segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Preocupados com o próximo Sínodo? - Cardeal Dolan responde

Cardeal Timothy Dolan in cny.org
No passado dia 2 de Fevereiro celebrou-se a Festa da Apresentação do Senhor, que é quando celebramos - não o dia da Marmota [Groundhog day] - mas a chegada do menino Jesus - com 40 dias - ao Templo, trazido pela sua Santíssima Mãe e São José, para ser consagrado ao Senhor. É o quarto mistério Gozoso do Rosário e, de acordo com um antiga tradição Católica, o fim do tempo de Natal, que dura 40 dias.

Festa da Vida Consagrada
Desde 1997, esta festa tem sido celebrada como o Dia Mundial para a Vida Consagrada, como São João Paulo II explicou quando a instituiu: A Virgem Mãe que leva Jesus ao templo para que ele possa ser oferecido ao Pai expressa muito bem a figura da Igreja que continua a oferecer os seus filhos e filhas ao Pai Celestial, associando-o com a única oblação de Cristo, causa e modelo de toda a consagração na Igreja."

Este ano, o Dia Mundial para a Vida Consagrada toma um significado adicional, dado calhar dentro do Ano da Vida Consagrada, declarado pelo nosso Santo Padre, Papa Francisco, que ele próprio viveu a vida consagrada, como membro da Companhia de Jesus. Este ano especial - que começou no Primeiro Domingo do Advento, em Novembro passado, e que continua até à Festa da Apresentação do próximo ano - convida todos os Católicos a dar graças a Deus pelo dom dos nossos irmãos e irmãs religiosos e por todos os consagrados ao Senhor. Rezamos por eles, pela sua santidade e felicidade e pela vibração dos carismas que vivem. Que sejam abençoados com muitas novas vocações, porque a Igreja precisa mesmo da vida consagrada!

Já falei muitas vezes sobre a grande benção que as irmãs religiosas foram para mim e para a minha família quando eu estava a crescer e como forma essenciais em ensinar-se a fé e em maturar em mim a minha vocação sacerdotal. Hoje dou graças por todos os homens e mulheres consagrados que servem tão bem a Arquidiocese de Nova Iorque, cuja história é em grande parte a história do seu zelo heróico. Agradeço-lhes e saúdo-os pelo seu serviço ao ao Senhor e pelo seu testemunho aos seus respectivos discípulos. Também estou contente porque na nossa arquidioecese temos várias comunidades que estão a crescer tanto em número e confiança na missão que o Senhor lhes confiou. Que o seu número possa aumentar!

Precisamo de homens e mulheres consagradas porque, como escreve o Papa Francisco, "o velho ditado será sempre verdade: 'Onde há religiosos, há alegria'. Somos chamados a conhecer e a mostra que Deus é capaz de encher os nossos corações até ao fim com felicidade; que não precisamos de procurar felicidade em mais lado nenhum; que a autêntica fraternidade que se encontra nas nossas comunidades aumenta a nossa alegria; e que a nossa entrega total ao serviço da Igreja, das famílias e dos jovens, dos idosos e dos pobres, traz-nos uma realização pessoal para vida inteira."

Juntamos hoje as nossas orações a toda a Igreja universal, agradecendo a Deus pelo dom da vida consagrada e por todos os que a vivem generosamente e com fidelidade!

Uma festa para a Vida da Família
Esta festa da Apresentação do Senhor também tem uma dimensão familiar. Na história bíblica vemos a Sagrada Família ser fiel ao costume judaico; vir ao templo de Jerusalém, um sítio onde regressariam frequentemente, dando-nos um modelo de oração e adoração na vida de família. De facto, é a oração em família que muitas vezes faz com que os jovens respondam com alegria e generosidade à vocação à vida consagrada. São João Paulo II lembrou-nos desta verdade no seu grande texto para a vida consagrada, Vita Consecrata:
"Temos que nos lembrar que, se os pais não viverem os valores do Evangelho, os rapazes e as raparigas vão ter grande dificuldade em discernir o chamamento, a perceber a necessidade de sacrifícios que têm que ser enfrentados e a apreciar a beleza do objectivo que se deve ser atingido. Pois é na família que os jovens têm a sua primeira experiência dos valores do Evangelho e do amor que se dá a si mesmo a Deus e aos outros. Eles também precisam de ser treinados no uso responsável da sua própria liberdade, para que se preparem para viver, como exige a sua vocação, de acordo com as realidades espirituais mais elevadas.
Rezo para que vós, famílias Cristãs, unidas ao Senhor através da oração e da vida sacramental, criem lares onde as vocações são bem recebidas."

