terça-feira, 30 de junho de 2020

Concílio Vaticano II: O Super-Dogma

A verdade é que o próprio Concílio Vaticano II não definiu nenhum dogma e conscientemente quis expressar-se a um nível muito mais modesto, meramente como Concílio pastoral; no entanto, muitos o interpretaram como se fosse o super dogma, que tira importância a todos os outros Concílios.

Cardeal Joseph Ratzinger - Alocução aos Bispos do Chile, 13 de Julho de 1988


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domingo, 28 de junho de 2020

Comungar na boca em tempo de Covid

A Eucaristia é o que há de mais sagrado no mundo. Ao dizê-lo assim, parece que estamos a dizer muito e, no entanto, não dizemos quase nada, porque se poderia passar a ideia errada de que haveria outras coisas comparáveis, ainda que menos sagradas. 

No entanto, nada há de comparável, porque na Eucaristia está Deus em Si mesmo, em Sua completa, integral, real presença. É esta a certeza dos católicos. Sim, o mundo, naquele sentido que lhe dava São João, dirá que isto é uma loucura, e nós sabemos que é uma loucura, sabemos que é a loucura do amor de Deus pelos homens e sabemos também, por outro lado, que a sabedoria de Deus parece loucura aos olhos dos homens. 

A Eucaristia não é, por isso, coisa pouca, nem, naturalmente, a forma consequente como a recebemos, pois nos gestos expressamos justamente toda a reverência que devemos ao Criador, a fonte do nosso ser; e se não somos hipócritas, os gestos devem ser a expressão coerente, natural, da nossa crença. O Anjo de Portugal deu-nos em Fátima este exemplo, justamente, ao reverenciar a Sagrada Eucaristia prostrando-se com o rosto no chão.

Por esta razão, a Igreja veio a definir, durante séculos, como a única forma possível de receber tão alto sacramento, aquela que melhor expressa a completa reverência do crente: receber a Comunhão na boca e de joelhos, porque a Eucaristia é uma dádiva que nenhum crente merece e que, apesar disso, o Senhor quer dar, por ela Se quer dar ou, como nos mostram objectivamente os milagres eucarísticos, por ela nos quer dar o Seu Sagrado Coração. 

Vale a pena, por não ser muito conhecido, referir, apenas a título de exemplo, um milagre eucarístico contemporâneo e aprovado pela Igreja; em 2013, em Legnica, na Polónia, durante a Santa Missa de Natal, numa hóstia que caíra ao chão inadvertidamente, ao fim de alguns dias, depois de colocada, como define a Igreja, em água para se dissolver, apareceram manchas de sangue e depois tecido biológico. Foram entregues amostras a dois laboratórios, com pedido de identificação e a conclusão de ambos autonomamente foi a de que se tratava de músculo cardíaco humano em estado de agonia…

Quando se fala em receber a Eucaristia na boca ou na mão, é bom termos em mente a realidade de que se trata e, por isso, a reverência que devemos ao mais alto dos sacramentos, aquele em que o Rei dos reis se faz o mais humilde, vulnerável e pobre de todos.

À Igreja, e só à Igreja, foi dada a missão de custodiar e distribuir o Santíssimo Sacramento e, sendo este um mandato divino, nenhuma autoridade secular tem poder sobre ele.

Nos anos setenta, a Igreja permitiu, depois de pressão e desobediência por parte de países muito protestantizados, que as Conferências Episcopais que o quisessem pudessem pedir um indulto, isto é, uma excepção, para a Eucaristia poder ser distribuída na mão. Assim, nos países em que este indulto foi concedido é possível distribuir a comunhão na mão, mas isto é uma excepção, pois a norma, quer dizer, a forma preferida da Igreja para a recepção da Eucaristia é na boca. 

Como pode espantar que os Srs. Bispos se escandalizem por os crentes virem pedir apenas aquilo que é a norma? Como podem colocar-se numa posição tal que não os queiram ouvir? Venham sentir o cheiro das ovelhas que balem o seu lamento, o Senhor disse que o bom pastor deixaria noventa e nove para salvar apenas uma que se perdesse, como não deixaria então as noventa e nove apenas para ouvir o lamento de uma? Ouçam-nos, não se coloquem numa posição que não nos pode senão fazer pensar naquele clericalismo que o Papa Francisco tanto tem procurado combater.

Como esperavam que não houvesse crentes que se escandalizassem ao ler aquele documento, divulgado pela Conferência Episcopal, em que a Direção Geral de Saúde (sic!) define quais os “Passos necessários para comungar”? É nesse documento que a DGS (sic!) definiu que a comunhão é recebida apenas na mão.

