terça-feira, 26 de setembro de 2023

Carta dos Cardeais Ottaviani e Bacci contra a promulgação da Missa Nova

A 28 de Abril de 1969, o Papa Paulo VI apresentou aos Cardeais o novo Missal, produzido por uma comissão - chamada Consilium - que tinha sido criada por ele 5 anos antes. O texto do novo Missal não foi aceite pacificamente por todos e dois Cardeais de peso escreveram um carta a Paulo VI tentando evitar aquilo que consideravam um caminho perigoso para a Fé Católica. 

O Cardeal Ottaviani foi Secretário do Santo Ofício (o Papa era sempre o Prefeito, por ter de ser o principal defensor da Fé) e depois pró-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício). O Cardeal Bacci tinha sido o "latinista" de serviço no Vaticano durante os 3 pontificados anteriores.

Roma, 25 de Setembro de 1969

Santíssimo Padre:

Após ter examinado cuidadosamente, e apresentado para escrutínio dos demais, o Novus Ordo Missæ (Novo Missal) preparado pelos especialistas do Consilium ad exequendam Constitutionem de Sacra Liturgia, e após longa oração e reflexão, nós sentimos ser nossa obrigação junto a Deus e de Sua Santidade, expor-lhe as seguintes considerações:

1. O estudo crítico que acompanha o Novus Ordo Missæ (Novo Ordinário da Missa), o trabalho de um grupo de teólogos, liturgistas e pastores de almas, mostra claramente, apesar de sua brevidade, que, se nós considerarmos as inovações sugeridas ou dadas por definitivo, as quais podem naturalmente serem avaliadas de diferentes modos, o Novo Ordinário representa, tanto em seu todo como nos detalhes, uma nova orientação teológica da Missa, diferente daquela que foi formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento. Os “Cânones” do rito, definitivamente fixados naquele tempo, proporcionavam uma intransponível barreira contra qualquer heresia dirigida contra a integridade do Mistério.

2. Os motivos pastorais alegados para apoiar tão grave ruptura com a tradição, ainda que os mesmos poderiam dizer respeito a uma maior participação em face de considerações doutrinárias, não nos parecem suficientes. As inovações propostas pelo Novo Ordinário, e o facto de que tudo aquilo que possui um valor perene é pouco valorizado, se permanecem como estão, poderiam converter em certezas as suspeitas já prevalecentes, em muitos círculos, de que aquelas verdades que sempre foram acreditadas pelo povo cristão, podem ser mudadas e ignoradas sem que isso acarrete infidelidade ao Sagrado Depósito de Doutrina, do qual a Igreja é depositária eterna. Recentes reformas demonstraram amplamente que as novas mudanças na liturgia poderiam não nos levar a lugar algum, exceto a uma completa confusão por parte dos fiéis, os quais já demonstram claros sinais de reticência e de uma indubitável perda de fé.

No meio do melhor dos clérigos é praticamente resultante uma agonizante crise de consciência, a qual chega ao nosso conhecimento diariamente através de inúmeras instâncias.

3. Estamos certos de que essas considerações, as quais podem atingir Sua Santidade apenas através da viva voz de ambos: pastores e rebanho, encontrarão um eco em vosso paternal coração, o qual é sempre tão profundamente solícito pelas necessidades espirituais dos filhos da Igreja. Sempre foi o caso de que, quando uma lei formulada para o bem de quaisquer sujeitos, prove ser ao contrário, perniciosa, tais sujeitos têm por dever solicitar com confiança filial a revogação da mesma.

Portanto nós seriamente imploramos a Vossa Santidade – nesse tempo de tão dolorosas divisões e de um sempre-crescente perigo para a pureza da Fé e a unidade da Igreja, o que é tão lamentado por nosso Pai Comum – por favor, não nos prive da possibilidade de continuarmos recorrendo à frutífera integridade do Missal Romano de São Pio V. tão altamente louvado por Vossa Santidade e tão venerado por todo o mundo católico.

Alfredo Cardenal Ottaviani
Antonio Cardenal Bacci


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3 comentários:

Anónimo disse...

Salve Maria!

Essa carta é tão clara como a luz do dia.

Onde moro, hoje, infelizmente, não há a Missa de Sempre. Só temos a nova.

Que o Bom Deus tenha piedade de nós.

Valei-nos Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Viva Cristo Rei!

Emanoel

Anónimo disse...

Até Pierre Bourdieu falou num dos seus livros da confusão criada junto dos fiéis pelas mudanças de liturgia romana.

Anónimo disse...

E como Deus sempre tira algo bom do mau, toda esta confusão ajudou- me imenso a aprofundar o conhecimento sobre a Liturgia.
Só é pena que o resultado seja o que se vê.
E isso somente prova que a " árvore " é má.