quarta-feira, 12 de maio de 2021

O significado extraordinário da mensagem profética de Fátima

A inefável sabedoria e misericórdia da Divina Providência dá a cada época da história humana e da história da Igreja aqueles meios de ajuda mais necessários para curar as feridas espirituais e salvar os homens dos grandes desastres espirituais e materiais. Deus intervém normalmente nos momentos mais críticos da história humana e sagrada através dessas profecias autênticas, que são examinadas e aceitas pela Igreja. Tais intervenções divinas ocorreram no decurso da história da Igreja e ocorrerão até o fim dos tempos.

O Magistério da Igreja diz no Catecismo da Igreja Católica: “A economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e já não se há-de esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos. No decurso dos séculos tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja” (n° 66-67).

As aparições ocorridas em Fátima no ano de 1917 podem ser consideradas como um dos exemplos mais proeminentes dos dons e carismas proféticos na história da Igreja. Deus enviou Sua Mãe Imaculada em Fátima em 1917, e a santa Mãe de Deus fez ressoar seus urgentes apelos maternos tendo em vista os graves perigos espirituais nos quais se encontrava toda a família humana no início do século XX. Os avisos da Santa Virgem se revelaram verdadeiramente proféticos à vista do estado inaudito de incredulidade, ateísmo e revolta direta contra Deus e Seus mandamentos até nossos dias. Durante o século XX, a vida privada e pública se caracterizaram por uma vida sem Deus e contra Deus, especialmente através das ditaduras ateístas da Maçonaria (por exemplo, aquela do México nos anos vinte), do nacional-socialismo de Hitler na Alemanha, do comunismo soviético (em países da antiga União Soviética) e do comunismo maoísta na China.

Neste início do século XXI está sendo travada, em nível quase global, a guerra contra Deus e Cristo, e contra os mandamentos divinos, particularmente por meio do ataque blasfemo à criação divina do ser humano como masculino e feminino, utilizando-se para isso o ataque da ditadura da ideologia de gênero e da legitimação pública de toda espécie de degradação sexual.

No século XX a Rússia era comunista e o instrumento mais poderoso e de longo alcance na difusão do ateísmo da guerra contra Cristo e Sua Igreja. Este ataque era explícito e frontal. Por meio da Revolução Bolchevique de outubro de 1917, satanás começou a usar o maior país do mundo e a maior nação cristã oriental para lutar abertamente contra Cristo e Sua Igreja. Em 13 de julho de 1917, quando a Virgem Maria falou sobre o perigo iminente que constituiria a Rússia na divulgação de seus erros pelo mundo, ninguém podia imaginar o cenário realmente apocalíptico da perseguição da Igreja e da propaganda do ateísmo que a Rússia começaria alguns meses mais tarde, até o final de outubro de 1917. Com isso, as aparições em Fátima demonstraram seu caráter extraordinariamente profético.

Como principal remédio contra o ateísmo teórico e prático no qual a humanidade entrou na atual época histórica, a Santíssima Virgem Maria indicou a recitação do Santo Rosário, o culto e a devoção ao seu Imaculado Coração com a prática dos cinco primeiros sábados, e a consagração da Rússia ao seu Coração Imaculado, consagração que deveria ser feita pelo Papa em união com todo o episcopado.

O desprezo pelos mandamentos de Deus significa impiedade e a impiedade leva muitas almas à condenação eterna. Em sua mensagem de Fátima a Mãe de Deus indicou os pecados contra a castidade e o desprezo pela santidade do casamento como as causas mais frequentes da condenação eterna das almas. A Virgem Maria disse à Beata Jacinta que “os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne e que serão introduzidas certas modas que ofenderão muito a Nosso Senhor. Aqueles que servem a Deus não deveriam seguir essas modas. A Igreja não tem modas: Nosso Senhor é sempre o mesmo”. Além disso, Nossa Senhora disse que “muitos casamentos não são bons; eles não lhe agradam e não são de Deus”. São João Maria Vianney, o Cura d'Ars, falava de forma análoga em seus sermões: “Qão pouco a pureza é conhecida no mundo; quão poucos a apreciam; quão poucos se esforçam para preservá-la; quão pouco zelo temos em pedi-la a Deus, pois não podemos tê-la por nós mesmos. A pureza não é conhecida daqueles notórios e endurecidos libertinos que se abandonam às suas depravações. Em que estado estará uma alma assim, quando aparecer diante de Deus! Pureza! Ó Deus, quantas almas esse pecado arrasta para o inferno!”.

