segunda-feira, 11 de novembro de 2024

São Martinho de Tours: Militar, monge e Bispo

São Martinho de Tours nasceu na Panónia (Hungria), por volta de 316 ou 317 d.C., e faleceu em Candes, França, em 397 d.C. É um dos maiores santos da Igreja e a sua imagem com o cavalo encontra-se em inumeráveis templos católicos. O santo aparece a dividir a sua capa de oficial romano com um pobre, miserável, nu. Na noite seguinte Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com o pedaço de capa que o oficial havia doado.

O facto foi decisivo para a sua conversão e São Martinho acabou por tornar-se bispo de Tours, atraindo para a Igreja uma quantidade prodigiosa de pagãos e fazendo incontáveis milagres. Ele é chamado o “Pai das Gálias” visto que depois da conversão retirou-se para uma gruta. Mas lá ficou pouco tempo, porque foi chamado a ser bispo da região central da província romana que depois foi baptizada como França. 

À sua volta reuniram-se muitos convertidos ao catolicismo que imitavam a sua vida exemplar. Ele instituiu a primeira escola e transformou o local – que hoje é a cidade de Tours – no grande centro de irradiação do cristianismo na actual França. 

O seu túmulo e a capa do milagre (ainda hoje guardada) foram visitados pelo rei pagão Clóvis. O rei estava agoniado pela perspectiva da batalha de Tolbiac contra a temível horda também pagã dos alamanes (496 d.C.). Sobre o túmulo do santo, Clóvis prometeu converter-se ao “Deus de (Santa) Clotilde”, a sua mulher católica, se obtivesse a vitória. 

Clóvis venceu miraculosamente e foi baptizado, juntamente com 3000 dos seus soldados, no Natal do mesmo ano por São Remígio, em Reims. Foi o nascimento de França, a primeira nação cristã da Europa. São Martinho de Tours recebeu tal culto, que o templo onde se venerava a sua capa recebeu o nome de “capela”, palavra hoje largamente generalizada. 

A família real francesa recebeu o nome de “Capeto” por ter recebido, há mais de um milénio, um pedaço dessa célebre relíquia, outorgada pelo capítulo de religiosos da cidade. Essa doação pesou decisivamente no facto da família ser escolhida para reinar em França. Reinado esse que durou até Luís XVI, e com intermitências até à queda de Luís Felipe, em 1848. 

O santuário ficou tão famoso, rico e importante, que para os bárbaros invasores saqueá-lo era o máximo objetivo no território francês. Por isso mesmo, a cidade se encheu de muros e torres militares defensivas. Daí provém o nome da cidade “Tours”, ou seja, Torres. 

São Martinho de Tours é padroeiro de cidades tão diversas como Buenos Aires, Mainz, Utrecht, Rivière-au-Renard e Lucca. Quatro mil igrejas, no mundo, lhe estão dedicadas. Ele é também padroeiro dos alfaiates, peleiros, soldados, cavaleiros, restauradores (hotéis, pensões, restaurantes), produtores de vinho, e, obviamente, dos mendigos. 

O seu santuário principal, onde se encontra o seu túmulo fica na cidade de Tours, na região do Loire. No século XIX, um piedoso levantamento de fundos permitiu construir uma bela basílica inteiramente nova. A basílica primitiva foi devastada pelos protestantes que também arrasaram muros e torres. 

Posteriormente, em continuidade com o espírito protestante, a Revolução Francesa demoliu a basílica restaurada e fez passar uma rua por cima do túmulo do padroeiro nacional, a fim de garantir que ele seria definitivamente esquecido. 

No século XIX, Leão Papin-Dupont (1797-1876), aristocrata francês conhecido como “o santo homem de Tours”, promoveu em França cruzadas de reparação pelas blasfémias. Entre elas figura a construção da actual basílica que guarda o túmulo de São Martinho de Tours. 

A tradição oral dos habitantes de Tours e dos devotos do grande santo sempre afirmou que no braço da grande estátua que abençoa a França do alto da cúpula da basílica havia guardadas relíquias de São Martinho. Porém, as tendências decadentes e dessacralizantes dos tempos modernos aprazem-se em contestar ou fingir ignorar tudo o que diga respeito ao sobrenatural, aos santos, aos seus milagres e às suas veneráveis relíquias. 

Essa tendência, presente em certo clero e fiéis modernizados, também dizia não saber nada do que todos sabiam sobre as relíquias do santo. A confusão acabou por ser dissipada ao se confirmar que a tradição oral tinha razão: os ossos estavam ali a abençoar o mundo. 

No dia 17 de Fevereiro de 2014, um impressionante dispositivo de guindastes foi instalado em volta da basílica para descer a grande estátua. A obra visava restaurar o seu pedestal, que precisava de manutenção e reparos. Na ocasião, aconteceu o gaudioso achado: os ossos do primeiro bispo de Tours estavam ali. Após a descida da estátua de bronze – de quatro metros de altura e de mais de duas toneladas de peso – os funcionários descobriram uma caixa de madeira no seu braço direito, o mesmo que abençoa. Dentro dessa caixa havia ainda outra, feita de chumbo e fechada com um selo de cera vermelha e o sigilo de um bispo que autentificava a relíquia. 

Tendo sido aberto, encontrou-se um fragmento de osso. A multidão acompanhou os trabalhos que duraram algumas horas, e não ocultou a sua emoção. A relíquia de São Martinho encontrava-se entre flores – obviamente já secas – e vinha acompanhada de mais três relicários com ossos de três outros bispos santos de Tours: São Gregório, São Brice e São Perpétuo, sucessores do santo. A autenticidade das relíquias foi confirmada por Jean-Luc Porhel, conservador-chefe do património histórico de Tours.

in Ciência Confirma a Igreja



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