sábado, 31 de maio de 2025

Salve Rainha foi escrita por um monge beneditino cego e quase paralítico

Sempre que rezamos o Terço, recordamos, de algum modo, o Beato Herman de Reichenau, autor da oração 'Salve Rainha'. 

Herman nasceu a 18 de Julho de 1013, filho do conde de Altshausen. Nasceu deformado, com palato fendido e sérios problemas nas costas, talvez espinha bífida, ou esclerose lateral amiotrófica ou atrofia muscular espinal. Seja qual fosse o problema, falava e andava com enorme dificuldades. Ainda criança, caiu doente de poliomielite, mas milagrosamente sobreviveu. Seguindo as práticas da época, quando completou sete anos, os seus pais colocaram-no no mosteiro beneditino de Reichenau, que fica isolado numa ilha do Lago Constança, no Sul da Alemanha. Foi onde Herman passou o resto da sua vida.

Ali começou a estudar teologia e o mundo. Aos vinte anos tornou-se monge. Como não podia ajudar em nenhuma tarefa, passava os dias a rezar e estudar. Dele temos obras sobre geometria, aritmética, astronomia e teoria musical. Como historiador, compilou e organizou relatos, que até então estavam dispersos, sobre os primeiros séculos da Igreja, incluindo a vida de Jesus Cristo e dos seus discípulos, e também um martiriológio dos cristãos sob domínio romano. Era fluente em várias línguas, incluindo o árabe, grego e latim; escreveu poesias e construía instrumentos musicais e astronómicos, em especial o astrolábio, um enorme avanço científico na época que viria a ser fundamental nas grandes navegações. Como compositor, temos ainda hoje os ofícios a São Gregório Magno, Santa Afra e São Wolfgang. 

Nos últimos anos de vida ficou cego. Foi nesta época que compôs o Salve Regina, um canto gregoriano para ser utilizado na Liturgia das Horas e Festas Marianas. E

Faleceu no dia 24 de Setembro de 1054, aos 41 anos, de pleurite. A morte foi narrada assim pelo seu discípulo Bertoldo: Quando finalmente Deus decidiu livrar a sua alma da tediosa prisão do mundo, Herman foi atacado pela pleurisia, tendo sofrido terrível e continuadamente durante os seus últimos dez dias. Numa manhã, após a Santa Missa, perguntei-lhe se se sentia melhor. Ele respondeu que havia pensado muito sobre o bem e o mal, e todas as coisas que ainda pretendia escrever, mas que o mundo futuro, a vida eterna era muito mais desejável, e que já era hora de partir. E assim foi. 

O seu corpo foi enterrado no túmulo da sua família, que se perdeu com o tempo. Algumas das suas relíquias encontram-se em Zurique. Herman foi beatificado em 1863 pelo Papa Pio IX.

in 'Tesouros da Igreja Católica'


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Verdadeira festa no Céu: Nossa Senhora coroada Rainha

"Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo!"[1]

Afirma S. Luís Maria Grignion de Montfort que, "no Céu, Maria dá ordens aos Anjos e aos bem-aventurados. Para recompensar a sua profunda humildade, Deus Lhe deu o poder e a missão de povoar de Santos os tronos vazios, que os anjos apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc. I, 52), é que o Céu, a Terra e o Inferno se curvem, de bom ou mau grado, às ordens da humilde Maria".

Quando o Filho de Deus entreabriu o Céu para descer até nós, foi Maria que Lhe serviu de porta. Maria é a porta do Céu, porque todos os que nele entram, fazem-no seguindo a Jesus, por meio de Maria. A Terra, que o pecado de Adão havia separado do Céu, reconciliou-se com este pela intercessão de Maria, que nos deu Jesus. É por essa porta que todas as nossas orações chegam até Deus, e é por meio d'Ela que obtemos as graças necessárias para a nossa salvação. Maria humilde: escrava de Deus e serva dos homens.

Toda a devoção a Maria termina em Jesus, tal como o rio que se lança ao mar. Nossa Senhora é aquela que do Céu reina sobre as almas cristãs, a fim de que haja a salvação: “É impossível que se perca quem se dirige com confiança a Maria e a quem Ela acolher” ( diz-nos Santo Anselmo).

"Maria é a rainha do Céu e da terra, por graça, como Cristo é Rei por natureza e por conquista" (diz S. Luís Maria Grignion de Montfort). O reinado de Maria semelhante e em perfeita coincidência com o Reino de Jesus Cristo não é temporal nem terreno, mas é um reino eterno e universal. "[E]sta realeza da Mãe de Deus se faz concreta no amor e no serviço a seus filhos, em seu constante velar pelas pessoas e suas necessidades." - diz o Papa Bento XVI.

"(...) Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu S. João Damasceno: "Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador"."[3]

"Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação", pela qual o género humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do género humano", e se realmente "foi ela que – isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho – o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda" poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão."[4]

"Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao ceptro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção filial. Frequentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele – nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões – ora pequenos grupos, ora grandes assembleias, para cantarem as glórias de Maria."[5] (No entanto,) "[n]em presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima protecção, se a exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade, evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo."[6]

"Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho – com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo – concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres."[7]

"Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus veio ao mundo e por ela também deverá Jesus reinar no mundo."[8] "Se, como é certo, o conhecimento e o Reino de Cristo chegarem ao mundo, isto será necessária consequência do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria".[9] "Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará".[10] Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o Reino de Jesus Cristo!
  
Ad Iesum Per Mariam!

PF

Notas:
 

[1] Meditações dos Primeiros Sábados - Pe. António de Almeida Fazenda, SJ
[3] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 33
[4] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 36
[5] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 46
[6] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 47
[7] Pio XII, Carta enc. Ad Caeli Reginam, p. 48
[8] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p. 1
[9] S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, p.13
[10] Irmã Lúcia dos Santos, Terceira Parte do Segredo de Fátima, Tuy, 3-1-1944


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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Começa hoje a Novena ao Espírito Santo (Pentecostes)

A novena do Espírito Santo é a mais antiga de todas, porque foi vivida por Maria Santíssima e pelos Santos Apóstolos no Cenáculo, entre muitos prodígios, visto que Espírito Santo desceu exactamente 10 dias após a Ascensão de Nosso Senhor aos Céus. 

Lembremos de que ao Divino Paráclito é atribuído especialmente o dom do amor. Convém, portanto, que nesta novena consideremos o grande valor do amor divino. Em primeiro lugar, o amor é aquele fogo que inflamou todos os santos a fazerem grandes coisas por Deus. Se quisermos também ficar abrasados, apliquemo-nos sempre, mas em particular nestes dias, à oração, que é a fornalha onde o fogo do amor divino se acende.

Nesta novena rezaremos as meditações de S. Afonso Maria de Ligório.

1. Oração Preparatória para todos os dias:

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, e acendei neles o fogo do vosso amor.
V. Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da Terra.

Oremos: Ó Deus, que instruís os corações de Vossos fiéis com a Luz do Espírito Santo, fazei que saibamos apreciar rectamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e possamos gozar sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Ámen.

