Criou bastante burburinho a visita do Cardeal Burke a Portugal e as Missas que celebrou. Diversos sacerdotes católicos, com o apoio de alguns leigos, demonstraram a sua revolta publicamente nas redes sociais. O nível das prosas - em geral bastante ofensivas - foi abaixo da Fossa das Marianas. Mas de que se queixam, ao certo, esses sacerdotes?
Queixam-se de excesso de protagonismo do Cardeal, clamam que "aquela Missa" não faz sentido e é ilegal. Começando pelo fim, "aquela Missa" está perfeitamente de acordo com a lei da Igreja. A primeira parte da afirmação é auto-contraditória porque "naquela Missa" o protagonista é Deus, já que todos estão virados para Ele, por isso o padre assume um papel secundário, de instrumento. É exactamente o contrário das Missas nas nossas paróquias onde o protagonista é o padre. Todos estão virados para ele e o padre é o animador, o que improvisa, o que entretém a "plateia". O Cardeal Ratzinger alertou para este problema no livro 'Introdução ao Espírito da Liturgia'. Depois há a questão do silêncio. "Naquela Missa" há bastante silêncio, o que ajuda muito a rezar. O mesmo já não se pode dizer das Missas a que estamos habituados.
Confessam-se escandalizados com a (suposta) desobediência à "Igreja dos nossos dias" e manifestam-se veementemente contra os paramentos que usou o Cardeal, quando aquela indumentária está de acordo com o que prescreve o Cerimonial dos Bispos e foi usada por um sem-número de santos. Já as roupas que esses sacerdotes apresentam diariamente estão em contradição directa com o que a Igreja ordena aos seus sacerdotes. Como é que alguém que é visivelmente desobediente vem acusar os outros de desobediência enquanto estão a cumprir o que a Igreja prescreve? Mistério.
Dizem, depois, que Jesus não usou capas nem rendas. Mas Jesus também não usou sapatos de vela nem polos da Ralph Lauren ou da Lacoste; nem sequer as, tão populares entre o clero, camisas aos quadradinhos. Se é para imitar Jesus em tudo força aí nas sandálias e túnicas! Dica: A batina é relativamente parecida com uma túnica.
Jesus também não usou facebook, por isso - em nome da coerência! - façam o favor de manifestar a vossa revolta em pergaminhos. Demora mais tempo mas é "à maneira do Evangelho".
Lendo os seus manifestos percebemos também que estes sacerdotes têm dons sobrenaturais: Basta olharem para uma fotografia e automaticamente percebem que aquela pessoa é orgulhosa. Têm o dom de perscrutar os corações, apenas olhando para uma imagem, e fazem um julgamento imediato sem apelo nem agravo. Não deixa de ser curioso vindo de quem repete 'ad nauseam': "Quem sou eu para julgar?". Seja como for é um dom que certamente lhes será bastante útil durante as longas horas que passam no confessionário a ouvir os penitentes.
Além disso têm um dom que inveja a qualquer inspector das finanças: Olhando para uma fotografia conseguem saber imediatamente quanto dinheiro a pessoa tem no banco, se é rica ou pobre. Como a Igreja é só para os pobres, dizem, expulsam imediatamente os ricos como se fossem cães sarnentos. Afinal esta "Igreja da Misericórdia" que proclamam aos 4 ventos tem lugares limitados.
Como se tudo isto não bastasse ainda usam o Papa Francisco como arma de arremesso contra o pobre Cardeal. Mas o Papa Francisco, há cerca de 1 mês, nomeou o Cardeal Burke juiz do Tribunal da Assinatura Apostólica, o mais importante tribunal da Igreja.
Os muitos portugueses que estiveram com o Cardeal durante estes dias - que tiveram a oportunidade de rezar com ele, falar com ele, pedir-lhe favores, mais que não fosse uma fotografia - foram os que ficaram mais chocados e escandalizados com os textos que leram. Eles não conhecem o Cardeal Burke soberbo, ávido de riqueza, desejoso de fausto e afastado das pessoas que aqueles sacerdotes portugueses descreveram. Não conhecem porque não existe!
Quem esteve com ele pôde testemunhar a sua grandeza de coração, a sua enorme humildade, o seu cuidado com todas as pessoas e acima de tudo o seu enorme amor a Nosso Senhor Jesus Cristo. Mais do que eu, que digam eles de sua justiça.
