parto na prisão

Temendo a pena de morte, Felicidade pedia diariamente a Deus que o seu filho nascesse antes que ela fosse executada. Assim aconteceu. Embora tivesse um parto muito sofrido, o seu filho nasceu livre. O filho de Santa Felicidade nasceu apenas dois dias antes que a sua mãe fosse martirizada na arena.

Baptismo na prisão

As Santas Perpétua e Felicidade, senhora e escrava, mantinham-se firmes na oração e no sustento da fé, apoiadas por outros 6 cristãos também presos. Estes tornaram-se seus companheiros de vida, de morte e de testemunho para o mundo. Perpétua e Felicidade, mesmo demonstrando tanta fé, ainda não tinham sido baptizadas. Por isso, receberam o baptismo na prisão. Isto fortaleceu ainda mais a fé dessas duas santas.

Torturas e martírio

Segundo os relatos oficiais da época, presentes no diário de Santa Perpétua, os cristãos homens foram martirizados primeiro, tendo sido lançados aos leopardos famintos. Foram despedaçados por esses animais. Perpétua e Felicidade foram lançadas aos touros selvagens. Perpétua viu a sua amiga e irmã ser atingida pelos animais e ainda conseguiu ampará-la nos seus braços e recompor a sua roupa estraçalhada, numa demonstração de respeito, dignidade e amor. 

Os pagãos que assistiam ao “espectáculo” emocionaram-se durante um curto espaço de tempo. Porém, logo começaram a gritar pedindo a morte de Perpétua. Então, os touros atingiram as duas e, logo em seguida, elas foram degoladas. Aconteceu no dia 7 de Março do ano 203. 

Oração a Santas Perpétua e Felicidade

Deus Todo-Poderoso, que destes às mártires Santas Perpétua e Felicidade a graça de sofrer por Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes na Fé, como elas que não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. 

Santas Perpétua e Felicidade, rogai por nós.

in Cruz Terra Santa


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quarta-feira, 5 de março de 2025

Quarta-feira de Cinzas: o dia em que tudo muda

O mundo estava ontem ocupado com os seus prazeres, enquanto os verdadeiros filhos de Deus tomavam uma alegre despedida dos regozijos: mas nesta manhã tudo muda. O solene anúncio feito pelo profeta foi proclamado em Sião
: o solene jejum da Quaresma, um tempo de expiação, a aproximação do grande aniversário de Nosso Redentor. Animemo-nos, pois, e nos preparemos para o combate espiritual.

Mas neste combate do espírito contra a carne precisamos de uma boa couraça. A Santa Igreja sabe o quanto precisamos disto; e por isso ela nos convoca a entrar ao templo de Nosso Senhor, para que ela possa nos armar para este santo embate. O que esta couraça é, sabemo-lo de São Paulo, que a descreve: “Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestindo a couraça da justiça, tendo os pés calçados de zelo para ir anunciar o Evangelho da paz; sobretudo tomai o escudo da Fé, para que possais apagar todos os dardos inflamados do (espirito) maligno; tomai também o elmo da salvação e a espada do espírito, que é a palavra de Deus”. 

O próprio príncipe dos apóstolos também nos endereça estas palavras solenes: “Tendo, pois, Cristo sofrido (por nós) na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento: aquele que sofreu na carne, deixou de pecar”. Entramos hoje numa longa campanha de guerra sobre a qual os apóstolos nos falaram: quarenta dias de batalha, quarenta dias de penitência. Não haveremos de retornar cobardemente, uma vez que as nossas almas sejam impressionadas com a convicção de que a batalha e a penitência haverão de passar. Demos ouvidos à eloquência do rito solene que abre a nossa Quaresma. Deixemo-nos ir para onde nossa Santa Madre Igreja nos guia.

Os inimigos com os quais devemos lutar são de duas espécies: interno e externo. O primeiro são as nossas paixões; o segundo são os demónios. Ambos foram trazidos a nós pelo orgulho, e o orgulho do homem teve início no momento em que se recusou a obedecer a Deus. Deus perdoou os pecados do homem mas puniu-o por eles. A punição era a morte e esta foi a forma da sentença divina: “porque tu és pó e ao pó hás-de tornar”. Que nós nos lembremos disto! A lembrança do que nós somos e do que nos haveremos de tornar teria controlado esta altiva rebelião que tantas vezes nos fez romper com a lei de Deus. 

E se, pelo tempo que ainda nos resta perseverarmos na fidelidade a Nosso Senhor, devemos humilhar-nos, aceitar a sentença e olhar para a vida presente como um caminho para o túmulo. O caminho pode ser longo ou curto; mas haverá de nos levar ao túmulo. Lembrando-nos disto, haveremos de ver todas as coisas na sua verdadeira luz. Haveremos, pois, de amar Deus, que Se dignou de colocar o Seu Coração sobre nós, apesar de sermos criaturas de morte: iremos odiar, com profunda contrição, a insolência e a ingratidão, por meio das quais passamos grande parte de nossos dias, isto é, pecando contra o nosso Pai Eterno: e nós não apenas desejaremos, mas estaremos ansiosos a passar esses dias de penitência, que Nosso Senhor tão misericordiosamente nos dá para repararmos a Sua justiça ultrajada.

Este foi o motivo pelo qual a Igreja teve em enriquecer a sua liturgia com este rito solene, no qual tomamos assistência nesta Quarta. Quando, há mais de mil anos, a Igreja decretou a antecipação do início da Quaresma para os últimos quatro dias da semana da Quinquagésima, instituiu esta cerimônia impressionante onde marca a fronte dos seus filhos com cinzas, enquanto lhes estas terríveis palavras, com as quais Deus nos sentenciou à morte: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás-de voltar”.

Mas o uso de cinzas como um símbolo de humilhação e penitência é de um tempo muito anterior à instituição a qual aludimos. Encontramos referências frequentes disto no Antigo Testamento. Job, apesar de gentio, aspergiu a sua carne com cinzas, que, pois, humilhado, poderia propiciar a misericórdia divina: e isto ocorreu dois mil anos antes da vinda de Nosso Senhor. O profeta real (Sofonias), falando de si mesmo, relata que misturou cinzas com o seu pão, por conta da ira e indignação divina. Muitos exemplos similares se podem encontrar nas Sagradas Escrituras; mas é tão óbvia a analogia entre o pecador que assim demonstra sua contrição e o objeto através do qual ele o demonstra, que lemos tais casos sem surpresa. 