A ligação entre vida familiar e a vida consagrada é essencial. Ambos são necessárias para a vida da Igreja e para a vida da socidade como um todo. Uni-me com entusiasmo às palavras que o Santo Padre na sua recente visita apostólica ao Sri Lank e Filipinas, quando falou da alegria que o levou a encontrar-se com as famílias, em particualr as famíilias grandes. "As familias saudáveis são essenciais para a vida de uma sociedade," disse o Papa Francisco. "Dá consolo e esperança ver tantas famílias grandes que aceitam os filhos como um dom de Deus. Elas sabem que cada criança é uma benção."

Em direcção ao Sínodo sobre a Família
Celebramos esta Festa da Apresentação entre dois encontros importantes do Sínodo dos Bispos sobre a vocação e a missão da família. No passado Outubro tivemos uma "assembleia extraordinária" para nos preparar para a "assembleia ordinária" do próximo Outubro. Houve uma atenção enorme dada ao trabalho do Sínodo, o que é uma oportunidade evangelizadora, mesmo se em certas alturas os acontecimentos do Sínodo e a sua cobertura pelos media causaram confusão. Sempre que o espírito das confusões mundanas aparece, temos que regressar com maior oração e atenção à Palavra de Deus, para que possamos apreciar novamente a verdade de Jesus Cristo, o fundamento da nossa comunhão como Seus discípulos.

A preparação para o Sínodo requer oração por toda a Igreja, para que os seus pastores possa ser guiados pelo Espírito de Deus e não o espírito do mundo de que o Santo Padre tantas vezes nos avisou. Por essa razão, o Papa Francisco o ano passado escolheu esta festa para escrever uma especial Carta às Famílias, convidando toda a Igreja a oferecer sinceras orações pelo Sínodo. O Santo Padre escreveu isto às famílias:

"Este [Sínodo] vai envolver todo o Povo de Deus - bispos, sacerdotes, homens e mulheres consagrados e fiéis leigos de igreja particulares de todo o mundo - em que todos estão a participar activamente nas preparações para este encontro, com sugestões práticas e o apoio crucial da oração. Tal apoio da vossa parte, queridas famílias, é especialmente significativo e mais importante do que nunca. Esta assembleia sinodal dedica-se especialmente a vós e à vossa vocação e missão na Igreja e na sociedade; aos desafios do casamento, da vida familiar, da educação dos filhos; e ao papel da família na vida da Igreja. Peço-vos, portanto, para rezarem intensamente ao Espírito Santo, para que o Espírito ilumine os Padres Sinodais e os guie na sua importante tarefa."

Estamos ansiosos por receber o Santo Padre em Nova Iorque em Setembro. O objectivo principal da sua visita aos Estados Unidos é participar no Encontro Mundial das Famílias, que vai ser em Filadélfia. Ele vai visitar Nova Iorque no contexto desse encontro, apenas alguns dias antes do Sínodo da Família. Não era maravilhoso se pudéssemos dizer ao Papa Francisco, quando nos visitar, que temos estado a rezar "intensamente ao Espírito Santo" pelo Sínodo, tal como ele nos pediu?

