sábado, 24 de maio de 2014

"Vou para a Síria. É lá o meu lugar"

Teve de pedir autorização aos seus superiores e à família. Só assim a Irmã Maria Nazareth conseguiu a licença necessária para viajar até Alepo, para apoiar aí a pequena comunidade cristã. Quando todos tentam fugir da Síria, ela encaminha-se para o meio do holocausto. Que loucura será esta?

Os prédios estão destruídos. São quase todos apenas montes de ruínas, memórias de uma cidade que já foi feliz. Nas ruas mal se consegue passar. Há escombros por todo o lado. Ouvem-se insistentemente ruídos de guerra. Tiros, balas, gritos de vitória, esgares de dor, de agonia. De morte.

Alepo representa bem o impasse da guerra civil que está a destruir a Síria desde há três anos. É uma luta fratricida, de morte. Os civis estão encurralados. Viram as suas vidas desfeitas. Escondem-se onde podem, mal sobrevivem. Em muitos lugares quase não há comida, nem água, nem medicamentos. Sair de Alepo é uma tarefa ingrata, arriscadíssima.

Entrar em Alepo, então, é pura loucura. Mas é isso mesmo que vai fazer uma jovem Irmã, Maria Nazareth, do Instituto do Verbo Encarnado, na Faixa de Gaza
Ir para as periferias. Esta argentina, de sorriso largo e contagioso, sabe de cor as palavras do Papa Francisco quando ele disse, logo no início do seu pontificado, que temos de “aprender a sair de nós mesmos, a fim de conhecer outras pessoas, a fim de ir em direcção às periferias da nossa existência, a dar o primeiro passo no sentido dos nossos irmãos, especialmente aqueles que estão mais longe de nós, aqueles que estão esquecidos”.

O apelo do Papa Francisco foi determinante. Palavras fortes que perturbaram a Irmã Nazareth e que a levaram a decidir, num impulso, que tinha mesmo de ir para a Síria, para Alepo, para ajudar duas outras irmãs que tentam manter as portas abertas de um pequeno albergue para raparigas cristãs. Foi um impulso tão forte e irresistível que a vai obrigar a abandonar o trabalho que vem desenvolvendo, desde 2010, na Faixa de Gaza, numa paróquia católica. “Tive um maravilhoso tempo aqui”, confessa à Fundação AIS, acrescentando que “essa memória vai agora acompanhar-me para a Síria”. É tão grave e violenta a situação aqui que ninguém vai para lá sem ser voluntário.

A Irmã Nazareth teve de pedir permissão aos seus superiores e precisou ainda do consentimento da família. Trata-se de uma condição imposta pela própria comunidade. Nas grandes decisões, os superiores nunca vão contra a vontade da família. Maria Nazareth telefonou para a Argentina, para casa, e ouviu do outro lado da linha a voz tranquila de sua mãe: “Estás numa ordem religiosa já lá vão vinte anos. A tua decisão não é fácil para nós. Mas nós sabemos que estás feliz e que se trata de cumprires a vontade de Deus. Portanto, não podemos dizer que não. Estamos a rezar por ti e estamos contigo.”

"Não, eu não tenho medo." De malas feitas, Maria Nazareth já só pensa no seu trabalho junto das outras duas irmãs que apoiam a sofrida comunidade católica de Alepo. No seu entusiasmo não há lugar para receio algum, embora vá partir para um dos lugares mais perigosos do Planeta. “Não, eu não tenho medo. Confio em Deus e na Virgem Maria. E, como membro de uma ordem religiosa, confio de forma especial na protecção da Mãe de Deus. Além disso, sei que estou acompanhada pelas orações de muitas pessoas.” 

As nossas orações serão o seu colete à prova de bala. Quando tudo parece perdido, quando todos parecem ter desistido, quando tantos já fugiram do horror, há alguém que decide partir em sentido inverso, rumo à Síria, ao epicentro da guerra. 

Apenas para ajudar. A Irmã Nazareth está de partida e pede as nossas orações.

A Irmã Nazareth é uma das muitas religiosas que querem "ir para a periferia" e estar junto dos que mais sofrem. Não podemos negar a nossa oração e ajuda.

in AIS


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