Quando um homem decaído se humilha diante da justiça divina, que sentenciou o seu corpo a retornar ao pó, como poderia ele mais apropriadamente expressar a sua contrita aceitação da sentença do que aspergindo a si próprio ou à sua comida com cinzas de madeira consumida pelo fogo? Este fervoroso reconhecimento de si próprio como pós e cinzas é um acto de humildade e a humildade dá confiança em Deus, que resiste aos orgulhosos e perdoa os humildes.

É provável que, quando a Igreja instituiu a cerimônia da Quarta-feira na semana da Quinquagésima, não a tenha intencionado para todos os fiéis, mas apenas para aqueles que cometeram alguns daqueles crimes que a Igreja infligia penitência pública. Antes da Missa do dia iniciar, eles apresentavam-se na Igreja onde todos os fiéis se encontravam. O sacerdote recebia a confissão dos seus pecados e vestia-os com vestes de saco e colocava a cinza nas suas cabeças. Após esta cerimónia, o clero e os fiéis prostravam-se e recitavam em voz alta os sete Salmos Penitenciais. 

Seguia, então, uma procissão na qual os penitentes tomavam parte descalços; e, por sua vez, o Bispo endereçava estas palavras aos penitentes: “Olhai! Nós vos banimos das portas da Igreja em razão dos vossos crimes e pecados, assim como Adão, o primeiro homem, foi banido do Paraíso em razão das suas transgressões”. O clero cantava, então, diversos responsórios tirados do livro do Génesis, nas partes em que se menciona a sentença pronunciada por Deus, quando condenou o homem a comer o pão do suor de seu trabalho, pois a Terra estava condenada por causa do pecado. As portas eram, então, fechadas e os penitentes não tinham permissão de ultrapassar os limites até a Quinta-Feira Santa, quando podiam se aproximar e receber a absolvição.

Datando do século XI, a disciplina de penitências públicas caiu em desuso e o sagrado rito de impor as cinzas na cabeça de todos os fiéis se tornou tão comum que, por extensão, foi considerado como uma parte essencial da liturgia Romana. Antigamente era prática aproximar-se descalço para receber este solene ‘memento’ da nossa insignificância. No século XII, até mesmo o Papa, ao passar da Igreja de Santa Anastácia para a Igreja de Santa Sabina, onde se fazia a cerimónia, percorria toda a distância descalço, assim como faziam os cardeais que o acompanhavam. A Igreja já mais exige essa penitência exterior; mas está tão ansiosa como nunca para que esta santa cerimónia, a qual estamos para tomar assistência, produza em nós os sentimentos de penitência e arrependimento.

Dom Prosper Guéranger


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terça-feira, 4 de março de 2025

O adeus às panquecas

Hoje é dia de Carnaval. A etimologia desta palavra está relacionada com o adeus à carne. Isto por ser o dia anterior à Quarta-Feira de Cinzas, com o qual inicia a Quaresma e começa a restrição do consumo de carne, até à Páscoa.

Este dia é também conhecido por Terça-Feira Gorda porque as pessoas comiam como se não houvesse amanhã, antes do grande jejum que se aproximava (todos os dias da Quaresma eram dias de jejum menos os Domingos e dias Santos de Guarda).

Relacionado com isso aparece outro nome dado a esta Terça-Feira: dia da Panqueca. Como estivessem também os laticínios restritos durante a Quaresma, as pessoas aproveitavam para comer esta iguaria que é feita à base de ovos, leite e açúcar.

Bom dia da panqueca para todos!



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Começa hoje a Novena da Graça a São Francisco Xavier

Esta poderosa novena foi muito elogiada por Santa Teresinha do Menino Jesus. Quem a faz deve confessar-se e receber a Sagrada Comunhão pelo menos em um dos dias da novena (de 4 a 12 de Março). Orações para cada um dos nove dias:

Ant. Veio-lhe um suor como gotas de sangue que corriam à terra; um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água.
V.) Senhor, socorrei a vossos servos.
R.) Que remistes com o Vosso Preciosíssimo Sangue.

OREMOS
Senhor Jesus Cristo, que por amor de nós descestes do céu e derramastes na cruz o Vosso Preciosíssimo Sangue, para nossa salvação, nós Vos rogamos humildemente, por Vossas cinco chagas e por aquela grande amargura em que Vossa sacratíssima alma se separou do corpo, pelos merecimentos e pela intercessão de São Francisco Xavier, o qual teve sempre em seu coração a Vossa amarga paixão, queirais ouvir-nos, propício, naquilo que pedimos de Vossa infinita misericórdia. Vós, que viveis e reinais nos séculos dos séculos. Amém.

Ant. Vossa Imaculada Conceição, ó Virgem, Mãe de Deus, trouxe alegria a todo o mundo, pois de Vós nasceu o Sol da Justiça, Jesus Cristo, Nosso Deus.
V.) Em Vossa Conceição ficastes imaculada.
R.) Rogai por nós, ó Santa Mãe de Deus.

OREMOS
Ó Deus, que, pela Conceição Imaculada da Virgem Maria, preparastes ao Vosso Filho uma digna habitação, preservando-A, em virtude de Sua sagrada paixão e morte, de toda a mancha do pecado, nós Vos pedimos, lavai-nos também de nossos pecados, por Sua intercessão e pela de São Francisco, o qual sempre venerou tão devotamente a Imaculada Conceição, para que tenhamos parte na graça de Deus, tão almejada. Por Cristo Nosso Senhor, Amém.

Ant. Santos anjos, tronos e dominações, principados e potestades, virtudes do céu, querubins e serafins, louvai ao Senhor e sede nossos intercessores junto a Deus.
V.) O Senhor pôs os Seus anjos junto de ti:
R.) Para que te guardem em todos os teus caminhos.

OREMOS
Ó Deus, que com providência admirável assinalais os ministérios aos anjos e aos homens, concedei, propício, que também nós, em nossa vida, sejamos guardados por eles, assim como sempre protegeram a São Francisco, e que alcancemos, por sua intercessão, aquilo que pedimos. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.