Guiados pelo Papa da Família
A escolha desta festa, no ano passado, para a carta do Santo Padre às famílias foi deliberada. O Papa Francisco queria comemorar com esta carta o vigésimo aniversário de outra Carta às Famílias, que São João Paulo II escreveu a 2 de Fevereiro de 1994. Lembrar-se-ão que na Missa de canonização de João Paulo II, no último Domingo da Divina Misericórdia, o Papa Francisco invocou especificamente o nosso novo santo no contexto de preparação para o Sínodo:

"No seu próprio serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o papa da família. Ele próprio disse uma vez que queria ser lembrado como o Papa da Família. Estou particularmente contente de dizer dado estarmos no processo de caminhar com as famílias em direcção ao Sínodo da Família. É certamente um caminho que, do seu lugar no Céu, ele guia e sustém."

A orientação de São João Paulo é indispensável, como indicou o Papa Francisco. Espero que os ensinamentos do Papa S. João Paulo II sejam centrais no sínodo de Outubro. São João Paulo II é o grande apóstolo da família dos nossos tempos. Para além do seu cuidado memorável das famílias em Cracóvia como jovem sacerdote e Bispo, ele deu-nos dois documentos importantíssimo que precisam de ser estudado com profundidade: a Familiaris Consortio, fruto do Sínodo para a Família de 1980, publicado a 22 de Novembro de 1981; e a Carta às Famílias, publicada nesta festa em 1994, para marcar o Ano da Família, declarado pelas Nações Unidas. São João Paulo ensinou-nos melhor que ninguém dos nossos tempos que a doutrina e a prática pastoral estão inseparavelmente ligadas e que o objectivo da prática pastoral é apresentar fielmente a verdade do Evangelho precisamente como uma boa nova para as famílias de hoje. O magistério da família de São João Paulo, que toca questão tão complexas e contestadas, é, portanto, um guia indispensável para o trabalho do Sínodo.

Para aqueles Católicos que se perturbaram com algumas notícias sobre o último Sínodo, eu recomendo que rezem fervorosamente a João Paulo, o santo Papa da família, para que guie a Igreja do Céu. Não é possível imaginar que o Sínodo não aprofundasse os ensinamentos de São João Paulo II. Pelo contrário, em vez de contrariar os ensinamentos da Familiaris Consortio  e da Carta às Famílias, o Sínodo tem como tarefa fortalecer esses ensinamentos. Mais para o fim da Carta às Famílias, São João Paulo faz-nos um convite que é hoje muito relevante:

"A história da humanidade, a história da salvação, passa pela família. Nestas páginas eu tentei mostrar como a família está no centro de uma grande batalha entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o amor e tudo o que se opõe ao amor. É confiada à família a tarefa de lutar, em primeiríssimo lugar, para soltar as forças do bem, cuja fonte se encontra em Cristo, Salvador do homem... O que eu faço é, então, um convite: um convite dirigido especialmente a vós, queridos maridos e esposas, pais e mães, filhos e filhas. É um convite a todas as igrejas particulares a manterem-se unidas aos ensinamentos da verdade apostólica."

Ensinar a verdade apostólica é a tarefa dos Bispos e, portanto, a tarefa de todos os Sínodos dos Bispos. O próximo Sínodo tem que "assegurar que a Igreja se mantém na verdade de Cristo" ao apresentar os ensinamentos do Senhor Jesus essencialmente como boas notícias para a família de hoje.

Acabo estes breves pensamentos sobre a Festa da Apresentação do Senhor com o coração cheio de acção de graças a Deus pelos inumeráveis exemplos de santidade que nos rodeiam aqui - em inúmeras famílias santas e felizes, que me inspiram e em tantos homens e mulheres consagrados, de cujas orações todos nós tanto dependemos!

O Ano da Vida Consagrada, o Encontro Mundial das Famílias, a visita papel a Nova Iorque, o Sínodo dos Bispos - este ano que aí vem está cheio de bençãos para a nossa arquidiocese, para a Igreja nos Estados Unidos, para a Igreja universal. Abram os vossos corações a tudo o que o Senhor Jesus nos desejar dar este ano!

Jesus, Maria e José, roguem por nós!


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