sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A incrível história de Santa Filomena

Santa Filomena foi uma mártir do séc. III, conhecida mundialmente pelos seus muitos milagres. Muitos santos tinham-lhe grande devoção, como São Pio X, São João Maria Vianney, São Bartolomeu Longo ou São Pio de Pietrelcina, o Padre Pio.

Segue-se a descrição da vida de Santa Filomena extraída do relato oficial do Padre Francesco di Lucia, intitulado 'Relazione Istorici di Santa Filomena', e subsequentes actualizações, a partir das locuções recebidas pela irmã Luísa de Jesus em Agosto de 1833; relatos estes que receberam autorização oficial do então Santo Ofício (hoje a Congregação para a Doutrina da Fé) a 21 de Dezembro de 1833:

«Minha querida irmã, sou a filha de um Príncipe que governava uma pequena cidade-estado na Grécia. A minha mãe era também de sangue real. Os meus pais não tinham filhos. Eles eram idólatras; continuamente ofereciam sacrifícios e orações aos falsos deuses. Um doutor proveniente de Roma, chamado Publius, vivia no palácio ao serviço de meu pai. Este doutor professava o Cristianismo. Vendo a aflição dos meus pais, pelo impulso do Espírito Santo, falou-lhes do Cristianismo, e prometeu rezar por eles se eles consentissem em receber o Baptismo.

A Graça que acompanhava as suas palavras iluminou-lhes a razão e triunfou sobre as suas vontades. Eles tornaram-se cristãos e obtiveram a tão desejada felicidade que Publius lhes havia assegurado, como recompensa da sua conversão. No momento de meu nascimento, eles deram-me o nome de 'Lumena', uma alusão à luz da Fé da qual eu tinha sido. No dia de meu Baptismo, eles chamaram-me 'Filomena', ou 'Filha da Luz', porque naquele dia eu nascera para a Fé.

A afeição que os meus pais tinham por mim era tanta que eles me tinham sempre consigo. Foi por conta disto que me levaram a Roma numa viagem que meu pai foi obrigado a fazer por ocasião de uma guerra injusta com a qual ele foi ameaçado pelo arrogante Imperador Diocleciano. Eu tinha então 13 anos. Fomos conduzimos ao palácio do Imperador e recebidos numa audiência.

Tão logo Diocleciano me viu, os seus olhos fixaram-se sobre mim. Ele aparentava estar perturbado a este respeito durante todo o tempo em que meu pai estava a falar com sentimentos animados tudo o que pudesse servir para sua defesa. Tão logo o meu pai cessou de falar, o Imperador disse-lhe que não mais ficasse preocupado, que banisse todo o medo, que pensasse apenas em viver em felicidade.

Estas foram as palavras do Imperador, “Eu colocarei à sua disposição toda a força do Império. Eu peço apenas uma coisa, que é a mão da sua filha”.

Meu pai, ofuscado com uma honra que lhe era distante de ser esperada, livre e instantaneamente aderiu à proposta do imperador. Quando retornamos a nossa casa, os meus pais fizeram de tudo que podiam para induzir-me a sucumbir às vontades de Diocleciano e deles mesmos.

Eu chorei, e disse: “Desejam que, pelo amor de um homem, eu quebre a promessa que fiz a Jesus Cristo? A minha virgindade pertence-Lhe. Eu não mais posso dispor dela.”

“Mas tu eras jovem, demasiadamente jovem para ter formado tal compromisso”, respondeu o meu pai. Ele juntou as mais terríveis ameaças à ordem que havia me dado de aceitar a mão de Diocleciano. A Graça do meu Deus tornou-me invencível, e o meu pai, não sendo capaz de dissuadir o Imperador, de forma a libertar-se da promessa que fizera, foi obrigado por Diocleciano a levar-me à presença do Imperador.