João Silveira
16 comentários:
Parabéns ao autor por esclarecer a verdade pois o atual momento que vive a santa Igreja a verdade é de acordo com a maioria populista esquecendo- se do sagrado.
Contínuo a achar que o padre para um papel secundário está demasiado exuberante. É também gostava que me esclarecesse quanto à prática de os fiéis se ajoelharem à passagem do sacerdote. Obrigado
Na verdade, quem começou esta campanha foi o próprio Judas quando viu o perfume derramado nos pés de Jesus Cristo (Jo 12:5).
Sou leigo e vou comentar o post com independência em relação às farpas lançadas ao clero. Naturalmente, perceber-se-á a minha noção de postura dos sacerdotes.
Lamento ver estas fotos de um clérigo representante de de uma forma de Igreja que acabou tardiamente após o Vaticano II. Nos anos 70, na sequência dos pedidos do Concílio para uma Igreja mais comedida, Paulo VI foi acabando com uma série de pompas inexplicáveis nos nossos dias e que só diminuem a fé de quem já tem pouca. Honra seja ao papa Paulo VI por ter acabado com essas coisas e a João Paulo II que neste âmbito seguiu o seu caminho.
Quando vejo estas fotos, semelhantes a outras dos anos 40 do século XX, algumas em Fátima, vejo a dificuldade que alguns clérigos têm de deixar as pompas barrocas e se aproximar dos tempos em que vivem. Tal como aconteceu com Monsenhor Lefevre. Talvez não reparem que as rendas e os dourados que usam vêm do século XVIII, tempo em que também os os leigos usavam essas coisas nas suas indumentárias. Era a moda do século. Pois a moda passou, mas continuou no clero. Até à segunda metade do século XX. Pouco tarde? Os saudosistas devem achar. Bem, enquanto tivermos uma Igreja com figurino do século XVIII, falará aos Homens do século XVIII. Não é certamente a postura dos "cardeais Burks" que falará ao coração das massas do século XXI.
Fala-se no post de algumas situações concretas.
Começa por dizer que na missa do Cardeal estão voltados para Deus. Mas onde está Deus? Não disse Jesus "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estarei NO MEIO DELES? Não disse à frente, não disse a oriente. Disse NO MEIO. Ignorância ou heresia?
Além do que já disse acima sobre as vestes, comentando agora diretamente, devo dizer que se Jesus viesse hoje em carne e osso, não viria de certeza em magna capa. Não veio há dois mil anos em vestes de herodes nem de fariseu. Nem em vestes de três séculos atrás. Por isso não viria à século XVIII. Se vestiu túnica é porque era o que se usava na sua época. Toda a gente. Não estou hoje a vê-Lo andar de túnica pelas aldeias, como aliás fica tão bonito nos filmes. Andaria de calças como os homens do nosso tempo e calçaria sapatos de vela, sim senhor. Muito mais plausivel do que pavonear-se com sapatos de verniz. Ah, e calças de ganga muito provavelmente. E mangas arregaçadas pelo Reino. Não sei se usaria facebook, isso seria mais com São Paulo. Mas também não digo que não usasse. Se achasse que era em benefício do Reino, até dava jeito para verberar um pouco mais os escribas e os fariseus que gostam das filacterias. Não ia dizer que não só porque trezentos anos antes não se usava.
E já agora, ninguém anda por aí a dizer "eu sou soberbo e gosto do fausto". Não é preciso. Isso vê-se à vista desarmada. E o pior cego é o que não quer ver. Para esse não há milagre.
Fico por aqui hoje.
Caro Manuel da Rocha Pereira, como sou brasileira, vivo no Brasil e conheço bem (ainda que não por experiência própria) a situação de pobreza (e até mesmo miséria) em que se encontra, desde muito tempo, a maior parte da população do meu país, posso afirmar que esse movimento iniciado nos idos anos de 1960-70 não ajudou em absolutamente nada a Igreja a aproximar-se das massas. Pelo contrário, esvaziaram-se as igrejas e os seminários e quanto mais se parecem os padres com os leigos menos podemos distingui-los, encontrá-los e receber deles o alimento espiritual que nos deveriam dar. O padre voltou-se para o povo na celebração da Missa; mas o povo cada vez menos frequenta a Missa, talvez porque não sairá de casa para encontrar-se com o padre, mas para voltar-se para Deus e, no entanto, como pode voltar-se para Deus se está voltado para o padre?
