sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A Imaculada Conceição e o efeito dos Sacramentos

"Cantai ao Senhor um cântico novo, pelas maravilhas que Ele operou" (Sal 97, 1)

Sim, hoje cantamos ao Senhor com um novo júbilo ao contemplarmos, uma vez mais, as maravilhas que fez na sua Mãe. A Imaculada Conceição, pela qual "a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada intacta de toda a mancha de pecado original no primeiro instante da sua conceição" [1], é uma dessas maravilhas que nós, unidos a milhões de cristãos de ontem, de hoje e de amanhã, agradecemos a Deus Todo-Poderoso. Agradecemos à Trindade que tenha decretado que a Virgem Santíssima recebesse este imenso dom.

No Evangelho (Lc 1, 26-38), unimo-nos ao Arcanjo S. Gabriel com a sua saudação: Ave, ó Cheia de Graça, o Senhor é convosco! Antes de ser a Mãe de Deus, já se encontra cheia da Graça de Deus!

Escreveu o Papa João Paulo II: "A afirmação do excepcional privilégio concedido a Maria mostra claramente que a acção redentora de Cristo não só liberta, como também preserva do pecado. (...)" [2]

Deixem-me propor uma comparação que ilustra as bonitas palavras de João Paulo II. No fundo, a Graça do Redentor não só cura do mal, mas, como vacina, imuniza contra os males futuros. Por isso, uma pessoa que recebeu com frequência os Sacramentos pode ter a certeza de que recebeu por eles muitas graças de Deus que o ajudaram a fazer o bem e a evitar o mal, permitindo que não caísse  na tentação. S. Josemaria respondia assim a uma pessoa que se queixava de não ver os frutos da comunhão diária: "Quantos anos a comungar diariamente! - Outro seria santo - disseste-me - e eu, sempre na mesma! - Filho - respondi-te - continua com a Comunhão diária, e pensa: que seria de mim, se não tivesse comungado?" [3]

Santa Teresinha do Menino Jesus, com toda a inocência, escrevia a uma das suas irmãs: "Asseguro-te que as palavras de Jesus a Madalena: 'Ao que mais se perdoa mais se ama', pode aplicar-se por maioria de razão aos casos em que Jesus perdoa os pecados de uma pessoa adiantadamente. Ele perdoou-me tudo pelo facto de não me ter deixado pecar!" [4] Na História de Uma Alma, a sua autobiografia espiritual, compara o que faz um médico com o seu filho quando trata a perna ferida ou quando evita a ferida afastando a pedra na qual o filho previsivelmente tropeçaria. Ela reconhece que a criança talvez não fique tão agradecida ao pai no segundo caso, quando não se dá conta do que iria suceder. "Mas - acrescenta -, e se descobrir a verdade? O seu amor não será ainda maior? Eu sou essa criança - conclui - (...). Ele quer que eu O ame porque me perdoou, não muito mas tudo." [5]

Assim, a Imaculada Conceição ajuda-nos a querer agradecer ao Senhor por todas as graças que nos concedeu, sobretudo através dos Sacramentos, muitas das quais nós desconhecemos: de quantas tentações não nos livrou o Senhor! De quantos perigos não nos terá protegido! Quantas derrotas nos evitou! E não apenas na nossa vida pessoal. A Santa Missa tem repercussão em todo o mundo. Quantos bens não terão chegado aos homens pela presença de Jesus entre nós! 

Saberemos, queridos irmãos e irmãs, avaliar as graças desta Missa solene em honra de Nossa Senhora? Que "quantidade" de Graça haverá hoje, aqui e agora? Sonhemos e confiemos em Deus!

Padre João Paulo Pimentel in 'Sacramentos e Vida Cristã' (Lucerna, 2011, pp. 109-115)

[1] Pio IX, Bula Ineffabilis Deus, cit. em Catecismo da Igreja Católica, n. 491.
[2] S. João Paulo II, Audiência geral, 5-6-1996, n. 4
[3] S. Josemaria Escrivá, Caminho, n. 534.
[4] in Ida Gorres, Teresa de Lisieux, ed. Aster, Lisboa, p. 291.
[5] Ibidem.


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