Nos Evangelhos, Jesus é chamado de "filho do carpinteiro". De modo iminente, se reconhece nesta memória de São José a dignidade do trabalho humano, como dever e aperfeiçoamento do homem, exercício benéfico de seu domínio sobre a criação, serviço à comunidade, prolongamento da obra do Criador e contribuição ao plano da Salvação.
O Papa Pio XII (1955) instituiu a Festa de "São José Artesão", para dar um protector aos trabalhadores e um sentido cristão à Festa do Trabalho. Mas como nem todas as nações cristãs (EUA, por exemplo) comemoram a festa no dia 1º de Maio, a celebração de hoje é uma memória facultativa.
A figura de São José, o humilde e grande trabalhador de Nazareth, orienta para Cristo, o Salvador do homem, o Filho de Deus que compartilhou completamente a condição humana (cf GS 22; 32). Assim, antes de tudo, deve-se afirmar que o trabalho dá ao homem o maravilhoso poder de participar da obra criadora de Deus e que o trabalho possui um autêntico valor humano.
O Novo Testamento não atribui a São José uma palavra sequer. Quando começa a vida pública de Jesus, ele, provavelmente, já não mais vivia (de fato, nas núpcias de Canaã ele não é mencionado), mas não se sabe onde ou quando tenha morrido; nada se sabe de seu túmulo, embora seja conhecido o de Abraão, que é muito mais antigo. Os Evangelhos conferem-lhe o título de Justo: na linguagem bíblica, 'justo' é o que ama o espírito e a letra da Lei, como expressão e vontade de Deus. José descende da Casa de Davi, dele sabemos apenas que era um artesão que trabalhava a madeira.
Não era um velho, como a tradição hagiográfica e certa iconografia o apresentam, segundo o cliché do “bom velho José” que tomou como esposa a Virgem de Nazareth para ser o pai putativo do Filho de Deus. Pelo contrário, era um homem no pleno vigor da idade, de coração generoso e rico de fé, certamente enamorado de Maria. Com ela noivou segundo os costumes da época.
O noivado para os hebreus equivalia ao matrimónio, durava um ano e não permitia a coabitação nem a vida conjugal entre os dois; após este período, havia uma festa na qual a noiva passava a coabitar com o noivo, iniciando a vida conjugal. Se neste período a noiva concebesse um filho, o noivo dava-lhe seu nome, mas se a noiva era suspeita de infidelidade, podia ser denunciada no tribunal local. O procedimento a seguir era terrível: a adultera morreria apedrejada.
Eis que no Evangelho de São Mateus lemos que “Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela acção do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo um homem justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente” (Mt 1,18-19). Mas, enquanto ainda pensava em como fazer isto, eis que o Anjos do Senhor veio tranquilizá-lo: “José, Filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, porque O que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus; ele, de fato, vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21).
José pode aceitar ou não o projecto de Deus. Em toda vocação que se respeite, ao mistério do chamado corresponde sempre o exercício da liberdade, pois o Senhor nunca violenta a intimidade de suas criaturas, nem interfere nunca sobre seu livre arbítrio. Então, José pode aceitar ou não. Por amor a Maria, aceita. Nas Escrituras lemos que “fez conforme o Anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24). Ele obedeceu prontamente ao Anjo e, desse modo, disse o seu sim à obra da Redenção. Por isso, quando nós olhamos o sim de Maria devemos também pensar ao sim de José ao projecto de Deus.
Desafiando toda prudência terrena e indo além das convenções sociais e dos costumes da época, ele soube fazer vencer o amor, acolhendo o mistério da Encarnação do Verbo. Na multidão dos devotos de Nossa Senhora, sem dúvida, São José é o primeiro em ordem de tempo. Uma vez tomado conhecimento de sua missão, consagrou-se a Ela com todas as suas forças. Foi esposo, custódio, discípulo, guia e apoio: todo de Maria. (…) O que Maria e José viveram foi um verdadeiro matrimónio? É uma pergunta que se fazem seja os doutos que os simples. Sabemos que a convivência matrimonial deles foi vivida na virgindade (cf. Mt 1,18-25), ou seja, foi um matrimónio virginal, mas, contudo, vivido na comunhão mais verdadeira e completa.