Por fim, recomendo-lhe que procure o que dizia São Francisco de Assis, o amante da "Senhora Pobreza", a respeito de como deviam ser ornamentadas as igrejas. Procure também o que dizia São João Maria Vianney, o Santo Cura D'Ars, que não pode de forma alguma ser acusado de gostar de luxo e de ser soberbo, a respeito de como deveriam ser os paramentos litúrgicos.
Um carnavalesco brasileiro muito famoso, Joãozinho Trinta, uma vez declarou com muita propriedade: "Quem gosta de pobreza é intelectual, pobre gosta de luxo". Ao empobrecer as igrejas, as vestes litúrgicas e as celebrações, ganhou espaço na Igreja a hipocrisia.
Caro Manuel da Rocha Pereira,
Junto o meu ao seu agradecimento aos Papas Paulo VI e S. João Paulo II pelo seu exemplo:
http://www.ccwatershed.org/media/photologue/photos/674_MONTINI_CAPPA_MAGNA_PAUL_VI.png
http://www.ccwatershed.org/media/photologue/photos/cache/925_Cappa_Wojtyla_A_gallery_fullsize.png
Infelizmente estes homens também eram, certamente, faustosos e sobrebos. Pior cego é o que não quer ver.
Caro João Miranda Santos,
Os fiéis não se ajoelham à mera passagem do sacerdote. Ajoelham-se, isso sim, à bênção dada pelo bispo, algo previsto no ritual da Missa. Fora isso, ajoelham-se a cumprimentar o bispo, pois é assim que manda fazer a tradição católica.
Estive presente em Mafra, S. Nicolau e ontem na apresentação do livro.
Não faço parte de nenhuma das instituições, grupos, nem tenho amigos/conhecidos entre aqueles que organizaram estes eventos.
Fui como simples católico do interior de Portugal - o tal "esquecido" e que infelizmente ardeu aqui ao lado de casa - com considerável gasto de tempo e de meios.
Algumas opiniões/sugestões/comentários:
1 - O meu agradecimento a todos os que organizaram estes eventos e que por desconhecimento e logo impossibilidade não pude agradecer pessoalmente, bem-haja pelo vosso trabalho;
um obrigado também à editora Caminhos Romanos pela tradução e publicação do livro;
e ao vosso blogue que divulgou estas iniciativas, julgo eu que desejando que aparecessem mais pessoas que as do costume e como eu que apenas tomaram conhecimento por causa disso.
2 - De futuro, se a divulgação for o objectivo, seria bom que houvesse algum promotor à entrada atempadamente, a informar transeuntes curiosos. Acabei eu mesmo por informar algumas pessoas do que se ia passar em ambos os locais, e se uns não me pareceram interessados, outros, cativados pelos ensaios ou pela experiência, acabaram por ficar. Se se promove tudo e coisa nenhuma hoje, não querendo transformar tudo num evento de massa, penso que não viria mal. Mas para isso são precisos meios, pessoas, tempo etc. e compreendo que escasseiem.
Se houvesse uma mentalidade de grupo fechado, e não penso ser esse o caso, isso sim seria criticável, pois tais celebrações e o próprio cardeal não deveriam ficar reféns de tais interesses, são património a usufruir por qualquer baptizado, inclusivamente destes que tanto criticam e vociferam mentiras e julgamentos com aparente facilidade. Por que não saíram e vieram a esta periferia, tentar entender, experimentar algo diferente?
Se há gente para quem tais celebrações são comuns e corriqueiras, outros, como eu, apenas as têm longe de suas casas e gostariam que outros mais pudessem ser informados delas e de a elas assistirem.
3 - Não uso redes sociais mas gostaria que, mais ou menos tradicionais, pudéssemos aprender uns com os outros, enriquecer-nos e enriquecer as nossas celebrações com esse intercâmbio entre passado e presente (na linha do desígnio de Bento XVI), e não ficarmos, rigoristas, presos num ou noutro extremo.
Lendo alguns comentários a impressão é que o passado é mau por ser passado, as rendas são más porque são más, o desleixo é a verdadeira devoção, a devoção é um teatro, ajoelhar é sinónimo de piedade, não ajoelhar significa falta de devoção, etc.
Se em alguém a virtude da humildade não resiste a andar de gravata, pequena virtude era para começar. Suportemos a arrogância de uns e outros, os desengravatados e os engravatados, porque a maioria de nós será, e bem, indiferente a tais coisas, e estiveram presentes para participar numa celebração ou numa apresentação de um livro religioso e não, julgo eu, uma mundanidade ou feira de vaidades como outra qualquer.
