Recentemente, um "ex-Padre" Católico apareceu no programa da Oprah para defender a sua escolha de deixar o seu ministério para se casar. Este padre combateu o seu desejo por esta mulher durante vários anos e finalmente decidiu que as suas únicas opções eram casar-se com ela ou reprimir os seus desejos sexuais. De facto, como anunciou à audiência internacional, a “repressão” é a única escolha para quem permanece celibatário.
Será isto verdade? Será que as nossas únicas opções no que diz respeito ao desejo sexual são “ceder” ou “reprimir”? De certeza que para um mundo dominado pela luxúria sexual, o celibato vitalício parece absurdo. A atitude geral do mundo em relação ao celibato Cristão pode resumir-se a isto: “Olhem, o casamento é a única hipótese “legítima” que vocês, os Cristãos, têm de satisfazer os vossos desejos sexuais. Porque diabo haviam de desperdiçar isso? Iriam condenar-se a uma vida de repressão sem esperança.”
A diferença entre casamento e celibato, no entanto, nunca deve ser entendida como a diferença entre ter uma saída legítima para o desejo sexual por um lado e ter de o reprimir por outro. Cristo chama todos – independentemente da sua vocação particular – à experiência da redenção pelo domínio da concupiscência. Apenas nesta perspectiva é que as vocações cristãs (casamento e celibato) fazem sentido. Ambas as vocações – se forem vividas como Cristo pretende – decorrem da mesma experiência da redenção da sexualidade.
Em primeiro lugar, o casamento não é uma saída legítima para satisfazer os desejos sexuais. Como o Papa João Paulo II uma vez realçou, os esposos podem cometer “adultério no coração” um com o outro se se tratam um ao outro apenas como um escape para a auto-gratificação. Sei que é um cliché mas porque é que tantas mulheres se queixam de dores de cabeça quando os seus maridos querem sexo? Será porque se sentem usadas em vez de amadas? É a isto que a luxúria conduz: à utilização das pessoas, não a amá-las.
A libertação do domínio da concupiscência – essa desordem dos afectos causada pelo pecado original – é essencial, ensina-nos João Paulo II, se queremos viver as nossas vidas “na verdade” e experimentar o plano divino para o amor humano. De facto, o ethos sexual cristão “está sempre associado… com a libertação do coração do domínio da concupiscência”. E essa libertação é igualmente essencial para os que vivem o celibato consagrado, os solteiros ou os casados.
É precisamente essa liberdade que nos permite descobrir o que João Paulo II chamou a “pureza amadurecida”. Na pureza amadurecida “O homem apercebe-se dos frutos da vitória sobre a concupiscência”. Esta vitória é gradual e certamente permanece frágil aqui na terra, mas não deixa de ser real. Para os que são agraciados com os seus frutos, um mundo novo abre-se – uma nova forma de ver, pensar, viver, falar, amar, rezar.
O acto conjugal torna-se uma experiência de contacto com o sagrado, impregnada de graça, em vez de uma grosseira satisfação do instinto. E o celibato cristão torna-se uma forma libertadora de viver a sexualidade como “um dom total de si” por Cristo e pela Sua Igreja.
O acto conjugal torna-se uma experiência de contacto com o sagrado, impregnada de graça, em vez de uma grosseira satisfação do instinto. E o celibato cristão torna-se uma forma libertadora de viver a sexualidade como “um dom total de si” por Cristo e pela Sua Igreja.
João Paulo II observou que o celibatário tem de submeter “a tendência para o pecado da sua humanidade aos poderes que fluem do mistério da redenção do corpo… tal como qualquer outra pessoa faz”. É por esta razão, indica ele, que a vocação ao celibato não é apenas uma questão de formação, mas de transformação. A pessoa que vive esta transformação não está dominada pela necessidade de ceder aos seus desejos. Está livre com o que João Paulo II chamou a “liberdade do dom”. Isto significa que os desejos não controlam a pessoa; mas é a pessoa que controla os seus desejos.
