domingo, 20 de setembro de 2020

14 correções do Papa Bento XVI a grande parte das Missas celebradas hoje em dia

Quando ainda era Cardeal, o Papa Bento escreveu um pequeno, mas importante livro, chamado: Introdução ao Espírito da Liturgia. Nele, o Cardeal Ratzinger procurou corrigir muitas das novas concepções litúrgicas que transformaram o modo como o clero e os fiéis olham para a Santa Missa. Deixamos aqui 14 delas:
I. A celebração versus populum é uma fabricação a-histórica. A Santa Missa não é um banquete.
“Em nenhum lugar da antiguidade cristã se conceberia a ideia de que o presidente de um banquete se postasse versus populum. O caráter comunitário de um banquete era sublinhado por uma ordem contrária, a saber, pelo facto de que todos os participantes ficavam do mesmo lado da mesa. A esta análise da forma do banquete deve ser acrescentado que a Eucaristia dos cristãos, de modo algum, pode ser suficientemente explicada com o conceito de banquete. Pois que o Senhor estabeleceu a novidade do Culto Cristão no ambiente de um banquete pascal judaico, mas ordenou que se repetisse somente o que fez de novo, e não o banquete.” (p. 68)
II. Contra o clerocentrismo pós-conciliar e a ideia de que, de algum modo, a Liturgia depende, como de uma fonte, dos assistentes leigos que enchem os presbitérios.
“Em verdade, com isso [a ideia de que o banquete é norma para a Missa], realizou-se um clerocentrismo litúrgico, que antes nunca existira. Agora o sacerdote, ou melhor, o ‘presidente’, como se prefere chamá-lo, é o ponto de convergência para todos, tudo depende dele e ele deve ser visto, (…) sua ‘criatividade’ sustenta tudo. Por isso, era razoável que se procurasse uma medida para reduzir este papel novo que fora criado. Isto se deu pela distribuição de multiformes atividades a grupos leigos, confiando à sua criatividade o papel de ‘criar’ a forma da celebração. Estes grupos acabam colocando-se a si mesmos em primeiro plano, fazendo com que Deus esteja cada vez mais ao lado.” (p. 69)
III. No centro do Altar deve ficar, bem visível, a Cruz.
“A Cruz deve ficar no meio do altar, deve ser, para o sacerdote e a comunidade, a ponto de mira, de convergência dos olhares… Eu considero verdadeiramente absurda a invenção, aparecida nos últimos anos, de colocar a Cruz ao lado, a fim de que se possa ver livremente o sacerdote. Acaso a Cruz causa estorvo à celebração Eucarística? É o sacerdote mais importante que o Senhor? Este erro deve ser corrigido o quanto antes. Isto é possível sem novas construções.” (p. 73)
IV. Uma Igreja sem a Presença Eucarística é morta. A comunhão exige adoração Eucarística.
O Cardeal aponta a seguinte objeção: “A Transubstanciação do Pão e do Vinho, a Adoração do Senhor no Santíssimo Sacramento, o culto Eucarístico com ostensório e procissões – tudo isso seriam erros medievais, que devem ser eliminados de uma vez por todas. Os dons Eucarísticos são para comer, não para contemplar” (p. 74). Mas depois responde: “Comer a Eucaristia é um acontecimento espiritual e de todo homem. Comungar é adorar. Comungar significa deixar o Senhor em mim de tal modo que eu seja transformado… Assim, a Adoração não está contra, nem ao lado da Comunhão. Na verdade, esta só é bem acolhida e alcança a sua profundidade quando recebida e abraçada com Adoração. A presença Eucarística no Sacrário não constitui um conceito contraditório do da celebração Eucarística, mas é necessária para a sua plena realização… Uma igreja sem presença Eucarística é, de qualquer modo, morta. Mas a igreja onde, diante do Sacrário, está acesa a luz eterna, vive sempre, é muito mais que um mero edifício de pedras. É mister que na arquitetura da igreja o Sacrário se encontre no lugar que revela a Sua primordial importância” (p. 74).
V. O iconoclasmo é a negação da Encarnação.
“Os concílios da antiguidade cristã consideram as imagens (ícones) como uma profissão de Fé na Encarnação… e o iconoclasmo como negação da Encarnação e soma de todas as heresias” (p. 105). “O ‘novo iconoclasmo’ foi considerado muitas vezes como mandato do Vaticano II… A iconoclastia afastou alguma coisa indigna, mas deixou um grande vão, cuja penúria nós sentimos muito fortemente” (p. 112).
VI. Dançar na Liturgia é coisa não cristã. É sinal de perda total da Liturgia.
“A dança não é um modo de exprimir-se da Liturgia Cristã. Representantes de círculos gnósticos-docetistas procuraram, no século III, introduzir a dança na Liturgia. Para eles a Crucifixão era mera aparência… Totalmente absurdo é que, na tentativa de fazer a Liturgia mais atrativa, se façam pantominas dançantes (inclusive com grupos profissionais) que sempre terminam em aplausos. Sempre que surgem aplausos para uma ação humana na Liturgia, esta é totalmente perdida, sendo substituída por uma espécie de ‘divertimento’ com intenção supostamente religiosa. Tal atrativo é de curta duração; no mercado dos divertimentos há coisas muito mais sedutoras, contra as quais o ‘divertimento religioso’ não pode concorrer.” (p.170)