4 - Por fim um agradecimento ao Cardeal Burke e oxalá regresse depressa e traga o Cardel Sarah.
Mal ou bem, tem o direito às suas opiniões e a expressá-las e, gostaria eu, a que fossem mais difundidas. Aparentemente em Portugal só uma tem direito de se expressar.
Sigo o Cardeal há uns anos e, infelizmente não só por cá mas obviamente no mundo anglo-saxónico, a calúnia é realmente impressionante.
Não conversei com o Cardeal para o meu julgamento poder ter valor, mas nos poucos segundos que estive com ele e nos muitos minutos que já o ouvi online, não vejo ali nada do que falam, mas uma grande dedicação à Igreja e ao mister de evangelizar. Se as circunstâncias o colocaram numa posição incómoda, podíamos começar por criticar menos o homem e querer entender as circunstâncias. Verificaríamos que não são tão boas como gostariam muitos, e para todos os católicos, mais ou menos tradicionais.
Comecemos por evangelizar o mundo na nossa própria casa, tratando-nos como irmãos que tentam entender-se e não como dedos acusadores.
Quanto mais vejo estes anacronismos, mais admiro D. Hélder Câmara. E Monsenhor Romero. E o padre Stanley Rother.
Obrigado João Silveira pela excelente resposta. Que belo testemunho e exemplo nos trouxe o Cardeal Burke.
Deixo as palavras do Papa Paulo VI na Ecclesiam Suam (1964), que sirvam de reflexão a ideias utópicas que de católicas não têm nada:
"Não nos iluda o critério de reduzir o edifício da Igreja, que se tornou amplo e majestoso para a glória de Deus, como templo seu magnífico, de o reduzir às suas proporçôes iniciais e mínimas, como se estas fossem as únicas verdadeiras e justas.
Nem nos fascine a ambição de renovar a estrutura da Igreja por via carismática, como se fosse nova e verdadeira a expressão eclesial nascida de idéias meramente particulares, embora fervorosas e atribuídas talvez à divina inspiração.
Por este caminho se introduziriam sonhos arbitrários de renovações artificiosas no plano constitutivo da Igreja.
Como ela é, devemo-la servir e amar, com sentido inteligente da história e buscando humildemente a vontade de Deus, que a assiste e guia, mesmo quando permite que a fraqueza humana lhe empane algum tanto a pureza das linhas e a elegância da ação. Esta pureza e esta elegância é que nós andamos procurando e queremos promover."
Mons. Oscar Romero, se vivesse hoje, muito provavelmente, celebraria também a missa tradicional, uma vez que foi um grande defensor do Opus Dei.
Monsenhor Romero não verteu o seu sangue por causa da missa tradicional nem do Opus Dei. Alás, como se sabe, nenhum Opus Dei nem nenhum defensor da missa tridentina e da capa magna foi mártir por essas bandas, pois sabiam-se muito bem compor com aqueles que massacravam a população. Monsenhor Romero foi mártir por uma vivência e defesa radical do Evangelho.
Provavelmente ainda vou ouvir que Jesus, se viesse agora, também envergaria capa magna.
Ora, Pio XI escreveu: "Católico e socialista são termos antitéticos.(...) Socialismo religioso, socialismo cristão são termos contraditórios. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista" (Pio XI, Quadragesimo Anno, Denzinger, 2770, o negrito é meu).
Hoje vivemos com tantos escadalos com Padres e Freiras que "tentam" viver como o mundo que já está virando rotina e o incrível é que se um Padre ou bispo tentam viver conforme a igreja antes do concílio vira UM ESCÂNDALO. .. Que incrível! Estamos perdidos. ..
Ora, Pio XI escreveu: "Católico e socialista são termos antitéticos.(...) Socialismo religioso, socialismo cristão são termos contraditórios. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista" (Pio XI, Quadragesimo Anno, Denzinger, 2770.
Homens Santos já usaram a Capa Magna... Você se acha mais santo que eles ? São João Paulo II e São Pio X que se vestia de maneira impecável na liturgia e durante o resto do dia era modesto e santo... sem falar de São João Maria Vianney, que vivia sempre na simplicidade, mas na hora da liturgia usava o melhor que tinha, pois sabia que não era para ele que se vestia mas para Cristo que está presente na Missa. O próprio Papa Francisco tem roupas litúrgicas... Vocês estão Julgando um Cardel honesto por conta de um capa que não chega a custar 400 dólares...
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