quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Concílio Vaticano II e a Mensagem de Fátima

Rorate Coeli, Corrispondenza Romana (Senza Pagare) e outras publicações católicas reproduziram uma valiosa intervenção de D. Athanasius Schneider sobre a “interpretação do Concílio Vaticano II e a sua relação com a actual crise da Igreja”. De acordo com o Bispo Auxiliar de Astana, o Vaticano II foi um Concílio pastoral e os seus textos devem ser lidos e julgados à luz do ensinamento perene da Igreja.

"Do ponto de vista objectivo, os pronunciamentos do Magistério (Papas e concílios) de carácter definitivo têm mais valor e mais peso frente aos pronunciamentos de carácter pastoral, os quais são, por natureza, mutáveis e temporários, dependentes de circunstâncias históricas ou respondendo às situações pastorais de um determinado tempo, como é o caso com a maior parte dos pronunciamentos do Vaticano II."

Ao artigo de D. Schneider seguiu-se um equilibrado comentário do Padre Angelo Citati, FSSPX, segundo o qual a posição do Bispo alemão se assemelha àquela reafirmada constantemente por D. Marcel Lefebvre: “Dizer que avaliamos os documentos do Concílio ‘à luz da Tradição’ significa, evidentemente, três coisas inseparáveis: que aceitamos aqueles que estão de acordo com a Tradição; que interpretamos segundo a Tradição aqueles que são ambíguos; que rejeitamos aqueles que são contrários à tradição” (Mons. M. Lefebvre, Vi trasmetto quello che ho ricevuto. Tradizione perenne e futuro della Chiesa, editado por Alessandro Gnocchi e Mario Palmaro, Sugarco Edizioni, Milão 2010, p. 91).

Tendo sido publicado no site oficial do Distrito italiano, o artigo do Padre Citati também nos ajuda a compreender qual poderia ser a base para um acordo visando regularizar a situação canónica da Fraternidade São Pio X. Devemos acrescentar que, no plano teológico, todas as distinções podem e devem ser feitas para interpretar os textos do Concílio Vaticano II, que foi um Concílio legítimo: o vigésimo primeiro da Igreja Católica. Dependendo do respectivo teor, esses textos poderão então ser classificados como pastorais ou dogmáticos, provisórios ou definitivos, conformes ou contrários à Tradição.

Nas suas obras mais recentes, Mons. Brunero Gherardini dá-nos um exemplo de como um juízo teológico, para ser preciso, deve ser articulado (Il Concilio Vaticano II un discorso da fare, Casa Mariana, Frigento 2009 e Id., Un Concilio mancato, Lindau, Turim 2011). Para o teólogo, cada texto tem uma qualidade diferente e um grau diverso de autoridade e cogência. Portanto, o debate está aberto.

Do ponto de vista histórico, contudo, o Vaticano II é um bloco inseparável: tem a sua unidade, a sua essência, a sua natureza. Considerado nas suas raízes, no seu desenvolvimento e nas suas consequências, pode ser definido como uma Revolução na mentalidade e na linguagem que mudou profundamente a vida da Igreja, iniciando uma crise religiosa e moral sem precedentes.

Se o juízo teológico pode ser matizado e indulgente, o juízo histórico é implacável e inapelável. O Concílio Vaticano II não foi apenas um Concílio malogrado ou falido: foi uma catástrofe para a Igreja.

Uma vez que este ano marca o centenário das aparições de Fátima, convém debruçar sobre a seguinte questão: quando, em Outubro de 1962, foi inaugurado o Concílio Vaticano II, os católicos de todo o mundo esperavam a revelação do Terceiro Segredo e a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. O Exército Azul de John Haffert (1915-2001) liderou durante anos uma maciça campanha nesse sentido.

Haveria melhor ocasião para João XXIII (falecido em 3 de Junho de 1963), Paulo VI e os cerca de 3000 bispos reunidos em torno deles, no coração da Cristandade, corresponderem em uníssono e solenemente aos desejos de Nossa Senhora? A 3 de Fevereiro de 1964, D. Geraldo de Proença Sigaud entregou pessoalmente a Paulo VI uma petição assinada por 510 bispos de 78 países, na qual se implorava que o Pontífice, em união com todos os bispos, consagrasse o mundo, e de maneira explícita a Rússia, ao Imaculado Coração de Maria. O Papa e a maioria dos Padres Conciliares ignoraram o apelo. Se a consagração pedida tivesse sido feita, uma chuva de graças teria caído sobre a humanidade. E um movimento de volta à lei natural e cristã teria iniciado.

O comunismo teria caído com muitos anos de antecedência, de maneira não fictícia, mas autêntica e real. A Rússia ter-se-ia convertido e o mundo teria conhecido uma era de paz e de ordem, como Nossa Senhora prometera. A consagração omitida concorreu para que a Rússia continuasse a espalhar os seus erros pelo mundo, e para que esses erros conquistassem as cúpulas da Igreja Católica, atraindo um castigo terrível para toda a Humanidade. Paulo VI e a maioria dos Padres Conciliares assumiram uma responsabilidade histórica, cujas consequências bem podemos hoje medir.

Roberto de Mattei in 'Corrispondenza Romana' (Tradução: Fratres In Unum)


blogger

1 comentário:

Eduardo Santos disse...

Sendo um artigo cujo valor considero de interesse, apesar disso entra por considerandos de vias muito estreitas, não valorizando no seu todo o Concílio Vaticano II. Mais: avança para suposições sem base, quando diz que João XXIII e os papas seguintes ignoraram o apelo de Nossa Senhora sem apresentar razões para isso. A Igreja, especialmente quando reunida em Concílio, tem a assistência do Espírito Santo, a Igreja errou? Não pode e teria sido bom que este texto não menosprezasse a valia da doutrina emanada do Concílio Vaticano II, desta forma estão a tentar dividir a Igreja, o que detesto enquanto cristão. Saudações em Cristo.