2. Meditação de cada dia (ver abaixo)

3. Pai Nosso, Avé Maria, Glória 

4. Antífona final:

V. A graça do Espírito Santo ilumine os nossos sentidos e o nosso coração.
R. Ámen.

1º Dia (27 de Maio)
Et apparuerunt illis dispertitae liguae, tanquam ignis 

“E apareceram sobre eles repartidos como que línguas de fogo” (At 2, 3)

I – Deus ordenou na antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar. Diz São Gregório que os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo amor arda sem cessar. Por isso o Eterno Pai, não satisfeito em ter-nos dado Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua Morte, quis dar-nos ainda o Espírito Santo, para que habitasse em nossas almas, e as conservasse continuamente abrasadas de amor.

Jesus mesmo declarou que descera à Terra exactamente para inflamar com este fogo sagrado nossos corações, e que seu único desejo era vê-lo acesso: “Vim lançar fogo à Terra e que coisa Eu quero senão que se acenda?” (Lc 12, 49). Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e ingratidões dos homens, logo que subiu ao Céu, nos enviou o Espírito Santo. – Assim, ó Redentor amadíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos amais sempre?

Pela mesma razão o Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob forma de línguas de fogo: “E apareceram sobre eles repartidos como que línguas de fogo.” (At 2,3). Por isso também a Igreja nos faz rezar com estas palavras: “O Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a Terra, e que desejou tão ardentemente ver brilhar nela.” – Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem grandes coisas por Deus: amar os inimigos, a desejar os desprezos, a despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: Basta. A alma que ama a Deus, quanto mais faz por seu amado, mais quer fazer ainda para mais lhe agradar e ganhar mais e mais a sua afeição.

II – O Espírito Santo acende o fogo do amor divino por meio da meditação: “Na minha meditação se acenderá o fogo.” (Sl 38,4). Se então, desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha em que o coração se abrasa neste ardor celeste.

Meu Deus, até aqui nada tenho feito por Vós, que tão grandes coisas fizeste por mim. Ah! Quanto a minha frieza deve mover-Vos a rejeitar-me! Peço-Vos, ó Espírito Santo: Aquecei o que está frio. Livrai-me de minha frieza e inspirai-me um grande desejo de Vos agradar. Renuncio a todas as minhas satisfações, e antes quero morrer do que Vos dar o menor desgosto. – Aparecestes sob a forma de línguas de fogo; consagro-Vos minha língua, para que não Vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para Vos louvar, e dela tenho me servido para Vos ultrajar e levar os outros também a Vos ofender! Arrependo-me de toda minha alma.

Ah! Pelo amor de Jesus Cristo, que na sua vida Vos honrou tanto com a língua, faça com que de agora em diante não cesse de Vos honrar, celebrando Vossos louvores, invocando-Vos muitas vezes, falando da Vossa bondade e do amor infinito que mereceis. Amo-Vos meu soberano bem; amo-Vos Deus de amor. – Ó Maria Santíssima, sois Vós a Esposa fidelíssima do Espírito Santo; obtende este fogo divino.

2º Dia (28 de Maio)
Ilumina oculos meos, me unquam obdormiam in morte 

“Ilumina os meus olhos, para que eu não durma jamais na morte” (Ps 12, 4)

I – Um dos maiores danos que nos causou o pecado de Adão, é o obscurecimento da nossa razão pelo efeito das paixões que nos ofuscam o espírito. Mui desgraçada é a alma que se deixa dominar por alguma paixão! A paixão é uma nuvem, um véu, que nos impede de ver a verdade. Como pode fugir do mal aquele que não o conhece? E este obscurecimento da nossa razão aumenta em proporção ao número dos nossos pecados.

Mas o Espírito Santo é também chamado Lux Beatissima, com seus esplendores divinos, não só abrasa o nosso coração em seu santo amor, como também dissipa as nossas trevas e nos faz conhecer a vaidade dos bens terrenos, o valor dos eternos, a importância da salvação, o preço da graça, a bondade de Deus, o amor infinito que Ele merece e o imenso amor que nos tem.

“O homem animal não percebe as coisas que são do Espírito de Deus.” (1Cor 2, 14). O homem chafurdado no lamaçal dos prazeres mundanos pouco percebe as verdades da fé. Eis por que o infeliz tem amor ao que devia odiar, e odeia ao que devia amar. Santa Maria Madalena de Pazzi exclamava: O amor não é conhecido! O amor não é amado! Santa Teresa dizia igualmente que Deus não é amado porque não é conhecido. Os santos pediam a Deus sem cessar luz e mais luz: enviai Vossa luz; dissipai minhas trevas; abri meus olhos, porque sem sermos esclarecidos não podemos evitar o abismo, nem encontrar a Deus.

II – Como fruto desta meditação tomemos a resolução de invocar várias vezes o Espírito Santo nas dificuldades que encontramos não somente nos negócios espirituais da alma, mas também nas corporais, especialmente nos de mais graves consequências. Lembremo-nos, porém, que Deus não nos comunicará as suas luzes sempre imediatamente; as mais das vezes se servirá, para tal fim, dos nossos superiores e pais espirituais que ele deixou como seus representantes na Terra: “Quem vos ouve a mim ouve. Quem vos despreza, a mim despreza.” (Lc 10,16).

Santo e divino Espírito, creio que sois verdadeiramente Deus, com o Pai e o Filho. Adoro-Vos e reconheço-Vos como autor de todas as luzes com as quais me fizeste conhecer o mal que fiz ofendendo-Vos, e quanto sou obrigado a amar-Vos. Dou-vos graças e me arrependo sumamente de Vos ter ofendido. Merecia que me abandonasses nas minhas trevas, mas vejo que ainda não me abandonaste.

Ó Espírito eterno, continuai a esclarecer-me e fazei-me conhecer sempre melhor Vossa bondade infinita e dê-me força para Vos amar no futuro de todo meu coração. Ajuntai graça a graça, para que eu fique docemente unido a Vós e obrigado a amar se não a Vós. Eu Vo-lo suplico pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amo-Vos ó meu soberano bem, amo-Vos mais que a mim mesmo. Quero ser todo Vosso; recebei-me e não permitais que me separe de Vós. – Ó Maria, minha Mãe, assisti-me sempre com Vossa intercessão.


3º Dia (29 de Maio)
Qui biberit ex aqua, quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum 
“Aquele que beber da água que eu lhe der, não terá jamais sede” (Jo 4, 13)

I – O amor é também chamado fonte de água viva. O nosso Redentor disse à mulher samaritana: “Aquele que beber da água que Eu lhe der jamais terá sede.” (Jo 4, 13). O amor é, pois, uma água que mata a sede; aquele que ama Deus sinceramente, não busca nem deseja coisa alguma fora de Deus; porque em Deus encontra todos os bens. Assim, contente em possuir Deus, repete sempre na alegria de seu coração: “Meu Deus e meu tudo!” Ó meu Deus! Vós sois meu único bem. Mas Deus queixa-se de muitas almas que vão mendigar junto das criaturas alguns miseráveis e curtos prazeres, e O abandonam, Bem infinito e fonte de todas as alegrias: “Eles abandonaram a mim que sou fonte de água viva, e cavaram para si cisternas que não podem reter água.” (Jr 2, 13).

Ai está, porque o Senhor que nos ama, e deseja ver-nos contentes, nos clama a todos: “Se alguém tem sede, venha a Mim.” (Jo 7, 37). Quem deseja a verdadeira felicidade, venha a Mim, dar-lhe-ei o Espírito Santo, que o fará feliz, nesta vida e na outra: sentirá correr do seu seio rios de água viva, como os profetas anunciaram.