A Eucaristia foi dada aos fiéis por Cristo; a tarefa dos sacerdotes é torná-la disponível; não é sua posse. E se o crente quer receber a Eucaristia na forma que sabe que é aquela que a Igreja recomenda e mais ama, então, os sacerdotes, os bispos, devem procurar encontrar formas seguras de fazê-lo e não desistir imediatamente, como se fosse uma coisa menor; e menos ainda deveriam entregar assunto tão grave nas mãos da DGS…

O Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, máxima autoridade vaticana nesta matéria, confrontado, recentemente, com a decisão da Conferência Episcopal Italiana de proibir a distribuição da comunhão na boca, respondeu de forma inequívoca (La Nuova Bussola Quotidiana, 2.5.2020): “Já existe uma regra na Igreja que tem de ser respeitada: os fiéis são livres de receber a Comunhão na boca ou na mão.” As conferências episcopais não deveriam respeitar as normas da Igreja? 

Em 2009, por causa da pandemia da gripe suína (gripe A, H1N1), a mesma Congregação foi questionada sobre a possibilidade de continuar a receber a Eucaristia na boca e a resposta foi esta: “Este Dicastério assinala que a sua Instrução Redemptoris Sacramentum (25 de março de 2004) claramente determina que ‘todo o fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na língua’ (n. 92)”.

Dir-se-ia que é um risco não razoável a distribuição da Eucaristia na boca, no entanto, mesmo esta questão é discutida entre virologistas! Por exemplo, a Conferência Episcopal Americana, fez-se aconselhar por uma equipa de dezasseis especialistas de várias áreas que confirmaram não haver mais risco na distribuição na boca do que na mão e, assim, nos Estados Unidos, a sua Conferência Episcopal decidiu que continua a ser o crente que escolhe como quer receber. O Professor Filippo Maria Boscia, Presidente da Associação de Médicos Católicos de Itália, vai mesmo mais longe, afirmando que a Comunhão na mão é mais perigosa; a Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos (FIAMC) endossa rigorosamente as declarações do Prof. Boscia; assim também o Dr. Fabio Sansonna, com mais de cem artigos científicos publicados; e ainda assim os especialistas a que recorreu a Arquidiocese de Portland, Oregon, etc. Os Srs. Bispos poderiam seguir o parecer da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos, porque não o fizeram?

Sentimos, e cremos que é legítimo, que os Srs. Bispos deveriam ter defendido melhor a Sagrada Eucaristia, que deveriam preservar as normas que a Igreja, em sua sabedoria, definiu; sentimos que não querem ouvir todo o seu rebanho; sentimos que não deveriam ter entregado esta decisão, o ponto mais alto do Catolicismo, a uma entidade secular.

Jesus ensinou-nos que devemos dar a César apenas o que é de César e nunca a dar a César o que é de Deus e só de Deus é.

Pedro Sinde in paroquiadoamial.pt


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sábado, 27 de junho de 2020

Queremos a nossa Igreja de volta!




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"Destemidas": uma série de (des)animação

Andam por aí muitos pais escandalizados com “Destemidas”, uma série de filmes de (des)animação passadano programa Zig Zag que, segundo a RTP, é um espaço infantil “dedicado acrianças entre os 18 meses e os 14 anos”. Um dos episódios conta a vida de Thérèse Clerc, pioneira do aborto livre e do movimento feminista em França.

Thérèse nasceu numa família católica conservadora, valha a redundância, e, por isso, é representada com uma cruz ao pescoço. O pai diz-lhe que deve ser dócil, enquanto a mãe acrescenta que se deve manter virgem até ao casamento. É óbvia a intenção de ridicularizar a moral cristã: a troça é o elogio que o vício presta à virtude.

Na cena seguinte, Thérèse, no leito matrimonial, com a cruz ao pescoço e sob um grande crucifixo, espera de forma submissa o marido, que lhe diz que quer ter mais uma criança. A mulher é, portanto, reduzida a um mero instrumento de reprodução, ou seja, uma proletária. Enquanto o homem tem uma vida profissional activa, a mulher fica em casa, escrava das tarefas domésticas e do cuidado a dar à numerosa geração.

Em jeito de ‘distracção’ – é assim que se diz na curta-metragem – Thérèse frequenta a igreja. É aí que, por intermédio dos padres operários, conhece a obra de Karl Marx. É O Capital que a inspira a dar um novo rumo à sua existência: se todos os homens devem ser livres, as mulheres também!

A nova Thérèse, já feminista e sem a cruz que trazia ao pescoço, sai de casa com os filhos e junta-se a outra mulher. A partir dessa altura, apesar de saber que o aborto ilegal é a principal causa de óbitos femininos, dedica-se a essa prática criminosa.

O documentário sobre Thérèse Clerc, apóstola do amor livre e do aborto, canonizada pela televisão estatal e proposta como exemplo de virtudes à mocidade portuguesa, é digno de uma Leni Riefenstahl, senão mesmo do próprio Josef Goebbels.

