quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Porquê Nossa Senhora do Ó?

Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugénio III Bispo de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade Santo Ildefonso.

Santo Eugénio foi sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, que determinou que essa festa se celebrasse no dia 18 de Dezembro com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria.

Os dois nomes têm o mesmo significado e objectivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos.

A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogénito, é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para co-redentora da humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afectivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo.

As antífonas maiores que põe a Igreja nos lábios dos seus sacerdotes desde o dia 18 de Dezembro até a Véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamativa Ó ("Ó Sabedoria... vinde ensinar-nos o caminho da salvação"; "Ó rebento da Raiz de Jessé... vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus"), como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó".

Em Portugal

Em Portugal, o culto à Expectação do Parto, ou a Nossa Senhora do Ó, teria se iniciado em Torres Novas (Santa Maria, Frei Agostinho de - Santuário Mariano), onde uma antiga imagem da Senhora era venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo. Esta imagem era conhecida à época de D. Afonso Henriques por Nossa Senhora de Almonda (devido ao Rio Almonda, que banha aquela povoação), à época de D. Sancho I por Nossa Senhora da Alcáçova (c. 1187) ou, a partir de 1212, quando se lhe edificou (ou reedificou) a igreja, por Nossa Senhora do Ó. Esta imagem é descrita pelo mesmo autor como:

É esta santa imagem de pedra mas de singular perfeição. Tem de comprimento seis palmos. No avultado do ventre sagrado se reconhecem as esperanças do parto. Está com a mão esquerda sobre o peito e a direita tem-na estendida. Está cingida com uma correia preta lavrada na mesma pedra e na forma de que usam os filhos de meu padre Santo Agostinho.

Nossa Senhora do Ó é a padroeira de dezoito freguesias portuguesas, situadas na sua maioria nas dioceses mais setentrionais do país

No Brasil

No Brasil, o culto iniciou-se à época do início da colonização, com o Capitão donatário Duarte Coelho, na Capitania de Pernambuco. Tendo fundado a vila de Olinda, nessa povoação erigiu-se uma Igreja sob a invocação de São João Baptista, administrada por militares, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó. De acordo com Frei Vicente Mariano, também se tratava de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecida. A tradição reputa esta imagem como milagrosa, tendo vertido lágrimas em 28 de Julho de 1719.

A partir dessa primitiva imagem em Olinda, a devoção se espalhou em terras brasileiras graças a cópias na Ilha de Itamaracá, em Goiana, em Ipojuca e em São Paulo, nesta última em casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto que fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes, por sua vez levaram a devoção para Minas Gerais, onde, em Sabará, se erige a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó, em estilo indo-europeu, actualmente tombada pelo Iphan. É venerada também em Icó onde fazem uma grande festa anual.

Iconografia

A imagem de Nossa Senhora do Ó sempre apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre. A mão direita pode também aparecer em simetria à outra ou levantada. Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a fonte da vida. Em Portugal essas imagens costumavam ser de pedra e, no Brasil, de madeira ou argila.

No século XIX, muitas imagens foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, com o ventre disfarçado pela roupa. Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar o assunto, tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar das igrejas.

* * *

As Antífonas do Ó foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. 

Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!». Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento (Antífonas do Ó: O antigo e o novo na oração litúrgica do advento. - São Paulo: Paulinas, 1997).

De acordo com D. Guéranger (Abade de Solesmes, França, +1875), ‘as Antífonas do Ó contêm todo o núcleo do período litúrgico’. São consideradas, ainda, ‘as pérolas que exprimem o tesouro escondido no campo deste Tempo, configurando a coroa do Rei dos reis!’

in heroinasdacristandade.blogspot.com


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


Adorei esta explicação, para o título de "Nossa Senhora do Ó!"
Realmente, pressupõe-se que seja de origem popular e, por isso, a simplicidade do Povo enternece-me, deveras, o coração!
Chega a fazer-me lembrar certas conclusões e raciocínios infantis que, pela sua espontaneidade e sinceridade, descomplicam, tantas vezes, as teses confusas dos adultos.
Logo, só assim se compreende a grande preferência de Jesus pelos "pequeninos" ou "pobres de espírito", em detrimento dos "sábios e inteligentes..."