Tive que resistir por algum tempo diante da fúria do meu pai. A minha mãe, unindo os seus esforços aos dele, decidiu fazer qualquer coisa de forma a conquistar minha determinação. Carinhos, ameaças, tudo foi empregue de forma a reduzir-me à submissão. Cheguei a vê-los ambos caírem aos meus joelhos e dizer-me com lágrimas nos olhos: “Minha criança, tem piedade do teu pai, da tua mãe, do teu país, do nosso país, das nossas pessoas.”
“Não! Não”, respondi. “A minha virgindade, que eu consagrei a Deus, vem antes de tudo, antes de vocês, antes do meu país. O meu reino é o Céu.”

As minhas palavras mergulharam-nos em desespero, e eles levaram-me diante do Imperador, que da sua parte fez de tudo para me vencer. Contudo, as suas promessas, as suas seduções, as suas ameaças foram igualmente inúteis. Foi tomado por uma súbita ira e, influenciado pelo Demónio, lançou-me numa das prisões do palácio, onde me manteve aprisionada com correntes. 

Pensando que a dor e a vergonha me iriam enfraquecer a coragem com que o meu Divino Esposo me tinha inspirado, ele vinha ver-me todos os dias. Depois de vários dias, o Imperador deu ordem para que as minhas correntes fossem afrouxadas, para que eu pudesse tomar uma pequena porção de pão e água.

Ele renovou os seus ataques, alguns dos quais teriam sido fatais à pureza não fosse pela Graça de Deus. As derrotas que ele experimentava eram também prelúdio de novas torturas para mim. A oração era o meu sustento. Eu não cessava de me recomendar a Jesus e à sua mais pura Mãe. O meu cárcere havia já durado 37 dias, quando, no meio de uma luz celestial, eu vi Maria que segurava o Divino Filho nos seus braços.

“Minha filha”, disse, “mais três dias de prisão e depois de 40 dias deixarás este estado de dor.” Esta boa notícia fez com que o meu coração pulasse de alegria. Mas a Rainha dos Anjos acrescentou que eu iria sair da minha prisão, para sustentar, em tormentos amedrontadores, um combate muito mais terrível que aqueles precedentes. Caí instantaneamente da alegria para a mais cruel angústia; pensei que isto iria matar-me.

“Tenha coragem, minha criança”, disse Nossa Senhora, “não estás ciente do predilecto amor que guardo por ti? O nome que recebeste no baptismo é a tua segurança, pela semelhança com o nome do meu Filho e com o meu. Chamas-te 'Lumena', como o teu Esposo é chamado por Luz, Estrela, Sol, como eu mesma sou chamada por Aurora, Estrela, a Lua no esplendor do seu brilho, e Sol. Não tenhas medo, ajudar-te-ei. A natureza, que agora te humilha, assevera as suas leis. No momento do combate, a Graça virá emprestar-te a sua força. O teu Anjo, que também foi meu, Gabriel, cujo nome expressa fortaleza, virá em teu auxílio. Eu recomendar-te-ei especialmente ao seu cuidado, como a bem amada dos meus filhinhos.”

Estas palavras da Rainha das Virgens deu-me coragem novamente, e a visão desapareceu, deixando a prisão repleta de um perfume celestial. Experimentei uma alegria fora deste mundo. Algo indefinível. Aquilo para o qual a Rainha dos Anjos me preparou foi logo experimentado. Diocleciano, desesperado em dobrar-me, decidiu pôr um castigo público que ofendesse a minha virtude. Ele condenou-me a ser despida e açoitada como o Esposo que eu preferi. Estas foram as suas horrificantes palavras: 

“Dado que ela não está envergonhada de preferir a um Imperador como eu um malfeitor condenado a uma morte infame pela sua própria gente, ela merece que a minha justiça a trate como ele foi tratado”.

