segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pedagogia do silêncio - D. Nuno Brás

No meio do reboliço das nossas vidas, dos barulhos e chamadas de atenção que nos empenham o espírito, é essencial criarmos espaços de silêncio, onde nos possamos escutar e, mais importante que isso, escutar Aquele que dá sentido ao nosso existir.

É certo que Deus não se encontra ausente das multidões, da festa, do mundo agitado em que vivemos. Mas é igualmente certo que não O conseguiremos nunca perceber aí, se em nós não existirem momentos de silêncio acolhedor – aquele silêncio interior e exterior de quem se encontra disponível para escutar a Palavra de Deus sem pressas, e deixar-se confrontar por ela.

Muitas das nossas igrejas constituem, é verdade, esses espaços de silêncio – muitas vezes quase vazias e (pelo menos as mais antigas) a convidar à oração e ao repouso em Deus.

Não deixa, contudo, de ser lamentável que apenas as igrejas vazias sejam esse espaço, e que a comunidade que reza não possa, não seja capaz, não lhe permitam apreciar esse dom inestimável do silêncio exterior e interior. Mas não. Antes e depois das celebrações (e mesmo durante elas) as nossas igrejas são invadidas pelo falar, gritar, cantar de quantos lá estão, bem pouco preocupados com Deus e com aquilo que Ele tem para nos dizer, transformando até aquele espaço em casa de encontro de familiares e amigos que não se viam há muito, ou (pior ainda) de oportunidades para a “foto do ano”.

Não se trata de esquecer o mundo, trata-se de poder escutar Deus. Nem se trata de sujeitar o ser humano a uma qualquer regra sem sentido: trata-se antes de perceber que, sem o silêncio, é impossível, de facto, vivermos como cristãos.

As igrejas, os espaços sagrados que elas constituem, não podem ser tratados como lugares iguais aos outros. Mesmo quando a arquitectura é pobre, ou quando as imagens são de fraco gosto e, longe de nos convidarem a elevar o espírito, nos conduzem antes a fechar os olhos, a presença de Deus ultrapassa tudo isso.

E uma comunidade nunca será uma “comunidade orante” enquanto não perceber o silêncio em que Deus lhe fala. Torna-se urgente, em todos e para todos, o início de uma “pedagogia do silêncio” que nos deixe tomar consciência de que o Senhor nos quer, verdadeiramente, encontrar. E, se for necessário, tome-se a sério a regra que há muito nos ensinaram: numa igreja, não se fala!


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