Ant. Este é um amador dos irmãos, que muito reza pelo povo e por toda a cidade santa.
V.) O Senhor conduziu o justo por caminhos rectos.
R.) E mostrou-lhe o reino de Deus.

OREMOS
Ó Deus, que quisestes agregar à Vossa Igreja os povos da Índia, pela pregação e pelos milagres de São Francisco, concedei-nos, propício, que, em relação àquele de quem veneramos os méritos gloriosos, imitemos também os exemplos das virtudes. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

ORAÇÃO A SÃO FRANCISCO XAVIER:
Amabilíssimo e amantíssimo Santo, em união convosco adoro reverentemente a Divina Majestade e pelo muito que me regozijo dos especialíssimos dons da graça com que vos favoreceu durante a vossa vida mortal, e pela glória de que gozais agora, rendo-vos afectuosíssimas graças, e peço à Divina Majestade, do fundo de minha alma e por vossa poderosa intercessão, me conceda a graça importantíssima de viver e morrer santamente. E vos suplico também... (dizer aqui o que se pede nesta novena). E se o que peço não convier à glória de Deus e ao proveito de minha alma, quero alcançar aquilo que a uma e outra seja mais conforme.

3 Pais Nossos
3 Avé Marias
3 Glória ao Pai


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segunda-feira, 3 de março de 2025

Mistérios Gozosos meditados por S. Luís Maria Grignion de Montfort

1º Mistério – Anunciação do Anjo e encarnação do Verbo

Padre Nosso: A caridade de Deus, imensa.

1ª Ave Maria, para lamentar o desgraçado estado de Adão desobediente, a sua justa condenação e a de todos os seus filhos.

Ave Maria, para honrar:
2ª os desejos dos patriarcas e profetas, que pediam a vinda do Messias;
3ª os desejos e as preces da Santíssima Virgem, que apressaram a vinda do Messias;
4ª a caridade do Pai Eterno, que nos deu Seu divino Filho;
5ª o amor do Filho, que se entregou por nós;
6ª a embaixada e a saudação do arcanjo Gabriel;
7ª o temor virginal de Maria;
8ª a fé e o consentimento da Santíssima Virgem;
9ª a criação da alma e a formação do Corpo de Jesus Cristo no seio de Maria, pelo Espírito Santo;
10ª a adoração do Verbo Encarnado, pelos anjos, no seio de Maria.
 
2º Mistério – Visitação da Virgem Maria à sua prima Santa Isabel

Padre Nosso: A majestade de Deus, adorável.

Ave Maria, para honrar:
1ª o gozo do Coração de Maria e a morada durante nove meses, do Verbo em seu seio;
2ª o sacrifício que Jesus Cristo fez de Si mesmo ao Pai, ao entrar neste Mundo;
3ª as complacências de Jesus no seio humilde e virginal de Maria, e de Nossa Senhora, no gozo do seu Deus;
4ª a dúvida de São José acerca da maternidade de Maria;
5ª a eleição dos escolhidos, combinada entre Jesus e Maria, em seu seio;
6ª o fervor de Maria na sua visita a Santa Isabel;
7ª a santificação de João Baptista no ventre de sua mãe;
8ª a gratidão da Santíssima Virgem para com Deus, no Magnificat;
9ª a sua caridade e humildade em servir sua prima;
10ª a mútua dependência de Jesus e de Maria, e a devoção que devemos ter para com um e outra.
 
3º Mistério – Nascimento de Jesus

Padre Nosso: As riquezas de Deus, infinitas.

Ave Maria, para honrar:
1ª os desprezos e injúrias feitas a Maria e a São José em Belém;
2ª a pobreza do estábulo onde Deus veio ao mundo;
3ª a alta contemplação e o excessivo amor de Maria no momento de dar à luz;
4ª a saída do Verbo Eterno do seio de Maria sem romper o selo de sua virgindade;
5ª as adorações e cânticos dos anjos no nascimento de Jesus;
6ª a formosura arrebatadora de Sua divina infância;
7ª a vinda dos pastores ao estábulo, com seus presentes;
8ª a circuncisão de Jesus Cristo e Suas dores amorosas;
9ª a imposição do nome de Jesus Cristo e as suas grandezas;
10ª a adoração dos reis magos e os seus presentes.
 
4º Mistério – Apresentação de Jesus no Templo e a purificação de Nossa Senhora

Padre Nosso: Sabedoria de Deus, eterna.

Ave Maria, para honrar:
1ª a obediência de Jesus e de Maria à Lei;
2ª o sacrifício que ali fez Jesus da sua humanidade;
3ª o sacrifício que ali fez Maria da sua honra;
4ª o gozo e os cânticos de Simeão e Ana, a profetisa;
5ª o resgate de Jesus pela oferenda de duas rolas;
6ª a matança dos santos inocentes;
7ª a fuga de Jesus para o Egipto, pela obediência de São José à voz do Anjo;
8ª a estada misteriosa no Egipto;
9ª o regresso para Nazaré;
10ª o seu crescimento em idade, sabedoria e graça.
 
5º Mistério – Encontro de Jesus no Templo

Padre Nosso: A Santidade de Deus, incompreensível.

Ave Maria, para honrar:
1ª a Sua vida oculta, laboriosa e obediente na casa de Nazaré;
2ª a Sua perda e encontro no Templo entre os doutores;
3ª o seu jejum e tentações no deserto;
4ª o Seu Baptismo por São João Baptista;
5ª a Sua pregação admirável;
6ª os Seus milagres portentosos;
7ª a eleição dos doze Apóstolos e os poderes que lhes deu;
8ª a Sua transfiguração maravilhosa;
9ª o lava-pés dos Apóstolos;
10ª a instituição da Sagrada Eucaristia.


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domingo, 2 de março de 2025

O que aprendem as crianças com a Missa Tradicional

Com a Missa Tradicional, as crianças aprendem muitas coisas que, provavelmente, nunca aprenderão com a Missa moderna de Paulo VI.   

1. A Missa é um mistério de fé, um sacrifício santo. O rito antigo conserva e expressa, da maneira mais perfeitamente possível, que na Missa se faz presente e actualiza o Sacrifício da Cruz, a imolação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que realizou e continua a realizar a nossa salvação e a de todo o mundo.     