Há por aí muito boa gente desanimada com este filme de animação, passe a contradição. Sem ânimo de polemizar com a RTP, a Radiotelevisão de Todos os Portugueses (excepto os católicos que, segundo dados oficiais, são apenas 80%), sugiro uma leitura alternativa desta obra-prima da sétima arte, digna de um leão de ouro de Veneza, ou até mesmo de um escaravelho de prata do Nepal ou, pelo menos, da melga de bronze do grande festival de cinema da Papua-Nova Guiné, sem ofensa para venezianos, nepalenses ou papuanos, nem leões, escaravelhos e melgas.

Então, devia ser assim: Thérèse nasce numa família feliz, porque católica. É bonita e rebelde, porque fiel ao maior revolucionário de todos os tempos: Jesus de Nazaré. Aprende dos pais e na catequese que, enquanto Marx, Engels, Lenin e Stalin, morreram na cama, como bons burgueses, Cristo, para salvar a humanidade, morreu crucificado. Thérèse é virgem, que é afirmação de personalidade e de amor, de que só são capazes as melhores mulheres e os mais homens, como seu pai e mãe lhe ensinaram, com a sua palavra e o exemplo da sua vida cristã, nomeadamente o seu casto namoro e noivado.

A Thérèse cristã sabe que a Missa não é nenhuma distracção, mas o acto do mais sublime rebeldia e libertação de todos os homens e mulheres. Ao ouvir o Evangelho, percebe a força transformadora da doutrina social da Igreja. Enquanto o marxismo é o ópio do povo ignorante, a religião cristã é o grande segredo das vidas heróicas, como as das suas homónimas Santa Teresinha de Lisieux, padroeira das missões; Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja; Santa Teresa Benedita da Cruz, a filósofa carmelita que foi mártir em Auschwitz; e Santa Teresa de Calcutá, fundadora das missionárias da caridade.

É graças a um padre ‘operário’ que esta Thérèse católica lê o Evangelho, escondido sob a aparência de O Capital, de Karl Marx, porque vive num país comunista, como a China, ou a Coreia do Norte, onde não há liberdade e, por isso, a Bíblia é proibida. Este padre não é um mercenário, como os guerrilheiros marxistas da teologia da libertação, mas um verdadeiro ‘operário’ da messe do Senhor, que não tem medo de pregar o Evangelho.

Depois, a Thérèse cristã regressa a casa e, em vez de abandonar o marido, contagia à família o ideal da evangelização. Leva os filhos consigo, para que a ajudem no seu trabalho de promoção espiritual, humana e social.

Consciente de que o aborto, ilegal e legal, é a principal causa de morte de milhões de seres humanos inocentes, Thérèse decide ajudar as jovens mães em apuros. A sua missão é, sobretudo, salvar as crianças, mas também libertar as mulheres vítimas de parceiros opressores, reféns de organizações abortistas, ou ignorantes de uma evidência científica universal: o feto é um ser humano, com vida e personalidade própria.

Quando, finalmente, a mãe que pretendia dar morte ao seu filho ainda não nascido, se dá conta do embuste do aborto como ‘direito’ da mulher, decide-se a lutar pela vida. Já não o faz com um tímido sussurro, mas com um grito de rebeldia, que arrasta muitas outras mulheres, que passam a ser – estas sim! – as verdadeiras destemidas.

E, a concluir, um happy end. A Thérèse católica, ao contrário da homónima do filme, não enjeita a mãe idosa, mas mantém-na em casa até à sua morte natural. O seu marido e filhos agradecem-lhe, felizes, a bênção de uma tal presença.

É justo que os pais, desanimados com este filme de animação, protestem e aproveitem esta oportunidade para explicar às suas filhas e filhos a beleza da vida humana e a grandeza da moral cristã. Quanto respeito merecerão as jovens que se se souberem dar ao respeito! Há que ensinar a nova geração a ser destemida na luta contra a ideologia que o nosso nacional socialismo, através do Ministério da Educação e da RTP, lhes quer impingir.

Um voto, que é também um pedido a todos os pais, sobretudo os cristãos: que as vossas filhas não sejam outras Thérèse Clerc, mas outras Teresas santas, como a de Ávila, a de Lisieux, a de Auschwitz e a de Calcutá! Que estejam sempre prontas a dar razão da sua esperança, proclamando a dignidade de toda a vida humana – all human lives matter! – desde a concepção e até à morte natural! Que sejam destemidas na luta contra o aborto, vivam na liberdade gloriosa dos filhos de Deus e se animem a praticar a caridade cristã, que é a experiência revolucionária do verdadeiro amor.

Padre Gonçalo Portocarrero de Almada in Observador


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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Penitência nas coisas concretas do dia-a-dia


Penitência é o cumprimento exacto do horário que te fixaste, mesmo que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se com sonhos quiméricos. Penitência é levantares-te pontualmente. E também, não deixar para mais tarde, sem motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou custosa.

A penitência está em saber compaginar as tuas obrigações relativas a Deus, aos outros e a ti próprio, exigindo-te, de modo que consigas encontrar o tempo necessário para cada coisa. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares cansado, sem vontade ou frio.

