terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Papa disse que não temos que procriar como coelhos. E então?

Como as novidades sobre o Charlie Hebdo acabaram, os jornais voltaram à fonte inesgotável de notícias: o Papa Francisco. Dizem (alguns), que o Papa afirmou que os católicos não podem procriar como coelhos e que com isso estaria a permitir a contracepção.

Bem, que os católicos não tenham que procriar como coelhos é uma verdade evidente, os católicos devem procriar como seres humanos porque é o que são. Uma “coelha” pode ter até 100 crias por ano, ora isto além de ser humanamente impossível seria um pandemónio em qualquer família, mesmo na mais bem organizada.

Claro que essa expressão é metafórica, quer dizer que ninguém é obrigado a ter filhos ininterruptamente até que a natureza se encarregue de trazer a “bênção” da infertilidade. A expressão “paternidade responsável”, apesar de muitas vezes ter sido usada para justificar a contracepção, é uma expressão justa. Se não existem condições, de momento, para ter mais filhos não há problema nenhum em não ter mais filhos, de momento.

A própria encíclica Humanae Vitae, onde a Igreja condena, de uma vez para sempre, a contracepção, diz isso mesmo: Se existirem razoes válidas para espaçar o nascimento dos filhos isso poderá ser feito, recorrendo apenas a métodos lícitos como os métodos naturais (que são tão eficientes quanto os mais eficientes contraceptivos). Mas isso nunca poderá ser feito através da contracepção (pílula, preservativo, DIU, …) mesmo que seja por um bom motivo, porque a contracepção como meio é sempre imoral.

O Papa Francisco afirmou várias vezes que o Papa Paulo VI esteve certíssimo quando escreveu esta Encíclica e que além disso foi um visionário, numa altura em que todos achavam que a Humanidade estaria condenada por causa do excesso de população. Seja como for esse argumento malthusiano para defender a contracepção é falacioso porque os métodos naturais são tão eficientes como os contraceptivos (repito isto para ver se entra).

Parece claro que ninguém pode dizer que o Papa defende a contracepção. E então a paternidade responsável? A paternidade responsável é ter poucos filhos? Não. Um casal pode ter 13 ou 14 filhos ou até mais, e isso não quer dizer que sejam irresponsáveis ou que tiveram filhos a mais. O Papa falou do caso duma mulher que correria risco grave de vida se engravidasse naquele momento por causa das cesarianas, tendo já 7 filhos para criar. Cada caso é um caso e a Igreja sempre incentivou os casais a serem generosos no número de filhos, que sempre foram vistos também como um factor que fortalece os casamentos e as famílias.

O próprio Papa Francisco fala disso quando critica a taxa de crescimento negativa em alguns países da Europa. Hoje em dia os europeus não procriam como coelhos, mas como outros animais demasiado egocêntricos para "perderem" o seu tempo e o seu dinheiro com os da sua espécie, ainda que fossem carne da sua carne e sangue do seu sangue.

João Silveira


blogger

9 comentários:

Anónimo disse...

Mas o Papa (este ou qualquer outro) não pode mudar a doutrina sobre a contracepção, se assim o entender?

Anónimo disse...

É ou não um facto que ele pelo menos sugeriu que o normal era ter três filhos?

Anónimo disse...

O Papa não diz que ''não podemos'' mas sim que não ''precisamos'' de procriar como coelhos para sermos cristãos, o que faz toda a diferença. Acredita, como eu, que Deus não nos exige que tenhamos todos os filhos possíveis do ponto de vista fisiológico mas sim que sejamos generosos dentro das nossas possibilidades/capacidades económicas, físicas e psicológicas.

Tenho pena que, num blog sobre igreja e vida cristã, não se leia mais amor e menos julgo e ironia.

João Silveira disse...

Anonimo #1: Nao pode porque é doutrina de sempre, em termos de moral. A doutrina està definida.

João Silveira disse...