Aquele, pois, que crê em Jesus Cristo, e o ama, será enriquecido de tantas graças, que do seu coração, ou da sua vontade, que é como seio da alma, fluirão fontes de santas virtudes, que o ajudarão não apenas a conservar a própria vida, mas ainda a comunica-las a outros. A água misteriosa, de que nos fala Nosso Senhor, é precisamente o Espírito Santo, o amor substancial que Jesus nos prometeu enviar após a sua Ascensão: “Isto lhes disse a respeito do Espírito Santo, que haviam de receber os que cressem Nele; porque ainda o Espírito não fora dado, por não ter sido ainda Jesus glorificado.” (Jo 7, 39).


II – A chave que nos abre os canais dessa água desejável é a oração, pela qual obtemos todos os bens em virtude da divina promessa: “Pedi e recebereis.” (Jo 16, 24). Somos cegos, pobres e fracos, mas a oração nos consegue a luz, a riqueza e a força da graça. Com a oração podemos tudo, dizia São Teodoreto. Aquele que ora recebe tudo que deseja. Deus quer dar-nos as suas graças, mas quer que as peçamos.

“Senhor, dai-me desta água.” (Jo 4,15). Meu Jesus, dir-Vos-ei como a Samaritana, dai-me desta água do Vosso santo amor, que me faça esquecer a Terra e viver só para Vós, ó Amável infinito. Regai o que é seco. Minha alma é Terra seca, que não produz senão abrolhos e espinhos do pecado; Ah! Inundai-me com as águas da vossa graça, para que produza algum fruto para Vossa glória, antes que a morte me arrebate deste mundo. Ó fonte de água viva! Ó Bem supremo! Quantas vezes Vos deixei pelas águas lodosas desta Terra, que me privaram de Vosso amor! Ah! Quisera eu ter morrido antes de Vos ofender! Mas no futuro, não quero buscar nada senão Vós somente. Ó meu Deus, socorrei e fazei que Vos seja fiel. Maria Santíssima, minha esperança, cobri-me sempre com Vosso manto.

4º Dia (30 de Maio)
Fluat ut ros eloquium meum, quasi imber super herbam 

“Distilem como orvalho as minhas palavras, como chuva sobre a erva” (Dt 32, 2)

I – Por duas razões o amor é chamado orvalho. Primeiro, porque torna a alma fecunda em bons desejos e boas obras; segundo, porque tempera o ardor das más inclinações e tentações. Se queremos receber este orvalho celestial, apliquemo-nos à oração mental e nunca deixemos de a fazer, ao menos uma vez por dia. Um quarto de hora de meditação basta para apagar o fogo do ódio ou do amor desordenado, por ardente que seja. Ao contrário, a quem não ama a oração, é moralmente impossível vencer as paixões.

A Igreja manda-nos pedir ao Espírito Santo, que purifique nossos corações e os torne fecundos por seu salutar orvalho: Sancti Spiritus corda nostra mundet infusio, et sui roris intima aspersione foecundet. O amor faz a alma fecunda em bons desejos, santas resoluções e boas obras: tais são as flores e os frutos da graça do Espírito Santo. – O amor é chamado também orvalho, porque tempera o ardor das más inclinações e tentações. Por isso se diz do Espírito Santo que Ele modera o ardor e refrigera – “In aestu temperies, dulce refrigerium”.

Este salutar orvalho desce sobre nossos corações durante a oração. Um quarto de hora de meditação basta para apagar o fogo do ódio ou do amor desordenado, por ardente que seja. A santa meditação é a adega misteriosa de que fala a Esposa dos Cantares: Introduxit me rex in cellam vinariam, ordinavit in me caritatem (!) – “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade”. Aí é que nos enchemos da caridade bem ordenada, pela qual amamos ao próximo como a nós mesmos, e a Deus sobre todas as coisas. Quem ama a Deus, ama a oração, e a quem não ama a oração, é moralmente impossível vencer as próprias paixões.

II – Para que não sejamos oprimidos pelos ardores das más inclinações, e afim de que o Espírito Santo possa fertilizar as nossas almas com o orvalho dos seus dons, tomemos hoje a forte resolução de fazer cada dia ao menos uma meia hora de oração mental. São João Crisóstomo compara a oração mental a uma fonte no meio de um jardim; porque sem ela todas as virtudes murcham, ao passo que com ela se conservam frescas e amenas, e se aperfeiçoam constantemente.

Assim como quem sai de um jardim faz um ramalhete das flores que mais o encantam, assim, segundo o aviso de São Francisco de Sales, devemos ao sair da meditação compor um como que ramalhete dos pensamentos que mais nos impressionaram, e durante o dia avivá-los de tempos a tempos, mesmo durante as nossas ocupações.

Ó santo e divino Espírito, não quero mais viver para mim mesmo; em Vos amar e agradar quero empregar tudo que me resta da vida. Com este fim Vos peço que me concedais o dom da oração mental. Vinde a meu coração, e ensinai-me Vós mesmo a praticá-la como se deve. Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez; dai-me o espírito de oração, isto é, a graça de sempre orar e de fazer aquelas orações que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração. – Por meus pecados me havia perdido; mas por tantos sinais de vossa ternura, reconheço que quereis a minha salvação e santificação. Quero santificar-me para Vos agradar e amar mais a vossa infinita bondade. Amo-Vos, ó meu soberano Bem, meu amor, meu tudo, e porque Vos amo, dou-me todo a Vós. – Ó Maria, minha esperança, protegei-me.

5º Dia (31 de Maio)
In pace in idipsum dormiam et requiescam 

“Em paz dormirei nele mesmo e repousarei” (Ps 4, 9)

I – O efeito principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do objecto amado, tanto na prosperidade como na adversidade. Para uma alma que ama a Deus, consolar-se nas humilhações, dores e perdas que sofre, basta saber que o Senhor quer vê-la suportar tal pena. Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, acharemos a paz e o contentamento no meio das tribulações e sob o peso da cruz.

O amor se chama: In labore requies, in fletu solatium – “Alívio nas penas, consolação nas lágrimas”. O amor é um repouso que recreia, porque o ofício principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama, à do ser amado. Para consolar-se de todas as humilhações que recebe, dores que sofre, perdas que padece, uma alma que ama a Deus, só precisa conhecer a vontade de seu amado que deseja vê-la suportar tal pena.

Dizendo somente: Assim o quer meu Deus, ela acha paz e contentamento no meio de todas as tribulações. Esta é a paz divina que transcende todos os prazeres dos sentidos: Pax Dei, quae exsuperat omnem sensum. Santa Maria Madalena de Pazzi sentia-se inundada de alegria só com o pronunciar das palavras: vontade de Deus.

II – Nesta vida cada um deve levar sua cruz; mas, diz Santa Teresa: A cruz é dura para quem a arrasta, não, porém, para aquele que a abraça. Assim é que o Senhor sabe ao mesmo tempo ferir e curar, segundo a expressão de Jó: Vulnerat et medetur. Por sua doce unção, o Espírito Santo torna suave e amável até os opróbrios e tormentos. – Ita, Pater, quoniam sic fuit placitum ante te – “Sim, meu Pai, seja, feita a vossa vontade”. Assim orou Jesus Cristo e nós também devemos repetir estas palavras do Salvador todas as vezes que a adversidade nos visitar: Sim meu Pai, assim seja, porque é vossa vontade. Quando trememos sob ameaça de alguma desgraça temporal, repitamos sempre: “Fazei, ó meu Deus: aceito desde já tudo que fizerdes. Protesto que quero viver onde Vós quiserdes, sofrer tudo o que quiserdes e morrer quando quiserdes”. É também utilíssimo oferecer-se muitas vezes a Deus no decurso do dia, como o fazia Santa Teresa.

