quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O novo treinador da selecção nacional de futebol: Um homem de fé

Não o esconde, nunca o escondeu: Fernando Santos é católico praticante, cursista, e todas as semanas, no Porto, se reúne com os muitos que procuram pela fé a força e a paz interior para enfrentar o seu dia a dia.

Como é que Fernando Santos transpõe tudo isso, domingo a domingo, para um campo de futebol onde, naturalmente, é sempre preciso ganhar, vencer o opositor...

Fernando Santos: Isso não contradiz em nada as minhas convicções religiosas. Em nada, mesmo. Aliás, o Evangelho diz claramente que nós devemos procurar ser sempre melhores, o que não devemos é fazer isso na disputa com os outros, pisando-os, ultrapassando-os, usando quaisquer métodos ou meios para atingir os fins! E propõe-nos que sejamos na vida melhores cidadãos, melhores cristãos, melhores em termos de família, de pai, de filho. Ora, se nos propõe tudo isto, se nos pede sermos melhores cidadãos, impõe que respeitemos os direitos dos outros procurando, por meios naturais, ser também melhor, para ser um bom exemplo.

Nesse aspecto não me parece que a fé e a profissão colida nalguma coisa. A mim ajuda-me bastante porque me dá a paz interior - comigo e não só comigo - muito importante para a vida profissional.

Amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo no sentido de o respeitar, são mandamentos que procuro cumprir mesmo nesta minha profissão.

Mas isso não quer dizer que não queira ser o melhor ou que abdique de o ser.

Porque se benze quando chega ao banco?

Fernando Santos: Porque entrego o meu trabalho a Deus. Faço isso todos os dias logo que me levanto.

Superstição?

Fernando Santos: Não tem nada a ver com isso. Zero com a superstição. Todos os dias, de manhã, ofereço o meu dia a Deus e ponho nas mãos Dele todas essas horas.

Quando me deito, agradeço-lhe tudo o que me deu. E no entanto os meus dias não têm só coisas boas, também têm coisas más. Mas isso só me leva a agradecer mais, a dizer-Lhe obrigado por estar vivo, obrigado por estar acordado, obrigado por poder trabalhar, obrigado, se calhar, pelas chatices que me Deste. No jogo, é um momento muito importante da minha vida e, ao benzer-me, estou a oferecer a Deus aquelas minhas horas de trabalho, para louvar de Deus e não para meu louvor. Tal como quando acaba o jogo me volto a benzer para agradecer a Deus aquele meu trabalho.

in jornal Record (2-I-2000)


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