terça-feira, 6 de maio de 2014

Comunismo, socialismo e Cristianismo: Um destes não encaixa - Parte 2

Esta é a segunda parte de um artigo escrito pelo Pe. Guarnizo. O Pe. Guarnizo é um sacerdote americano que se voluntariou para trabalhar ao serviço do Arcebispo de Moscovo por mais de 20 anos em Moscovo, na Rússia. Não há muitas pessoas mais que conheçam melhor que o Pe. Guarnizo o problema do comunismo e do socialismo.
A primeira parte do artigo pode ser encontrada aqui.

A táctica de Gramsci: Hegemonia Cultural
A revolução socialista no Ocidente tem sido grandemente influenciada pelas tácticas do comunista italiano Antonio Gramsci. Escrevendo nos anos 30, Gramsci reconheceu que a cultura do Ocidente, e em particular a Igreja Católica, mantinham-se como obstáculos ao domínio comunista económico e político na Europa. Gramsci propôs que um domínio das instituições culturais - a obtenção da hegemonia cultural - era um primeiro passo necessário para o eventual domínio das estruturas políticas e económicas de uma sociedade livre.
Esta estratégia significava que os socialistas deviam trabalhar sem descanso em dominar as universidades e a educação, os media, as igrejas e outras estruturas culturais do mundo livre. Ele achava que a erosão das fundações culturais iria enfraquecer as defesas naturais de uma sociedade livre e isso iria abrir o caminho para os objectivos económicos e políticos da revolução socialista.
Eu diria que a "hegemonia cultural" da revolução socialista está a aumentar no Ocidente a um passo alarmante. A crescente perda de terreno da nossa cultura para o socialismo e seus aliados está a criar uma ameaça crescente às nossas liberdades políticas e sociais das democracias americana e ocidental.
Assim, parece-me que a batalha entre o mundo livre e a revolução socialista está longe de estar acabada. Os erros do comunismo são uma legião e o Ocidente não devia adormecer, porque a batalha está longe de acabar.
Os Erros do Comunismo
       1.   O Erro relacionado com a Natureza do Homem
O comunismo não começa com um erro económico, mas com um erro antropológico. Os efeitos económicos e políticos do sistema comunista não são senão um sintoma de um erro anterior, um erro sobre a natureza do homem.
O político, economista e escritor francês do século XIX, Frédéric Bastiat, explica claramente as coisas. O socialismo, disse Bastiat, vê o homem apenas como matéria prima para ser deitada fora, para ser moldada pelo estado que "tudo sabe." No seu livro, The Fatal Conceit: The Errors of Socialism, o economista Friedrich von Hayek lançou um ataque semelhante contra os socialista e o seu "estado omnisciente." Hayek demonstrou a impotência do socialista para governar uma economia.
O homem é só matéria: esta visão materialista do homem é o primeiro erro, e o mais profundo, da revolução socialista. A visão materialista do homem é o que justifica a insistência dos comunistas de que podem fazer com legitimidade o que quer que seja para atingirem a sua utopia. Temos que ser transformados pelo estado, à sua imagem e semelhança.
Esta visão materialista despreza portanto a verdadeira dignidade do homem e a verdadeira natureza da pessoa humana - a racionalidade e livre arbítrio. As ordens sociais  e "artificiais", inventadas pelos socialistas, estão completamente vazias de um conhecimento próprio do homem e do tipo de ser que ele é.
Escreve Bastiat que eles "... começam com uma ideia de que a sociedade é contrária à natureza; maquinam artifícios aos quais a humanidade se tem que se sujeitar; perdem de vista o facto de que a humanidade tem a sua força motora dentro de si mesma; consideram os homens como tendo uma base de matéria prima; propõem dar-lhes movimento e vontade, sentimento e vida; põem-se a si mesmos de parte, incomensuravelmente acima da raça humana - estas são as práticas normais dos estrategas socialistas. Os planos diferem; os estrategas são todos iguais."