Penitência é tratar sempre os outros com a maior caridade, começando pelos teus. É atender com a maior delicadeza os que sofrem, os doentes e os que padecem. É responder com paciência aos maçadores e inoportunos. É interromper ou modificar os nossos programas, quando as circunstâncias – sobretudo os interesses bons e justos dos outros – assim o requerem.

A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades do dia; em não abandonar o trabalho, mesmo que no momento te tenha passado o entusiasmo com que o começaste; em comer com agradecimento o que nos servem, sem caprichos importunos.

São Josemaria Escrivá in 'Amigos de Deus', 138


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quinta-feira, 25 de junho de 2020

Deus protege e liberta o humilde


Não te preocupes muito se alguém é por ti ou contra ti, mas procede e ocupa-te de modo a que Deus esteja contigo em tudo quanto faças. Consegue uma consciência pura, que Deus te defenderá bem.

Se souberes calar-te e sofrer, verás sem dúvida o auxílio do Senhor. Ele conhece o tempo e o modo de te libertar, e por isso a Ele te deves submeter. É próprio de Deus ajudar e libertar de toda a confusão.

Muitas vezes, é mais útil para a conservação da nossa humildade que os outros conheçam os nossos defeitos e os censurem. Quando um homem se humilha por causa dos seus defeitos, acalma os outros facilmente e satisfaz sem custo os que com ele se iravam.

Deus protege e liberta o humilde, ama-o e consola-o. Inclina-Se para ele e dá-lhe grande graça; e, depois do seu abatimento, eleva-o à glória. Revela os Seus segredos ao humilde, arrasta-o e convida-o docemente para Si. E ele, mesmo na confusão, vive em paz, porque se firma em Deus e não no mundo. Não julgues ter adiantado em qualquer coisa se não te sentires inferior a todos.

Thomas de Kempis in Imitação de Cristo (Livro II, Cap. II)


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terça-feira, 23 de junho de 2020

13 bonitas igrejas Católicas



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Acto de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus

Dulcíssimo Jesus, Redentor do género humano, lançai sobre nós que humildemente estamos prostrados diante do vosso altar. Nós somos e queremos ser Vossos; e a fim de podermos viver mais intimamente unidos a vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao Vosso sacratíssimo Coração. 

Muitos há que nunca Vos conheceram; muitos, desprezando os Vossos mandamentos, Vos renegaram. Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao Vosso Sagrado Coração. 

Senhor, sêde Rei não somente dos fiéis, que nunca de Vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos que Vos abandonaram. Fazei que estes retornem o quanto antes à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome. 

Sêde Rei dos que vivem iludidos no erro ou separados de Vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da Fé, a fim de que, em breve, haja um só rebanho e um só Pastor. 

Senhor, conservai incólume a Vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem cadeias. Concedei ordem e paz a todos os povos. Fazei que de um polo ao outro do mundo ressoe uma só voz: Louvado seja o Coração divino, que nos trouxe a salvação. Honra e glória a Ele, por todos os séculos. Amém. 


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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Conclusão do livro do Papa Bento e Cardeal Sarah sobre celibato sacerdotal

Vivemos em tristeza e sofrimento nestes tempos difíceis e conturbados. Era o nosso dever sagrado (com este livro) relembrar a verdade do sacerdócio católico. Pois, pondo-o dele toda a beleza da Igreja é posta em causa. A Igreja não é uma organização humana. Ela é um mistério. Ela é a noiva mística de Cristo. É isso que o nosso celibato sacerdotal constantemente lembra ao Mundo. 

É urgente e necessário que todos, bispos, padres e leigos, não se deixem impressionar por apelos maldosos, produções teatrais, mentiras diabólicas e erros da moda que procuram desvalorizar o celibato sacerdotal. 
É urgente e necessário que todos, bispos, sacerdotes e leigos, redescubram um olhar de fé na Igreja e no celibato sacerdotal que protege o seu mistério. Esta será a melhor defesa contra o espírito de divisão, contra o espírito político, mas também contra o espírito de indiferença e relativismo.

Papa Bento XVI e Cardeal Robert Sarah no livro 'Do profundo dos nossos corações'


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domingo, 21 de junho de 2020

A Comunhão na boca é um direito que não se pode suprimir


Em Maio de 1969 foi publicada uma instrução da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos «sobre a maneira de se distribuir a Sagrada Comunhão». A Memoriale Domini, após consultar todos os bispos do mundo, divulgava os seguintes números:

1. Pensa que se deve dar atenção ao desejo de que, além da maneira tradicional, se deva admitir o rito de receber a Sagrada Comunhão nas mãos?
Sim: 597
Não: 1.233
Sim, mas com reservas: 315

Votos inválidos: 20 

2. Deseja que este novo rito seja primeiro experimentado em pequenas comunidades, com o consentimento dos bispos?
Sim: 751
Não: 1.215
Votos inválidos: 70
 

3. Acha que os fiéis vão receber bem este novo rito, após uma adequada preparação catequética?
Sim: 835
Não: 1.185
Votos inválidos: 128

Decorrendo disto, a mesma instrução assim determinava: «o Santo Padre [Paulo VI] decidiu não modificar a maneira existente de administrar a Santa Comunhão aos fiéis». Ou seja, a forma ordinária de se receber a Sagrada Eucaristia não foi nunca modificada: a forma é recebê-La das mãos do sacerdote directamente na boca. Esta é a prática tradicional que remonta a épocas imemoriais, é a prática que já foi incontáveis vezes confirmada pela Santa Sé, é a prática que nem a Memoriale Domini revogou.