Na Missa Tradicional, é relativamente pouca a catequese necessária para compreender o significado dos gestos do sacerdote e entender como é que ilustram esse significado. Basta saber um pouco do que Jesus fez na Última Ceia e na Sexta-feira Santa. Os vários gestos e as orações relacionam-se com uma série de mistérios encadeados: mediação, redenção, expiação, satisfação, adoração. O Ofertório prefigura este sacrifício; o Cânone Romano, que muitos seguem no seu missal, está impregnado de linguagem sacrificial; a consagração e a elevação da Hóstia e do cálice, no meio de um silêncio estrondoso, precedidas e seguidas de genuflexão, criam o ambiente para fazer presente o Calvário.        

Durante os anos em que ainda assistia às celebrações do Novus Ordo, descobri que os meus filhos e os dos meus amigos não estabeleciam, habitualmente, essas relações. O rito centrava-se mais nos fiéis, falava-se muito e a Comunhão não é mais do que algo acessório. O que menos captavam os sentidos era que essa liturgia é um sacrifício. O que se vê é a manipulação de pão e vinho sobre uma mesa, uma refeição que evoca a ceia pascal. Não é que silencie a dimensão sacrificial; é que, em grande parte, essa está ausente. Numa Missa dita em língua vernácula, versus populum, como se faz habitualmente, escolhendo sempre a oração eucarística II, quanto há, no texto ou na cerimónia, que transmite, de forma clara e contundente, a realidade do sacrifício? Poder-se-ia dizer que, na melhor das hipóteses, o Novus Ordo enfatiza a presença de Cristo entre nós, mas não o Seu sacrifício.  

Constatei, com grande consternação, que me tocava sempre a mim afirmar, enfaticamente e sem que houvesse uma forma palpável de demonstrá-lo, que o Novus Ordo era o sacrifício da Missa, embora não parecesse, e, para além disso, faltava a ampla variedade de textos e cerimónias que destacavam a natureza sacrificial do acto. Aquilo desagradava-me e continua a desagradar-me. Parecia que aquele rito tinha sido idealizado por alguém que não queria que fosse fácil compreender que a Missa é a representação incruenta do sacrifício cruento do Calvário. No Novus Ordo, é necessário fazer muitos malabarismos extra-litúrgicos, caso contrário não se chega a saber a verdade. Como a liturgia não transmite a mensagem, deve-se dedicar mais tempo a explicar, afirmar e esperar que esse frágil fideísmo não abra a porta a catástrofes como o esquecimento, o aborrecimento ou a heresia.   

2. Máxima reverência ao Santíssimo Sacramento. As crianças só vêem o sacerdote a tocar e a distribuir Nosso Senhor. Se assistirem a uma Missa solene, observarão que se trata a Hóstia com tanta reverência que, durante todo o Cânone, um sub-diácono segura, com um umeral, uma patena vazia[1]. Em momento algum verão um leigo subir ao presbitério e manusear hóstias e cálices. A Comunhão é distribuída aos fiéis ajoelhados em postura de adoração, como os Reis Magos diante do Menino Jesus. E recebe-se na língua, da maneira como os seus pais alimentam os filhos pequenos e como Deus alimenta o mundo através da Sua Providência. Coloca-se uma patena sob o queixo dos fiéis ajoelhados e não é raro que o comungatório esteja coberto com um pano. Terminada a Comunhão, o celebrante lava os dedos e lava os vasos sagrados com o máximo cuidado. A liturgia não poupa esforços para proclamar alto e claramente a fé da Igreja no milagre da transubstanciação. Nem tampouco os poupa para impedir que se desperdice a mais pequena migalha do Corpo de Cristo ou a menor gota do Seu Sangue.  

3. O sacerdote é mediador entre Deus e os homens. Olha para Oriente, na direcção contrária ao povo. Para Quem? Para Deus, a Santíssima Trindade, em cuja honra se realiza o sacrifício. O Verbo feito carne e verdadeiramente presente no altar do Sacrifício. Representa-nos diante de Deus. E também representa Deus que veio ao nosso encontro. Note-se que a missão do sacerdote, como mediador, é, essencialmente, diferente da dos leigos: «Porque todo o Sumo Sacerdote escolhido de entre os homens é constituído a favor dos homens, nas coisas concernentes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados» (Heb 5, 1). Diante do altar, o sacerdote age in persona Christi, representa, pessoalmente, o Sumo Sacerdote Eterno, que Se ofereceu, por amor, para redimir a humanidade.              

Como se vê, o rito antigo distingue claramente o sacerdote e os fiéis; não os amontoa, como o novo rito, mas trata-os de acordo com a sua distinção ontológica[2]. Por exemplo:

— O sacerdote reza primeiro o Confíteor, por si mesmo, e, depois, os acólitos rezam por eles e pelos fiéis.

— Na Missa solene, o sacerdote é o único que dá o tom no Glória e no Credo e, depois, continua a rezá-los sozinho, enquanto o coro ou os fiéis cantam[3].  

— No Ofertório, a oração Suscipe, Sancte Pater revela claramente o papel mediador do celebrante, bem como a sua própria natureza pecadora ao ter que cumprir uma função tão elevada: «Recebei, Pai Santo, Deus Todo-Poderoso e eterno, esta hóstia imaculada que eu, indigno servo Vosso, Vos ofereço, meu Deus, vivo e verdadeiro, pelos meus inumeráveis pecados, ofensas e negligências; por todos os presentes e também por todos os fiéis cristãos vivos e defuntos; a fim de que, a mim e a eles, aproveite para a salvação na vida eterna. Amém».    

— O sacerdote comunga primeiro para completar o Sacrifício e, depois, oferece-o ao povo. Diz, por três vezes, “Dómine, non sum dignus” e, depois, também podem os acólitos e os fiéis rezá-lo três vezes[4].        

— A oração Placeta tibi, no fim da Missa, destaca, novamente, a função do sacerdote: «Seja-Vos agradável, ó Santíssima Trindade, a homenagem do Vosso servo; e este sacrifício, que eu, indigno, ofereci aos olhos da Vossa Majestade, seja-Vos agradável, e a mim, e a todos aqueles por quem o ofereci, seja, pela Vossa piedade, propiciatório». Esta não é a oração de alguém que simplesmente preside à Eucaristia ou à assembleia.     

