sábado, 10 de abril de 2021

A deslealdade suprema para com Deus é a heresia

Alegoria do triunfo do Evangelho sobre a heresia e a serpente - Burchard Precht

A deslealdade suprema para com Deus é a heresia. É o pecado dos pecados, a coisa mais repugnante que Deus menospreza neste mundo perverso. No entanto, quão pouco compreendemos da sua odiosidade! É o poluir da verdade de Deus, que é a pior de todas as impurezas.

Ainda assim, quão levianamente a levamos! Olhamos para ela e permanecemos calmos. Tocamos-lhe e não estremecemos. Misturamo-nos com ela e não tememos. Vêmo-la tocar as coisas sagradas e não temos nenhuma sensação de sacrilégio. Respiramos o seu odor e não mostramos nenhum sinal de repugnância ou aversão. Alguns até travamos amizade com ela; e alguns até atenuamos a sua culpa.

Nós não amamos o suficiente a Deus para estarmos zangados para Sua glória. Não amamos o suficiente o homem para sermos caridosamente verdadeiros com as suas almas. Perdendo o tacto, o paladar, a vista e todo o sentido do sagrado, podemos habitar no meio desta praga odiosa, numa tranquilidade imperturbável, reconciliados com a sua imundisse, não sem algumas profissões orgulhosas de admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatias tolerantes.

Porque é que estamos tão abaixo dos velhos santos, e até dos apóstolos modernos destes tempos posteriores, na abundância das nossas conversões? Porque não possuímos a austeridade antiga. Queremos o velho espirito de Igreja, o velho génio eclesiástico. A nossa caridade falta à verdade, porque não é severa; e não persuade porque é falsa.

Falta-nos devoção à verdade como verdade, como verdade de Deus. O nosso zelo pelas almas é fraco, porque não temos zelo pela honra de Deus. Agimos como se Deus fosse elogiado pelas conversões, em vez de pelo tremer das almas resgatadas por uma extensão de misericórdia.

Dizemos ao homem metade da verdade, a metade que melhor serve a nossa própria pusilanimidade e a sua presunção; e depois perguntamo-nos porque é que tão poucos estão convertidos, e porque é que desses poucos tantos apostatam. Somos tão fracos que nos surpreendemos que as nossas meias-verdades não tiveram tanto sucesso como a verdade-toda de Deus.

Onde não há ódio à heresia, não há santidade. Um homem que podia ser um apóstolo torna-se uma pústula na Igreja pela falta dessa abominação justa.

Padre Faber, C.O. in, The Precious Blood: The Price of Our Salvation (1860)


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


Se este texto foi escrito em 1860, como seria hoje?!
E, embora todo ele seja RICO, na análise duma Sociedade que parece querer DETURPAR DEUS, há uma frase que me enche as medidas e que penso poder aplicar-se muito bem nos tempos atuais: "Onde não há ódio à heresia, não há Santidade. Um homem que pode ser um Apóstolo torna-se um pústula na Igreja pela falta dessa abominação justa".

"Qualquer semelhança com a Realidade é pura coincidência..."