Em 1918, durante muitos dias, um insólito cruzeiro com a imagem de Cristo, existente próximo de Neuve-Chapelle, na Flandres Francesa, fez companhia às tropas portuguesas ali estacionadas. Foi alvo de devoção, serviu de cenário a fotografias, “ouviu” preces e, de certa forma, velou pelos homens que aguardavam mais um confronto. A batalha de La Lys* deu-se a 9 de Abril e foi fatal.
Toda a zona foi bombardeada, remexida, destruída pelo fogo inimigo. No fim, pouco mais restavam que cadáveres, homens agonizantes, escombros e…entre tanta devastação, o Cristo, também ele mutilado, como muitos dos que combateram. O fogo alemão perfurou-lhe o peito, levou-lhe as pernas e parte do braço direito, mas deixou-o ali, ainda erguido, como um sinal de sobrevivência.
Esta batalha da I Grande Guerra, constituiu talvez a mais negra página da história bélica de Portugal, depois de Alcácer Quibir. Os militares do Corpo Expedicionário Português foram arrasados pelas tropas alemãs, milhares morreram, ficaram feridos ou foram aprisionados.
O “Cristo das trincheiras”, terá sido depois recolocado no espaço que lhe pertencia e onde permaneceu mais duas décadas.
Em 1958, por iniciativa do Governo português, rumou a terras lusas e, igualmente a 9 de Abril - há exatamente 64 anos - em cerimónia muito ao estilo do Estado Novo, foi instalado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, à cabeceira do túmulo do Soldado Desconhecido, que representa todos os que pereceram a lutar pela pátria e cujo nome se desconhece.
Ironicamente, aqueles símbolos de derrota e perda estão no interior de um monumento que celebra uma grande vitória nacional e sob uma abóbada que, reza a lenda, também se manteve de pé devido à fé.
A homenagem ao soldado desconhecido, composta por túmulo de dois militares – um morto na I Grande Guerra e outro na Guerra Colonial – o grandioso lampadário denominado “chama da pátria” e o “Cristo das trincheiras”, tem guarda de honra permanente e situa-se na Casa do Capítulo do “Mosteiro da Batalha”, edificado para celebrar o triunfo em Aljubarrota (1385).
Sobre o memorial, ergue-se a colossal abóboda que desafia as leis da física e, conta o historiador Alexandre Herculano*, foi desenhada pelo mestre Afonso Domingues. Quase cego, às portas da morte, mas com uma crença inabalável no seu projecto, permaneceu sozinho por debaixo da abóboda, quando mais ninguém acreditava que esta se manteria intacta após retirarem as escoras. Ainda lá está. O Cristo também.
*A batalha deve o nome rio junto ao qual tiveram lugar os acontecimento.
**Embora a moderna historiografia não o confirme, atribuindo a obra ao mestre irlandês David Huguet.
Fontes:
http://www.momentosdehistoria.com/MH_06_05_Patriotismo.htm
http://www.mosteirobatalha.gov.pt/pt/index.php?s=white&pid=176
http://capeiaarraiana.pt/2015/04/04/efemerides-2015-4-de-abril/
http://portugalglorioso.blogspot.com/2014/03/o-cristo-das-trincheiras.html
https://www.erepublik.com/mk/article/cristo-das-trincheiras-2436880/1/20
2 comentários:
É deveras emocionante e triste reconhecer, como o Homem mudou tanto, nestas últimas décadas!
Como a Fé quase desapareceu e, com Ela, os Símbolos que A testemunhavam. Hoje, seria impensável levar um CRISTO para um possível Campo de Batalha, esperando, talvez, a Sua Proteção....E como é arrepiante o quadro que mostra Esse Mesmo Jesus Crucificado, já meio mutilado, com os Braços no ar, como que a dizer-nos: Também EU fui, mais uma vez, espezinhado, por aqueles que não Me entendem e que, por isso, causaram esta desgraça!
Sim, porque Ele veio trazer a Paz e não a guerra...e se o Homem somente o quer USAR como um OMULETO, Ele volta a ser Crucificado, sem nada poder fazer...
Deus não força a LIBERDADE do Homem, mas SOFRE SEMPRE, ao lado daqueles que Lhe são Fiéis, até à morte, tantas vezes vítimas de Sistemas desumanos e corruptos.
E que mesmo não tendo vencido essa Batalha, de CERTEZA, que entraram com Ele no Céu!
Peço por favor que substitua a palavra OMULETO por AMULETO, porque me enganei.
Obrigada
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