Os
proveitos que se tiram de exercitar a oração mental são tantos, e tão
importantes, que para os declarar seriam necessários muitos livros. Nós neste
lugar, para tocarmos alguma parte de seus louvores, somente compararemos a
Oração à Árvore da vida, que São João viu no Paraíso celestial; e da qual diz,
que produzia doze géneros de frutos. Porque verdadeiramente a Oração Mental é
uma árvore plantada pela mão de Deus no Paraíso da Igreja para sustento da vida
espiritual: sua é aquela grande excelência de ser um colóquio da alma com o
mesmo Deus; e daqui procedem seus copiosíssimos, e dulcíssimos frutos, que
podemos reduzir aos doze seguintes:
I. A
Oração Mental reforma eficazmente a vida, e arranca de raiz os vícios, que
com nenhum outro remédio se podiam arrancar: e cada dia nos está mostrando a
experiência, que pecadores, mui envelhecidos em seus maus costumes, com pouco
tempo, que usaram este exercício, se tornaram tão outros, que o mesmo Confessor
os desconhece. E também purga os pecados da vida passada; porque o pecador os
chora novamente cada dia, e quando chega ao Sacramento da Confissão, leva deles
exame mais cuidadoso, e contrição mais viva.
II. Alcança
grande luz das verdades, e mistérios de nossa Santa Fé, conforme aquilo do
Salmo: "Chegai-vos a Deus, e sereis alumiados" (Salmo 34). Donde vem,
que um rústico, ou uma mulher simples com oração, entende às vezes estes pontos
com maior firmeza, e clareza, que um Teólogo sem oração: verificando-se a
sentença de Cristo, falando com Seu Eterno Pai: "Escondestes estas coisas
aos sábios, e as revelastes aos pequenos"
III. Faz
que saibamos discernir as inspirações da graça Divina, e moções do Espírito
Santo: coisa, que sendo tão importante para o governo da vida cristã, os
mundanos a não entendem, nem observam, e assim andam às escuras.
IV. Purifica,
e endireita a intenção, com que fazemos as obras boas, (como o leme
endireita toda a nau) e por conseguinte as faz mais agradáveis a Deus, mais
rendosas para nós, e mais exemplares para o próximo. Porque quem obra depois
que ora, não segue tanto os impulsos da natureza, como os ditames da razão, e
luz da graça; e o concerto de suas acções, e honesto fim, que com elas
pretende, lança de si certo resplendor, que bem se deixa conhecer de fora.
V. Despega
o coração das coisas transitórias, e o levanta às eternas; porque o amor a
qualquer criatura segue o conhecimento que dela temos; e como com a luz da
Oração se descobre a vileza dos bens caducos, e a excelência dos eternos, a
estes vai buscar o coração, desprezando aqueles.
VI. Consola,
e fortalece nas tribulações; e por isso os Santos em todos seus trabalhos
se acolhem a esta cidade de refúgio, e dela saem tão animosos, que não só
rebatem, mas ainda desafiam o Mundo, e o Inferno. Santo Inácio de Loyola dizia,
que se alguma coisa lhe poderia dar pena, seria o desfazer-se a Companhia; mas
que com meia hora de Oração ficaria sossegado.
VII. Amedronta
grandemente os demónios, e descobre as ciladas, que nos armam; porque a
oração dá asas ao espírito, o põe em lugar alto, donde as possa descobrir; e
como diz o Espírito Santo: "Debalde se lançam as redes à vista dos que têm
asas" (Prov. 1,17). Dá também esforço para vencermos suas tentações:
"Orate ne intretis in tentationem". Por onde disse S.João
Clímaco: "Qui baculum orationis jugiter tenet non offendet; sed si
offendere eum contigerit, non penitus cadet"- Quem tem na mão o báculo
da Oração continuamente, não tropeçará; e se suceder que tropece, não cairá de
todo.
VIII. Desterra
as tristezas do coração. Sente-se triste algum de vós outros? (diz o
Apostólo S.Tiago 5,13) Pois ore. E esta alegria, que aqui se comunica, não é
exterior, e falsa, como a que causam as criaturas; senão interior, e
verdadeira: porque enfim é causada do Espírito Santo, consolador óptimo, doce
hóspede, e doce refrigério das almas.
IX. Adoça,
e facilita o exercício da mortificação: o qual por uma parte é necessário
para despirmos o amor próprio, causa de todas nossas misérias; e por outra é
muito amargoso, e contrário à natureza: e querer dobrar, e amoldar esta sem
primeiro meter o espírito na forja da Oração, seria bater em ferro frio.
X. Gera
grande paz de consciência: porque cessando os pecados, cessão os remorsos,
e o Espírito Santo lá dentro da alma dá testemunho, que mora nela. Daqui nasce,
que a morte das pessoas habituadas a este Santo exercício é mais desassombrada;
por quanto a má consciência é a que nos faz mais horrorosa a passagem para a
Eternidade.
XI. Alcança
de Deus Nosso Senhor grandes favores, e mercês: porque da Oração nasce o
conhecimento de que necessitamos delas, o desejo de as procurarmos, a
confiança, resignação, e perseverança para as pedirmos,e a humildade para as
conservarmos: e ali se granjeia a devoção com Maria Santíssima, a familiaridade
com os Anjos; tudo disposições para sairmos com bom despacho: e assim São João
Crisóstomo chamou à Oração 'omnipotente'.
XII. Une
os próximos entre si, porque une cada um com Deus: e daqui vem, que nas
Comunidades, e famílias, que tem exercício quotidiano de Oração Mental, reina
mais a paz do Senhor, e custam menos desvelo a quem as governa.
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