quarta-feira, 9 de março de 2022

O Inferno visto por Santa Francisca Romana

Deus consolou Santa Francisca Romana com revelações e comunicações místicas sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria Santíssima. Tornou-se célebre pelos seus milagres e dons de cura. Restituiu a vista aos cegos, a palavra aos mudos, a saúde aos doentes, e libertou muitos possessos do demónio.

Santa Francisca teve o pressentimento da sua morte e preveniu os seus amigos. Pedia a Deus que a levasse desta vida, pois não queria ver as novas crises que já começavam a assaltar a Santa Igreja. Caiu enferma, vindo a falecer em 1440.

Na vida dessa mística italiana, as visões ocupam um lugar saliente. A propósito do que a Santa viu sobre o inferno, o célebre escritor católico francês Ernest Hello apresenta um apanhado sucinto e sugestivo na sua obra “Physionomie des Saints”, o qual exporemos abaixo.

Inúmeros suplícios, tão variados quanto os crimes, foram mostrados à Santa em detalhes. Por exemplo, viu ela o ouro e a prata serem derretidos e derramados na boca dos avarentos. A hierarquia dos demónios, as suas funções, os seus tormentos, os diversos crimes aos quais presidem, foram-lhe apresentados. Viu Lúcifer, chefe e general dos orgulhosos, rei de todos os demónios e proscritos, rei muito mais infeliz do que os próprios súbditos.

O inferno é dividido em três partes: o superior, o do meio e o inferior. Lúcifer encontra-se no fundo do inferno inferior. A Lúcifer, chefe universal, subordinam-se três outros demónios, os quais exercem império sobre os demais:

1) Asmodeu, que preside os pecados da carne, e era antes da queda um Querubim;

2) Mamon, que preside os pecados da avareza, era um Trono. O dinheiro fornece ele sozinho.

3) Belzebu preside aos pecados de idolatria. Tudo que tem algo a ver com magia, espiritismo, é inspirado por Belzebu. Ele é, de um modo especial, o príncipe das trevas, e mediante as trevas ele é atormentado e atormenta as suas vítimas.

Uma parte dos demónios permanece no inferno, a outra no ar, e uma terceira atcua entre os homens, procurando desviá-los do caminho certo. Os que ficam no inferno dão ordens e enviam os seus embaixadores; os que residem no ar agem fisicamente sobre as mudanças atmosféricas e telúricas, lançando por toda parte as suas más influências, empestando o ar, física e moralmente. O seu objectivo é debilitar a alma. Quando os demónios encarregados da Terra vêem uma alma enfraquecida pelos demónios do ar, eles atacam-na no seu ponto fraco, para vencê-la mais facilmente. É o momento em que a alma não confia na Providência. Essa falta de confiança, inspirada pelos demónios do ar, prepara a alma para a queda solicitada pelos demónios da Terra.

Assim, enfraquecidos pela desconfiança, os demónios inspiram na alma o orgulho, em que ela cai tanto mais facilmente quanto mais fraca se encontra. Quando o orgulho aumentou a sua fraqueza, vêm os demónios da carne que atacam o seu espírito.

Quando os demónios da carne aumentam mais ainda a fraqueza da alma, vêm os demónios que insuflam os crimes do dinheiro. E quando estes diminuíram ainda mais os recursos de sua resistência, chegam os demónios da idolatria, os quais completam e concluem o que os outros começaram. Todos se articulam para o mal, sendo esta a lei da queda: todo o pecado cometido, e do qual a alma não se arrependeu, prepara-a para outro pecado. Assim, a idolatria, a magia, o espiritismo esperam no fundo do abismo aqueles que foram escorregando de precipício em precipício. Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demónio pode tentar uma alma sem a permissão de Lúcifer.

Os demónios que estão no inferno sofrem a pena do fogo. Os que estão no ar ou na terra não sofrem actualmente tais penas, mas padecem outros suplícios terríveis, e particularmente a visão do bem que praticam os santos. O homem que faz o bem inflige aos demónios um tormento indescritível. Quando Santa Francisca era tentada, sabia, pela natureza e violência da tentação, de que altura tinha caído o anjo tentador e a que hierarquia pertencera.

Quando uma alma cai no inferno, o seu demónio tentador é felicitado pelos demais. Mas quando a alma se salva, o demónio tentador recebe insultos dos outros, que o levam para Lúcifer e este lhe inflige um castigo a mais, além das torturas que já padece. Este demónio entra às vezes no corpo de animais ou homens. Ele finge ser a alma de um morto. Quando um demónio consegue perder certa alma, após a condenação desta transforma-se em tentador de outro homem, mas torna-se mais hábil do que foi a primeira vez. Aproveita-se da experiência que a vitória lhe deu, tornando-se mais forte para perder o homem.

Santa Francisca observava um demónio em cima de alguém que estivesse em estado de pecado mortal. Confessado o pecado, via ela o mesmo demónio ao lado da pessoa. Após uma excelente confissão, o anjo mau ficava enfraquecido e a tentação já não tinha a mesma energia.

Ao ser pronunciado santamente o nome de Jesus, Santa Francisca via os demónios do ar, da terra e do inferno inclinarem-se com sofrimentos espantosos, tanto maiores quanto mais santamente o nome de Jesus fora pronunciado. Se o nome de Deus é pronunciado em meio a blasfémias, os demónios ainda assim são obrigados a inclinar-se, mas um certo prazer é misturado com a dor causada pela homenagem que são obrigados a render.

Se o nome de Deus é blasfemado por um homem, os anjos do Céu inclinam-se também, testemunhando um respeito imenso. Assim, os lábios humanos, que se movem tão facilmente e pronunciam tão levianamente o nome terrível, produzem em todos os mundos efeitos extraordinários e ecos, dos quais o homem não é capaz de compreender nem a intensidade nem a grandeza.

in oracoesemilagresmedievais.blogspot.com


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