E se Maria vive de fé, São José não deixa por menos. Se Maria é modelo de humildade, nesta humildade se espelha também a humildade de seu esposo. Maria amava o silêncio, São José também: entre eles havia, nem poderia ser diferente, uma comunhão conjugal que era verdadeira comunhão de corações, cimentada por profundas afinidades espirituais.
“Qualquer graça que se peça a São José será certamente concedida, quem queira crer faça o teste para que se convença”, dizia S. Teresa de Ávila. “Eu tomei como meu advogado e patrono o glorioso São José, e me recomendei a ele com fervor. Este meu pai e protector me ajudou nas necessidades em que me encontrava e em muitas outras mais graves nas quais estava em jogo minha honra e a saúde de minha alma. Vi que a sua ajuda foi sempre maior daquilo que poderia esperar...” ( cf. cap. VI da Autobiografia).
É difícil duvidar disso, se pensarmos que entre todos os santos o humilde carpinteiro de Nazareth é aquele mais próximo de Jesus e de Maria: o foi nesta terra, a maior razão o é no Céu. Porque ele foi o pai de Jesus, mesmo que adoptivo; e de Maria foi o esposo. São mesmo inúmeras as graças que se obtêm de Deus, por intercessão de São José.
Padroeiro universal da Igreja por vontade de Papa Pio IX, é conhecido também como padroeiro dos trabalhadores e também dos moribundos e das almas purgantes, mas o seu patrocínio se estende a todas as necessidades, atende a todos os pedidos.
São José é o padroeiro dos Pais, Carpinteiros, Trabalhadores, Moribundos, Ecónomos, Procuradores legais e da Família, mas em primeiro lugar é o Padroeiro da Igreja. Sob a sua protecção se colocaram Ordens e Congregações religiosas, associações e pias uniões, sacerdotes e leigos, doutos e ignorantes.
in Pale Ideas
4 comentários:
Bonito texto. Obrigado.
Fiquei só com dúvidas em relação a esta passagem: "pois o Senhor ... [não] interfere nunca sobre [o] seu livre arbítrio".
Tenho muitas dúvidas sobre esse suposto livre arbítrio do ser humano. Parece-me um movimento friccional, na realidade. Não dura muito tempo. Aquilo que tem que acontecer, vai acontecer. E o que não tem que acontecer, jamais vai acontecer ou durar.
Tudo procede de Deus, segundo a sua vontade, ao ritmo suposto, que é também a vontade íntima e individual de cada ser humano. O caso de S. José talvez seja um bom exemplo disso.
"José pode aceitar ou não o o projeto de Deus. Deus nunca violenta a intimidade das Suas criaturas, nem interfere no seu livre arbítrio... " Penso estar aqui a resposta: Deus não força; Deus apenas propõe, embora goste que aceitemos a Sua Vontade, porque, para quem tem Fé, sabe que é o melhor para si.
Deus para todos tem um projeto ou missão, mas somos livres de o aceitar ou não, segundo me ensinaram. O problema está em conseguir descobri-lo! É por isso, que precisamos estar SEMPRE mergulhados n/Ele através da Oração e no Cumprimento da Sua Palavra, para que Ele possa revelar-Se e, aos poucos, indicar-nos o que pretende, especificamente, se for esse o caso. A nossa liberdade reside em Aceitar ou não a Vontade de Deus; fora disso, estamos sujeitos à Condenação.
Com os Grandes Místicos, à medida que eles se disponibilizavam para aceitar a Sua Vontade, Deus ia-os preparando com sinais, locuções interiores, arrebatamentos...ou mesmo, com Visões e Mensagens! E todos estes fenómenos são progressivos, conforme o crescimento em Santidade, do Escolhido. Deus é Paciente, se reconhecer que ele colabora. Santa Teresa de Ávila foi para o Carmelo com dezoito anos, por medo de se perder no mundo, e somente se CONVERTEU, aos cinquenta, segundo ela mesma refere. Chega a lamentar-se de tanto tempo perdido, sentindo-se a PIOR Criatura da Humanidade!