4. As próprias palavras da Missa são sagradas e sublimes. Isto é claramente destacado pelo latim em que se reza a Missa de princípio a fim (excepto na homilia, que não faz parte da liturgia propriamente dita, mas que é uma explicação de alguns aspectos da liturgia, do Credo ou das leituras para benefício dos ouvintes). O uso de uma linguagem arcaica demonstra, sem necessidade de explicação, que a liturgia não é algo rotineiro, como daria a entender o uso da língua vernácula[5]. Da mesma forma, é muito apropriada a grande reverência que se manifesta em relação ao missal durante toda a celebração litúrgica: é colocado sobre um atril dourado ou numa almofada delicada e os ministros transportam-no com uma atitude cerimonial e, se a Missa for solene, é até mesmo acompanhado por velas e incenso.

5. A música – e especialmente o canto – é muito singular e é dedicada a Deus. O efeito que produz uma língua sagrada antiga não pode deixar de ser aprimorado quando os textos litúrgicos são cantados com as subtis melodias do canto gregoriano, com os seus oito modos e o ritmo fluído na métrica, tão diferentes de tudo o resto que possa existir no âmbito da música. O canto gregoriano surgiu exclusivamente para o culto divino e não se presta a nenhum outro uso: é exclusivamente para Deus. É o equivalente sonoro do incenso, das casulas e dos cálices dourados que são usados apenas durante o culto. São coisas que se poderiam considerar a guarda de honra e os servos de Cristo, que evocam, com muita eficácia, a Sua presença e que nos guiam, com facilidade, à dita presença[6].   

6. A Missa é algo sério e solene. A liturgia centra-se inteiramente no presbitério, no altar, no sacrifício, no banquete celestial e no Pão dos anjos. É uma obra ordenada e disciplinada: há formalidade, harmonia nos gestos e nas palavras, concentra-se na oração. Se alguém interrompesse o celebrante, dizendo-lhe: «Porquê que não se vira para nós? Porquê que nos vira as costas e não nos diz para onde vai, nem quando volta?», ele poderia responder com as palavras do Menino Jesus no templo: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de Meu Pai?» (Lc 2, 49). Jesus disse isso aos seus santíssimos pais e deixou-os estupefactos. Recordou-lhes que o Reino de Deus está acima de tudo e que a glória devida ao Pai é superior à de todo o bem terreno.         

7. A fonte da nossa unidade e comunhão está em Cristo e emana d’Ele para todos nós. Em vez de ter um ambiente horizontal e enfatizar a horizontalidade, um círculo fechado de pessoas que se fazem notar mutuamente de modo pelagiano, na Missa Tradicional orientámo-nos sempre para Deus, adorando-O, implorando a nossa salvação, procurando n’Ele a nossa união e a nossa própria identidade. E, acima de tudo, algo tão moderno quanto a eclosão simultânea de, no Novus Ordo, se dar a paz, que transmite a mensagem subliminar de que a paz entre nós brota como se fosse concebida pela própria comunidade humana dos fiéis, não tem lugar no Rito Romano solene, que, pelo contrário, mostra que a pax vem do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, verdadeiramente presente no altar como Príncipe da Paz, e que desce, como uma cascata, de Deus, através do sacerdote, do diácono e do sub-diácono, até alcançar os fiéis. Do mesmo modo que a Comunhão começa pelo sacerdote, de seguida comungam os outros ministros e, por último, os fiéis.                    

8. A nossa religião é algo dado, que recebemos. As palavras da Missa, herdámo-las da Tradição, representada pelo missal que está no altar; a paz de Cristo, recebemo-la desde o altar; e a Sagrada Eucaristia é no-la dada por uma mão consagrada. A estabilidade e a imutabilidade do rito, juntamente com o seu ethos manifestamente antigo, transmitem claramente que a religião cristã é anterior a nós, às nossas intenções, aos esforços e boas ideias, e que continuará até muito depois termos voltado ao pó. Quão melhor não é que os homens de hoje sejam, para variar, em vez de produtores, fabricantes e inventores, humildes mendigos chamados, pela graça da vontade de Deus, à esplêndida mesa do Rei? O celestial banquete das bodas já estava em pleno andamento quando chegámos e continuará, para sempre, connosco (se Deus quiser) ou sem nós.   

9. A Missa transcende a congregação dos fiéis. Teoricamente, cada Missa celebrada pelos mil milhões de católicos do mundo é o Sacrifício do Calvário. Agora, como a Missa nova é celebrada em centenas de idiomas, com muitos estilos que se contradizem mutuamente, muitas possíveis opções, os estilos locais sobrepõem-se à fórmula universal e pode-se dizer que existem tantas formas de liturgia quanto paróquias. Isto fomenta uma mentalidade provinciana negativa que divide os católicos em tribos e taifas, bem ao estilo dos milhares de seitas protestantes.

De um extremo ao outro da Terra, a Missa Tradicional em latim é celebrada com as mesmas orações ancestrais, no mesmo idioma universal e exactamente de acordo com as mesmas rubricas. À medida que as crianças crescem e viajam para além da localidade em que vivem, qualquer Missa em latim em que participem, noutras cidades ou países, fará com que compreendam palpavelmente a unidade e a universalidade da Igreja. Beneficiando-se das diversas culturas, a Missa de sempre transcende as fronteiras e as particularidades dos povos. A verdade é que este culto divino supranacional liga-nos organicamente a todas as gerações passadas e futuras até ao fim dos tempos. As suas frequentes invocações aos santos anjos, na maioria suprimidas no Novus Ordo, põem-nos em comunhão com os sublimes coros celestes que servem a Deus neste mundo, vivendo numa dimensão que transcende o mundo dos seres de carne e osso.         

