terça-feira, 31 de dezembro de 2024

O último santo do ano civil: São Silvestre, Papa e Confessor

São Silvestre encerra o ano civil. Encerra também, na História da Igreja, uma época importante e inicia uma nova era. Durante três séculos, a Igreja de Deus esteve exposta às mais cruéis perseguições.

O Império romano empregava todo o seu poder para aniquilar o Reino de Deus; o sangue corria em torrentes. Esforçavam-se em regra para inventar novos tormentos. Além disso, astúcia, lisonja, seduções, tudo quanto pode cegar os sentidos, tudo o que a arte e a ciência terrenas podem proporcionar, estava a serviço desta luta - e tudo debalde. 

A Igreja permaneceu ilesa, a despeito de todos os planos, afrontando tudo. Os seus membros morriam aqui e ali, mas a Igreja continuava a viver, e sempre novos elementos entravam, para preencher as lacunas. Por fim, o Império romano se curvou diante de Cristo, e colocou a Cruz sobre o seu diadema e o sinal de Cristo sobre a águia de suas legiões. Cristo tinha vencido na possante peleja, e o Papa Silvestre I viu como tudo mudava. Viu o suplício da cruz ser abolido. Viu cristãos confessarem livre e francamente a sua fé e erigirem casas de Deus. Viu o próprio imperador Constantino edificar o palácio (Lateranense) que durante muitos séculos foi a residência do Vigário de Cristo.

Segundo o testemunho de historiadores fidedignos, Silvestre nasceu em Roma, filho de pais cristãos, que bem cedo o confiaram aos cuidados do sacerdote Cirino, cujo preparo intelectual e exemplo de vida santa fizeram com que o discípulo adquirisse uma formação extraordinariamente sólida cristã. Estava ainda em preparação a última - isto é, a décima - e de todas as mais bárbaras das perseguições dioclecianas, quando Silvestre, das mãos do Papa Marcelino, recebeu as ordens sacerdotais. Teve, pois, ocasião de presenciar os horrores desta investida do inferno contra o Reino de Cristo. Foi testemunha ocular do heroísmo das pobres vítimas do furor desmedido do tirano coroado. Em 314, por voto unânime do povo e do clero, foi proposto para ocupar a cadeira de São Pedro, como sucessor do Papa Melquíades.

Com a vitória do Cristianismo e a conversão do imperador Constantino, viu-se o Papa diante da grande tarefa de, por meio das sábias leis, introduzir a Religião Cristã na vida dos povos, dando-lhe formação concreta e definitiva. A paz, infelizmente, não foi de longa duração. Duas terríveis heresias levantaram-se contra a Igreja, arrastando-a para uma luta gigantesca de quase um século de duração.

Uma foi a dos Donatistas, que tomou grande incremento na África. A Igreja, ensinavam eles, deve compor-se só de justos; no momento em que seu grémio tolera pecadores, deixa de ser a Igreja de Cristo. O baptismo administrado por um sacerdote que está em pecado mortal é inválido. Um bispo que esteja em pecado mortal não pode crismar nem ordenar sacerdotes validamente. 

Pior e mais perigosa foi a outra heresia, o Arianismo, heresia propalada pelo sacerdote Ário, da Igreja de Antioquia. Ensinava este heresiarca que a Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, faltavam as atribuições divinas; isto é, não era consubstancial ao Pai, portanto não era Deus, mas mera criatura, de essência diversa da do Pai e de natureza mutável.

Tanto contra a primeira como contra a segunda, o Papa Silvestre tomou enérgica atitude. A dos Donatistas foi condenada no Concílio de Arles. O arianismo teve sua condenação no célebre Concílio de Nicéia (325), ao qual compareceram 317 bispos. O Papa Silvestre, já muito idoso, não podendo comparecer na grande Assembleia, fez-se nela representar por dois sacerdotes de sua inteira confiança, que, em lugar do Papa presidiram as sessões. Estas terminaram com a soleníssima proclamação dogmática da fórmula: "O Filho é consubstancial ao Pai; é Deus de Deus; Deus verdadeiro de Deus Verdadeiro; gerado, não feito, da mesma substância com o Pai".

O Papa Silvestre assinou as resoluções do Concílio. Na presença de 272 bispos, foram as mesmas em Roma solenemente confirmadas. Esta cerimónia teve lugar diante da imagem de Nossa Senhora Alegria dos Cristãos, cujo altar, em sinal de gratidão à Maria Santíssima, o Papa mandara erigir logo que as perseguições tinham chegado ao seu termo.

Sobre o túmulo de São Pedro, o Papa, auxiliado pelo Imperador, construiu a magnífica basílica vaticana, com suas oitenta colunas de mármore, templo que durante 1100 anos viu chegar milhares e milhares de peregrinos provenientes de todas as partes do mundo, ansiosos de prestar homenagens à "Rocha" sobre a qual Cristo tinha edificado a Sua Igreja - até que deu lugar à actual grandiosa Basílica de São Pedro.

Durante o seu Pontificado, o Papa Silvestre governou a Igreja de Deus dando sobejas provas de prudência e sabedoria, glorificando-a com as virtudes de uma vida santa e apostólica.

in Página do Oriente


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