quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Como distinguir os pecados mortais do pecados veniais?

1. Como é necessário sempre confessar os pecados mortais no sacramento da confissão, é preciso que se saiba claramente o que é, objectivamente, o pecado mortal.

2. Diga-se ainda que para a realização subjectiva de um pecado grave é necessária a presença simultânea de três condições: que exista matéria grave, plena consciência da mente e consenso deliberado da vontade.

3. A plena consciência da mente e o consenso deliberado da vontade dependem muito da condição de cada pessoa. Nesse sentido, estes dois factores têm de ser avaliados caso a caso.

4. Assim sendo, retenho-me a especificar em que consiste matéria grave.

5. Sobre este assunto os teólogos fazem uma distinção entre pecados sempre objectivamente graves (chamada matéria grave ex toto genere suo) e pecados geralmente graves (chamada matéria grave ex genere suo).

6. Esta distinção é importante porque no caso do primeiro género de pecados graves existe sempre matéria grave e logo nunca pode ser considerada matéria leve (non datur parvitas materiae), sendo portanto esses pecados sempre graves. No caso do segundo género pode ser que seja, o que acontece frequentemente, matéria leve (datur parvitas materiae).

7. Seguindo as indicações dos dez mandamentos, são colocados entre os pecados onde há sempre matéria grave:

Os pecados contra o primeiro mandamento: o abandono de Deus, o culto a Satanás, o recurso a mágicos e feiticeiros… formas graves de superstição, os pecados contra as virtudes teologais (heresia, apostasia, insubordinação às verdades da fé, desespero da salvação, presunção de salvação sem mérito, ódio a Deus e ao próximo, fazer mal deliberadamente ao próximo), a falta de oração habitual.

Os pecados contra o segundo mandamento: a blasfémia, o falso juramento, a violação de votos contraídos.

Os pecados contra o terceiro mandamento: não participar na Missa ao Domingo e nas outras festas obrigatórias (Natal, 1 de Janeiro, Corpus Christi, Assunção, Todos os Santos, Imaculada Conceição), receber a Sagrada Comunhão tendo pecados graves não confessados.

Os pecados contra o quinto mandamento, em todas os seus tipos: homicídio, suicídio, aborto, eutanásia, uso de substâncias estupefacientes, embriaguez, espancamento…

Os pecados contra o sexto mandamento, em todos os seus tipos: masturbação, fornicação, relações pré-matrimoniais e homossexuais, contracepção conjugal, adultério, violação, pedofilia...

8. Os antigos teólogos moralistas resumiam tudo isto em poucas palavras: há sempre matéria grave nos pecados contra as virtudes teologais, contra a virtude da religião, que engloba os três primeiros mandamentos e contra os preceitos da segunda tábua do decálogo que estejam relacionados com valores muito elevados (chamavam-lhes matéria indivisível).

9. São pecados graves no seu género, mas que podem ter matéria leve os outros pecados cometidos contra a segunda tábua da lei. Existe matéria leve quando não se viola substancialmente o preceito, continuando a manter para com o próximo um certo respeito. Vejamos quais são, nas suas espécies:

Os pecados contra o quarto mandamento, que manda honrar pai e mãe, numa única palavra todo o próximo. Ora, podem existir pequenas insignificâncias ou gozos em família, uma ou outra desobediência, uma ou outra palavra injuriosa… Mas quando se tratam de desentendimentos graves, litígios, faltas de respeito graves, desonras de familiares ou do próximo…então tratam-se de pecados graves. 

No quarto mandamento podemos incluir também os pecados da língua, como maledicências, mexericos que difamam o nosso próximo. Temos de distinguir duas coisas: alguns pecados mantêm substancialmente a honra do próximo, outros prejudicam-na gravemente. No primeiro caso tratam-se de pecados veniais, no segundo caso são pecados mortais.

Os pecados contra o sétimo mandamento, que proíbe roubar as cosias dos outros, ajudam-nos a perceber que se tem de fazer distinções, por exemplo entre roubar um saco de rebuçados (que continua a ser um roubo e portanto um pecado) e uma quantia consistente de dinheiro.

Os pecados contra o oitavo mandamento, que proíbe a mentira, obviamente engloba calúnias, acusações injustas feitas em tribunal…que são pecado grave. Pequenas mentiras ditas para defender-se o para evitar a agitação na família não vão para lá do pecado venial.