10. A Missa é a escola suprema de oração. Há que reconhecer que, para isso, é necessária a ajuda dos pais, mas a liturgia tradicional em latim cria um ambiente ideal para despertar a vida interior da criança e oferece-lhes uma oportunidade para ficarem sossegadas e em silêncio e descobrirem o significado e a eficácia da adoração e dos demais actos de oração. Ninguém o expressou melhor do que o padre Bryan Hougton, escritor inglês cujo personagem literário, Edmund Forrester, descreve (de maneira obviamente autobiográfica) como aprendemos a rezar: «Aprendi as orações básicas no colo materno e continuo a rezá-las todas as noites. Mas aprendi a rezar quando me levavam à Missa, aos domingos, mesmo que não tivesse muita vontade. Ali, o pai e a mãe não eram os mesmos. Não se falavam nem olhavam. A mãe manuseava um terço, enquanto que o pai folheava um exemplar do devocionário Garden of the Soul, agora usado por um sobrinho meu. A minha irmã mais velha, Gertrude, que se tornou monja beneditina, permanecia de joelhos com o corpo erguido e os olhos quase sempre fechados. Se olhasse em volta, via o mesmo com os meus demais parentes e vizinhos. O que mais me chamava à atenção era que ninguém me prestava a mínima atenção. Se eu tentasse puxar a saia de minha mãe, ela gentilmente me apartava com a mão. Se tentasse subir para as costas de meu pai, ele pegava em mim e punha-me no chão. Isso também era estranho; embora eu usasse a roupa dos domingos, deixavam-me rastejar no chão desde que eu não fizesse barulho. Uma criança como eu, estava perfeitamente ciente de que algo importante estava a acontecer.    

Diante do altar estava o padre Grey, um ancião severo de quem me escondia, na casa-de-banho, sempre que nos visitava. Quando oficiava, usava umas roupas coloridas que lhe davam o aspecto de uma borboleta. Durante a maior parte do tempo, não dizia nada; olhava na direcção oposta e fazia tão pouco caso de meus pais quanto de mim.     

Não creio que foi demasiado precocemente, mas, certamente, era muito pequeno quando percebi que, na igreja, todas as pessoas presentes rezavam sem recitar orações, tal como eu. Como as crianças imitam o que vêem, eu também queria rezar sem rezar. Disse-o à minha irmã Gertrude e ela respondeu-me: “Tu, deixa-te estar sentado e sossegado. És muito pequeno para te ajoelhares. Mantém as mãos quietas sobre as pernas. Tenta não olhar para os lados e mantém os olhos fechados, se puderes. Depois, repete “Jesus”, na tua cabeça, lentamente mas sem parar. Quando se tiver que dizer “meu Senhor e meu Deus”, far-te-ei um sinal para que o digas comigo”.                

Eu diria que,
 mutatis mutandis, foi assim que aprendemos todos a rezar. A própria Missa foi a nossa escola de oração. Lá aprendemos a ser humildes e indiferentes ao que estava ao nosso redor, a recolher-nos e a aderirmos à Divina Presença. E era também na Missa que os fiéis simples se exercitavam na oração ao longo da vida. Embora não soubessem muita teologia, rezavam como, em muitos casos, não faziam os próprios teólogos. Além disso, os mais simples dentre eles chegavam a superar-me quanto à vida de oração e à santidade»[7].  

«Deixai as criancinhas e não as impeçais de vir a Mim», disse Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 19, 14).              

Deixemos que vão até Ele no tremendo mistério da Fé, o Sacrifício que une Deus ao homem. Deixemos que vão ao Seu Corpo e Sangue com a maior reverência. Que O contemplem nos ministros a quem chamou a ser outros Cristos para que a Sua obra continue nas mãos deles. Que as crianças tenham a oportunidade de reconhecer a santidade pela visão, pela audição e pelo olfacto, enquanto contemplam, ouvem e estão na casa de Deus e enquanto são repetidas, para deleite do Céu e aborrecimento do Inferno, as palavras que incontáveis 
​​santos proferiram e entoaram. Deixemos que as crianças se apresentem diante o Senhor, com solene alegria, para experimentar a paz que ultrapassa todo o entendimento. Deixemos que recebam, de Jesus, dons em abundância e, acima de tudo, o do Seu Corpo. Que saibam que se incorporam à presença de exércitos de anjos que adoram o Cordeiro degolado desde a criação do mundo.   

Não os impeçamos por causa de uma liturgia defeituosa e cheia de falsidades (como, por exemplo, que não há muita diferença entre a nave e o presbitério da igreja ou entre o sacerdote e os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão para repartir os divinos mistérios). Não coloquemos obstáculos às crianças, cobrindo ou manchando a exclusiva dignidade das mãos do sacerdote, ungidas para tocar algo tão santíssimo como o Corpo e o Sangue de Cristo. Não os impeçamos de se voltarem para o Senhor por causa de alguns dos costumes que caracterizam o Novus Ordo, motivados por uma falsa teologia que descatequiza e recatequiza as crianças, reeducando-as, ao estilo soviético, num novo paradigma do catolicismo.              

Lex orandi, lex credendi, lex vivendi. A nossa maneira de rezar demonstra e ensina aquilo em que acreditamos, e tal, por sua vez, molda a nossa vida à imagem e semelhança disso. Que tipo de fé professamos e como é que vivemos a nossa vida católica? Nota-se observando a liturgia.          

Peter Kwasniewski 
(Tradução: Dies Irae)



[1] Antigamente, na liturgia pontifical, o sub-diácono segurava num pedaço da Hóstia consagrada. Mesmo depois de cair em desuso esse costume, o rito manteve o gesto que nos recorda a santidade de tudo o que está relacionado, mesmo no mais pequeno, com a Sagrada Eucaristia.
[2] Isto contribui, de facto, para a maior unidade do corpo dos crentes. A hierarquia e a unidade são correlativas, não se opõem entre si, como entende falaciosamente a democracia.
[3] Num artigo, que publiquei no blogue New Liturgical Movement, Is It Fitting for the Priest to Recite All the Texts of the Mass?, defendi esta prática, clara influência da Missa baixa sobre a Missa solene, um costume que a maioria dos liturgistas abomina.     
[4] A maneira em que o Novus Ordo combina a comunhão do sacerdote com a dos fiéis é prova da influência protestante. Como ensina a teologia católica, embora seja desejável que o maior número possível de fiéis receba a Comunhão (desde que estejam em estado graça e com as devidas disposições), só é imprescindível que o sacerdote o faça para que seja válida a celebração. Isto obedece a que o sacerdote, ao representar Cristo, representa todo o Corpo Místico, tanto a Cabeça como os membros; o Sacrifício da Cruz efectua-se por si mesmo antes que os seus frutos se comuniquem aos membros individuais da espécie humana.
[5] Estou farto de que nos digam, como se não o soubéssemos, que os cristãos do rito oriental celebram na sua língua vernácula. Para começar, isso não é totalmente verdade; muitos ritos orientais continuam a usar, no todo ou em parte, línguas litúrgicas arcaicas santificadas por séculos de uso constante. E, em segundo lugar, no Oriente sempre houve diversidade e adaptação linguística de uma maneira totalmente estranha à tradição ocidental que, durante 1600 anos, teve o latim como única e exclusiva língua litúrgica. Das duas, uma: ou essa exclusividade linguística foi vontade de Deus ou a Igreja de Roma está confundida há muito tempo, pelo que será melhor tornarmo-nos ortodoxos. Não me custa crer que se deve à vontade de Deus e que, no Rito Romano, mudar para línguas vernáculas foi um erro crasso de clérigos arrogantes e míopes.
[6] Ainda que, por vezes, se utilizem, nas celebrações do Novus Ordo, o latim e o canto gregoriano, é preciso ter presente algo fundamental: a beleza que a Igreja nos proporciona é, antes de tudo, a beleza do próprio rito, que se expande para abarcar e inspirar outras artes. O latim e o canto gregoriano foram criados para apoiar o rito tradicional; melhor, como o corpo que corresponde à alma; a sua grandeza está ligada à sua essência.
[7] Retirado do romance epistolar Mitre and Crook, publicado, pela primeira vez, em 1979.