Receber a comunhão nas mãos, embora se tenha tornado um abuso horrendo em todo o mundo, trata-se apenas de um indulto que na maior parte das vezes se aplica ilicitamente. É o que diz o n. 92 da Redemptionis Sacramentum (RS): «Se existe perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão». Como a maior parte das nossas celebrações litúrgicas é um verdadeiro pandemónio e como os nossos católicos apresentam no geral uma formação terrível, o «profanationis periculum» — ao menos nas missas abertas — é a regra e, portanto, a lei litúrgica manda não distribuir a comunhão eucarística nas mãos. Que isto seja quase sempre ignorado não retira o seu carácter de ilicitude: a desobediência não deixa de ser desobediente só porque se pratica com uma regularidade descarada.

“Ah, o problema é só que as pessoas, como não sabem comungar correctamente, acabam por deixar cair no chão fragmentos da hóstia consagrada”. Bom, mesmo que o problema fosse só esse — concesso non dato –, só isso já exigiria que se proibisse a comunhão na mão, uma vez que a RS manda não distribuir deste modo «[s]e existe perigo de profanação»! Deixar cair no chão um fragmento do Corpo de Cristo, mesmo que seja “sem querer”, por desleixo e por falta de cuidado, é, sim, sem a menor sombra de dúvidas, uma situação de «profanationis periculum» — onde o direito manda, portanto, não distribuir a Eucaristia nas mãos. “Somente” este problema já é um sacrilégio horrendo e uma desobediência atroz à lei da Igreja, que não se pode menosprezar.

Mais: a comunhão na boca é um direito verdadeiro e próprio do fiel, ao passo que a comunhão na mão é um mero indulto. É o que nos diz, ainda, o n. 92 da Redemptionis Sacramentum, cuja tradução para o português ficou cortada e incompreensível. Diz o texto na nossa língua:

«Todo o fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na boca ou se, o que vai comungar, quer receber na mão o Sacramento. Nos lugares aonde Conferência de Bispos o haja permitido, com a confirmação da Sé apostólica, deve-se lhe administrar a sagrada hóstia.»

Só em português é que a pontuação ficou assim. Em italiano, em espanhol, em inglês e em latim o ponto fica no fim, e o seu sentido é claro: aquilo a que se tem «sempre direito» é a «receber a sagrada Comunhão na boca», e recebê-la na mão só é possível nos «lugares aonde (sic) [a] Conferência de Bispos o haja permitido». A versão em francês é a mais clara e inequívoca: Tout fidèle a toujours le droit de recevoir, selon son choix, la sainte communion dans la bouche. 

Todos os fiéis têm o direito de receber, à sua escolha, a Santa Comunhão na boca. Ponto. Este é o direito. Em seguida vem o indulto: "Si un communiant désire recevoir le Sacrement dans la main, dans les régions où la Conférence des Évêques le permet, avec la confirmation du Siège Apostolique, on peut lui donner la sainte hostie". Se um fiel deseja receber na mão o Sacramento, naquelas regiões onde a Conferência dos Bispos o permitir com a confirmação da Sé Apostólica, pode-se dar-lhe a Santa Hóstia. Esta é a concessão, que não é absoluta, mas sim condicionada a um indulto da Conferência Episcopal ratificado pela Santa Sé.

Ou seja, embora qualquer Conferência Episcopal possa (e em muitos casos até mesmo o bispo individual o deva — si adsit profanationis periculum) proibir a comunhão na mão, nenhum bispo ou Conferência pode proibir a comunhão na boca. Este é o modo ordinário de se receber a comunhão eucarística, ao qual o fiel tem sempre direito — ius semper habeat. Este entendimento não é meu, é da Sagrada Congregação para o Culto Divino: em 2009, quando um surto de gripe suína levou certas dioceses a restringirem a comunhão na boca, o referido Dicastério manifestou-se assim:

«Este Dicastério observa que a sua Instrução Redemptionis Sacramentum (25 de março de 2004) claramente determina que “todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na língua” (n. 92), nem é lícito negar a Sagrada Comunhão a qualquer dos fiéis de Cristo que não estão impedidos pelo direito de receber a Sagrada Eucaristia (cf. n. 91).»

