quarta-feira, 25 de novembro de 2020

S. Frei Junípero e Amizades fraternas entre Santos

A verdadeira amizade que consta das palavras do próprio Jesus Cristo e que é comentada por, entre outros, S. Bernardo de Claravale e mais profundamente por S. Tomás de Aquino tem sido, em virtude de distorções doentias, evidentemente inaceitáveis, suspeita aos olhos de muitos na vida Sacerdotal e Religiosa, sendo nesses denominadas ‘amizades particulares’. Daí as recomendações insistentes, por vezes exageradas, de resguardo e prudência.

 

No entanto, abundam os exemplos de grandes amizades espirituais entre Santos, por exemplo, S. Francisco de Assis, e Frei Leão (seu confessor), mas também Santa Clara (sua filha espiritual), S. Francisco de Sales e S. Joana de Chantal. S. Francisco Xavier e Santo Inácio de Loyola e tantos mais que poderíamos elencar.

 

O franciscano S. Bernardino de Sena, um Santo excecional, nas suas numerosíssimas pregações era sempre acompanhado de um irmão Sacerdote, uma vez que S. Francisco seguindo à letra os Evangelhos queria que os frades andassem sempre dois a dois. S. Bernardino, um portento de inteligência e de erudição, adaptava os seus sermões ao povo simples, de modo a ser compreendido por todos. Para que as suas audiências não tivessem a mínima suspeição de que nas suas pregações se referia a algum pecado de alguém que já se tivesse confessado, entregava esse ministério ao confrade Sacerdote que sempre o acompanhava[1]. Ora esta comunhão Espiritual entre os dois confrades só se veio a manifestar publicamente, com algum escândalo de outros confrades, aquando da morte do confessor. De facto, o grande S. Bernardino chorou copiosissamente e imparavelmente durante três dias e de tal modo que muitos Irmãos começaram a desconfiar da sua Santidade... É caso para dizer, mas que brutos!

 

S. Frei Junípero amava de coração um frade chamado Attienalbene, pois este seu Irmão possuía em elevadíssimo grau as virtudes da paciência e da obediência. Podia ser sovado o dia inteiro que não se queixava de qualquer injúria. Enviado a terras onde a gentalha era rude e cruel dela recebia maus tratos que suportava pacientemente, sem o mínimo lamento. Nas mãos de Frei Junípero umas vezes ria outras chorava conformando-se ao que ele mandava. Se S. Junípero deparava nele alguma falta, sempre leve, pedia-lhe lágrimas de compunção e arrependimento, se o via triste e acabrunhado suscitava nele o riso de modo a que se sentisse contente e alegre.

 

Um dia, quando Deus foi servido, morreu Frei Attienalbene com odor e fama de grande Santidade, e Frei Junípero, quando o soube, mostrou uma imensa amargura, uma aflição e angústia como nunca tinha sentido por coisas temporais e terrenas. Espontâneo e expressivo como era exclamava em altas vozes: “Ai de mim! Como sou infeliz! Já não me resta bem algum. Todo o mundo se acabou para mim com a morte do meu bondoso e amicíssimo Irmão, Attienalbene”.

À honra de Cristo. Ámen.


Pe. Nuno Serras Pereira


[1] Esta será uma das razões, entre outras mais, pela qual se tornou costume em muitas paróquias que o Pároco chame vários outros Sacerdotes a atenderem confissões nas suas Paróquias. Santa Teresa de Jesus, contrariamente a alguns costumes da sua Ordem, sempre advogou, e levou avante, que nos seus mosteiros as Irmãs pudessem escolher entre vários confessores e Directores Espirituais, talvez não por algumas das mesmas razões por que as Paróquias o fazem, mas precisamente para que cada alma possa dispor do Confessor ou Assistente Espiritual que mais convenha à sua santificação.



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1 comentário:

Maria José Martins disse...

Também já li sobre algo do género-- penso que num dos livros da Beata Alexandrina de Balazar-- onde é explicado o percurso de uma Alma Mística.
Acho que é lá, que Jesus fala da importância de dois seres místicos se encontrarem, e UNIREM as "almas consideradas gémeas", para que ambos, vivendo o mesmo AMOR PURO, quase Sobrenatural, tenham somente como GRANDE OBJETIVO, AJUDAREM-SE, MUTUAMENTE, a CAMINHAR para Deus, de modo a Glorificá-Lo, EM TUDO!
E isso, porque, normalmente, essas almas Especiais são quase sempre incompreendidas ou mesmo, perseguidas! Daí, a necessidade de se ajudarem, compreendendo-se!
Umas vezes, pode passar pelo Diretor ou Diretora Espiritual, pois, nem sempre é o Confessor...Ou até, uma PURA AMIZADE, provocada por uma IDENTIFICAÇÃO de Almas, que nada tem de físico, como em Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz, e noutros...
Por aqui, podemos, então, depreender, de que NADA ESCAPA AO NOSSO DEUS.
Melhor do que ninguém, ELE conhece as nossas limitações e, por isso, está SEMPRE PRONTO a ajudar-nos a superá-las, colocando CIRENEUS ao nosso lado.