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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

A doença do Papa Francisco e a devoção ao Papado

A 22 de Fevereiro, após alguns dias de internamento no Hospital Gemelli, o Papa Francisco sofreu um agravamento do seu estado de saúde. Era o dia da festa da Cátedra de São Pedro, uma tradição muito antiga, atestada em Roma desde o século IV, na qual se dá graças a Deus pela missão confiada por Cristo ao apóstolo Pedro e aos seus sucessores de apascentar, guiar e governar o seu rebanho universal.
Na abside da Basílica de São Pedro, Gian Lorenzo Bernini realizou um monumento à Cátedra do Apóstolo sob a forma de um grande trono de bronze, sustentado pelas estátuas de quatro Doutores da Igreja, dois do Ocidente, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, e dois do Oriente, São João Crisóstomo e Santo Atanásio.
Um outro grande Doutor da Igreja, São Jerónimo, escreve: «Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; venho agora pedir um alimento para a minha alma ali, onde outrora recebi a veste de Cristo. Não sigo outro primado senão o de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com a vossa beatitude, isto é, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja» (As Cartas I, 15, 1-2).
Nesta passagem, que remonta ao final do século IV, São Jerónimo não só proclama a doutrina do Primado de Pedro, que será definida como regra de fé pelo Concílio de Florença, pelo Concílio de Trento e sobretudo pelo Concílio Vaticano I, com a constituição Pastor aeternus, mas afirma também a necessidade da devoção ao Papa, como elemento fundamental da espiritualidade católica. A devoção ao Papa, como a devoção a Nossa Senhora, é um pilar da espiritualidade católica. Esta devoção não se dirige a um princípio abstracto, mas a um homem que encarna um princípio e que, na sua precariedade humana, é também o Vigário de Cristo.
O Papa como homem é fraco e falível. A sua fragilidade é física, psicológica, moral. Como pessoa privada, o Papa pode ser imoral, ambicioso, até mesmo herético ou sacrílego. Como pessoa pública, o Papa, embora não seja infalível no governo da Igreja, pode ser infalível no seu ensinamento. Para o ser, deve respeitar determinadas condições, que foram clarificadas pela constituição Pastor aeternus de 18 de Julho de 1870. O Papa deve falar como pessoa pública, ex cathedra, com a intenção de definir uma verdade de fé e de moral e de a impor como obrigatória de acreditar a todos os fiéis. Infelizmente, isto aconteceu muito raramente no último século.
A doença do Papa, a morte do Papa, de cada Papa, recorda-nos a existência deste contraste entre a pessoa privada do Papa, que pode ser fraca e vacilante, e a pública, que exprime a infalibilidade da Igreja.
Há uma diferença entre a morte de um Papa e a morte de um soberano temporal. O Rei deriva a sua legitimidade do sangue, ou seja, do laço biológico que o liga aos seus antepassados. Quando morre, ele sobrevive no seu herdeiro, a quem o liga o mesmo sangue. O Papa, pelo contrário, é completamente alheio a esta fisicalidade biológica. O Papa não sobrevive noutros homens, porque o Papa não tem herdeiros biológicos. Morreu o Rei, viva o Rei, diz-se no momento em que o monarca exala o último suspiro. Isto não acontece com o Papa, porque a eleição do seu sucessor não ocorre um instante após a sua morte, mas só depois de um conclave, que pode até ser longo e controverso. Poder-se-á dizer, quando muito, morreu o Papa, viva a Igreja, porque antes do Papa há a Igreja, que o precede e que lhe sobrevive, sempre viva e sempre vitoriosa.
As monarquias e os impérios terrenos, como os organismos humanos, nascem e morrem. As civilizações são mortais. A Igreja, nascida do sangue do Calvário, é, pelo contrário, imortal e indefectível: durará até ao fim do mundo.

O contraste entre a caducidade física da pessoa e a imortalidade da instituição era expresso outrora por um rito que foi celebrado até 1963. O Papa, após a sua eleição, aparecia na basílica de São Pedro, em toda a sua majestade, na sede gestatória, rodeado pelos guardas suíços e pelos guardas nobres, enquanto dois camareiros secretos, de capa vermelha com arminho branco, seguravam os flabelos. A certo ponto do percurso, um cerimonialista, ajoelhando-se três vezes diante do Pontífice, acendia tufos de estopa enfiados numa haste de prata e, enquanto a chama ardia, cantava lentamente: «Pater Sancte, sic transit gloria mundi!» "Padre Santo, assim passa a glória do mundo".
Ao homem que naquele dia recebia a coroa destinada à mais alta autoridade sobre a terra, as palavras Sic transit gloria mundi advertiam: não te vanglories pela glória que hoje te envolve, lembra-te de que és um homem frágil, destinado a adoecer e a morrer.
Esta cerimónia ocorreu pela última vez no adro de São Pedro a 30 de Junho de 1963, por ocasião da coroação de Paulo VI. Quando o Papa, após a Missa Pontifical, depôs a mitra e assumiu a tiara, ressoou, pela última vez depois de muitos séculos, a fórmula solene: «Recebe a tiara adornada com três coroas, e sabe que és o pai dos príncipes e dos reis, o governador do mundo, o Vigário na terra do Nosso Salvador Jesus Cristo, a quem seja honra e glória pelos séculos dos séculos».
Entre as primeiras decisões do novo Pontífice esteve precisamente a de abolir a cerimónia da coroação Pontifical, que era anterior ao século IX, como resulta do Ordo Romanus IX da época de Leão III.
A partir do gesto de Paulo VI, iniciava-se aquela confusão entre o homem e a instituição, que estava destinada a dissolver a autêntica devoção ao Papado: uma devoção que não é o culto do homem que ocupa a Cátedra de Pedro, mas é o amor e a veneração pela missão pública que Jesus Cristo confiou a Pedro e aos seus sucessores. Esta missão pode ser desempenhada por um homem fraco, inadequado à sua tarefa, que permanece, no entanto, o legítimo sucessor de Pedro e que deve ser amado e seguido também na sua fragilidade, no seu sofrimento e na sua morte.

