O mundo parece esquecer-se cada vez mais de Deus. Ou antes: procura, como Adão, construir um deus à sua medida. Com efeito, o “divino” ou aquilo que diga respeito a uma outra eventual dimensão da vida humana que não aquela que vivemos neste momento e neste lugar da história, continua a estar presente (e muito) no nosso quotidiano. Habitualmente associado ao medo e ao horror. Como se não nos bastasse o mundo em que vivemos.
Longe vão os tempos dos racionalistas empedernidos, onde tudo era (ou parecia ser) fruto daquela lógica fria que a razão humana, com todos os seus limites, conseguia estabelecer: com um certo estoicismo, todos os comportamentos eram determinados pela lógica e pelo pensamento.
Da insuficiência da razão, resultou depois uma atitude contrária, onde tudo é sentimento, opinião, “apetecer” e “achar”. Colocámos a razão de lado. Vivemos consoante nos apetece, sem pensar, e querer assumir as responsabilidades pelo que fazemos, dizemos ou somos. Pelo menos nos tempos livres, porque no trabalho há que seguir as normas e as regras, em grande parte ditadas pela fria razão económica. Por isso muitos detestam o trabalho, ainda que o reconheçam essencial para sobreviver.
E o ser humano sente-se ou cada vez mais prisioneiro de si e das suas decisões, ou estupidamente inconsciente, a vaguear numa espécie de vazio em que transformou a sua vida.
Bem diferente é o Reino de Deus. Àquele que vive com Deus é dada a liberdade de ser. Não apenas aquela liberdade que todos os seres humanos vivem por sua natureza, mas a própria liberdade infinita que nos é dada a partilhar cada vez mais à medida que nos deixamos conhecer por Deus – e, assim, podemos ser nós próprios, conscientes das diferentes opções que tomamos e responsáveis por elas, mas com um horizonte de vida que vai muito para além do momento.
Sem que nos seja descartada a responsabilidade dos nossos actos, das nossas escolhas ou palavras, o seu peso é partilhado por Deus. E o jugo torna-se suave. E, depois, o cuidado do irmão – daquele que, ao nosso lado e connosco, de um modo ou de outro, é igualmente convidado a perceber Deus presente na sua vida.
Longe de nos tirar o que quer que seja, a senhoria de Deus na nossa vida dá-nos tudo, porque tudo é dom da Sua bondade.
in Voz da Verdade
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