domingo, 17 de julho de 2011

O ditador e a perspectiva da morte (sobre Hugo Chávez)

Alguém dizia recentemente que não existem ateus em aviões atravessando uma turbulência. Eu até concedo que, talvez, haja algum ateu fanático particularmente fundamentalista a ponto de sufocar a voz da própria consciência até mesmo em situações extremas como diante da morte; mas aposto que a maior parte dos ateus renegaria rapidamente a sua fé quando se visse na iminência de deixar o único mundo que ele se permite acreditar.

Porque a morte é um mistério que sempre provocou – e sempre há de provocar – espanto nos seres humanos. A possibilidade de deixar de existir repugna à inteligência humana. Pelo fato de ser racional, o homem sabe que é superior à matéria, mesmo à orgânica, uma vez que inteligência não escorre de pedras nem se sintetiza em laboratório. O homem almeja continuar existindo, ainda que insista em dizer a si próprio que isto são fábulas de gente ignorante. Na iminência da morte, penso que o desejo natural há de falar mais alto (pelo menos na maioria das vezes) do que a mentira artificial auto-contada nos momentos de prazer – quando o futuro (aparentemente) longínquo é fácil de ser ignorado.

Pensava nisso quando via o Chávez recebendo a Extrema-Unção. O ditador comunista perseguidor da Igreja descobre não apenas que não é imortal (isto, afinal de contas, é fácil), mas que pode morrer em muito breve. Esta característica profundamente cristã da brevidade da vida, onde não somos capazes de adicionar um côvado sequer aos nossos dias sobre a terra, é um poderoso fator de aperfeiçoamento próprio. Quem toma consciência de que pode morrer hoje mesmo vai procurar ser hoje mesmo alguém melhor. Ao contrário, quem não pensa nunca na morte e passa a vida empregando esforços para se convencer de que o poeta mentiu ao dizer que a mágoa acompanha o homem ainda “quando esse homem se transforma em verme”… tem muito mais facilidade em deixar “para depois”.

Claro, é perfeitamente possível que o Chávez esteja somente fazendo uma jogada de marketing hipócrita. Isto, aliás, é até bastante provável. Mas eu gosto de pensar que ele – que enfrentou recentemente um cancro, segundo a notícia – tenha talvez se dado conta de que é tempo (ou já passou há muito do tempo) de fazer conta. Porque, diante da perspectiva da morte, todas as vaidades da vida perdem o sentido; e, se não provocaram a conversão, talvez tenham provocado ao menos a tomada de consciência da necessidade da conversão. Diante da morte, talvez Chávez tenha tremido e temido. Talvez este Sacramento lhe possa fornecer as graças necessárias à redenção. in Deus lo vult


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