No entanto, segundo o que já li sobre Judas, houve também essa paciência em Jesus, para Convertê-lo, mas ele SEMPRE resistiu à Graça, porque era traidor por natureza e ambicioso, ao ponto de ter ficado totalmente dominado pelo Mal--Satanás-- E o facto de Deus TUDO isso CONHECER, desde sempre, não quer dizer, que o tenha premeditado e não lhe tenha dado oportunidade para que se convertesse.
Deus deixa-nos livres e sofre com as nossas más escolhas, mas respeita.
Contudo, segundo Jesus, é nossa OBRIGAÇÃO rezar pela Conversão dos outros, porque a Oração TUDO pode mudar--COMUNHÃO DOS SANTOS-- Ele afirma, em "O Evangelho como me foi revelado", que a nossa oração pode ajudar a mudar a decisão de Deus, sobre a Condenação duma alma, até no último segundo da sua vida, referindo que é nossa OBRIGAÇÃO REZAR SEMPRE!
Obrigado pelo seu comentário. Em linhas gerais, eu concordo com muitíssimo do que diz. Existem sinais que se vão efectivamente revelando: no próprio corpo, fora de nós também (se quisermos falar de interior vs exterior). Neste mundo há de tudo: os arquétipos do mal (Judas), as pessoas normais que tentam viver o melhor que podem em comunidade, família ou em trabalho mais pastoral e ainda uns poucos que deixam tudo para trás e se 'entregam totalmente a Deus', se quisermos usar esta expressão. Sempre que 'vamos contra a vontade de Deus', o corpo dá sinal de imediato porque Deus reverbera também em nós, mesmo quando não acreditamos Nele. É como diz: cada pessoa tem uma história muito própria e cabe-lhe a si aceitar seguir o rumo da corrente ou nadar contra o rio. A inteligência está aí (mas ela também vem de Deus). Não creio que haja muito mais que possamos fazer. Aliás, os últimos estudos neuro-científicos - já deste século! - confirmam que o ser humano só se torna consciente do que faz 7-10 segundos depois da escolha já estar feita no cérebro. Tudo é feito, portanto, segundo a Sua vontade.
E mais uma vez vou transcrever o que Jesus nos diz em "O Evangelho como me foi revelado", sobre a maneira como Deus atua na nossa Conversão, através da Sua Palavra.
"Os Apóstolos e Judas, dois exemplos opostos. Os primeiros, imperfeitíssimos, rústicos, ignorantes , violentos, mas de Boa Vontade. Judas, douto, refinado, pela sua vida na Capital, no Templo, mas de má vontade.
O mérito vem sempre da vitória sobre as paixões desordenadas e das tentações; vitória conseguida por Amor a Deus e, com o fim último, de Gozar a Deus para sempre.
O milagre da Conversão não depende só de Deus. Deus dá os meios, mas Ele não violenta a vontade do homem e, se o homem não quiser, inutilmente terá a Conversão.
Os efeitos da Minha Palavra recebida com Boa Vontade, tanto transformam o homem HUMANO como o ESPIRITUAL, conduzindo-os à Perfeição externa e interna".
"Eu não era um Mestre difícil, nem um rei soberbo ou um doutor que julga indigno dele os outros homens. Eu soube compadecer-Me e quis, usando materiais brutos e vasos vazios e imperfeitos, enchê-los de Perfeição e mostrar que Deus Tudo pode, e que duma pedra pode tirar um filho de Abraão, um filho de Deus, a fim de confundir os mestres jactanciosos de sua ciência, que, muitas vezes, não tem nada a ver com a Minha.
E mostrar, como Judas se transformou de Servo de Deus em demónio, deicida, porque matou, em si, a Graça, que impedia que ele caísse no abismo, porque nele existia a serpente com todos os vícios capitais, que sempre devem ser combatidos, nisto ou naquilo, em vez de se entregarem a Satanás..."
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