O caráter profético das palavras de Nossa Senhora tornou-se tão evidente em nossos dias, que até na vida de algumas igrejas católicas particulares os pecados da carne e as uniões adúlteras são na prática aprovados através do ministério chamado “pastoral” da admissão à Sagrada Comunhão das pessoas divorciadas que intencionalmente continuam a ter relações sexuais com alguém que não é seu cônjuge legítimo. Tal pseudo-pastoral será responsável pela condenação eterna de muitas almas, porque tal prática incentiva os homens a continuarem a pecar, ofendendo a Deus e desprezando os Seus mandamentos. A Bem-aventurada Virgem Maria disse à Beata Jacinta: “Se os homens soubessem o que é a eternidade, fariam qualquer coisa para mudar suas vidas. Os homens se perdem porque não pensam na morte de Jesus e não fazem penitência”.

A Mãe de Deus veio a Fátima sobretudo para fazer um apelo urgente e materno, a fim de salvar as almas da condenação eterna. Ela mostrou, portanto, às crianças a realidade indizivelmente horrível do inferno. Ao mesmo tempo, apontou o caminho da penitência como o único meio de evitar o inferno. Esta via da penitência tem uma dupla dimensão: atos de penitência como meio para doravante cessar de pecar, e como atos de reparação pelos próprios pecados e atos de penitência vicária em reparação pelos pecadores com vista à sua conversão. Na terceira parte do segredo de Fátima Deus nos dá a seguinte imagem chocante, com o convite de fazer penitência: “Vimos no lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco acima, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; cintilando, despedia chamas que pareciam incendiar o mundo; mas se apagavam [spegnevano] em contato com o esplendor que Nossa Senhora irradiava de sua mão direita para ele: o Anjo, apontando para a terra com a mão direita, disse em alta voz: ‘Penitência, Penitência, Penitência!’.

A Igreja deve em nossos dias proclamar novamente com vigor a verdade divina sobre a realidade da condenação eterna e do inferno, para salvar as almas imortais que poderiam do contrário perder-se por toda a eternidade. A existência de um inferno eterno é uma verdade de fé definida pela Igreja nos concílios, nos símbolos da fé e nos documentos do Magistério. Nossa Senhora de Fátima considerou essa verdade de tal modo importante e pastoralmente eficaz, que mostrou às pequenas crianças o inferno. Irmã Lúcia disse: “Esta visão durou apenas um instante, graças à nossa boa Mãe do Céu, que em sua primeira aparição tinha prometido nos levar para o Céu. Sem essa promessa, acho que teríamos morrido de terror e medo.” Nossa Senhora disse então às crianças: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Coração Imaculado.”

A Irmã Lúcia continua a narrar em seguida: “Jacinta continuava sentada na pedra, pensativa, e perguntou: – Essa senhora também disse que vão muitas almas para o lnferno! O lnferno nunca termina. E nem o Céu. Quem vai para o Céu não sai mais de lá. E tampouco aqueles que vão para o lnferno. Não vê que são eternos, que nunca terminam? Façamos, então, pela primeira vez, a meditação sobre o Inferno e a Eternidade. O que mais impressionou Jacinta foi a Eternidade” (Irmã Lúcia, Memórias, 45-46). Jacinta, pouco antes de morrer, disse: “Se os homens soubessem o que a eternidade, eles fariam todo o possível para mudar suas vidas. Mortificação e sacrifícios agradam muito ao nosso Divino Senhor.”

O exemplo da Beata Jacinta, mostrado na seguinte citação, deveria nos mover profundamente, e em primeiro lugar a todos os sacerdotes e fiéis, empurrando-nos para as palavras e ações concretas: “A visão do inferno lhes havia causado tanto horror, que todas as penitências e mortificações lhes pareciam nada, para conseguirem libertar algumas almas de lá.” Jacinta com frequência se sentava no chão ou em alguma rocha, e pensativa começava a dizer: “O inferno! O inferno! Como me causam dor as almas que vão para o inferno!” Voltando-se para mim e o Francisco, dizia: “Francisco! Francisco! Não estais a rezar comigo? Precisamos rezar muito para salvar as almas do inferno. Tantos vão para lá, tantos.” Outras vezes, perguntava: “Mas por que Nossa Senhora não faz ver o inferno aos pecadores? Se eles o vissem, não pecariam mais para não se condenarem. Por pouco que aquela Senhora fizesse ver o inferno a todas aquelas pessoas (referindo-se aos que estavam na Cova da Iria no momento da aparição), veríeis como se converteriam”. 