VII. O ajoelhar-se, segundo o modelo de Cristo, é a posição correta para entrar no Sacrifício da Cruz.
O Cardeal chama a atenção à frequência com que o Evangelho menciona o acto de ajoelhar-se quando fala da oração de Cristo. Os Evangelistas Mateus (XXII, 39), Marcos (XIV, 35) e Lucas (XXII, 41) unanimemente relatam a prostração e o ajoelhar-se de Cristo na quinta-feira da Semana Santa. “Esta oração, como oração de entrada na Paixão é, segundo a forma e o conteúdo, exemplar” (p. 160). Como a Missa é o Sacrifício da Cruz, começar as orações ao pé do altar de joelhos é uma consequência natural, sendo o modelo do próprio Cristo.
VIII. Hodiernamente, há formas de Ofertório que são uma paródia do substancial.
“A cena quase teatral, dos diversos ‘actores’, que hoje, sobretudo no Ofertório, se pode presenciar, desvia-se definitivamente do essencial. Se cada uma das ações exteriores (que são poucas, mas vêm aumentando sem necessidade) torna-se o substancial da Missa, e esta Liturgia se desnatura em uma mera ação exterior, então o próprio ‘Drama Divino da Liturgia’ se deforma numa paródia” (p. 150). “Se o ‘sentar-se’ durante o Ofertório é a posição adequada, não o trataremos aqui. Tal prática, de origem recente, é oriunda de um certo conceito desta parte da Santa Liturgia, que considera o Ofertório como uma ação meramente pragmática, cujo caráter sacral é simplesmente negado” (p. 168).
IX. O ajoelhar-se durante a Consagração é absolutamente necessário. Uma Liturgia sem ajoelhar-se está mui profundamente doente.
O Cardeal enumera uma abundância de acontecimentos bíblicos em que os homens se ajoelharam diante de Cristo e conclui: “Por isso o dobrar dos joelhos diante da presença do Deus Vivo é sumamente necessário” (p.164). “A incapacidade para ajoelhar-se parece, diretamente, como essência do diabólico… É possível que a cultura moderna considere o ajoelhar-se uma coisa estranha – isto, enquanto sendo uma cultura que se afastou da Fé, e não conhece mais Aquele diante do qual o estar de joelhos é a única postura adequada, e essencialmente necessária. Quem aprende a crer, aprende também a ajoelhar-se. Uma Fé ou uma Liturgia que não mais conhece o ajoelhar-se, seria doente no seu próprio centro. O ajoelhar-se, nos lugares onde se perdeu, deve ser recuperado” (p. 166). “Àquele que crendo e rezando participa da Eucaristia, deve ser profundamente comovente o momento em que o Senhor desce e transubstancia o pão e o vinho em seu Corpo e Sangue. Perante tal acontecimento, não poderia ser outra a nossa postura, que o colocar-nos reverentemente de joelhos, saudando assim o Senhor” (p. 182).
XII. O silêncio durante o Cânon é um insistente clamor a Deus; novas Orações Eucarísticas escorregam para a banalidade.
“No ano de 1978, a contra-gosto de alguns liturgistas, afirmei que não havia necessidade, de modo algum, de recitar o Cânon em voz alta. Depois de muito meditar, desejo, aqui, repetir o mesmo, esperando que, passados vinte anos, tenha-se alcançado maior compreensão desta tese. Entretanto, os liturgistas alemães, em seus esforços para a reforma do Missal, expressamente afirmaram que o ápice da Liturgia Eucarística actual, o Cânon, tornou-se o próprio centro da crise litúrgica. Desde logo após a reforma se procurou sanar este problema com a contínua invenção de novas Preces Eucarísticas, no entanto, resvalou-se cada vez mais para o banal. A multiplicação das palavras não ajuda a superar o problema. É realmente falso dizer que o pronunciar do Cânon em voz alta seja condição para a participação de todos neste acto central da Celebração Eucarística… Somente aquele que experimentou uma igreja unida no silêncio do Cânon, vivenciou o que é um ‘silêncio preenchido’, que ao mesmo tempo é uma clamorosa e insistente súplica a Deus e uma oração cheia de espírito.” (p. 184)
XIII. O tumulto causado pelo hodierno Abraço da Paz.
“A actual ordem do Abraço da Paz causa frequentemente um grande tumulto na comunidade, (…) em que, inusitadamente, entra o convite para volver os olhos ao Cordeiro de Deus.” (p. 183)
XIV. Os rezares silenciosos do sacerdote antes do Evangelho, e antes e depois da Comunhão são necessários.
“As orações silenciosas, pronunciadas pelo sacerdote, constituem um outro motivo, oferecido pela própria Liturgia, para aquele silêncio cheio de significado, pois que a ação litúrgica não é interrompida por este silêncio, mas o tem como parte integrante de si. Uma visão sociológico-ativista da tarefa do sacerdote na Eucaristia desaprova e elimina estas orações… As orações que o padre faz em silêncio o convidam a realizar a sua tarefa com um cunho mais pessoal, a fim de que ele próprio se ofereça a Deus… A reforma litúrgica reduziu significativamente o número destas orações, mas graças a Deus ainda sobraram algumas, pois elas devem continuar a existir. Em primeiro lugar vem a oração preparatória à proclamação do Evangelho, que o sacerdote deve recitar com grande devoção e no silêncio… Sobre o significado do Ofertório, que na nova Liturgia não é claro, já tratamos noutro lugar” (p. 182).