Ah! meu Deus, quantas vezes, para fazer a minha própria vontade, contrariei a vossa e cheguei a desprezá-la. Disto me aflijo mais que de todos os males. De aqui em diante quero de todo o coração amar-vos e obedecer-vos. Loquere, Domine, quia audit servus tuus – “Falai, Senhor, vosso servo vos escuta”. Dizei o que quereis de mim; quero fazer em tudo a vossa santa vontade. Este será para sempre o meu santo desejo, pois sois o meu único amor. Ajudai a minha fraqueza, ó Espírito Santo. Vós sois a mesma bondade; como, portanto, posso amar outro tesouro senão a vós? Conjuro-vos, atraí para vós, pela doçura de vosso amor, todos os afectos do meu coração. Renuncio a tudo para dar-me a vós sem reserva.

“Recebei, Senhor, toda a minha liberdade. Aceitai a minha memória, a minha inteligência e toda a minha vontade. Tudo o que tenho e possuo fostes vós que me destes; venho vo-Lo restituir e tudo entregar ao vosso beneplácito. Dai-me somente o vosso amor E a vossa graça e rico serei, nada mais vos peço”. – Faço o mesmo pedido a vós, ó Mãe do Belo Amor, Maria, e espero que mo obtenhais pela vossa poderosa intercessão.

6º Dia (1 de Junho)
Fortis est ut mors dilectio 

“O amor é forte como a morte” (Cant 8, 6)

I – Quanto se trata de agradar ao objecto amado, o amor vence tudo; não há dificuldade que resista ao amor; porque, aquele que ama, não sente o sofrimento, ou se o sente, o ama. O sinal, pois, mais certo para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus é a sua fidelidade na adversidade como na prosperidade. Dizemos que amamos a Deus, mas até agora que fizemos por ele? Como suportamos as cruzes que nos manda para nosso bem?

Assim como não há força criada que resista à morte, assim não há dificuldades que não ceda ao ardor de uma alma amante. Quando se trata de agradar ao objecto amado, o amor vence tudo, perdas, desprezos, dores. Nada é bastante duro para resistir ao fogo do amor, diz Santo Agostinho: Nihil tam durum, quod non amoris igne vincatur. O sinal mais certo, pois, para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus, é sua fidelidade em amar na adversidade como na prosperidade.

Dizia São Francisco de Sales que Deus é tão amável quando nos aflige, como quando nos consola, porque faz tudo por amor e até quando mais nos aflige nesta vida é que nos testemunha mais o seu amor. São João Crisóstomo julgava São Paulo mais feliz nos ferros que arrebatado ao terceiro céu.

II – Também os santos mártires se regozijavam no meio dos tormentos e agradeciam ao Senhor como um grande favor que lhes dispensava o terem que sofrer por seu amor. E os outros santos, que não acharam tiranos para os atormentar, tornaram-se carrascos de si mesmos pelas penitências com que se castigaram, afim de se fazerem agradáveis a Deus. Aquele que ama, diz Santo Agostinho, não sente sofrimento, ou se o sente, o ama: In eo quod amatur, aut non laboratur, aut ipse labor amatur.

Ó Deus da minha alma, digo que vos amo; mas que faço por vosso amor? Nada. É então um sinal de que não vos amo, ou vos amo muito pouco. Meu Jesus, enviai-me o Espírito Santo, que me venha dar a força de sofrer e fazer alguma coisa por vosso amor antes de minha morte. Ah! Meu amado Redentor, não permitais que eu morra neste estado de frieza e ingratidão em que eu tenho vivido até hoje. Concedei-me a graça de amar os sofrimentos, depois de tantos pecados que me tornaram digno do inferno.

Ó meu Deus, todo bondade e todo amor, desejais habitar em minha alma onde tantas vezes vos expulsei; vinde, estabelecei nesta vossa morada, dominai nela e fazei-a toda vossa. Amo-vos, ó meu Senhor, e já que vos amo, comigo estais, como São João afirma: Qui manet in caritate, in Deo manet, et Deus in eo – “Aquele que mora no amor permanece em Deus e Deus nele”. Se, pois, estais comigo, aumentai em mim as chamas de vosso amor, fortificai as cadeias que me prendem a vós, afim de que eu suspire somente por vós, busque somente a vós, e assim unido convosco, não me separe jamais do vosso amor. Ó meu Jesus, quero ser vosso, todo vosso. – Ó minha Advogada e Rainha, Maria, alcançai-me o santo amor e a perseverança.

7º Dia (2 de Junho)
Ego rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit vobis, ut maneat vobiscum in aeternum 

 “Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, afim de que more sempre convosco” (Jo 14, 16)

I – É esta a magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: Se me amais, rogarei ao Pai, e ele vos enviará o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco. Deus, portanto, habita na alma que O ama. Lembremo-nos, porém, de que Deus é cheio de zelos. Quer habitar só na alma, e não está contente, se não o amamos de todo o coração e queremos dividir o nosso amor entre ele e as criaturas.

O Espírito Santo é chamado Hóspede das almas: “Dulcis hospes animae”. É o efeito da magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e rogarei ao Meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco: “Ut maneat vobiscum in aeternum”. Sim, sempre, porque o Espírito Santo não desampara nunca uma alma, a não ser que seja expulso por ela: “Non deserit, nisi deseratur”.

Deus portanto, habita em toda a alma de que é amado; mas declara não ficar satisfeito, se não o amamos de todo o nosso coração. Escreve Santo Agostinho, que o senado romano se recusou a admitir Jesus Cristo no número dos deuses, dizendo que Ele é um Deus soberbo que quer ser adorado com exclusividade. Isto é verdade: Nosso Senhor não aceita rival num coração que O ama; quer habitar nele só e ser amado mais que todos. Se Ele não se vê amado acima só, tem, por assim dizer, segundo a expressão de São Tiago, zelos das criaturas com que é dividido esse coração, que ele deseja só para si: “Ad invidiam concupiscit vos Spiritus qui habitat in vobis”. Numa palavra, como diz São Jerónimo: Jesus é um Deus cheio de zelos: Zelotypus est Iesus.

II – É este o motivo porque o Esposo celeste louva a alma que, semelhante à rola, vive na solidão escondida do mundo: “Pulchrae sunt genae tuae, sicut turturis”. Não quer que o mundo tenha parte no amor desta alma, deseja-a toda inteira para si. Se ele ainda louva a sua Esposa, chamando-a jardim fechado – Hortus conclusus, soror mea sponsa – , é porque ela não deixa entrar em seu coração nenhum afecto terreno. Ah! Jesus não merece todo o nosso amor? “Totum tibi dedit, nihil sibi reliquit”, diz São João Crisóstomo: Ele nos deu tudo, o seu sangue e a sua vida; mais do que isto não podia nos dar.