Os pecados contra o nono mandamento, que proíbe outros pecados contra a pureza. Se se tratam de pecados em que se planeia cometer pecados carnais com determinadas pessoas (mesmo se depois não se cumprem) tratam-se de pecados graves. Jesus disse que quem vê uma mulher e a deseja, cometeu adultério no seu coração. São também pecados graves o uso da pornografia, assistir a pornografia na internet… Um simples pensamento impuro, no qual não nos demoramos mas que não estamos igualmente prontos a repelir imediatamente é, por sua vez, um pecado venial… Neste mandamento estão incluídos também pecados de imodéstia no olhar e no falar. No geral são matéria leve (por exemplo, uso esporádico de linguagem vulgar) mas podem ser também matéria grave.

Os pecados contra o décimo mandamento proíbe até o simples planeamento de um furto, mesmo se não se vier a cumprir. Também aqui temos de considerar a quantidade de coisas que se está a querer roubar para determinar a gravidade.

10. Os antigos teólogos diziam que os pecados geralmente graves, mas nos quais pode existir matéria leve, são matéria divisível. Percebe-se o motivo desta distinção, pois há pecados que prejudicam substancialmente os bens materiais ou espirituais do nosso próximo, enquanto outros pecados só ofendem marginalmente, mantendo-o na sua substância.

11. Pecados veniais são, por sua vez, as acções que são boas, mas nas quais exageramos, como por exemplo a vanglória, o excessivo zelo por fazer boa figura, comer em demasia, permitir alguma gulosice ou perder tempo…

12. Para que não se veja neste catálogo simplesmente um quando moralista do que é pecado grave ou pecado venial, quero lembrar o motivo de fundo de o fazer: os pecado mortais rompem a comunhão com Nosso Senhor, perdendo a Graça, a sua intimidade e amizade. Numa só palavra, a nossa vontade não é consonante com a Sua em pontos importantes e decisivos da nossa vida. 

Os pecados veniais também não uma consonância com a Sua vontade mas o defeito neste caso é mais ligeiro, de certa forma pode-se dizer que é marginal. Sem dúvida que estes pecados não conduzem à santidade e não agradam ao Senhor, mas não contrariam e não destroem a comunhão de vida. 

Padre Ângelo


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3 comentários:

Maria José Martins disse...


Conclusão: Apesar de hoje haver quem defenda uma Confissão, enumerando somente os Mandamentos, sem especificar o conteúdo, as circunstâncias, as vezes e com quem...não devemos optar por essa moda.
Na Obra, "O Evangelho como me foi revelado", de Maria Valtorta, Jesus diz, aos Apóstolos: (..)"E ouvireis a Confissão dos pecados, assim como Eu ouvi as vossas e as de muitos, e perdoei ao ver o vosso arrependimento.
Estais assustados? Tendes medo de não saber distinguir? Eu já vos falei sobre o pecado e sobre o seu julgamento. Mas, ao julgardes, meditai nas sete condições, pelas quais a ação pode ser considerada pecado e de gravidade diversa: quando se pecou, quantas vezes, com quem pecou, quem é a pessoa que pecou, qual a causa do pecado, qual a matéria e porque pecou; mas não temais! O Espírito Santo vos ajudará.
Mas vos recomendo, que vivais uma vida Santa. Quanto mais o fordes, mais aumentarão em vós as Luzes Sobrenaturais, ao ponto de poderdes ler, sem erro, o coração dos homens e, então, COM AMOR, mas com AUTORIDADE, dizer aos pecadores temerosos, em revelar suas culpas e aos rebeldes, em confessá-las, o porquê de terem pecado, se pecaram, realmente, e qual a causa; o Espírito Santo vos ajudará!
Podereis, assim, com AMOR, mas com AUTORIDADE ajudar os TÍMIDOS, OU HUMILHAR OS IMPENITENTES!
Sede justos, misericordiosos e pacientes como Eu fui, mas NÃO FRACOS!"(..)
"(..)Julgai cada homem sem vos deixardes levar por simpatias ou antipatias, por presentes ou ameaças. SEDE IMPARCIAIS em TUDO e para com TODOS, tal como DEUS O É, não esquecendo a fraqueza do Homem e as insídias dos seus inimigos(..)"

"E quem tiver ouvidos para ouvir que oiça..."

Anónimo disse...

O que nos vale é que a Cúria romana é um farol de santidade

Anónimo disse...

Qual o nome completo do Sacerdote, foi a melhor sistematização de forma sintética que já vi sobre o assunto, quero buscar as redes sociais dele.