quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Guerra contra os cristãos: a catástrofe do Século XXI

Imaginemos como seria receber informações sobre a Batalha das Ardenas no final de 1944, mas sem que nos explicassem que este foi um momento crucial na 2ª Guerra Mundial. Muita gente diria que os jornalistas falharam ao não proporcionar o contexto adequado para entender as notícias.

No entanto isto acontece nos meios de comunicação social, quando se fala sobre a perseguição aos cristãos no mundo. Porque a guerra global contra os cristãos continua a ser a grande notícia nunca contada, em pleno século XXI.

Segundo a Sociedade Internacional para os Direitos Humanos, um observatório não-confessional com sede na Alemanha, 80% dos actos de discriminação religiosa são praticados contra os cristãos. Do ponto de vista estatístico, isso torna os cristãos o grupo religioso mais perseguido do mundo.

Segundo o Pew Forum, entre 2006 e 2010, os cristãos foram discriminados em 139 países. E, segundo dados do Center for the Study of Global Christianity (EUA), cerca de 100 mil cristãos são assassinados por ano na chamada "situação de testemunho", nas últimas décadas. Isso significa 11 cristãos assassinados por hora, algures no mundo, por razões relacionadas à sua fé.

De facto, estamos a ser testemunhas do aparecimento duma nova geração de cristãos mártires. A matança está a acontecer em tão grande escala, que representa não apenas a notícia cristã mais dramática do nosso tempo, mas, com toda a certeza, o principal desafio para os direitos humanos desta época.

Basta olhar ao nosso redor. Em Bagdade, por exemplo, das 65 igrejas cristãs, 40 já foram atacadas com bombas, desde o início da invasão dos EUA em 2003. Na época da Guerra do Golfo, em 1991, o Iraque tinha uma comunidade cristã de pelo menos 1,5 milhão de fiéis. Hoje, estima-se que sejam cerca de 150 mil.

Orissa, na Índia, é um dos cenários mais violentos. Em 2008, 500 cristãos foram assassinados e cerca de 50 mil ficaram sem casa. Cerca de 5 mil casas e 350 igrejas foram destruídas. Na Nigéria, o movimento militante islâmico Boko Haram é considerado responsável por pelo menos 3 mil mortes desde 2009, 800 delas só no ano passado.

A Coreia do Norte é considerada como o lugar mais perigoso do mundo para ser cristão; calcula-se que 25% dos cristãos (dos cerca de 300 mil) estão presos em campos de concentração, por se negarem a praticar o culto nacional ao fundador Kim II Sung. Desde a divisão da península, em 1953, mais de 300 mil cristãos da Coreia do Norte desapareceram.

A violência anti-cristã não se limita ao choque de civilizações entre o cristianismo e o islão. Na verdade, os cristãos enfrentam uma desconcertante variedade de ameaças vindas de inimigos diversos e sem uma única estratégia adequada para parar a violência.

Por que as dimensões desta guerra global são tão ignoradas? Junta-se o facto de que as vítimas são maioritariamente negras e pobres – e, portanto, não consideradas relevantes nas notícias – e tendem a viver e morrer bem longe do radar da opinião pública ocidental. Outra razão é o antiquado estereótipo de que o cristianismo é opressor, e não oprimido.

Muitos "fazedores de opinião", quando ouvem falar de "perseguição religiosa", pensarão nas cruzadas, na Inquisição, em Galileu, nas guerras de religião. Hoje, no entanto, não vivemos nas páginas de uma obra medíocre de Dan Brown, nas quais os cristãos enviam assassinos loucos para ajustar contas históricas. Pelo contrário: são eles os que fogem dos assassinos que outros enviaram.

Por outro lado, a discussão pública sobre temas de liberdade religiosa sofre dois tipos de cegueira. Em primeiro lugar, geralmente expressa-se em termos de tensões ocidentais Igreja/Estado, como entre os líderes religiosos dos EUA e a Casa Branca de Obama sobre as leis dos anticoncepcionais como parte da reforma na saúde.

Na verdade, no Ocidente, uma ameaça à liberdade religiosa significa que alguém poderia ser processado; em outros lugares do mundo, significa que alguém poderia levar um tiro – e certamente este último é um cenário mais dramático.

Em segundo lugar, a discussão limita-se, por vezes a uma concepção muito estreita do que constitui "violência religiosa". Se uma catequista é assassinada no Congo, por exemplo, por convidar os jovens a permanecerem fora das milícias e grupos criminosos, isso é considerado uma tragédia, mas não um martírio, porque os seus agressores não agiram movidos pelo ódio à fé cristã.

No entanto, o ponto crucial não é somente o que havia na mente dos seus assassinos, mas o que havia no coração dessa catequista, que conscientemente arriscou sua vida para servir o Evangelho. Considerar como única prova os motivos dos atacantes, ao invés dos dela, é distorcer a realidade.

Sejam quais forem os motivos do silêncio, chegou a hora de acabar com ele. O Papa Francisco reconheceu isso em uma audiência geral do mês passado.

"Quando ouço que muitos cristãos no mundo estão a sofrer, sou indiferente, ou considero-os como membros da minha família que estão a sofrer?", perguntou o Papa, acrescentando: "Estou aberto a esse irmão ou a essa irmã da minha família que está a dar sua vida por Jesus Cristo?".

Em 2011, o patriarca católico de Jerusalém, Fouad Twal, que preside uma igreja repleta de mártires, pronunciou as mesmas perguntas, numa conferência em Londres. Perguntou com franqueza: "Alguém ouve os nossos gritos? Quantas atrocidades ainda teremos de suportar até que alguém, de algum lugar, venha em nosso auxílio?".

Não pode haver uma pergunta sobre o destino do cristianismo no século XXI mais merecedora duma resposta urgente. John L. Allen Jr. in "The Spectator"


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