terça-feira, 10 de maio de 2022

O que acontece quando um leigo se veste de sacerdote?

"O que acontece quando um leigo se veste de sacerdote?: Uma investigação sobre o poder do uniforme” é o título de uma reportagem fruto de uma experiência social de Tom Chiarella, que comprou uma batina e disfarçou-se de sacerdote para ver e provocar reacções nos transeuntes, enquanto passeava pelas ruas de Chicago nos Estados Unidos.

 O artigo foi publicado pela revista Esquire Magazine, que não costuma apresentar conteúdo católico nas suas páginas, e que posteriormente foi também utilizado pelo site ChurchPop, o qual publicou 5 curiosas descobertas que Chiarella fez depois de estar vestido com o clássico uniforme católico: a batina.

A primeira parte do artigo descreve como foi a experiência de andar vestido de batina pelas ruas de Chicago e que conclusões tira a propósito desses momentos. Chiarella chega a afirmar: “Eu não tenho uniforme. […] Tenho uma camisola azul muito catita quando quero vestir algo que me caracterize. É a minha escolha. De facto, esta é uma liberdade muito entediante, adquirida a partir de uma mudança social numa ou outra onda populista do último século. As pessoas olham para isto como uma espécie de libertação.” E acrescenta também: “Um bom uniforme tem presença. Sem dúvida, faz com que não se passe despercebido. Todos reagem. E acima de tudo, mostra com simplicidade a sua missão.”

Para efeitos de esclarecimento, Chiarella durante a sua experiência nunca mentiu a nenhuma pessoa e quando alguém perguntava se ele era um padre ele respondia que não. Aqui estão os 5 aspectos desta experiência que mais se destacam:

1. AS PESSOAS OLHAVAM-NO PARA ONDE FOSSE

“Uma hora com o uniforme e soube logo isto: Num dia radiante de verão, numa grande cidade, um padre com batina é algo digno de observar. As pessoas estabelecem imediatamente contacto visual com o Sr. Padre, inclinando a cabeça em gesto de reverência, ainda que muito ligeiramente por vezes. Da mesma forma, ficam a assistir ao sacerdote a passar. Respeitosamente. De longe.”

“Ao caminhar acompanhados, os homens deixam de lado a sua forma habitual de estar para saudar repentinamente com um: ‘Bons dias, Senhor Padre’. O que provavelmente é um hábito apreendido nos seus tempos passados na escola secundária”.

2. AS PESSOAS QUERIAM TOCAR-LHE

“Por norma, quando estás de uniforme, ninguém te quer tocar. Excepto, quando se trata de uma batina; nesse caso, as pessoas vão querer tocar no sacerdote. Na grande maioria das pessoas que encontrei, pretendiam basicamente agarrar-me a mão.”
“Ao contrário do que seria expectável, a veste sacerdotal é a que tem mais procura de acção física entre os uniformes que já vesti para o mesmo efeito social. Durante todo o dia tem que se dar abraços, ajoelhar-se para falar com os mais pequenos e até, por vezes, inclinar-se para as selfies”.

3) OS SEM-ABRIGO IAM AO SEU ENCONTRO PARA PEDIR AJUDA

“Particularmente as pessoas mais carenciadas. Durante todo o dia deparava-me com homens e mulheres a viver nas ruas. Por vezes, chegavam até mim e seguravam a minha mão. Em duas ocasiões pediram-me a bênção, a qual eu não podia dar. Não podia da maneira que eles mais queriam. E isso criou em mim um desejo de ser capaz de realizar um serviço para o mundo, contudo, encontrei uma situação em que não podia fazer nada.”

“O uniforme vem com algo de responsabilidade, caso contrário, não passava de um mera indumentária. Comecei a ajoelhar-me, oferecendo uma nota de 10 dólares e dizendo: ‘Não sou um padre, mas percebo-te’. E não podia fazê-lo apenas uma vez sem continuar a fazer umas quantas vezes mais. Chicago é uma enorme cidade, com uma quantidade imensa de almas encurraladas. Fico ainda mais entristecido do que poderia alguma vez ter imaginado depois de ver tudo isto.”

4) VEIO A SER PARTE DA ROTA TURÍSTICA DA CIDADE

 
Esgotado, o autor desta experiência ainda vestido como presbítero, dirigiu-se a uma carrinha de comida ambulante, comprou a sua refeição e cumprimentou um autocarro turístico, que devolveu essa saudação ao som das buzinas.

5) É DIFICIL SER SACERDOTE

Dada a maneira como muita gente recorria à sua presença em busca de alguma esperança ou de auxílio, o autor conclui depois de todas as experiências que fez com diversos tipos de uniformes: “Estranhamente, a veste sacerdotal foi a mais exigente. [...] É fácil vestir uma batina, porém, não é fácil andar com ela, de forma alguma."
 
in ACI Prensa


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2 comentários:

Maria José Martins disse...

Se a foto anterior me emocionou, este testemunho conseguiu, para além da emoção, que eu não conseguisse conter as lágrimas...especialmente no que se refere aos sem-abrigo. E isto somente demonstra, a necessidade que o Povo tem de alguém que lhes traga um pouquinho de Esperança, seja lá a que nível for...e que, apesar de TUDO, o SACERDOTE ainda é isso que induz, fazendo-me refletir na Missão, que Jesus projetou para os Seus Ministros, quando lhes revelou que, tal como Ele, poderiam fazer as coisas grandiosas que Ele fez e outras ainda maiores, se tivessem Fé: E como o mundo poderia ser diferente!
E, afinal, a experiência até foi positiva, pois, ao contrário do que já ouvi muitas vezes comentar, o (falso) sacerdote foi sempre respeitado e tratado com reverência.
Pessoalmente, não tenho nada contra os padres que se vestem, normalmente, como qualquer cidadão, mas que guardo lindas e boas memórias da minha infância, guardo, quando corríamos desenfreados para pedir a Bênção ao senhor padre... que encontrávamos, beijando-lhe a mão!
E aquela Bênção tinha um significado importantíssimo, porque ele representava Jesus...
Nunca cheguei a perceber muito bem, na altura, o porquê das mudanças, mas recordo-me de ter gostado. Hoje, porém, mais madura e esclarecida, não sei se foram assim tão boas...pois, infelizmente, os resultados nem sempre têm sido os melhores...

Eduardo disse...

Que bom! Esta é uma das boas críticas ao modernismo muito partidário de uma chamada "inculturação", normalmente adulterada porque mais não significa do que secularização. Se for a um hospital e não encontrar médicos identificados com as suas batas pergunto-me se estou realmente num hospital. Com mais razão quero ter essa visão dos médicos das almas!