quinta-feira, 9 de novembro de 2017

"Não existe qualquer texto da Tradição que sustente a Comunhão na mão”

Monsenhor Nicola Bux foi entrevistado por Bruno Volpe, do Pontifex. O perito em liturgia desenvolveu o tema da Comunhão na mão, do ponto de vista histórico e das implicações na devoção dos fiéis. 

Monsenhor Bux, qual é a maneira mais correta de comungar?

Mons. Bux: Diria que são duas. Há a posição de pé, recebendo a partícula na boca, ou de joelhos. Não vejo uma terceira via.

Falemos da posição vertical…

Mons. Bux: Está bem, não tenho nada contra ela. O importante é que o fiel esteja intimamente consciente do que vai receber, isto é, que não se aproxime da Comunhão com uma despreocupação que demonstra imaturidade e absoluta distância de Deus.

Comunhão de pé… mas o que é melhor?

Mons. Bux: Veja, até a Comunhão de pé, se feita com devoção, compunção e sentido do sagrado, não está mal. Seria belo e conveniente, sem dúvida, que a Comunhão (inclusive quando de pé) fosse precedida por um sinal formal de reverência, ou seja, a cabeça coberta para as mulheres, o sinal da cruz ou uma inclinação de amor.

Mas, por que é que tantas vezes as pessoas se aproximam da Comunhão como se fosse um buffet?

Mons. Bux: Gosto dessa expressão e em parte é também correta. Muitos levantam-se mecanicamente e não sabem, e nem sequer imaginam, o que recebem. Pensa-se que a participação na Missa inclui automaticamente a Comunhão, mas apenas se devem aproximar aqueles que estão realmente na graça de Deus.

O Papa Bento XVI administrava a Comunhão de joelhos…

Mons. Bux: Fez muito bem. Considero que o ajoelhar-se para receber a Comunhão ajuda a recolher o espírito e a compreender mais o mistério. Ajoelhar-se diante do Corpo de Cristo é um acto de amor e de humildade agradável a Deus, que nos faz reavaliar este sentido do sagrado actualmente à deriva e perdido, ou, ao menos, diminuído.

Em resumo, a Comunhão de joelhos ajuda o espírito…

Mons. Bux: Certamente, favorece o recolhimento e a espiritualidade. Considero que a posição de joelhos para receber a Comunhão é a que mais responde ao sentido do mistério e do sagrado.

E a comunhão na mão?

Mons. Bux: Lamento, mas não existe nenhum texto da Tradição que a sustente. Nem sequer o "tomai e comei todos": não há nenhuma menção da mão e, se quisermos, os apóstolos eram sacerdotes e tinham o direito à Comunhão na mão. Os orientais não a permitem.

Numa igreja de Roma, a da Caravita, geralmente muito concorrida especialmente pela comunidade católica mexicana, um sacerdote jesuíta faz os fiéis tomarem pessoalmente a partícula e molhá-la no cálice. É correto?

Mons. Bux: Trata-se de um abuso gravíssimo e intolerável, do qual faz bem em me avisar e do qual o bispo deve tomar consciência e conhecimento. Os parágrafos 88 e 94 da Redemptionis Sacramentum afirmam que não é permitido aos fiéis tomar por si mesmos a hóstia ou passar o cálice de mão em mão. Creio que a Comunhão não é válida. Analisarei o problema, mas estamos diante de um abuso inadmissível que deve ser reprimido o quanto antes.


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3 comentários:

Anónimo disse...

São Cirilo de Jerusalém (+ 381): “Quando te aproximares, não caminhes com as mãos estendidas ou os dedos separados, mas faze com a esquerda um trono para a direita, que está para receber o Rei; e logo, com a palma da mão, forma um recipiente; recolhe o corpo do Senhor, e dize: “Amém”. A seguir, santifica com todo o cuidado teus olhos pelo contato do Corpo Sagrado, e toma-o. Contudo cuida de que nada caia por terra, pois, o que caísse, tu o perderias como se fossem teus próprios membros. Responde-me: se alguém te houvesse dado ouro em pó, não o guardarias com todo o esmero e não tomarias cuidado para que não te caísse das mãos e para que nada se perdesse? Sendo assim, não deves com muito esmero cuidar de que não caia nem uma migalha daquilo que é mais preciso do que o ouro e as pedras preciosas?” (Catequese Mistagógica V 21 s).

João Silveira disse...

Caro Anónimo, obrigado pelo contributo mas essa não era a comunhão na mão tal como a conhecemos hoje, que provem de ambientes protestantes. D. Athanasius Schneider explica como se fazia a comunhão descrita por São Cirilo:

Na Igreja primitiva era necessário purificar as mãos antes e depois do rito, e a mão estava coberta com um corporal, de onde se tomava a forma directamente com a língua: "Era mais uma comunhão na boca do que na mão", afirmou Schneider. De facto, depois de comungar a Sagrada Hóstia o fiel devia recolher da mão, com a língua, qualquer pequena partícula consagrada. Um diácono supervisionava esta operação. Nunca se tocava com os dedos: "O gesto da comunhão na mão tal como o conhecemos hoje era totalmente desconhecido" entre os primeiros cristãos.

Aquele gesto foi substituído pela administração directa do sacerdote na boca, uma mudança que teve lugar "instintiva e pacificamente" em toda a Igreja. A partir do século V, no Oriente, e no Ocidente um pouco mais tarde. O Papa S. Gregório Magno no século VII já o fazia assim, e os sínodos franceses e espanhóis dos séculos VIII e IX sancionavam quem tocasse na Sagrada Forma.

O resto do texto está aqui: http://senzapagare.blogspot.it/2012/06/nao-havia-comunhao-na-mao-na-igreja-dos.html

Paiva disse...

"Numa igreja de Roma, a da Caravita, geralmente muito concorrida especialmente pela comunidade católica mexicana, um sacerdote jesuíta faz os fiéis tomarem pessoalmente a partícula e molhá-la no cálice. É correto?

Mons. Bux: Trata-se de um abuso gravíssimo e intolerável, do qual faz bem em me avisar e do qual o bispo deve tomar consciência e conhecimento. Os parágrafos 88 e 94 da Redemptionis Sacramentum afirmam que não é permitido aos fiéis tomar por si mesmos a hóstia ou passar o cálice de mão em mão. Creio que a Comunhão não é válida. Analisarei o problema, mas estamos diante de um abuso inadmissível que deve ser reprimido o quanto antes."

Infelizmente, já assisti a essa prática errada muitas vezes aqui em Coimbra: na comunidade jesuíta, onde é a forma habitual de se comungar, em várias missas de Natal (por exemplo, na Igreja de S. José), em missas do capelão da Universadade de Coimbra... Enfim...