sábado, 18 de fevereiro de 2006

Obedecer ao Senhor do Céu ou aos senhores da Terra?

"Não participo em chacinas, por isso desobedeço a Salazar!"
















Aristides de Sousa Mendes

Desde pequenos que sabemos que a desobediência é uma coisa muito feia... Então e quando os nossos valores religiosos e morais nos impelem à desobediência? Não será uma contradição fazer algo mau ainda que nome de valores mais altos? Isto de ser cristão não é nada fácil, às vezes...
Decidi pegar no exemplo de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus, que, como todos devem saber, durante o regime nacional-socialista da Alemanha passou vistos a centenas de judeus (e a minorias perseguidas) que prentendiam fugir, nomeadamente, para os Estados Unidos, passando pela Península Ibérica e atravessando o Atlântico; nesta altura Lisboa era conhecida para muitos judeus como "porto de esperança". Contudo, fazer algo que parecia tão simples como carimbar vistos para ajudar outros seres humanos não era legítimo, pois Portugal não queria comprometer-se com uma guerra que alegava não lhe dizer respeito.
Não deve ter sido, de todo, fácil para o cônsul tomar a decisão de ajudar os perseguidos, pois estaria a pôr em risco a sua carreira diplomática e com ela o sustento da sua família. A sua desobediência levou Salazar a condená-lo a um ano de inactividade e à aposentação sem vencimento.
No outro dia, ouvi na televisão um filho de A.S.M. dizer "Sendo católico e um homem muito bom, não poderia voltar as costas àquelas pessoas". Então? Um católico a desobedecer? A fugir às suas obrigações profissionais? A resposta a estas questões está no argumento do cônsul, - "É preferível estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus".
Que Deus o guarde.
Ámen (terminação à Fr. Bernas)


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14 comentários:

João Magriço disse...

Nocas, mt obrigado pela informação e conlusão. Aí está uma coisa que mts vezes não nos lembramos e que é preciso mt coragem para o fazer.
Então nos dias de hj, em q precisamos cada vez mais de católicos na profissão para q as coisas sejam sérias e andem para a frente como deve de ser.
O q mts vezes, não é o objectivo dos patrões, mas apenas ganhar dinheiro, não importa à custa de quem.
Eu felizmente tenho imensa sorte porque o meu patrão é do CL, mas já tive noutra empresa em q as coisas não funcionavam assim. E nem era por questões económicas, m pela maneira como tratam os funcionários. Autênticos escravos...

mvs disse...

Sem dúvida nenhuma que o Aristides de Sousa Mendes foi uma personagem marcante pela coragem que teve ao salvar a vida a milhares de pessoas. Infelizmente, noutros aspectos da vida dele não foi assim tão "santinho", pois apesar de ser casado e ter muitos filhos, quando estava em Bordéus vivia com uma amante...

inésia disse...

"Quando somos julgados pelo Senhor, Ele corrige-nos, para não sermos condenados com o mundo." (1Cor 11, 32)

Senzhugo disse...

tem casa no concelho de carregal do sal

Senzhugo disse...

a própria da mulher do Aristides sabia que ele viva em frança com uma amante... o homem não era só virtudes, pelos vistos.
Mas não somos nós que o vamos julgar.

inésia disse...

o homem salvou milhares de vidas, e só querem insistir no facto de ter sido adúltero.
com este post podiamos era reflectir qdo é q a nossa Fé nos leva à desobediência, tal como S. Francisco quando desobedece ao próprio pai, ou como inúmeras outras situações em q nos vemos perante conflitos quase (não totalmente, pois vivemos na certeza do Amor de Deus Que nos sustenta com o Seu Espírito) insolúveis

Duarte 16 disse...

Isto lembrou-me um homem que tá no livro "Rezar com os Mártires do século XX" (aconselho vivamente), que era o Franz -what's-his-name, que foi morto porque era católico e recusou-se seguir as ordens de um tirano (Hitler) e pegar em armas!
Mas é melhor não me pôr com ideias em relação à desobediência... =)

mvs disse...

A questão não é ser ou deixar de ser adúltero. É mais como é que alguém consegue salvar milhares de vidas e ao mesmo tempo não se esforça para salvar o seu próprio casamento e a sua família. Onde está a coerência? No entanto, ele não deixa de ser um herói. Mas sobre essa questão da obediência/desobediência, a que (ou a quem) é que ele foi realmente "desobediente"?

Anónimo disse...