Portanto, ninguém pode negar a Sagrada Comunhão a um fiel que A peça directamente na boca — a não ser que ele esteja «impedido pelo direito», que é o caso em que ele não pode comungar nem na mão e nem de modo nenhum. Se um fiel católico pode comungar, então ele pode comungar na boca: é a lei da Igreja. Que cada um se esforce por usar esse seu direito. Que ninguém se sinta constrangido por longos discursos pretensamente pastorais cuja intenção, velada ou explícita, seja obscurecer esta verdade cristalina.

Jorge Ferraz in Deus lo vult


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sábado, 20 de junho de 2020

Quando um Padre descobriu o Big Bang e ninguém soube

Há 54 anos atrás, no dia 20 de Junho de 1966, morria o Pe. Georges Lemaître. Mas quem foi este sacerdote belga?

Todos conhecem a Teoria do Big Bang. No entanto poucos sabem quem a inventou. Isto é estranho, dado que ninguém ignora quem é o pai da teoria do Evolucionismo ou o inventor da teoria da Relatividade. Se Darwin e Einstein ficaram tão famosos pelas suas teorias científicas, porque é que não ficou também o inventor da teoria do Big Bang?

É uma pergunta com uma resposta que não é simples. No entanto, é difícil de negar que um dos principais motivos foi o facto de ser um sacerdote Católico. Muitos ousam servir-se da ciência para atacar o Cristianismo. Dizem que existe um grande conflito entre ambos. Como a história de Lemaître não ajuda essa tese, não podia ser divulgada.

A juventude de Lemaître, passada no seminário, foi uma era de ouro para a Física moderna: estavam a nascer a Mecânica Quântica e a Teoria da Relatividade. Cientes das suas capacidades intelectuais, os superiores de Lemaître permitiram que ele aprofundasse os estudos em Física, depois de ser ordenado sacerdote.

No seu Doutoramento passou por universidades como a Universidade de Cambridge, em Inglaterra, o MIT e o Observatório Astronómico de Harvard, em Boston.

Einstein tinha acabado de inventar as famosas equações que descreviam o universo a escalas cosmológicas, mas não se tinha percebido de algumas das consequências destas equações. Avançando nos estudos que outros físicos faziam sobre as equações de Einstein, Lemaître concluiu em 1927 que o universo estava a expandir-se. E disse ainda que por isso era suposto observar-se galáxias longínquas a afastar-se da nossa. Esta descoberta foi feita dois anos depois por Edwin Hubble, que na altura nem percebeu bem a importância da sua descoberta. Mas a lei da expansão do universo ficou conhecida por Lei de Hubble e só recentemente é que se começou a atribuir o mérito devido ao Pe. Lemaître.

Einstein não tinha ficado satisfeito com a ideia da expansão do universo e decidiu repetir as contas que Lemaître fizera a partir das suas próprias equações. Só que os resultados bateram todos certos. Era então preciso dizer que as equações não estavam bem desde o início. Para impedir que o universo se expandisse, Einstein acrescentou às suas equações um novo termo, hoje conhecido como constante cosmológica. Desta forma, as equações passavam a prever um universo estacionário.


Mas Lemaître não desistiu da ideia. Com os seus conhecimentos de Química a complementarem a sua formação em Física, desenvolveu uma teoria sobre a origem dos elementos do universo. Chamou-lhe "Teoria do Átomo Primordial". Só que Fred Hoyle, um dos físicos mais famosos do século XX, achou a ideia tão ridícula que em sentido de troça chamou-lhe "Teoria do Big Bang".
Pe. Georges Lemaître com Albert Einstein e
 Robert Millikan, Nóbel da Física (determinou a carga do electrão).
A teoria do Big Bang parecia apoiar a ideia Cristã da Criação. No entanto não tinham sido essas as motivações de Lemaître. Quem conhece os seus escritos sabe que Lemaître foi um campeão no diálogo entre a fé e a ciência, tendo insistido sempre na sua distinção. Dizia que se a astronomia fosse importante para ir para o Céu, estaria explicada na Bíblia, mas não era o caso. E quando o Papa Pio XII quis usar a teoria do Big Bang para falar da Criação, foi fortemente desaconselhado por Lemaître, acabando por não o fazer.

Durante anos muitos físicos não acreditaram na teoria do Big Bang. Apesar de Lemaître não a ter desenvolvido por ser Cristão, a maior parte destes físicos, como Hoyle, eram ateus. No entanto, a natureza impôs-se a si mesma. Nos anos 60 detectou-se no espaço uma radiação proveniente das origens do universo - a Radiação Cósmica de Fundo. Em 1965 já não havia dúvidas - esta Radiação provava a já famosa do teoria do Big Bang. Um ano depois de ver a sua teoria confirmada, morria o Pe. Lemaître.

Einstein, muito antes, também já tinha dado razão a Lemaître e voltara a pôr as suas equações na forma original.

