quinta-feira, 16 de junho de 2016

Santa Sé e os Movimentos na Igreja

A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) apresentou esta semana um novo documento promulgado pelo Papa Francisco e assinado pelo Prefeito da CDF, o Cardeal Muller. Chama-se Iuvenescit Ecclesia (A Igreja rejuvenesce) e é sobre os Movimentos e outras realidades institucionais na Igreja.

O aparecimento de Movimentos  e outros carismas na Igreja é uma realidade do início do século XX mas que ganhou um novo impulso com o Concílio Vaticano II. Muitos dos nossos leitores pertencem ou identificam-se com vários movimentos da Igreja. Penso em Comunhão e Libertação, no Movimento Apostólico de Schoenstatt, nas Equipas de Nossa Senhora ou no Renovamento Carismático, mas há muitos outros.

O documento pode ser encontrado em inglês aqui: Iuvenescit Ecclesia. Apesar de não estar disponível uma tradução para português, deixamos uma pequena selecção de excertos do documento.

Os excertos não estão relacionados uns com os outros.

Congregação para a Doutrina da Fé
Carta Iuvenescit Ecclesia aos Bispos da Igreja Católica
sobre a Relação entre os Dons Hierárquicos e Carismáticos na Vida e na Missão da Igreja

1. A Igreja rejuvenesce no poder do Evangelho e o Espírito renova-a continuamente, levanta-a e guia-a "com diversos dons hierárquicos e carismáticos". [1]  (...)

4. (...) 

Ao contrário das graças fundamentais como a graça santificante ou os dons da fé, da esperança e da caridade, que são indispensáveis para qualquer cristão, um carisma individual não tem de ser um dom dado a todos (cf. 1 Cor 12:30) (...)

5. (...)

Uma passagem importante do Evangelho de Mateus (Mt 7:22-23) expressa a mesma realidade: o exercício dos carismas mais visíveis (profecia, exorcismos, milagres) pode infelizmente coexistir com a ausência de uma verdadeira relação com o Salvador. (...)

6. (...)

Noutro lugar, por exemplo, Paulo sugere que a escolha do celibato por amor a Cristo deve ser entendido como o fruto de um carisma, tal como o matrimónio (cf. 1 Cor 7:7 no contexto de todo o capítulo) (...)

7. (...)

A antítese entre uma Igreja institucional do tipo judaico-cristã e uma Igreja carismática do tipo paulino, afirmada por certas interpretações eclesiásticas redutoras, na realidade carece de fundamento nos textos do Novo Testamento. Longe de situar os carismas de um lado e a entidade institucional do outro, opondo a Igreja "da caridade" e a Igreja "institucional", Paulo reúne numa lista os destinatários  dos carismas da autoridade e do ensino, de carismas que são úteis para a vida normal da comunidade, e dos carismas mais impressionante (...) Eles [Pedro e Paulo] não consideram, no entanto, que esses dons [os carismas] autorizem a não ter a obediência devida à hierarquia eclesial, ou dêem o direito a um ministério autónomo (...) 

11. (...)

Por isto [uma vez que os dons vêm sempre do Pai, através Filho, pelo Espírito Santo], o Espírito Santo não pode de forma nenhuma inaugurar uma economia [da salvação] diferente da divina Logos [palavra], crucificada e ressuscitada. (...) Precisamente para evitar posições teológicas equívocas que colocariam uma "Igreja do Espírito", distinta e separada da Igreja hierárquica e institucional, tem de ser reafirmado que as duas missões divinas se implicam mutuamente em cada dom concedido gratuitamente à Igreja. (...)

17. (...)

Os fiéis têm "o direito de ser informados pelos seus pastores acerca da autenticidade dos carismas e da veracidade daqueles que se apresentam como os respectivos destinatários" [2]. (...)

18. Critérios para discernir os dons carismáticos (...)

c) Profissão de fé Católica. Todas as entidades carismáticas devem ser um lugar de educação na fé na sua plenitude "abrangendo e proclamando a verdade sobre Cristo, a Igreja e a humanidade, na obediência pelo magistério da Igreja, tal como a Igreja o interpreta" [3]; por esta razão estas têm de evitar aventurar-se "para além da doutrina e da comunidade eclesial". De facto se "não nos mantivermos dentro deles, não estaremos unidos a Deus e a Jesus Cristo (cf. 2 Jn 9)”.  (...)

e) Reconhecimento da e estima pela complementaridade recíproca dos outros elementos da Igreja (...)


21. Os dons carismáticos na Igreja universal e particular (...)

Por esta razão é necessário clarificar que a Igreja de Cristo, como professamos no símbolo dos Apóstolos, "é a Igreja universal, isto é, a comunidade mundial de discípulos do Senhor, que está presente e activa no meio das características particulares e da diversidade de pessoas, grupos, tempos e espaços". A dimensão particular é, portanto, intrínseca à universal e vice-versa; existe uma "interioridade mútua" entre as Igrejas particulares e a Igreja Universal.  

24. Conclusão (...)

Maria é reconhecida como Mãe da Igreja e nós, cheios de confiança, recorremos a ela de modo a que, através da sua ajuda eficaz e poderosa intercessão, os carismas, abundantemente derramados pelo Espírito Santo entre os fiéis, possam ser recebidos com docilidade e dar fruto para a vida e a missão da Igreja e para o bem do mundo.

Roma, Escritórios da Congregação para a Doutrina da Fé, 15 de Maio, 2016, Solenidade de Pentecostes.
Gerhard Card. Müller
Prefeito
+ Luis F. Ladaria, S.J.
Secretário


[1] Lumen Gentium, 4. (Concílio Vaticano II)
[2] João Paulo II, Catequese (9 Março 1994), 6: Insegnamenti 17/1 (1994), 641
[3] João Paulo II, Exortação Apostólica Christifideles Laici, 30: AAS 81 (1989), 446-447.

Selecção e tradução dos excertos por Bernardo Brochado


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