Às vezes perguntava simplesmente: – Mas que pecados serão aqueles que fazem essas pessoas irem para o inferno? – Não sei. Talvez o pecado de não ir à missa no domingo, de roubar, de falar palavrões, de desejar o mal, de jurar... Como tenho dó dos pecadores Se eu pudesse mostrar-lhes o inferno! De repente às vezes agarrava-se a mim e dizia: – Eu vou para o céu, mas tu ficas aqui. Se Nossa Senhora permitir, dize a todos como é o inferno, para que não cometam mais pecados e não vão para lá. Outras vezes, após estar um pouco pensativa, dizia: – Tanta gente que vai para o inferno! Tanta gente no inferno! – Não tenhas medo, tu vais para o céu! – dizia-lhe para tranquilizá-la. – Eu, sim, vou – dizia com calma –, mas desejo que toda aquela gente também vá.”

Um significado particularmente importante da mensagem de Fátima consiste em lembrar a Igreja e os homens do nosso tempo a realidade do pecado e suas catastróficas e destrutivas consequências. Por que possui o pecado intrinsecamente tal gravidade e tragédia? Porque o pecado ofende a Deus, ofende Sua infinita majestade, Sua infinitamente santa e sábia vontade. Esta é precisamente a causa da malícia inconcebível do pecado. Nossa Senhora dizia às crianças em Fátima: “Os homens devem se arrepender de seus pecados, emendar suas vidas e pedir perdão por seus pecados. Eles não devem ofender a Deus, que já está muito ofendido.” A Irmã Lúcia escreveu: “A parte da última aparição que atingiu o meu coração é o pedido da nossa Mãe celeste para pararmos de ofender a Deus, que já está muito ofendido.” Nossa Senhora disse à Irmã Lúcia: “O bom Deus se deixa aplacar, mas queixa-se amarga e dolorosamente do número em extremo limitado de almas em estado de graça, dispostas a renunciar a tudo que a observância de sua lei exige delas.” 

É conhecida uma afirmação do Papa Pio XII, dizendo: “O maior pecado no mundo de hoje consiste certamente no fato de que os homens começaram a perder o sentido do pecado” (Radiomensagem aos participantes do Congresso Nacional Catequético dos Estados Unidos, Boston, 26 de outubro de 1946). Um dos principais apelos da mensagem de Fátima e do exemplo comovente do Beato Francisco e da Beata Jacinta pode ser expresso na seguinte pergunta: “Estou realmente pronto para aparecer perante o tribunal de Deus? Estou em estado de pecado?”.

Sendo o pecado – e, em primeiro lugar, o pecado mortal – o maior desastre espiritual, uma das principais tarefas pastorais da Igreja consiste em admoestar os homens sobre o perigo do pecado, em pregar sobre a sua real gravidade, em conduzir a uma penitência autêntica pela graça de Deus, em salvar os pecadores da morte eterna através das orações de intercessão e atos de reparação vicária.

Os ministros da Igreja nunca deveriam minimizar o pecado, nem jamais falar de modo ambíguo sobre ele; nunca deveriam, explícita ou implicitamente, confirmar um pecador em seu estilo de vida pecaminoso, como por exemplo no caso dos divorciados ditos “recasados”. Tal atitude seria extremamente anti-pastoral e comparável a uma mãe que, vendo seu filho correndo em direção a um precipício, lhe falasse de modo ambíguo. Na verdade, tal atitude não seria de uma mãe, mas de uma madrasta. Portanto, esses clérigos que, mais frequentemente em nosso tempo, confirmam os divorciados ditos “recasados” para continuarem a praticar o adultério, se comportam como madrastas.