Os guardas da prisão hesitaram em despir-me inteiramente, mas eles ataram-me a uma coluna na presença de um grande homem da corte. Chicotearam-me com violência, até que eu estivesse banhada em sangue.O meu corpo inteiro parecia uma única ferida aberta, mas não sucumbi. O tirano arrastou-me de volta ao cárcere, aguardando que eu morresse. Eu esperava juntar-me ao meu Divino Esposo. Dois anjos, resplandecentes de luz, apareceram na escuridão. Eles vertiam um confortante bálsamo nas minhas feridas, garantindo-me um vigor que eu não possuía antes da tortura. Quando o imperador foi informado da mudança que se operou em mim, mandou chamar-me

Ele olhou para mim e ficou estupefacto. Tentou persuadir-me de que eu devesse a minha cura e vigor renovado a Júpiter, um outro deus, que ele, o Imperador, me tinha enviado. Ele tentou impressionar-me com a sua crença de que Júpiter me desejava para ser a Imperatriz de Roma. Juntando a estas palavras sedutoras promessas de grandes honrarias, incluindo as mais bajuladoras palavras, Diocleciano tentou acariciar-me. Amigavelmente, tentou completar o trabalho do Inferno que ele havia iniciado. O Divino Espírito, a Quem eu sou devedora pela constância em preservar minha pureza, parecia encher-me com luz e conhecimento. A nenhuma das provas que lhes dei a respeito da solidez da nossa Fé, nem Diocleciano nem os seus cortesãos puderam encontrar qualquer resposta. 

Então, a sua insanidade de Imperador voltou, ordenando a um guarda que me prendesse a uma âncora em volta de meu pescoço e enterrar-me nas águas do rio Tibre. A ordem foi executada. Fui lançada dentro d’água, mas Deus enviou-me dois anjos que me desamarraram da âncora. Os anjos transportaram-me gentilmente à vista da multidão até o leito do rio. Voltei ilesa, depois de ser imersa juntamente com a pesada âncora. Este milagre felizmente produziu efeitos sobre uma grande número dos espectadores, e eles converteram-se à fé. Mas Diocleciano atribuiu a minha preservação a uma mágica secreta.

Então, o Imperador fez com que eu fosse arrastada pelas ruas de Roma e que fosse alvejada por uma saraivada de flechas. O meu sangue verteu, mas não desanimei. Diocleciano pensou que eu estava para morrer e ordenou aos guardas que me conduzissem de volta ao cárcere. 

Novamente ali, o Céu honrou-me com mais um novo favor. Caí num doce sono, e encontrei-me perfeitamente curada quando acordei. Diocleciano sabendo disto: “Bem, então,” ele gritou com veemência, “deixemo-la ser transpassada com flechas pontiagudas uma segunda vez, e deixemo-la morrer durante a tortura.” 

Novamente, os arqueiros curvaram os seus arcos. Eles acumularam toda a sua força, mas as flechas recusaram-se a seguir as suas intenções. O Imperador estava presente. Transtornado, chamou-me de bruxa. Pensando que a acção do fogo pudesse destruir o encanto, ordenou que as flechas fossem tornadas incandescentes numa fornalha e apontados para o meu coração.

Foi obedecido mas estas flechas, depois de terem percorrido uma parte da distância devida para me atingir, tomaram a direcção contrária e retornaram para atingir aqueles pelos quais haviam sido arremessadas. Seis dos arqueiros foram mortos por elas. Muitos deles renunciaram ao paganismo, e o povo começou a render testemunho público ao poder de Deus que me protegera. 

Estes murmúrios e aclamações enfureceram o tirano. Ele determinou que apressassem a minha morte ordenando que eu fosse decapitada. A minha alma alçou vôo em direcção de meu celestial Esposo, que me colocou, com a coroa da virgindade e a palma do martírio, num lugar distinto entre os eleitos.

O dia que foi tão feliz para mim e me viu entrar na glória foi uma Sexta-Feira, e a hora da minha morte foi a terceira hora depois do meio dia, ou seja, a mesma hora que viu o meu Divino Mestre expirar.»


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


Ainda bem, que este texto existe, porque, há alguns anos, era eu adolescente, retiraram a Imagem de Santa Filomena de um altar da minha Paróquia, afirmando que ela nunca existiu, segundo investigações feitas, e udo tinha sido um erro de tradução, relativamente, ao seu nome.
Claro, que nem preciso dizer em que Época foi...
Obrigada, porque lembro-me de ter ficado muito confusa e triste, nessa altura.