Anonimo #2: Normal para quem? Para uma familia em França ou na Etipia? Para uma familia pobre ou rica?

Nao existe normas, existem casos particulares.

O Papa disse que, segundo os tecnicos, seria importante que cada familia tivesse 3 filhos para manter a populaçao. Foi so isto.

João Silveira disse...

Anonimo #3: Obrigado pelo comentàrio, jà corrigi o titulo.

Anónimo disse...

Acho que nos últimos anos a Igreja não tem "vendido" bem os métodos naturais - e o post em parte sofre da mesma falha.
Insistir na equivalente eficácia dos métodos naturais, como argumento central (que o tem sido) é errado a vários títulos:
- em primeiro lugar, não é verdade. É evidente que se baseiam em dados objectivos (ou a mulher está fértil, e pode engravidar, ou não está, e não pode), mas o sucesso dos métodos depende de duas variáveis difíceis: do domínio do método, que é difícil ao contrário do que se diz (o típico argumento do "ah e tal, até mulheres em África"...), e do domínio da vontade (que se falha em coisas tão fáceis como o desvio da atenção quando se trabalha, também há-de falhar no resto).
- em segundo lugar, mais ainda: como alguém acima apontava, chegando ao ponto de se dominar totalmente o método (condição para que ele funcione), mais facilmente ele é encarado com a mesma mentalidade contraceptiva dos métodos artificiais: quem sabe exactamente quando pode ou não pode engravidar, perde o espírito de entrega e de confiança em Deus, verdadeiro autor da vida.
Perdeu-se, portanto, o sentido dos métodos naturais: o de espaçar os nascimentos havendo razões para tanto (caso em que o domínio da vontade é mais fácil, pois se pesa a gravidade da alternativa). Falta à Igreja, mais do que convencer da ecologia ou não dos métodos, afirmar - contra a corrente - que ter filhos é bom, que entregar o futuro a Deus é antecipação da felicidade prometida, e que qualquer cruz (que sim, admitidamente, pode vir num Filho não esperado e muito mal "calhado", humanamente falando), faz parte da vida e é sempre provisória.
recomendo esta leitura:
http://www.crisismagazine.com/2011/five-ways-i-dont-love-natural-family-planning
cumprimentos,
inês

João Silveira disse...

Cara Ines,

A Igreja afirma que ter filhos é bom. Alias, parece-me que é a única a faze-lo neste planeta. Creio que tem razão quando diz que talvez essa ideia não passe muito hoje em dia, talvez porque os meios de comunicação social não queiram ouvir o que a Igreja tem a dizer sobre isto.

Mas é doutrina da Igreja, e claríssima, que um casal católico deve ter tantos filhos quantos Deus quer, e que não e so deve adiar os filhos, usando um método licito, por razoes graves. Isso é indiscutível.

Mas discordo quando diz que a eficiência dos métodos não é a de que se fala. Como em qualquer método a pessoa tem que seguir as regras. Quem não toma a pílula diariamente e sensivelmente à mesma hora também não pode estar à espera de não engravidar.

E também discordo quando diz que não se devem falar de estatísticas. Deve-se acabar com as lendas negras que diz que os métodos naturais são o método do calendário e que não resultam. Isso é completamente mentira. Existem muitos métodos naturais, e o calendário não é um deles, e existem métodos com a mesma eficiência do que a pílula, ou maior ainda.

E também devem ser denunciadas as consequências negativas para a mulher de tomar a pílula. Nada disto deve ser oculto, como pretendem as farmaceuticas e os defensores da mentalidade contraceptiva.

E deve dizer-se que a pílula é contraceptiva também. As pessoas teem o direito a saber a verdade sobre o que andam a meter no seu corpo.

José Manuel Santos Ferreira disse...

Interessante análise em «First Things»: http://www.firstthings.com/blogs/firstthoughts/2015/01/breed-like-rabbits-the-pope-and-an-anti-catholic-slur