O socialismo e o comunismo são fundamentalmente contrários ao Cristianismo porque nenhum cristão pode defender que o homem é meramente matéria. O materialismo é o exacto oposto da afirmação filosófica e teológica mais básica do Cristianismo, nomeadamente que o homem é corpo e espírito.
Whittaker Chambers identificou a essência do revolucionário radical, do comunista, do socialista, do progressista radical, numa palavra chave: mudança. Escreve Chambers, "O coração revolucionário do Comunismo ... é uma simples frase de Karl Marx ... é necessário mudar o mundo ... O nó que os liga pelas fronteiras das nações, pelas barreiras da linguagem e das diferenças de classe e educação, no desafio à religião, à moral, à verdade, ao direito, à honra, na fraqueza do corpo e nas irresoluções da mente mesmo até à morte, é a simples convicção: é necessário mudar o mundo."
       2.   O Erro relacionado com a relação do Homem com o Estado
O primeiro erro fundamental leva ao segundo erro fatal: o Socialismo preverte a relação própria entre o homem e o estado.
Se o homem é apenas matéria que precisa de ser moldada e transformada sob a vontade do estado (engenharia social), então o homem está inteiramente subserviente ao estado. Nesta visão, o homem nasce para servir o estado desde o berço até à sepultura. A doutrina social Católica defende precisamente a visão oposta: o estado existe para servir o homem.
       3.   O Erro relacionado com a Propriedade Privada
O Comunismo, mesmo para um leitor amador da sua doutrina, considera a propriedade privada um grande mal na sociedade. Visto que é essa a teoria, desapropriar milhões de pessoas das suas terras e matar mais outros milhões não contados, por simplesmente terem mais que os outros, tem sido prática comum nos regimes comunistas.
A Igreja Católica sempre disse que ter propriedade privada é um grande bem para a sociedade e sempre defendeu o direito do homem à propriedade privada como um bem fundamental e compatível com a natureza, a liberdade e a dignidade do homem. A Igreja também reconhece a propriedade privada como um direito absolutamente necessário para a ordem e funcionamento próprios de sociedades livres. O respeito pelos direitos da propriedade privada do próximo é doutrina Judaico-Cristã fundacional. A abolição da propriedade privada no comunismo viola o grande mandamento, "Não roubarás."
O desrespeito pelos direitos da propriedade privada continua nos nossos dias. Em 2008, a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, ficou com 29 mil milhões de dólares das reformas privadas de trabalhadores argentinos, para usar naquilo que o London Telegraph chamou de "financimento kitty" para os seus esquemas socialistas. O Wall Street Journal caracterizou a acção de Kirchner como "abrir uma fenda no porquinho mealheiro do sistema privado de pensões da nação." Não roubarás, Kristina.
A cultura de inveja, alimentada pela luta de classses, viola ainda outro mandamento, o 10º, "Não cobiçarás os bens do próximo". Criar a cobiça e a vontade de desapropriar aqueles que têm mais é fundamentalmente anti-Cristão.
       4.   O Erro relacionado com a função do Governo
O comunismo e o socialismo prevertem a função própria do governo. Se o homem é apenas uma peça de matéria inerte e está completamente subserviente ao estado, então claramente é incapaz pela sua ingenuidade, empreendedorismo, capacidades e esforços, com os seus próprios falhanços e sucessos, de criar qualquer coisa de valor na sociedade. Assim o estado, em vez de proteger a estrutura em que o homem e as associações podem florescer, tem que se tornar num engenheiro social, para mudar o homem e moldá-lo aos seus ideais utópicos. O estado prossegue em criar artificialmente as condições particulares e as relações necessárias pela ideologia para atingir os objectivos utópicos da igualdade e felicidade para todos. Mas o papel próprio do estado não é fazer-nos felizes de acordo com os seus projectos distorcidos.
Visto que isto não se atinge facilmente, dado que o homem é livre e procura a felicidade de acordo com o que pensa, é necessário muita coerção. Isto inclui não só a coerção do Exército Vermelho, mas uma coerção em procedimentos, uma coerção por penalidades e impostos, pelo uso dos poderes governamentais para forçar os que não contribuem a contribuir. Tudo isto é completamente incompatível com o Cristianismo e uma sociedade livre.