Sinceramente não vejo qualquer dilema. É claro que, moralmente, só podia desobedecer.
Assusta-me esta ideia que se espalhou entre os católicos que "desobedecer é mau"... somos Ovelhas, mas do Senhor! De mais ninguém. Obedecer aos mandamentos de Deus, sim, às autoridades LEGÍTIMAS, também. A ordens que entrem em conflito com os mandamentos de Deus NUNCA! Não tem nada que saber.
O dilema que ASM viveu foi o risco de sofrer materialmente por seguir a sua consciência, não não deve ter sido, o de "cometer o pecado da desobediência" ao regime de Salazar.
Isto não é uma crítica ao teu post, nunca é demais lembrar os grandes heróis. É antes uma crítica a uma certa mentalidade que vejo entre nós e que me preocupa um bocado.
Quer queiram quer não, isto está ligado ao problema do tiranicidio, do estacionamento para ir à missa, dos impostos...
Está tudo ligado.

Duarte (e mais a quem possa interessar), lê o livro Os Mártires Católicos do Século XX, de Robert Royal; Principia; Cascais 2001.
Conta essa história em muito detalhe. É muito bom. Quantos homens assim não terão morrido sem que ninguém escrevesse as suas biografias?

João Silveira disse...

Filipe, discordo quando dizes q se espalhou nos católicos a ideia que "desobedecer é mau", penso que existe mto mais a mentalidade que "desobedecer é bom".
Temos a tendência para achar q nós é q sabemos tudo, e até o q Deus quer, e assim decidimos desobedecer às pessoas que Deus escolheu para serem nossos superiores hierárquicos.
Claro que se o teu patrão diz:"mata aquele, ou despeço-te", só podes desobedecer. Mas essas "desobediências justas" são uma pequena percentagem das que decidimos fazer, e até mtas vezes em relação ao Papa e à Igreja.
Somos demasiados orgulhosos para nos humilharmos por obediência..

Anónimo disse...

O problema é quando se coloca obediência ao Papa ao mesmo nível de obediência ao Código da Estrada, por exemplo.

A ideia de que Deus escolheu os nossos superiores hierárquicos é uma gigantesca caixa de pandora... Não penso que se deva ir por aí.
Desobediência à igreja é mau.
Desobediência por si só, não é necessariamente bom nem mau, depende quem está a dar as ordens... é só isso que eu quero dizer.
Desobedecer à Igreja = Mau
Desobedecer a Kim Jong II = muito provavelmente uma coisa recomendável.
Desobedecer à EMEL = completamente indiferente.
Desobedecer ao código da estrada, pondo a vida dos outros em perigo = mau, porque se está a por a vida dos outros em perigo...
Se desobedecer ao sinal que, na praia pequena em Sintra, diz "Praia não vigiada, NÃO ENTRAR NA ÁGUA" é pecado... rezem muito pela minha pobre alma.

João Silveira disse...

Essa é uma visão bastante romântica da vida. Só obedeço ao Papa, de resto faço o que me apetece. Como se eu fosse directamente inspirado por Cristo, e infalível em todas as decisões que tomo.
Obviamente não devemos obedecer, sempre q isso nos afastar de Deus, mas julgo q essas são excepções, a comparar com as vezes em q desobedecemos por orgulho. E em relação a isso, nada como um director espiritual, para nos esclarecer. Obediência:

É virtude moral, radicada na virtude cardeal da justiça, que leva a reconhecer a autoridade dos superiores legítimos e a cumprir os seus mandatos num contexto de ordem social. Não há grupo (família, empresa, nação, etc.) que possa subsistir e afirmar-se, sem uma autoridade e sem a obediência cooperante dos seus membros. A verdadeira obediência deve ser livre, e não cega, embora não tenha de conhecer todas as razões do mandato do superior, depositando nele a devida confiança. Obedecer faz parte da educação cívica, levando ao cumprimento inteligente das leis, com a consciência de assim contribuir para o bem comum. É evidente que tal obediência reclama da parte do superior honestidade e competência no exercício da sua autoridade. O contrário da oobediência é a desobediência, fruto do orgulho, que é sempre pecado.

in http://www.agencia.ecclesia.pt/catolicopedia/artigo.asp?id_entrada=1319

Quanto a ser pecado ou não nadar na praia pequena, ou cuspir para o chão, depois de uma conversa com um padre saberás. Se o padre não souber, pergunta ao bispo. Se o bispo tb não souber, pergunta ao Papa.

Abraço em Cristo

Anónimo disse...

"Essa é uma visão bastante romântica da vida. Só obedeço ao Papa, de resto faço o que me apetece. Como se eu fosse directamente inspirado por Cristo, e infalível em todas as decisões que tomo."
Sabes muito bem que não foi isso que eu disse.

Já vi abuso de autoridade suficiente na minha vida (e sofrido na pela com ela) para saber que nem sempre quem está numa posição de autoridade utiliza-a com justiça e legitimidade.

João Silveira disse...

Concordo contigo nesse ponto, e respeito as tuas experências, mas por norma é nosso dever obedecer aos nossos superiores, e smp q formos forçados a desobedecer temos de pensar q não é uma coisa boa.