Se queremos que Deus habite em nossa alma com a plenitude de sua graça, consagremo-la hoje de novo toda inteira e sem reserva a seu serviço e repitamos esta nossa consagração muitas vezes durante o dia, especialmente na oração mental, na santa comunhão e na visita ao Santíssimo Sacramento.

Lembremo-nos de que há três meios principais pelos quais uma alma se pode dar toda a Deus. Primeiro, evitar todas as faltas deliberadas, ainda que pequenas, e para este fim reprima o mais insignificante desejo desordenado e mortifique a satisfação dos sentidos. Segundo, escolher, entre as coisas boas, a melhor, que mais agrade a Deus. Terceiro, aceitar com paz e gratidão, das mãos do Senhor, tudo o que mortifica o nosso amor próprio e em particular os desprezos. Lembremo-nos de que tem mais valor aos olhos de Deus um desprezo sofrido em paz e por amor a Ele, do que mil mortificações e mil práticas.

Ó meu Deus, bem vejo que me quereis todo para Vós. Tanta vezes Vos expulsei da minha alma. Mesmo assim não Vos dedignais de nela entrar e unir-Vos a mim. Ah! Tomai agora posse de todo o meu ser; dou-me inteiramente a vós. Aceitai-me, ó meu Jesus, e não permitais que eu viva de agora em diante um instante sequer sem vosso amor. Vós me buscais, e eu não busco senão a Vós. Quereis minha alma, e ela só Vos quer a Vós. Vós me amais, e eu também vos amo; e já que me amais, prendei-me tão perfeitamente convosco, que não me aparte mais de vós. – Ó Rainha do céu e minha querida Mãe, Maria, em vós ponho minha confiança.

8º Dia (3 de Junho)
Super omnia autem caritatem habete, quod est vinculum perfectionis 

“Acima de tudo, tende e caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col 3, 14)

I – Antes da vinda de Jesus Cristo, os homens afastavam-se de Deus, e aferrados à Terra, recusavam unir-se ao seu Criador. Mas nosso amável Senhor enviou-nos o Espírito Santo, afim de que, assim como Ele é o vínculo indissolúvel que une o Pai ao Verbo Eterno, assim una nossas almas a Deus pelo amor. Procuremos, pois, estar fortemente ligados por este vínculo de perfeição, e não correremos mais risco de nos afastar de Deus. Antes de tudo, porém, é necessário que livremos nosso coração de todos os laços que o prendem ao mundo.

Assim como o Espírito Santo, amor incriado, é o laço indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim é este mesmo Espírito que une nossas almas a Deus. A caridade, diz Santo Agostinho, é uma virtude que nos une a Deus: Caritas est virtus coniungens nos Deo. Daí este grito de alegria de São Lourenço Justiniano: Ó Amor, tu és então um vínculo de tal maneira forte, que pudeste encadear um Deus e uni-Lo a nossas almas! O caritas, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit! – Os laços do mundo são laços de morte, mas os de Deus são laços de vida e salvação: Vincula illius alligatura salutares. Porquanto são vínculos de amor, e o amor nos une a Deus, nossa única e verdadeira vida.

Antes da vinda de Jesus Cristo os homens separavam-se de Deus; aferrados à Terra, recusavam unir-se ao seu Criador; mas o Senhor, cheio de ternura, os atraiu a si pelos laços de amor, como tinha prometido por Oséas: In funiculis Adam traham eos, in vinculis caritatis – “Eu os atrairei com cordas de Adão, com os vínculos da caridade”. Estes laços são os seus benefícios: luzes, apelos ao seu amor, promessas do paraíso; mais é sobretudo o dom que nos fez de Jesus Cristo no sacrifício da cruz e no Sacramento do altar, e enfim, o dom de Espírito Santo. Por isso exclama o Profeta: Solve vincula colli tui, captiva filia Sion – “Rompe as cadeias de teu pescoço, filha cativa de Sião”. Ó alma, criada para o céu, desfaz-te dos laços da Terra para te unires a Deus pelos laços do santo amor.

II – Caritatem habete, quod est vinculum perfectionis – “Tende a caridade, que é o vínculo da perfeição”. O amor é um laço que reúne todas as virtudes, e torna a alma perfeita. Daí a seguinte palavra de Santo Agostinho: Ama, et fac quod vis – Ama a Deus e faze o que queres, porque quem ama a Deus tem cuidado de evitar tudo que causa desgosto ao objecto do seu amor e procura agradar-lhe em tudo.

Dulcíssimo Jesus, muito me haveis obrigado a amar-Vos; muito Vos custou obter o meu amor. Ingratíssimo seria eu, se Vos amasse pouco, ou dividisse o meu coração entre Vós e as criaturas, depois que por mim derramastes vosso sangue e sacrificastes vossa vida! Quero desapegar-me de tudo, e por em Vós só todos os meus afectos. Muito fraco sou para executar esta resolução; Vós, que me a inspirais, dai-me a força de a cumprir.

Amadíssimo Jesus meu, feri meu pobre coração com a suave seta do vosso amor, para que não cesse de arder no desejo de Vos possuir e consumir-me de amor para convosco. A Vós procure sempre, a Vós só deseje, a Vós ache sempre. Ó meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. Fazei com que eu repita sempre durante a minha vida, e sobretudo na hora da minha morte: Meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. – Ó Maria, minha Mãe, fazei com que de hoje em diante eu não queira senão a Deus.

9º Dia (4 de Junho)
Infinitus thesaurus est hominibus; quo qui usi sunt, participes facti sunt amicitiae Dei 

“Ela é um tesouro infinito para os homens; do qual os que usaram têm sido feitos participantes da amizade de Deus” (Sap 7, 14)

I – O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, acha logo a felicidade, porque o Senhor lhe satisfará todos os desejos e o fará contente mesmo no meio das maiores tribulações. Felizes de nós, se conhecemos o grande tesouro do amor divino e procuramos obtê-lo a todo custo, desapegando-nos das coisas criadas!

O amor é o tesouro de que fala o Evangelho, o qual nos cumpre adquirir a custo de tudo mais. A razão é porque ele é realmente aquele bem infinito que nos faz participante da amizade de Deus. Aquele que acha Deus, acha tudo que pode desejar: Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui – “Deleita-te no Senhor, e Ele te concederá as petições do teu coração”. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, Deus lhe satisfará todos os desejos. Quais são com efeito os homens mais felizes da Terra, senão os santos? E porque? Porque só querem e buscam a Deus.

Estando um príncipe a caçar, vi um solitário percorrendo a floresta, e perguntou-lhe o que fazia nesse deserto. Mas vós, Senhor, retorquiu logo o anacoreta, que vindes buscar aqui? – Eu, acudiu o príncipe, ando em busca de caças – E eu, tornou o solitário, busco a Deus.

O tirano que martirizou São Clemente de Ancira, ofereceu-lhe ouro e pedras preciosas para conseguir que ele renegasse a Jesus Cristo; mas o santo, dando um profundo suspiro, exclamou: Pois que! Um Deus posto em paralelo com um pouco de lama! – Feliz de quem conhece o tesouro do divino amor e procura obtê-lo! Quem o conseguir, despojar-se-á por si mesmo de tudo, para não possuir senão a Deus. “Quando o fogo pega na casa”, dizia São Francisco de Sales, “lançam-se todos os utensílios pela janela”. E o Padre Segneri, o moço, grande servo de Deus, tinha costume de dizer: “O amor divino é um roubador que nos tira todos os afectos terrenos ao ponto de exclamarmos então: Senhor, que desejo senão a vós?” Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum – “Deus de meu coração, e a minha porção, Deus, para sempre”.