A chamada nova pastoral da misericórdia para com os divorciados “recasados”, propagada especialmente pelo cardeal Kasper e por seus aliados clericais, e até mesmo por conferências episcopais inteiras, é em última análise cruel, um método madrasta em relação aos pecadores. A atitude comovente do Beato Francisco e da Beata Jacinta face ao pecado e aos pecadores enche de vergonha tal método anti-pastoral, o qual está se propagando em nossos dias sob a máscara de misericórdia.

A realidade do pecado exige necessariamente penitência e reparação. Também isso pertence às partes centrais da mensagem dada pela Mãe de Deus em Fátima para o nosso tempo. Já em 1916, o Anjo falava às crianças no mesmo espírito no qual Nossa Senhora falará em 1917. Ele lhes dizia: “Oferecei incessantemente orações e sacrifícios ao Altíssimo. Em tudo aquilo que vos for possível, oferecei a Deus um sacrifício de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e em ato de súplica pela conversão dos pecadores. Acima de tudo, aceitai e suportai com submissão os sofrimentos que o Senhor vos enviará.” No dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora disse: “Continuai a vir aqui. Em outubro direi quem eu, o que quero e farei um milagre para que todos possam ver para crer Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, especialmente fazendo algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.

Devemos deixar-nos comover e inspirar no exemplo dos pastorinhos de Fátima, para crescermos no espírito de expiação e reparação pelos pecados. Eles sofriam sede, pois não havia uma gota de água perto do local. Em vez de reclamar, Jacinta, de sete anos, parecia estar feliz. “Como é bom” – dizia ela. “Tenho sede, mas ofereço tudo para a conversão dos pecadores.” Lúcia, a mais velha das três crianças, sentia-se responsável por cuidar de seus primos, e assim ela foi a uma casa próxima para pedir um pouco de água. A Irmã Lúcia conta: “Dei a jarra de água ao Francisco, e lhe disse que bebesse.” “Eu não quero beber”, respondeu o menino de nove anos, “Quero sofrer pelos pecadores.” – “Bebe-o, Jacinta”. – “Quero oferecer um sacrifício pelos pecadores.” 

Derramei, então, a água na concavidade de uma rocha, para fazê-la beber às ovelhas, e fui para devolver o jarro à senhora. O calor tornou-se mais intenso. As cigarras e os grilos uniam seu canto ao das rãs do pântano vizinho e faziam um barulho insuportável. Jacinta, debilitada pela fraqueza e pela sede, me disse, com aquela simplicidade que lhe era natural: – Diga aos grilos e às rãs que se calem! Fazem-me tão mal à cabeça! Então, Francisco perguntou: – Não queres sofrer isso pelos pecadores? A pobre criança, segurando a cabeça entre as mãos, respondeu: – Sim, quero, deixa-os cantar”.

Comentando o exemplo de Francisco e Jacinta, a Irmã Lúcia dizia: “Muitas pessoas, pensando que a palavra penitência implica severas austeridades, e sentindo que não têm força para grandes sacrifícios, desanimam e continuam uma vida de tibieza e de pecado.” A Irmã Lúcia diz que Nosso Senhor lhe explicou: “O sacrifício exigido de cada pessoa consiste no cumprimento das próprias obrigações de vida e na observância da Minha Lei. Esta é a penitência que Eu hoje busco e peço.”

As aparições e as mensagens de Nossa Senhora de Fátima não podem ser adequadamente compreendidas sem considerar as aparições do Anjo às três crianças em 1916. Ambas aparições prepararam a mensagem central de Nossa Senhora em Fátima: “Em tudo que vos for possível, oferecei a Deus um sacrifício em reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão pecadores.” Mas o significado mais importante das aparições é a sua mensagem referente ao mistério eucarístico do Corpo e do Sangue de Cristo. Já em 1916, o anjo falava que Cristo é “horrivelmente ultrajado” nesse mistério. 

Quase ninguém na Igreja naquele tempo podia imaginar os horríveis ultrajes a Cristo no sacramento da Eucaristia que seriam perpetrados, em um nível espantoso e amplamente generalizado, até mesmo no meio da vida da Igreja, como é o caso de nossos dias, principalmente devido à prática de dar sagrada Comunhão na mão e, ao mesmo tempo, a admissão indiscriminada de pecadores impenitentes, e até de acatólicos, à sagrada Comunhão. Nunca na história o sacramento eucarístico foi objeto de tão horríveis sacrilégios da parte do clero e dos fiéis como em nossos dias. Mais uma vez, as aparições em Fátima revelam de modo impressionante seu caráter altamente profético.