Numa tentativa de dar o valor devido ao Pe. Georges Lemaître, a ESA (European Space Agency) deu o nome de Lemaître a um dos satélites que enviou à Estação Espacial Internacional, em 2014. Mas muito mais é preciso ser feito. Lemaître não só desenvolveu a teoria do Big Bang, como foi o primeiro a descobrir a Expansão do Universo.




Para saber mais sobre o assunto, recomendo a leitura do paper "Who discovered the Expanding Universe?" de Helge Kragh e Robert Smith. Têm saído vários artigos sobre o facto de Lemaître não ter recebido o mérito devido pela expansão do universo, veja-se por exemplo o artigo de Mario Livio na Nature: Lost in translation: Mystery of the missing text solved.

A primeira grande biografia de Lemaître já existe e foi escrita por Dominique Lambert: Un atome d'univers : La vie et l'oeuvre de Georges Lemaître.


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Programa infantil da RTP2 promove aborto, divórcio e homossexualidade

Segundo a Rádio Televisão Portuguesa (RTP), "o Zig Zag é o espaço infantil da RTP dedicado a crianças entre os 18 meses e os 14 anos".

Neste programa, que mostramos, é escandalosa a defesa e promoção do aborto, conseguido como uma vitória, e não uma derrota, para a sociedade, como se a morte de um bebé inocente pudesse ser uma coisa boa. Faz-se, também, o elogio a uma mulher, com 4 filhos, que sai de casa para ir viver com outra mulher. O ódio ao Catolicismo percorre o vídeo inteiro.

A RTP é financiada com o dinheiro de todos os portugueses. Além disso, este programa é patrocinado pela CNC: Creative Europe - Programa de Média da União Europeia. Ficamos assim a saber que esta doutrinação dirigida às crianças é promovida por fundos da União Europeia.



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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Missa celebrada há 76 anos na Normandia

Missa celebrada há 76 anos na Normandia - 12 dias depois do "dia D" - na presença do 111º Batalhão da Construção Naval


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Papa Bento XVI viajou para a Alemanha

O Papa Bento XVI viajou hoje de manhã de Roma para a Baviera. O avião onde seguia aterrou no em Munique às 11h45. À sua espera, no aeroporto, estava Mons. Rudolf Voderholzer, Bispo de Regensburg. 

O motivo desta viagem repentina terá sido o frágil estado de saúde do Padre George Ratzinger, irmão mais velho do Papa Bento, que vive no seminário da diocese de Regensburg. Este poderá ser o último encontro entre os irmãos de 93 e 96 anos de idade.

Na viagem foi também o Arcebispo Georg Gäswein, secretário do Papa Bento, o seu médico, a sua enfermeira e uma religiosa.

Esta é a primeira viagem do Papa Bento XVI desde renunciou ao papado, em Março de 2013, e se recolheu no Mosteiro Mater Ecclesiae, dentro da Cidade-Estado do Vaticano.

A data de regresso ao Mater Ecclesiae não está ainda estabelecida, pelo que Bento XVI continuará na Alemanha durante os próximos dias.


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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Mortificação: caminho para a virtude

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Ora escrevi eu, agora, uma palavra, que, com as suas cinco sílabas, põe medo no coração de muita gente. Quando todos fogem de mortificar-se, venho eu, aconselhá-la como um dos melhores elementos para a perfeição moral, como um dos melhores instrumentos para a felicidade humana. E de facto, sem a mortificação não quero dizer que a felicidade eterna seria impossível de alcançar, mas a felicidade temporal de modo algum se poderia conseguir. A mortificação voluntária é indispensável, tanto para uma como para a outra. Como poderia apreciar-se a luz, se não houvesse trevas? Como se sentiria alegria se nunca houvesse dores? E porque não privarmo-nos de uma para melhor a apreciarmos depois; e como não procurarmos a outra, para melhor saborearmos a sua oposta?

Mas o que é a mortificação? Esta palavra, no seu sentido etimológico, significa “fazer morrer”. Não pensem, porém, que mortificar-se, seja matar-se, inutilizar-se, enforcar-se, ou destruir a nossa natureza… Não. Pelo contrário, a lei cristã ordena, que não nos matemos, nem total, nem parcialmente. Isso é um gravíssimo pecado, que até priva, os que o cometem, da sepultura em lugar sagrado e das orações da Igreja. Não, não se trata de um suicídio. A mortificação não é para matar; é para aperfeiçoar a natureza. E na verdade a mortificação guarda-a, purifica-a, melhora-a, robustece-a e torna-a resoluta e constante para o bem. Porque vós muito bem sabeis que a nossa natureza é uma natureza caída. Foi por Deus criada, em Adão e Eva, num estado de perfeição do qual o pecado a fez cair.

