sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Discurso do Papa Bento XVI na Casa-família "Viva os idosos"


Caros irmãos e irmãs,

Estou muito satisfeito por estar com os senhores nesta casa-família da Comunidade de Santo Egídio, dedicada aos idosos. Agradeço ao vosso Presidente, professor Marco Impagliazzo, pelas calorosas palavras que me dirigiu. Além dele, saúdo o professor Andrea Riccardi, Fundador da Comunidade. Agradeço a presença o Bispo auxiliar do Centro histórico, Dom Matteo Zuppi, o Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Dom Vincenzo Paglia, e todos os amigos da Comunidade de Santo Egídio.

Venho a vós como Bispo de Roma, mas também como ancião em visita aos seus pares. Conheço bem as dificuldades, os problemas e os limites desta idade, e sei que estas dificuldades, para muitos, estão agravadas pela crise económica. Por vezes, com uma certa idade, acontece voltar-se ao passado, recordando de quando se era jovem, como se tinha energia, fazia-se projetos para o futuro. Assim o olhar, às vezes, é velado com tristeza, considerando esta fase da vida como o tempo do pôr-do-sol. Esta manhã, dirigindo-me idealmente a todos os anciãos, embora com a consciência das dificuldades que a nossa idade comporta, gostaria de dizer-vos com profunda convicção: é belo ser idoso! Cada idade tem que saber descobrir a presença e a benção do Senhor e as riquezas que contém. Não é preciso aprisionar-se na tristeza! Recebemos o dom duma vida longa. Viver é belo também na nossa idade, apesar de alguma “doença” ou de alguma limitação. Na nossa face há sempre a alegria de nos sentirmos amados por Deus, nunca a tristeza.

Na Bíblia, a longevidade é considerada uma benção de Deus; hoje esta benção espalhou-se e deve ser vista como um dom para apreciar e valorizar.
No entanto, a sociedade muitas vezes, dominada pela lógica da eficiência e do lucro, não o acolhe como tal; de facto, muitas vezes rejeita-o, considerando os idosos como não produtivos, como inúteis. Muitas vezes sente-se o sofrimento de quem é marginalizado, vive longe da própria casa ou está na solidão. Penso que se deveria operar com maior empenho, começando pela família e pelas instituições públicas, para fazer com que os anciãos possam permanecer nas próprias casas. A sabedoria de vida da qual nós somos portadores é uma grande riqueza. A qualidade de uma sociedade, gostaria de dizer de uma civilização, é julgada também pelo modo como os idosos são tratados e pelo lugar reservado a eles no viver comum. Quem abre espaço para os idosos abre espaço à vida! Quem acolhe os anciãos acolhe a vida.

A Comunidade de Santo Egídio, desde o seu início, apoiou o caminho de tantos idosos, ajudando-os a ficar em seus ambientes de vida, abrindo várias casas-família em Roma e no mundo. Através da solidariedade entre os jovens e idosos, ajudou a fazer compreender como a Igreja é efectivamente família de todas as gerações, na qual cada um deve sentir-se “em casa” e onde não reina a lógica do lucro ou do ter, mas aquela da gratuidade e do amor. Quando a vida se torna frágil, nos anos da velhice, não perde o seu valor e a sua dignidade: cada um de nós, em qualquer etapa da existência, é querido, é amado por Deus, cada um é importante e necessário (cfr Homilia pelo início do Ministério Petrino, 24 de abril de 2005).

A visita de hoje acontece no ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade entre as gerações. E neste contexto quero reiterar que os idosos são um valor para a sociedade, sobretudo para os jovens. Não pode haver verdadeiro crescimento humano e educação sem um contacto fecundo com os idosos, porque a sua própria existência é como um livro aberto no qual as jovens gerações podem encontrar preciosas orientações para o caminho da vida.

Queridos amigos, na nossa idade fazermos a própria experiência da necessidade de ajuda dos outros; e isto vem também para o Papa. No Evangelho lemos que Jesus disse ao apóstolo Pedro: “Quando eras novo, cingias-te e ias aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres” (Jo 21, 18). O Senhor se referia ao modo com o qual o Apóstolo tinha testemunhado a sua fé até o martírio, mas esta frase faz-nos refletir sobre o facto de que a necessidade de ajuda é uma condição do ancião. Gostaria de convidá-los a ver também nisso um dom do Senhor, porque é uma graça ser apoiado e acompanhado, sentir o afecto dos outros! Isto é importante em cada fase da vida: ninguém pode viver sozinho e sem ajuda; o ser humano é relacional. E nesta casa vejo, com prazer, que quantos ajudam e quantos são ajudados formam uma única família, que tem como seiva vital o amor.

Caros irmãs e irmãos anciãos, às vezes os dias parecem longos e vazios, com dificuldade, poucos compromissos e reuniões; não desanimem nunca: vocês são uma riqueza para a sociedade, também no sofrimento e na doença. E esta fase da vida é um dom também para aprofundar a relação com Deus.
O exemplo do beato João Paulo II foi e ainda é esclarecedor para todos. Não esqueçam que entre os recursos preciosos que vocês têm, está aquele que é essencial da oração: tornar-se intercessores junto a Deus, rezando com fé e com constância. Rezem pela Igreja, também por mim, pelas necessidades do mundo, pelos pobres, para que no mundo não tenha mais violência. A oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o, talvez, de modo mais incisivo que o trabalho de muitos. Gostaria de confiar hoje à vossa oração o bem da Igreja e a paz do mundo. O Papa ama-vos e conta com todos vocês! Sintam-se amados por Deus e saibam levar nesta nossa sociedade, muitas vezes tão individualista e tecnicista, uma luz do amor de Deus. E Deus estará sempre convosco e com quantos vos apoiam com o seu afecto e com a sua ajuda. Confio todos vós à materna intercessão da Virgem Maria, que acompanha sempre o nosso caminho com o seu amor materno, e de bom grado concedo a cada um a minha Benção Apostólica. Obrigado a todos!


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1 comentário:

João Silveira disse...

O video do acontecimento: http://www.youtube.com/watch?v=yGTLplDg3Ng