       5.   O Erro relacionado com a função da Lei
O comunismo e o socialismo prevertem a função da lei. A regra da lei sob os comunistas e os seus amigos internacionais já não é um sistema útil no qual o homem pode agir livremente para obter os seus fins e objectivos.  Já não é uma luz para a mente, um trabalho da razão designado para ajudar a ordem política e a vida social, proibindo as coisas que vão contra uma sociedade livre e justa. Para o comunista, a lei torna-se num mero instrumento de coerção para submeter e forçar os cidadãos a alinhar na visão distorcida de quem manda na sociedade.
Bastiat dizia-o desta maneira: "Os socialista desejam praticar uma pilhagem legal... querem fazer da lei a sua nova arma."
       6.   O Erro relacionado com a Caridade Cristã
O comunismo e o socialismo atacam a caridade Cristã.
A revolução socialista depende da tão famosa luta de classes. Esta luta artificial, nas suas muitas formas - donos dos meios de produção vs. trabalhadores, ricos vs. pobres, proprietários das terras vs. agricultores -, é o motor que move a sociedade em direcção aos objectivos do socialismo, em direcção a uma sociedade equalitária. O princípio da luta de classes é claramenete e completamente contrário ao Cristianismo.
A luta de classes, luta de raças, luta de géneros, luta de gerações - e todas as outras novas rúbricas para dividir os cidadãos uns contra os outros - são intrinsecamente contrárias ao Evangelho Cristão. Os socialistas usam-nas para destruir as fundações da civilização Ocidental. As estratégias socialistas tentam atiçar as chamas do ódio, da discórdia e do ressentimento na sociedade. Tentam criar uma "cultura de inveja" e de desconfiança. A inveja, a "virtude" socialista, é considerada um pecado capital na doutrina da Igreja. O socialismo, com a sua luta de classes, não podia ser mais incompatível com o ensinamento da Igreja de que a caridade e a justiça são as grandes forças de ligação em sociedade.
       7.   Erros relacionados com a Família e as Instituições Sociais
O comunismo e o socialismo são inimigos da família e daquelas organizações que funcionam como estruturas intermediárias entre o estado e o indivíduo na sociedade. Qualquer pessoa que tenha experimentado o comunismo não precisa da explicação de um assunto tão óbvio. Os comunistas separavam sem hesitação as crianças das suas famílias, doutrinavam-nas sem misericórdia e faziam a sua escolha de negócio ou de trabalho de tal modo que era sempre um burocrata comunista a decidir. Eles honravam e recompensavam crianças que denunciassem os seus pais de se estarem a desviar da doutrina e dos ditados do partido. Esta é uma intrusão ilegítima nos direitos dos pais. A doutrina social Católica sempre disse que os pais, e não o estado, são os principais educadores dos filhos.
A Igreja defende o princípio da subsidiaridade, que ensina que as estruturas intermediárias entre o estado e os cidadãos têm que poder desenvolver livremente as suas funções próprias na sociedade. Estas associações são como um buffer natural entre o estado e o indivíduo. O princípio da subsidiaridade protege as associações, a família e o indivíduo contra aqueles que queiram promover um governo ilimitado e a sua ânsia de poder.
O ataque actual dos Serviços de Saúde da Administração Obama contra as instituições de saúde Católicas não deviam surpreender ninguém. O estado socialista tem que eliminar os seus adversários mais fortes para obter maior controlo. O estado, ao controlar o sector da saúde, um sexto da economia americana, procura destituir a Igreja Católica e as suas instituições mediadoras. O estado está a recorrer a uma violência processual para forçá-los a obedecer ou a renunciar ao seu direito de servir os pobres e os doentes. Obedeçam ou desapareçam do caminho. Lá se foi a preocupação por cuidar dos pobres.
Pe. Marcel Guarnizo (continua numa terceira parte)


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