A Igreja em nossos dias pode aprender, com a missão profética das aparições de Fátima, a conexão intrínseca e inseparável existente entre a veneração da Sagrada Eucaristia e a devoção à Santíssima Virgem Maria, especificamente ao seu Coração Imaculado. A propagação da devoção ao Imaculado Coração é simultânea e conexa a uma verdadeira renovação do culto de adoração eucarística. Concretamente falando, deve estar relacionada com a restauração do culto também externo da sacralidade e reverência na celebração da Missa, especialmente no tocante ao rito e à disciplina de recepção da sagrada Comunhão. Só quando o reino de Cristo – o Rei eucarístico – voltar a ser restaurado em todo o seu esplendor em todo o mundo católico, é que virá o reino e o triunfo do Coração Imaculado de Maria. O reinado do Coração Imaculado é intrinsecamente eucarístico e pré-requisito para uma verdadeira paz no mundo.

Um dos maiores devotos de Nossa Senhora de Fátima e um dos mais zelosos promotores de seu cutlo foi o piedoso e corajoso leigo brasileiro Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. Já em 1944, ele apresentou de modo profundo e perspicaz atualidade as aparições de Fátima, uma apresentação totalmente aplicável à atual situação histórica:

“Reuniram-se os técnicos – que são hoje os reis da terra, juntamente com os banqueiros – ‘et convenerunt in unum adversus Dominus’. Construíram uma paz sem Cristo, uma paz contra Cristo. O mundo se afundou ainda mais no pecado, a despeito da mensagem de Nossa Senhora. Em Fátima, os milagres se multiplicavam às dezenas, às centenas, aos milhares. Ali estavam eles, acessíveis a todos, podendo ser examinados por todos os médicos de qualquer raça e religião. As conversões já não tinham número. E tudo isto não obstante, ninguém dava ouvidos a Fátima. Uns duvidavam sem querer estudar. Outros negavam sem examinar. Outros criam mas não tinham coragem de o dizer. A voz da Senhora não se ouviu. Passaram-se mais de vinte anos. 

Um belo dia, sinais estranhos se viram no céu... era uma aurora boreal, noticiada por todas as agências telegráficas da terra. Do fundo de seu convento, Lúcia escreveu a seu Bispo: era o sinal, e dentro em breve a guerra viria. A guerra veio dentro em breve. Ela está aí, e hoje se cuida novamente de ‘reorganizar o mundo’, aos últimos clarões desta luta potencialmente já vencida. ‘Si vocem ejus hodie audieritis, nolite obdurare corda vestra’ – se hoje ouvirdes Sua voz, não endureçais vossos corações, diz a Escritura. Inscrevendo a festa de Nossa Senhora de Fátima no rol das celebrações litúrgicas, a Santa Igreja proclama a perenidade da mensagem de Nossa Senhora dada ao mundo através dos pequenos pastores. No dia de sua festa, mais uma vez a voz de Fátima chegou a nós: não endureçamos nossos corações, porque só assim teremos achado o caminho da paz verdadeira.” (Legionario, São Paulo, 14 de maio de 1944).

A Irmã Lúcia considerou a nossa época como sendo próxima dos últimos tempos, e isso pelas três seguintes razões, que ela explicou ao padre Augustin Fuentes durante uma entrevista em 26 de dezembro de 1957. Vale a pena citá-la:

“A primeira razão é que Ela me disse que o demônio está prestes a travar uma batalha decisiva contra a Virgem. E essa batalha decisiva é o confronto final, do qual um lado sairá vitorioso e o outro derrotado. Devemos escolher a partir de agora que lado tomar, seja com Deus ou com o demônio. Não há outra possibilidade. A segunda razão é que Ela disse a mim e a meus primos, que o Senhor tinha decidido dar ao mundo os dois últimos remédios contra o mal, que são o Santo Rosário e devoção ao Imaculado Coração de Maria. Esses são os dois últimos remédios possíveis, o que significa que não haverá outros. A terceira razão é que, nos planos da Divina Providência, quando Deus é impelido a punir o mundo, antes de o fazer tenta corrigi-lo com todos os outros remédios possíveis. Agora, quando vê que o mundo não presta atenção à sua mensagem, então, como dizemos em nossa linguagem imperfeita, Ele nos oferece ‘com certo temor' a última chance de salvação, a intervenção de Sua Mãe Santíssima. Ele o faz ‘com certo temor' porque, se imclusive esse último recurso não tiver sucesso, não poderemos mais esperar nenhum tipo de perdão do Céu, porque estaremos manchados por aquilo que o Evangelho chama de pecado contra o Espírito Santo. 

