20 de Janeiro de 1842: Ratisbonne encontrava-se em Roma. Saindo de um café onde acabara de conversar com dois amigos, encontra a carruagem do Barão de Bussière que o convida para dar um passeio. Afonso, sem muito entusiasmo, mas para não fazer uma descortesia àquele do qual pouco antes tinha sido hóspede, aceita o convite. Acharam-se logo diante da igreja de Sant'Andrea delle Fratte. O piedoso conde de Laferronays devia receber as honras fúnebres e o Barão de Bussière fora encarregado de reservar uma tribuna para a família do defunto.
“Será coisa de dois minutos", diz ele a Afonso que, durante este tempo resolve visitar a igreja. Tenta Afonso descrever o que então se passou na sua alma: “Esta igreja é pobre e deserta; creio que nela me achei mais ou menos só… Nenhum objecto de arte atraiu a minha atenção… Subitamente nada mais vejo… ou antes, ó meu Deus, vejo uma só coisa! Como seria possível falar do que vi? Oh! não, a palavra humana não deve tentar exprimir o que se não pode exprimir; toda descrição, por sublime que seja, não seria mais que uma profanação da inefável realidade…”
Tornando à igreja, o Barão de Bussière não encontra Afonso onde o havia deixado, mas ajoelhado diante da capela de São Miguel Arcanjo e de São Rafael, submergido em profundo recolhimento.
“A esta vista, pressentindo um milagre - depõe o barão - apoderou-se de mim um frémito religioso. Dirijo-me a ele, agito-o várias vezes sem que ele dê conta da minha presença. Finalmente, voltando para mim o seu rosto banhado de lágrimas, junta as mãos e me diz: “Oh! como este senhor rezou por mim!”
Compreendi logo que se tratava do falecido Conde de Laferronays. Amparado, quase levado por mim, sobe à carruagem. Onde quereis ir? pergunto-lhe eu.
“Levai-me para onde quiserdes. Depois do que vi, obedeço”.
Declara-me em seguida que só falará com o consentimento de um padre, porque "o que eu vi – acrescenta ele – só o posso dizer de joelhos”.
Conduzido à igreja do Gesú, dos padres jesuítas, ao lado do padre Villefort que o convida a explicar-se, tira Afonso a medalha, abraça-a, mostra-a e exclama: “Eu vi-A! Eu vi-A!… Havia uns instantes que eu estava na igreja, quando repentinamente me senti dominado por uma turbação inexprimível. Ergui os olhos; todo o edifício desparecera à minha vista; só uma capela tinha, por assim dizer, concentrada toda a luz; e, no meio desta irradiação, apareceu, em pé sobre o altar, grande, brilhante, cheia de majestade de doçura a Virgem Maria, tal qual está na minha medalha; uma força irresistível atraiu-me para ela. A Virgem com a mão fez-me sinal para que me ajoelhasse. Pareceu dizer-me: “Está bem! Não me falou nada, mas eu compreendi tudo”.
Mais tarde dirigiu-se Afonso à Basílica de Santa Maria Maior a fim de agradecer à sua celeste benfeitora o grande benefício recebido.
Ao entrar na capela de Nossa Senhora, exclamou: “Oh! como estou bem aqui! Gostaria de ficar aqui para sempre: parece-me que já não estou na Terra!”
Ao fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, por pouco não desfaleceu. Apavorado, exclamou: “que coisa horrível estar na presença do Deus vivo sem ser baptizado!”
Afirma o Padre Roothan, geral da Companhia de Jesus, que “depois da sua conversão o senso da fé nele se manifestava de modo tão intenso que lhe fazia sentir, penetrar e reter tudo o que lhe era proposto, tanto que em pouco tempo o julgaram suficientemente instruído para receber o santo Baptismo”.
Ratisbonne recebeu sem dúvida uma assistência toda especial de Deus e da Santíssima Virgem.
A 31 de Janeiro, 11 dias após a aparição, Afonso Ratisbonne abjura solenemente à maçonaria e recebe o baptismo na igreja do Gesú das mãos do cardeal Patrizzi. O vasto e sumptuoso templo estava repleto. Ali se encontrava o escol da sociedade romana e estrangeira. Acompanhado pelo Padre Villefort e pelo seu padrinho, o barão de Bussière, Afonso foi levado à porta da igreja. Vestido de uma longa túnica de damasco branco, trazia o Terço e a medalha de Nossa Senhora nas mãos.
– Que pedes à Igreja de Deus? pergunta-lhe o oficiante.
– A fé!
Ah! diz uma testemunha ocular dessa cena majestosa, já tinha a fé católica aquele a quem a Estrela da Manhã iluminara com os seus raios.
Afonso beija a terra e fica prostrado até ao fim dos exorcismos.
Levanta-se e, guiado pelo pontífice, encaminha-se para o altar entre as bênçãos de uma imensa multidão que respeitosamente se abre à sua passagem.
Perguntam-lhe qual é o seu nome.
– Maria! responde num arrebatamento de amor e de gratidão.
– Que desejas?
– O baptismo.
– Crês em Jesus Cristo?
– Creio!
– Queres ser baptizado?
– Quero!
Com um sorriso de celeste beatitude levantou sua cabeça ainda humedecida da água baptismal. Acabava de transpor um abismo: era cristão.
Afonso, cheio de Deus, radicalmente transformado pela graça, deixa o mundo e entra na Companhia de Jesus. Nela viveu dez anos vida exemplar e só a deixou, desfeito em lágrimas, para fazer a vontade de Deus que o queria ao lado do seu irmão, o Padre Teodoro, para com ele trabalhar numa obra tão grata ao mesmo Deus e de tanta relevância: a conversão dos judeus.
O piedoso Padre Maria Afonso Ratisbonne nunca se esqueceu da sua Mãe amantíssima que o arrancou das trevas da incredulidade para os esplendores da verdadeira fé.
Inclinava-se profundamente sempre que ouvia no canto das ladainhas a invocação: “Refúgio dos pecadores, rogai por nós!”
Os que o ouviam falar da sua Mãe Celeste adivinhavam o que se passava no seu coração; o seu olhar fulgurante parecia que ainda contemplava a mais bela e a mais pura das virgens.
A medalha milagrosa, que exercera papel preponderante na sua conversão, era o seu mais caro tesouro. Julgou um dia que a havia perdido; a sua aflição foi extrema; parecia-lhe que fora abandonado pela Virgem misericordiosíssima. As suas lágrimas não cessaram de correr até que a encontrou.
Maria Santíssima foi a sua consolação em todas as penas e o seu grande motivo de esperança em todas as provações. Dizia que Maria Santíssima não é outra coisa que uma mão de Deus, não a mão que castiga, mas a mão das misericórdias.
Dizem os historiadores que quando o Padre Ratisbonne pregava sobre Nossa Senhora, todos os ouvintes se comoviam, muitos pecadores se convertiam.
1 comentário:
Que pena, que estes Testemunhos tenham sido esquecidos pela maioria dos nossos pregadores!
Antigamente, exemplos, como os que acabámos de ler, tocavam a sensibilidade de quem os escutava, acabando por lhes mudar a vida...convertendo-os, pois, somos todos feito do "mesmo barro!"
Hoje, quem defende estas DEVOÇÕES é apelidado de SUPERSTICIOSO!--salvo raras exceções--
Obrigada, por no-los ter apresentado.
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