II – Ó mundanos insensatos, exclama Santo Agostinho, ó homens, aonde ides para contentar o vosso coração? Bonum quod quaeritis, ab ipso est. Aproximai-vos de Deus, recuperai a sua graça, buscai o seu amor, porque só Ele pode dar-vos a felicidade que andais procurando – Nós ao menos não sejamos tão insensatos, e como nos exorta o mesmo santo Doutor, de hoje em diante, busquemos unicamente o amor de Deus, busquemos o único bem, no qual estão encerrados todos os outros: Quaere unum bonum, in quo sunt omnia bona. Mas não podemos achar este bem, sem renunciar a todo o afecto pelas coisas da Terra, como o ensina Santa Teresa: Desapega o teu coração das criaturas e acharás a Deus.

Meu Deus, no passado não foi a Vós que busquei, mas busquei a mim mesmo e às minhas satisfações; e por elas me apartei de Vós, que sois o Bem supremo. Mas Jeremias me consola, assegurando-me que sois só bondade para os que Vos buscam – Bonus est Dominus animae quaerenti illum. Amadíssimo Senhor meu, compreendo o mal que fiz deixando-Vos, e arrependo-me de todo o coração. Vejo que sois um tesouro de valor infinito; não querendo deixar inútil esta luz, renuncio a tudo, e escolho-Vos para único bem dos meus afectos.

Ó meu Deus, meu amor, meu tudo, por vós suspiro. Vinde, ó Espírito Divino, e com o santo fogo do vosso amor, consumi em mim todo o afecto de que não sois o objecto. Fazei-me todo vosso, e que tudo vença para Vos agradar. Ó Maria, minha advogada e Mãe, ajudai-me com as vossas orações.


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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Solenidade da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo

"Dominus Iesus, postquam locutus est eis, assumptus est in Coelum, et sedet a dextris Dei"
"O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus"
Mc 16, 19

I. O lugar que competia a Jesus ressuscitado era o Céu, que é a morada das almas e dos corpos bem-aventurados. Quis Jesus, todavia, permanecer quarenta dias sobre a terra e aparecer repetidas vezes a seus discípulos para os certificar da sua ressurreição e instruí-los nas coisas relativas à sua Igreja: Loquens de regno Dei (1) – “Falando do reino de Deus”. 

Tendo desempenhado esta nobre missão, quis o Senhor, antes de deixar a terra, mostrar-se mais uma vez aos apóstolos em Jerusalém; e depois de lhes exprobrar suavemente a sua dureza, por não acreditarem na sua ressurreição, ordenou-lhes que fossem para o Monte das Oliveiras, o lugar onde tinha começado a sua Paixão, afim de que compreendessem que o verdadeiro caminho para ir ao Céu é o dos sofrimentos. Depois, cercado de cento e vinte pessoas, repetiu-lhes mais uma vez o que já lhes havia ordenado, especialmente que fossem pregar o Evangelho pelo mundo inteiro; feito o que o divino Redentor levantou as mãos e os abençoou.

Em seguida, como medita São Boaventura (2), Jesus abraça a sua santíssima Mãe e aperta-a contra o coração, anima e conforta os seus discípulos, que, entre lágrimas, Lhe beijam os pés e com as mãos levantadas e o semblante extraordinariamente majestoso e amável, coroado e vestido como rei, se eleva lentamente ao Céu, levando em sua companhia as numerosíssimas almas justas, livradas do limbo. – A esta vista todos os presentes ajoelham novamente e Jesus mais uma vez os abençoa. Afinal uma nuvem subtrai o divino Triunfador à sua vista, e Jesus vai sentar-se à direita do Pai, onde não cessa de ser nosso medianeiro e advogado.

Avivemos a nossa fé, e contemplemos o júbilo que a entrada triunfal de Jesus causou no paraíso: alegremo-nos com o nosso divino Chefe e unamos os nossos afectos aos de Maria Santíssima e dos santos discípulos.

II. Como a águia ensina os seus filhos a voarem, assim, no mistério de hoje, Jesus Cristo nos exorta a elevar o nosso vôo e acompanhá-Lo ao Céu, senão com o corpo, ao menos com os afectos. Desprendamos os nossos corações da terra, e suspiremos pela pátria celeste, onde se acha a nossa felicidade: esperando, como diz o Apóstolo, a adopção de filhos de Deus, a redenção de nosso corpo (3). 

Entretanto, tenhamos sempre diante dos olhos os exemplos da vida mortal do Senhor; imitando a sua humildade e mansidão, o seu espírito de mortificação, a sua caridade e o seu zelo pela glória divina. – Numa palavra, despojamo-nos do homem velho, revestindo-nos das virtudes de Jesus Cristo, que são como que o manto, que, à imitação de Elias, ele deixou para seus discípulos, quando subiu ao Céu.

Para vencermos todas as dificuldades que se encontram no caminho do Senhor, recordemos muitas vezes a grande verdade que os anjos ensinaram hoje aos discípulos, que, arrebatados, olhavam o Céu, para o qual acabava de subir o seu amado mestre: Jesus Cristo voltará um dia à terra com a mesma majestade e glória, como Juiz dos vivos e dos mortos: Sic veniet, quemadmodum vidistis eum euntem in coelum (4).

Meu querido Redentor Jesus, regozijo-me pelo vosso triunfo glorioso e rogo-vos que arranqueis de meu coração todo o afecto aos bens miseráveis desta terra, para não suspirar senão pelos do paraíso, que vós merecestes para mim pela vossa paixão. – A mesma graça peço de Vós, ó Pai Eterno. “Concedei-me que, assim como creio firmemente que vosso Filho unigénito e nosso Redentor subiu hoje ao Céu, assim possa continuamente morar ali com o meu espírito e os meus desejos.” (5) – Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. (*VIII 643.)

Santo Afonso Maria de Ligório in 'Meditações para todos os dias do ano'
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(1) Act. 1, 3.
(2) Med. vit. Chr.
(3) Rom. 8, 23.
(4) Act. 1, 11.
(5) Or. festi. curr.


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quarta-feira, 28 de maio de 2025

A Tradição é forte

Tão forte é a Tradição que as futuras gerações sonharão com aquilo que nunca viram.
(G. K. Chesterton)



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terça-feira, 27 de maio de 2025

Os 3 dias de Rogações antes da Ascensão de Jesus

No calendário tradicional, estes 3 dias antes da Ascensão são dias de Rogações, nos quais a Igreja reza a Ladainha dos Santos, Salmos e outras orações como súplicas destinadas a: impedir os flagelos da justiça divina e atrair as bênçãos da misericórdia de Deus sobre os campos, obter a humildade e, com a invocação da Mãe de Deus e dos santos, pedir o fim das doenças e a preservação das culturas. No fundo trata-se de oferecer uma compensação à justiça divina pelo orgulho e malícia do Homem.

Tradicionalmente é feita uma procissão através dos campos e das terras cultivadas. Nos séculos passados, especialmente em Inglaterra, esta procissão era feita em torno dos limites de um território paroquial, para implorar a Deus que abençoasse a paróquia de uma maneira especial.