Por isso, o professor Plínio Corrêa de Oliveira escreveu, há muitos anos, com palavras extraordinariamente actuais: «Na gloriosa cadeia constituída pela Santíssima Trindade, por Nossa Senhora e pelo Papado, este último constitui o elo menos forte: porque mais terreno, mais humano e, em certo sentido, envolto por aspectos que o podem desacreditar. Costuma dizer-se que o valor de uma cadeia se mede exactamente pelo seu elo mais frágil.

Assim, o modo mais excelente de amar esta extraordinária cadeia é beijar o seu elo menos forte: o Papado. É consagrar à Cátedra de Pedro, para a qual faltam tantas fidelidades, a nossa fidelidade inteira!».

Professor Roberto de Mattei in Corrispondenza Romana



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A guarda do coração

Guardar o coração significa amar com pureza e paixão aqueles a quem devemos amor, e excluir ao mesmo tempo os ciúmes, as invejas e inquietações, que são causas certas de desordem no amor. A guarda do coração significa sempre a ordem no amor. A guarda do coração ensina o cristão a penetrar na profundidade de alma, para decobrir os seus movimentos e tendências.

Salvatore Canals in Ascética Meditada


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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Quarta-Feira, dia dedicado a São José

Oração a São José pela pureza

Ó glorioso São José, Pai e protector das Virgens, a cuja fiel protecção foram confiados Jesus Cristo, a própria inocência, e Maria, Virgem das Virgens; em nome de Jesus e de Maria, desse duplo tesouro que Vos foi tão caro, Vos suplico que me conserveis isento de toda impureza, para que, com espírito puro e corpo casto, sempre sirva fielmente a Jesus e a Maria.
Amén.


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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O que é o Culto?

CULTO RELIGIOSO é o acto pelo qual manifestamos a Deus, aos seus Anjos e aos seus Santos a devida honra e reverência. A Deus, e só a Deus, nas três Pessoas divinas como na sagrada Eucaristia, é devido culto de Latria (adoração).

Culto de Dulia é a honra devida aos Santos, em atenção às virtudes sobrenaturais que praticaram e à glória que gozam junto de Deus. Culto de Hiperdulia é a honra devida à Virgem Maria por ser Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem. 

O culto pode ser: a) Interior, se não passa da mente ou do coração; bExterno, se é manifestado por atos do corpo; c) Individual, se é praticado por alguma pessoa; d) Social, se é praticado socialmente ou em comum; e) Absoluto, se a honra é dirigida imediatamente a Deus ou aos Santos; f) Relativo, se é dirigido imediatamente às imagens e às relíquias dos Santos; g) Público, se é praticado em nome da Igreja e por pessoas pela Igreja a isso consagradas; h) de outro modo é culto Privado.

O fim do culto é o homem dar glória a Deus e imitar os seus Santos. Não se diminua, porém, o culto de Deus por causa do culto dos Santos, cujas imagens se vêem. Os Santos têm culto público e universal. Os Beatos têm culto público segundo a concessão feita pelo Romano Pontífice, limitada a alguma Ordem Religiosa ou a algum lugar. 

Os Servos de Deus, isto é aqueles que morreram com fama de santidade, assim como os Veneráveis, isto é, aqueles de cujas virtudes heróicas já existe um Decreto canónico, não podem ter culto público. Não é proibido, porém, prestar-lhes culto privado, rezando-lhes, tendo as suas imagens, mesmo nas paredes da igreja, mas sem auréola.

Padre José Lourenço in Dicionário da Doutrina Católica



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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Ser capaz de amar os inimigos

Algum de vós dirá: «Não sou capaz de amar os meus inimigos.» Deus não cessa de te dizer nas Escrituras que és capaz, e tu respondes-Lhe dizendo que não és? Reflecte comigo: em quem devemos acreditar, em Deus ou em ti? Uma vez que Aquele que é a própria Verdade não pode mentir, que a fraqueza humana abandone desde agora as suas desculpas fúteis. Aquele que é justo não pode ordenar coisas impossíveis, nem Aquele que é misericordioso condenará um homem por algo que este não era capaz de evitar. 

Nesse caso, a que se devem as nossas hesitações? Ninguém sabe melhor aquilo de que somos capazes do que Aquele que nos tornou capazes. Há tantos homens, tantas mulheres e crianças, tantas jovens delicadas que por amor de Cristo suportaram as chamas, o fogo, o gládio e os animais selvagens de forma imperturbável, e nós dizemos que não somos capazes de suportar insultos de gente estúpida?

Com efeito, se só tivéssemos de amar os bons, que haveríamos de dizer do comportamento do nosso Deus, sobre quem está escrito: «De tal modo amou Deus o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito»? (Jo 3,16) Pois que bem tinha o mundo feito para que Deus assim o amasse? Cristo nosso Senhor veio encontrar todos os homens, não somente maus, mas mortos por causa do pecado original; e contudo, «amou-nos e entregou-Se a Si mesmo por nós» (Ef 5,2). 

Deste modo, amou também aqueles que não O amavam, como observa o apóstolo Paulo: «Cristo morreu pelos culpados» (Rm 5,6); e, na sua misericórdia inexprimível, deu este exemplo a todo o género humano, dizendo: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29).

S. Cesário de Arles in Sermões ao povo, n° 37; SC 243 


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