A Fé é o que faz com que acreditemos do fundo da alma em todas as verdades que a religião nos ensina, logo, no conteúdo da Sagrada Escritura e em todos os ensinamentos do Evangelho, enfim, em tudo o que nos é proposto pela Igreja. O justo vive realmente desta Fé (Rm 1,17) porque, para ele, ela substitui a maior parte dos sentidos da natureza. Ela transforma de tal modo todas as coisas, que os sentidos antigos já mal podem servir à alma: por eles, ela só percebe aparências enganadoras; a Fé mostra-lhe as realidades.
O olho mostra-lhe um homem pobre; a Fé mostra-lhe Jesus (cf Mt 25,40). O ouvido fá-lo ouvir injúrias e perseguições; a Fé canta-lhe: «Alegrai-vos e rejubilai de alegria» (cf. Mt 5,12). O tacto faz-nos sentir o apedrejamento recebido; a Fé diz-nos: «Sentiram grande alegria por terem sido considerados dignos de sofrer alguma coisa pelo nome de Cristo» (cf Act 5,41). O olfacto faz-nos sentir o incenso; a Fé diz-nos que o verdadeiro incenso «são as orações dos santos» (Ap 8,4).
Os sentidos seduzem-nos pelas belezas criadas; a Fé pensa na beleza incriada e compadece-se de todas as criaturas, que são um nada e uma poeira ao lado dessa beleza. Os sentidos têm horror à dor; a Fé bendi-la como a coroa do matrimónio que a une ao seu Bem-amado, a caminhada com o Esposo, a mão na Sua mão divina. Os sentidos revoltam-se contra a injúria; a Fé abençoa-a: «Abençoai os que vos maldizem» (Lc 6,28), achando-a doce porque significa partilhar o destino de Jesus. Os sentidos são curiosos; a Fé nada quer conhecer: anseia por ser sepultada e quereria passar toda a sua vida imóvel ao pé do tabernáculo.
Beato Carlos de Foucauld (1858-1916) eremita e missionário no Saara in Retiro feito em Nazaré (1897)
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