ORIGEM

Após as calamidades públicas ocorridas no século V, no Delfinado de Vienne, São Mamerto, bispo dessa diocese, estabeleceu que se fizesse uma procissão solene de penitência nos três dias anteriores ao dia da Ascensão do Senhor. No ano 816, o Papa Leão III adoptou essa procissão em Roma, fazendo com que estendesse a toda a Igreja Universal.

Rogação deriva do latim rogare, que significa mendigar ou pedir, e vem do evangelho do V Domingo depois da Páscoa (o Domingo passado), no qual São João refere as palavras de Nosso Senhor: "...pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa." Por isto, o V Domingo depois da Páscoa é frequentemente chamado Domingo da Rogação.

in liturgiaytradicioncatolica.wordpress.com


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segunda-feira, 26 de maio de 2025

Contas são contas

Quando o Papa Francisco decidiu viver na Casa da Santa Marta, em vez do Palácio Apostólico onde viveram os Papas anteriores, a media louvou imediatamente a ‘pobreza’ do novo Papa.

No entanto, o jornal romano ‘Il Tempo’ publicou um texto no qual revela que os custos associados a essa mudança de morada papal rondaram os 200 mil euros por mês. O que totaliza 30 milhões de euros.

O dinheiro foi gasto em adaptar um piso de hotel, inicialmente com vários quartos, a uma cozinha profissional, capela privada, sala para acolher visitas e vários quartos para conselheiros papais. Além disso, houve custos adicionais para contratar mais gendarmes e guardas-suíços que pudessem proteger o Papa no novo endereço.

30 milhões de euros gastos, havendo um palácio já construído e preparado que ficou vazio durante 12 anos. Nem sempre o que parece pobreza nas manchetes da comunicação social realmente o é.


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20 importantes conselhos de São Filipe Neri

1. Existem tentações, como as da carne, que apenas podem ser vencidas fugindo; outras, como as da raiva, resistindo-lhes, e outras, como a vã glória, desprezando-as.

2. Quando Deus envia tribulações a uma alma dá-lhe um sinal de grande afecto.

3. Aquele que gosta de ser desprezado e se considera como nada é um discípulo perfeito da escola de Jesus Cristo.

4. Entre as graças que devemos pedir a Deus, uma delas deve ser a perseverança.

5. Não há nada mais perigoso na vida espiritual do que querer dirigir-se sozinho.

6. A ociosidade é uma calamidade para o cristão. Devemos fazer sempre alguma coisa, para que o diabo não venha e nos faça cair nas suas armadilhas.

6. Nada ajuda mais o homem do que a oração.

7. Vamos lançar-nos nos braços de Deus e ter certeza de que se Ele quiser algo de nós dar-nos-á forças para fazer o que Ele quiser que façamos.

8. Temos de rejeitar os escrúpulos, porque eles perturbam a alma e geram tristeza.

9. Não há nada mais desagradável a Deus do que uma alma orgulhosa de si mesma.

10. Não devemos odiar ninguém, porque Deus não vem para estar numa alma que não ama o próximo.

11. Na comunhão devemos pedir a cura desse vício a que estamos sujeitos.

12. O demónio, que é muito orgulhoso, tem muito medo da confissão humilde.

13. Vamos separar os nossos corações das coisas deste mundo; perguntemos muitas vezes: e depois? e depois?.

14. Não sejamos precipitados em julgar os outros: primeiro pensemos em nós mesmos.

15. Para estar em paz com os outros, nunca pense nos seus defeitos naturais.

16. Nem sempre estamos interessados no melhor.

17. O servo de Deus não deve querer receber neste mundo a recompensa pelo seu serviço.

18. Quem foge de uma cruz encontrará outra mais pesada no seu caminho.

19. Antes de se confessar, será bom pedir a Deus a vontade de ser santo.

20. A Deus agrada a alma humilde que acredita que ainda não começou a fazer o bem.


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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Será que Leão XIV vai acabar com a cacofonia na Igreja?

O famoso maestro italiano Riccardo Muti pediu a Leão XIV que restabelecesse a música sacra nas igrejas. Citou Santo Agostinho, que dizia que o canto é próprio dos que amam: “Felizmente, temos agora um Papa agostiniano”.

Muti, que não é católico da “Amoris Laetitia” e se manteve fiel à sua mulher, gosta muito do Papa Leão XIV. “Dá-me esperança no regresso da música sacra à Igreja”, ao passo que, com Francisco, ‘os concertos no Vaticano praticamente desapareceram’.

Também não gosta de Missas com guitarras: “Por amor de Deus! Penso que não sou o único crente que preferia ouvir Palestrina na igreja. Monteverdi, Luca Marenzio, Gesualdo da Venosa. E o canto gregoriano”.

Para Muti, a decadência da música da Igreja revela uma falta de espiritualidade. Os grandes santos da cCristandade foram para o martírio a cantar, não a dedilhar. O declínio da música de igreja é um aspecto de um fenómeno mais vasto” e faz parte do ‘colapso do sagrado’.

“Espero sinceramente que o Papa Leão possa trazer de volta às igrejas o conceito de Santo Agostinho: o canto é próprio dos que amam.”

in gloria.tv


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terça-feira, 20 de maio de 2025

Chesterton destrói o Marxismo com a 'História das vacas'

Penso que a maioria dos seguidores de Karl Marx acredita numa doutrina chamada a teoria materialista da História. A teoria é, grosso modo, a seguinte: todas os acontecimentos da História encontram-se radicados numa causa económica. Em resumo, a História é uma ciência, a ciência da busca pela comida.

É verdade que a busca por comida é universal. Aliás, tão universal que nem é exclusivamente humana. As vacas têm um motivo económico; quase diria um motivo exclusivamente económico. A vaca preenche os requerimentos da teoria materialista da História. É por isso que a vaca não tem História. Uma História de vacas seria a coisa mais simples e mais enfadonha do mundo!

Dizer que os motivos do homem se resumem à motivação económica é como dizer que o homem só tem pernas, porque um homem suporta-se em comida como se suporta em pernas. Mas nenhuma teoria económica explica como é que debaixo de fogo, um homem se apoia nas pernas para combater enquanto que outro se apoia nas pernas para fugir.

Em suma, não existiria nenhuma História se o homem apenas se resumisse à teoria económica da História.

G.K. Chesterton in 'O Adorador do Sol'


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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Combater na Terra, descansar no Céu

Não me digas que não queres combater; porque no instante mesmo em que mo dizes, estás a combater; nem que ignoras para que lado te inclinares, porque no momento mesmo em que isso dizes, já te inclinaste para um lado; nem me afirmes que queres ser neutro, porque quando pensas sê-lo, já não o és; nem me assegures que permanecerás indiferente, porque te desprezarei, dado que, ao pronunciares essa palavra, já tomaste o teu partido.

Não te canses em buscar asilo seguro contra os açoites da guerra, porque te cansas em vão; essa guerra se expande tanto como o espaço, e se prolonga tanto como o tempo. 

Só na eternidade, pátria dos justos, podes encontrar descanso; porque só ali não há combate; não presumas, contudo, que se abram para ti as portas da eternidade se não mostras antes as cicatrizes que levas; aquelas portas não se abrem senão para os que combateram aqui os combates do Senhor gloriosamente, e para os que vão, como o Senhor, crucificados.'