Este pecado consiste na aberta rejeição, plenamente consciente e voluntária, da salvação que nos é oferecida. Não nos esqueçamos que Jesus Cristo é um filho muito bom e não nos permitirá ofender e desprezar Sua Mãe Santíssima. A história secular da Igreja conserva o testemunho dos terríveis castigos infligidos a quantos ousaram atacar a honra de Sua Mãe Santíssima, demonstrando como Nosso Senhor Jesus Cristo sempre defendeu a honra de Sua Mãe. Os dois instrumentos que nos foram dados para salvar o mundo são a oração e o sacrifício. Vede, Padre, a Virgem Santíssima quis dar, nesses últimos tempos em que vivemos, uma nova eficácia à recitação do Santo Rosário. Ela tem de tal modo reforçado a sua eficácia, que não há problema, por mais difícil que seja, de natureza material e especialmente espiritual, na vida privada de cada um de nós ou de nossas famílias, das famílias de todo o mundo, das comunidades religiosas ou mesmo na vida dos povos e das nações, que não possa ser resolvido pela oração do Santo Rosário. 

Não há problema, eu vos digo, por mais difícil que seja, que não possa ser resolvido pela recitação do Santo Rosário. Com o Santo Rosário, salvar-nos-emos, nos santificaremos, consolaremos Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas. Finalmente, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, nossa Mãe Santíssima, consiste em consideraá-La como sede da misericórdia, da bondade e do perdão, e como o caminho seguro através do qual entraremos no Paraíso.”

Possa a Igreja em nossos dias ouvir o que o Espírito lhe diz (cf. Apoc. 2, 11) por meio de palavras do Anjo de Fatima, através do heróico exemplo de vida do Beato Francisco e da Beata Jacinta e, em primeiro lugar, por meio das palavras de Nossa Senhora, a Mãe de Deus, nossa Mãe e Mãe espiritual de toda a humanidade. A atualidade de Fátima consiste em preparar a Igreja do nosso tempo para uma impávida confissão da Fé católica e até mesmo o martírio, como podemos perceber na terceira parte do segredo de Fátima. No entanto, Fátima permanece um verdadeiro sinal profético de esperança, porque Nossa Senhora prometeu um tempo de paz e o triunfo do Seu Coração Imaculado.

O significado profético da mensagem de Fátima no seu conjunto inclui as aparições do Anjo, as palavras e o heroico exemplo de vida dos três pastorinhos e principalmente as exortações maternas da própria Bem-aventurada Virgem Maria. Na oração com a qual o Papa João Paulo II consagrou em 24 de março de 1984 o mundo ao Imaculado Coração de Maria, ele deixou para a Igreja e a humanidade do nosso tempo a seguinte súplica ardente, na qual resumiu as questões mais importantes do significado profético da mensagem de Fátima:

“Oh, Imaculado coração! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que tão facilmente se enraíza no coração destes homens de hoje e cujos efeitos incomensuráveis já pesam sobre o mundo contemporâneo! Dos pecados contra a vida humana desde o seu início, livrai-nos! Do ódio e do aviltameento da dignidade de filhos de Deus, livrai-nos! Da prontidão em pisar os mandamentos de Deus, livrai-nos! Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos! livrai-nos! Que se revele, mais uma vez, na história do mundo, o poder infinito do Amor misericordioso! Que ele termine o mal! Transforme as consciências! No Teu Coração Imaculado revele para todos a luz da esperança!”

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Maria Santissima em Astana


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


E talvez vá chocar alguns dos leitores, com o meu comentário e, por isso peço desculpa.
Eu acho que este Artigo deve ser enviado--POR CARIDADE--aos atuais Responsáveis pelo Santuário de Fátima e Sua Mensagem!!