quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Simbologia e Ritual de Imposição das Cinzas

Da cerimónia das Cinzas tira o nome o primeiro dia da Quaresma. As cinzas são símbolo de penitência, tanto no Antigo Testamento como na Lei Nova (Job XLII, Judite LXXXIV, Ester II, Mt XI e S. Ambrósio I, I ad virginem lapsam).

'Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris'; lembra-te, homem, que és pó, e ao pó hás-de voltar; assim falou Deus ao primeiro homem, na hora da sua desobediência, e assim repete a Igreja a cada qual de nós, por boca dos seus ministros, na cerimónia de hoje. 

Palavras de maldição na boca de Deus, pondera o mais célebre dos oradores cristãos; palavras, porém, de graça e salvação na mente da Igreja, que no-las dirige. Palavras de espanto e terror para o pecador, fulminando a sua sentença irrevogável de morte, mas palavras de suavidade e ânimo para o penitente, a quem, diz São João Crisóstomo, ensinam o caminho da penitência e conversão.

Tomai um punhado de cinzas, disse Deus a Moisés e a Aarão, e atirai-as sobre o povo. Esta cinza foi assim espalhada, diz a Sagrada Escritura, como a semente dos flagelos do Egipto, que em toda essa região causou tão universal desolação.

Mui diverso deve ser o efeito da cinza hoje lançada sobre as nossas cabeças pelos sacerdotes, que será aplacar a cólera do Senhor, e valer-nos as suas graças e favores, excitando em nossos corações sentimentos de verdadeira penitência.

Tal é o sentido das orações da Igreja, na bênção das cinzas, que nos ensinam com que espírito religioso devemos recebê-las.

Rito da Bênção e Imposição das Cinzas

A cerimónia realiza-se antes da missa. Celebrante e ministros dirigem-se ao altar, e começa-se com a seguinte antífona:

ANTÍFONA (Sl 68, 17) – Ouvi-nos, Senhor, porque é cheia de bondade a vossa misericórdia; e olhai para nós com a vossa infinita compaixão. (Sl 68, 2) – Salvai-me, Senhor, porque a tentação invadiu a minha alma como as águas impetuosas de uma inundação. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. — Ouvi-nos, Senhor.

Depois o celebrante benze as cinzas:

Oração – Deus Eterno e Omnipotente tornai-vos propício aos que vos rogam com sinceridade; perdoai aos pecadores arrependidos. Dignai-vos enviar o vosso santo Anjo lá de cima, e benzer e santificar estas cinzas; que sejam remédio salutar para quantos invocam o vosso Santo Nome com humildade e contrição, confessando publicamente que são pecadores, e, possuídos de vivo pesar pelas suas ofensas, se prostram hoje na vossa presença, implorando vossa misericórdia infinita. Concedei a todos os que receberem estas cinzas na cabeça invocando o vosso Nome Santíssimo, além do perdão dos pecados, a saúde do corpo e da alma, por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Ó Deus que não quereis a morte dos pecadores, mas a sua conversão, lançai um olhar benigno sobre a fragilidade da natureza humana, e dignai-vos abençoar estas cinzas que vão ser impostas sobre as nossas cabeças, em sinal de humildade de nossos corações e do perdão que esperamos; para que, reconhecendo que somos cinzas, e que em pó nos havemos de tornar, em castigo pelas nossas iniquidades, mereçamos alcançar da vossa misericórdia a remissão de nossos pecados, e a recompensa que prometestes aos que fazem penitência. Por J. C. N. S. Amém.

Deus Omnipotente e Sempiterno, que concedestes a remissão dos seus pecados aos Ninivitas, que fizeram penitência com cinza e cilício, fazei que, imitando-os, alcancemos, como eles, o perdão dos nossos pecados. Por J. C. N. S.

O celebrante asperge e incensa as cinzas. A seguir impõe-nas, primeiramente ao clero, depois aos fiéis, dizendo:

Lembra-te, ó homem, que és pó, e que ao pó hás-de voltar. (Génesis 3, 19)

A Igreja termina esta bênção das Cinzas exortando aos fiéis, com as expressões do profeta Joel (cap. II), a que tornem útil e eficaz esta cerimónia.

Reformemo-nos exteriormente com a modéstia do traje, na cinza, no cilício; jejuemos com o sentimento de sincera contrição, emendemos as culpas da nossa ignorância ou fraqueza, e mormente da nossa malícia, sem mais adiar nem esperar, porque a morte nos pode apanhar desprevenidos.

in Manual do Cristão, Quarta-Feira de Cinzas via Pale Ideas


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