Juan Donoso Cortés in 'Ensayo sobre el catolicismo, el liberalismo y el socialismo', Edit. Comares, Granada, 2006.



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Laudes Regiae cantadas antes da primeira Missa pública do Papa Leão XIV



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sábado, 17 de maio de 2025

10 medidas práticas para a Santidade - Beato Francisco Xavier Seelos

1. Ir à Missa com grande devoção.

2. Reflectir durante meia-hora nos pecados em que se cai mais frequentemente; fazer propósitos para o evitar.

3. Fazer leitura espiritual durante 15 minutos, se for impossível fazer meia-hora.

4. Rezar o Terço todos os dias.

5. Se possível visitar o Santíssimo Sacramento todos os dias; e ao entardecer meditar na Paixão de Cristo durante meia-hora.

6. Acabar o dia com o exame de consciência, de todas as faltas e pecados do dia.

7. Todos os meses, fazer uma revisão do mês na confissão (direcção espiritual).

8. Escolher um padroeiro em cada mês, e imitá-lo numa virtude em especial.

9. Fazer uma novena antes de cada grande festa litúrgica.

10. Tentar começar e acabar cada actividade diária com uma Avé-Maria.

Beato Francisco Xavier Seelos


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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Missão Vicentina publica 14 factos interessantes sobre o Papa Leão XIV

1. Cresceu no South Side de Chicago, numa família operária. Antes de vestir de branco, usava um parka vermelha. Na paróquia da sua infância havia jantares de peixe frito, festas de bairro e o tipo de comunidade que moldou a sua profunda compaixão.

2. Trabalhou como professor do ensino secundário antes de entrar no seminário. Ensinou História e foi treinador de basquetebol. Os seus alunos dizem que era exigente, justo e que reparava sempre no aluno que almoçava sozinho.

3. Percorreu a pé 800 quilómetros ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México. Quando celebrou 30 anos de vida, fez um ano sabático para viajar a pé com emigrantes e gente que tinha feito o pedido de asilo. Isto mudou a sua visão do papel da Igreja no mundo.

4. Fala seis línguas, incluindo a linguagem gestual. Aprendeu linguagem gestual na sua primeira paróquia para melhor servir os membros surdos da comunidade e continuou a usá-la desde então.

5. É apreciador de jazz e toca um pouco de trompete. Diz que o jazz lhe ensinou a escutar com atenção, a improvisar com humildade e a deixar o silêncio falar.

6. Jejuou durante 40 dias num Mosteiro, sem acesso à internet nem electricidade. Não para provar nada, apenas para escutar. Descreveu este período como o mais solitário e o mais cheio de graça da sua vida.

7. Recusou por duas vezes ser nomeado Bispo. Em ambas as ocasiões, disse não porque ainda não tinha terminado de “ser o pároco que cozinha esparguete para funerais e chora nos baptismos”.

8. A primeira chamada que recebeu após se tornar Papa foi do seu melhor amigo de infância. Disse-lhe apenas: “Nunca vais acreditar no que acabou de acontecer.” O amigo pensou que estava a brincar.

9. Escolheu o nome Leão em homenagem ao Papa Leão XIII, que escreveu a encíclica Rerum Novarum, sobre a Doutrina Social da Igreja.

10. Nunca teve carro próprio. Mesmo quando era Cardeal, insistia em andar a pé, de bicicleta ou em transportes públicos.

11. O seu livro preferido não é um texto teológico, mas sim “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry. Citou-o em homilias, cartas e uma vez durante um retiro privado no Vaticano. “O essencial é invisível aos olhos”, dizia frequentemente.

12. Nunca usa smartphone. Traz consigo um telemóvel de tampa e usa uma agenda em papel escrita à mão. Diz que isso o impede de “desaparecer no ruído”.

13. Há mais de 20 anos que fala com uma uma freira de 92 anos. Ela disse-lhe uma vez: “Tem coragem de ser pequeno.” Ele escreveu isto no seu breviário.

14. Guarda um crucifixo esculpido em madeira de um barco de migrantes naufragado. Foi-lhe oferecido por um pescador siciliano que resgatou 18 sobreviventes do mar.

in gloria.tv


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segunda-feira, 12 de maio de 2025

Terço e Reparação ao Imaculado Coração de Maria

Qual é a importância de rezar o Terço com a intenção de fazer Reparação ao Imaculado Coração de Maria?

A primeira vez que a palavra Reparação foi mencionada na Mensagem de Fátima, foi pelo Anjo de Portugal, aos Três Pastorinhos, na sua 2ª aparição, no Verão de 1916. Então, o Anjo de Portugal dá a entender que a Paz em Portugal depende dos nossos sacrifícios oferecidos em acto de Reparação pelos pecados com que Deus é ofendido e de súplica pela conversação dos pecadores. Na sua primeira Aparição aos Pastorinhos, na Primavera de 1916, este Anjo chamara-se a si próprio o Anjo da Paz.

Mas hoje nós ainda precisamos de Paz?

Santo Agostinho define a Paz como a ‘tranquilidade na ordem’. E tranquilidade é o que mais falta nos nossos dias... vive-se num contínuo alvoroço, numa constante correria, sem tranquilidade nenhuma sobre o nosso presente e o nosso futuro e os dos nossos filhos, em muitos âmbitos da vida...

O Anjo de Portugal e da Paz insiste na sua 3ª aparição, em fins de Setembro de 1916:
“Santíssima Trindade, (...), ofereço-vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido (…).”

E continua mais à frente:
- “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.”

Maravilhoso o fato de Deus querer precisar de cada um de nós para O consolar, fazendo Reparação pelos pecados, indiferenças e crimes cometidos contra Ele pelos homens, incluindo por nós próprios, com certeza. Grande mistério! Deus que não precisa de nada, vem mendigar por Amor o nosso amor reparador! Agradeçamos por Ele querer incluir-nos no Seu plano salvador da humanidade!
E querer ser consolado por nós, fazendo desse o meio de o Seu Santíssimo Coração ficar ’reparado’ das ‘feridas’ que os espinhos dos pecados Lhe cravam. 

Quando Deus quis enviar no ano seguinte, 1917, a Sua Santíssima Mãe à Cova da Iria, transferiu o pedido de Reparação para o Coração de Maria. A Lúcia descreve o que se passou no final da aparição de 13 de Junho: “À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.”

Em 1917, Deus põe frases muito fortes na boca de Nossa Senhora, que nos mostram que Deus quer ser agora amado e consolado, através do amor e consolação que expressarmos ao Coração de Sua Mãe Querida, Fiel, Imaculada.

Em 13 de Junho, Nossa Senhora diz à Lúcia: “Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono.”

Como não querer ser uma dessas flores postas por Nossa Senhora a adornar o trono de Deus?!

Por isso, abraçamos com todo o Amor a devoção que Jesus nos pede ao Coração de Maria, concretizada em dois dos pedidos mais insistentes e fortes da Mensagem: a oração do terço diário e a reparação ao Imaculado Coração de Maria.

Assim, vale a pena agarrar com todas as forças esta iniciativa do Terço Reparador por Portugal. E rezá-lo unidos ao Anjo da nossa Pátria, que é o Anjo da Paz...

Terço Reparador por Portugalhttps://tporportugal.wixsite.com/website


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