Resumindo, a verdadeira liberdade sexual não é a liberdade de ceder às compulsões, mas liberdade da compulsão de ceder. Apenas uma pessoa com essa liberdade é capaz de fazer de si um dom livre no amor… tanto no casamento, como numa vida de devoção consagrada a Cristo e à Igreja. Porque a pessoa que é livre desta forma, sacrificando a expressão genital da sua sexualidade por um bem tão grande como as Núpcias Eternas de Cristo com a Igreja, não só se torna uma possibilidade, mas até bastante atraente.
Christopher West
Christopher West
6 comentários:
Não discordo de nada do que está escrito. Apenas adicionarei uma coisa que, penso, costuma ficar esquecida nestas discussões.
O celibato é também uma vocação. Quem não tem vocação para o celibato terá muita dificuldade em viver uma vida celibatária de forma feliz.
Não estou a dizer que é impossível, nem que é mau (mas pode facilmente ser), nem estou a dizer que para quem tem essa vocação será fácil.
Penso que um dos problemas que temos na nossa Igreja é que algumas pessoas dizem generosamente que sim à sua vocação sacerdotal sem, contudo, terem uma vocação para o celibato. As consequências podem ser trágicas.
Olá Filipe! O celibato é de facto uma vocação, o que ele está a dizer aqui é que é errada a ideia que casamento é um escape para o regabofe, é um vale-tudo, ao contrário do celibato que é um vale-nada. Ambas as vocações pedem um triunfo sobre a concupiscência, sobre o uso do outro como um objecto.
O mais comum é que as pessoas se casem, e criem famílias, mas alguns são chamados ao celibato, a oferecerem-se totalmente a favor do Reino.
No caso concreto de quem julga que é chamado ao sacerdócio, que no nosso caso só pode ser um homem solteiro ou viúvo, salvo raras excepções, tem que ser aceite num seminário. Depois durante 6/7 anos, a Igreja verá se ele tem ou não vocação. Mas quando é ordenado não pode haver erro, ou seja o homem que é ordenado tem vocação, é chamado, ao sacerdócio através do celibato, aí é a autoridade infalível do magistério da Igreja que o diz.
O que pode acontecer é que essa pessoa cometa erros, ou decida levar uma vida incompatível com o chamamento que Deus lhe fez, mas aí já é a liberdade da pessoa em jogo, nada tem a ver com vocação.
"Mas quando é ordenado não pode haver erro, ou seja o homem que é ordenado tem vocação, é chamado, ao sacerdócio através do celibato, aí é a autoridade infalível do magistério da Igreja que o diz."
Explica lá isto melhor, que não percebi.
Quando alguém é ordenado sacerdote, é Deus que o chama a isso através da Igreja (através do bispo), por isso não pode haver engano na vocação, não pode acontecer esse caso de alguém generosamente ter dito sim a algo que afinal não tem vocação.
CAT 1563 "O oficio dos presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo. Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, supondo os sacramentos da iniciação cristã, é conferido por meio daquele sacramento peculiar mediante o qual os presbíteros, pela unção do Espírito Santo, são assinalados com um caráter especial e assim configurados com Cristo sacerdote, de forma a poderem agir em nome de Cristo Cabeça em pessoa."
Portanto é impossível, segundo a tua opinião, que alguém engane propositadamente a hierarquia para ser ordenado padre.
Não é possível que um homem sem vocação seja ordenado?
É possível que alguém sem vocação para o casamento se case?
A citação que escolheste não diz absolutamente nada do que afirmas...
Boas,
A vocacao para o sacerdocio é distinta da vocacao para o celibato.
Ou seja, sao as regras da Igreja que exigem o celibato aos que têm vocacao sacerdotal.
Se esta vocacao ao sacerdocio (de acordo com a promessa individual ao celibato) não existir de facto, aquando da ordenação Deus institui por amor a vocação a essa pessoa.
Isso significa que não ha sacerdotes sem vocacao sacerdotal. Todos tem.
Dentro destes haverão aqueles com vocação para o celibato e aqueles sem a vocação para o celibato.
Para os que não têm vocacao para o celibato haverão aqueles que cumprem a docilidade da sua promessa. E haverão aqueles que pedem dispensa do exercício da ordem.
Tiago Rodrigues
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