A catequese do Papa Francisco na passada Quarta-feira (5 de Agosto de 2015) foi referida por todos os jornais do mundo e não foi só porque falou dos divorciados recasados. O que chamou a atenção dos meios de comunicação social foi que o Papa disse que estas pessoas não estão excomungadas:
"Na realidade, nestes decénios a Igreja não foi nem insensível nem indolente. Graças ao aprofundamento realizado pelos Pastores, guiado e confirmado pelos meus Predecessores, aumentou muito a consciência de que é necessário um acolhimento fraterno e atento, no amor e na verdade, em relação aos baptizados que estabeleceram uma nova convivência depois da falência do matrimónio sacramental: não estão excomungados; com efeito, estas pessoas não devem absolutamente ser tratadas como tais: elas fazem parte da Igreja."
Ao contrário do que muitos jornalistas disseram, isto não é novidade nenhuma. Quem conhece os escritos dos Papas e a Fé da Igreja sabe que os divorciados não estão excomungados, sempre pertenceram à Igreja e podem comungar assim que estiverem em estado de graça, como qualquer fiel. Prova disso é o Papa citar os seus dois antecessores nesta mesma catequese para o confirmar.
Mas será que foi esta a grande novidade da catequese? Na verdade, há um ponto que ninguém está a reparar e que tem que ser falado, porque revela muito mais aquilo que o Papa estava a querer dizer.
No segundo parágrafo da catequese, o Papa Francisco citou o ponto 84 da encíclica Familiaris Consortio de S. João Paulo II. Isto é inédito pois, desde o Sínodo do ano passado, o Santo Padre quase nunca referiu esta encíclica sobre a família. Agora está não só a mencioná-la mas a referir o ponto em que S. João Paulo II esclarece a doutrina Católica sobre os divorciados recasados:
"A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e actuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio.
A reconciliação pelo sacramento da penitência - que abriria o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimónio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios - quais, por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, «assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos actos próprios dos cônjuges»". Familiaris Consortio, 84.
Ao citar este ponto da Familiaris Consortio, ainda que não integralmente, o Papa dá a entender que as suas intenções para o próximo Sínodo da Família não implicam uma mudança na doutrina Católica. Em princípio não vamos ver a Igreja permitir divorciados recasados aproximarem-se da Comunhão. Será que isto significa que não vai acontecer nada? Claro que não - vão haver mudanças, especialmente sobre como acolher estas pessoas, que são tantas, e como formá-las. E todos podemos ajudar enquanto esperamos, rezando pelo Papa e pelos Bispos e pelo próximo Sínodo, como o próprio Papa tanto o pediu.
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