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2 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigada pelo vosso blogue.

Peço desculpa, mas não entendi nada do ponto um e gostaria de perceber pois acho esse erro gravíssimo e responsável pelo esbatimento da consciência de que toda a Santa Missa é oferta a Deus Pai pela mediação do seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo e presentificação da Sua Paixão. Só lendo antigos missais tomei consciência. Assim como a frase "configurados com Cristo na morte, com Cristo tomem em parte na Ressurreição" está metida de maneira a não nos fazer descobrir que nós cristãos devemos viver configurados com Cristo na Paixão e morte.
Além de que a abusiva indiscrição das câmaras de tv reforçam a absoluta necessidade de mudança.

É ainda de ter em atenção que muito do que se diz está errado. De bradar aos Céus é o "proclamamos a ..." nem repito. Mas quem sou eu ou algum de nós, para proclamar tal coisa? A Ressurreição de Jesus é real independentemente de haver alguém que acredite. Como é evidente, nós apenas podemos aclamar e agradecer. "Vinde Senhor Jesus"? quando já veio? Memorial? "Está no meio de nós" para não comentar quem anda metido no meio, dizer apenas que é inconcebível dizer-se uma coisa destas depois da Comunhão e que ao dizê-lo se desatou logo a pecar, a esquizofrenar. A perder a coerência e força da Palavra. A que permitiu aos Apóstolos serem mediadores de enormes milagres por fé no nosso Deus que não mudou. Em Deus é amor, Bento XVI fala claramente de que o homem só se torna realmente ele mesmo, quando há intima unidade do corpo e da alma.
É urgentíssima a limpeza
Tam

João Silveira disse...

Tam, muito obrigado pelo apoio.

O primeiro ponto denuncia a tendência de transformar um sacrifício num banquete e um altar numa mesa. Se fosse apenas um banquete e um altar uma mesa faria sentido que o sacerdote estivesse virado para os outros convivas, que todos estivessem à mesa. Mas sendo um sacrifício, e o sacrifício incruento da Cruz, o sacerdote está virado para a cruz e todo o ponto com ele.