Em vez daquela santa inclinação para o bem, que os nossos pais tiveram nos primeiros dias do Paraíso – e que sem dúvida deles teríamos recebido, se não fora a desgraça da sua desobediência, - temos agora dentro em nós esta rebelião, esta fraqueza, estas grandessíssimas imperfeições, que tantas desgraças nos acarretam. Basta olharmos dois instantes para dentro de nós mesmos, para conhecer a verdade de tudo isto. Porque pessoa alguma há, que não sinta dentro de si uma contradição enorme, um obstáculo perpétuo, uma preguiça continua para o bem, e uma tentação contínua para o mal. Não é isto verdade? O grande apóstolo S. Paulo deixou escritas estas palavras, que cada qual a si mesmo pode, com igual verdade, aplicar: - “Não faço o bem que quero, faço o mal que não quero. Sinto em meus membros uma lei que repugna à lei da minha razão, que me arrasta, cativo, para o pecado.” Pois bem, o que a mortificação destrói, não é a vida, não é a natureza, é esse grande defeito da vida e da natureza, que a encaminha para o mal. A natureza humana, como dizia Tertuliano, é naturalmente boa, e ainda dizia mais – é naturalmente cristã. Quer dizer, tão boa, que quando não cede às tentações, por si mesma facilmente se acomoda à moral cristã. São os defeitos, as paixões, as inclinações más, que a levam ao pecado, ao crime, à imperfeição.

Mortificação, é, pois – o exercício salutar de enfraquecer, contradizer, vexar e matar, até completamente destruir, todas essas más inclinações, que a toda a hora promovem a nossa perda. Bem sabeis que todos temos, dentro de nós, uns inimigos terríveis, que se chamam, a soberba, a ira, a inveja, a avareza, a gula, a luxúria e a preguiça… Pois vencer essas paixões que enchem de obstáculos o vosso caminho em direcção ao bem, eis o que se chama mortificação. Quem não mortifica estas paixões, e se deixa ir ao sabor dos seus impulsos, a razão fica obscurecida de tal sorte, que facilmente descamba para a classe inferior, nivelando-se com os próprios irracionais. Tal qual como eles, o homem, a mulher que não se mortifica, come, goza, procura os bens desta vida, sem para coisa alguma se importar com o seu dever. O que mais e melhor afaga os seus sentidos, eis o que o preocupa a todo o momento.

Quem é que faz caso de uma pessoa, que não se reprime, que não se vence, que não se mortifica? Essa pessoa é incapaz de cumprir os seus deveres, de viver a vida que a moral cristã impõe. Não é nada, não vale nada. Quem não se mortifica, se é mau em si, na sociedade é detestável, é insuportável. Pois o que requer a vida social, se não o sacrifício mútuo de quantos nela vivem, obrigando todos e cada um, a ceder um tudo-nadinha, dos seus direitos, e dos seus gostos, embora lícitos, em favor de todos os mais? As leis da urbanidade, da cortesia, da delicadeza, que vigoram na sociedade, outra coisa não são, senão leis de mortificação. Não as comparo, Deus me livre de as comparar. A urbanidade mundana não é igual à mortificação cristã. E sabem porquê? Porque a mortificação é por virtude, e a urbanidade é por conveniência. A urbanidade é filha do desejo da própria comodidade, do bem parecer, do viver agradavelmente. A mortificação é constante: a urbanidade dura enquanto dura a sociedade e a conveniência. A mortificação cura ou refreia a desordenada concupiscência. A urbanidade esconde-a, disfarça-a, ensina-a a fingir. Finalmente, a mortificação é virtude e a urbanidade é hipocrisia.

Não há mortificação sem virtude. Sim, quem pratica a mortificação cristã, facilmente adquire qualquer virtude. O que nos afasta da virtude é o que nela nos custa. Não há ninguém que não deseje ser virtuoso. Todos nós desejamos ser humildes, fortes, honestos, justos, praticar a caridade, constância, desprezo do mundo… E porque somos tudo isto? Porque custa, porque é preciso a gente mortificar-se. Mais nada. É o único obstáculo, se nos mortificar-nos, desaparece o obstáculo, e eis-nos no caminho da virtude, a virtude é como a relva, que cresce e atapeta a terra, onde não encontra obstáculos. Assim cresce e adorna a nossa alma, a virtude quando os obstáculos desaparecem. A virtude é a esposa querida do espírito humano, que não o deixa, enquanto ele não a expulsa de si, e que quanto mais lhe abre o coração, tanto mais nele se enraíza. A virtude brota espontaneamente no coração da pessoa que se mortifica.

Virtude sem mortificação também é coisa que não há. O homem não nasce virtuoso. Numerosos defeitos e suas inclinações, nascem com ele, e com ele se desenvolvem pelos tempos adiante. Só vencendo-as, esmagando-as, matando-as, é que pode chegar à virtude. A mortificação é o caminho da perfeição.

Duas espécies de mortificação há: uma externa, outra interna. A externa consiste na mortificação dos sentidos e das faculdades corporais. Tirar aos sentidos todo o afago sensual que não tenha razão de ser e habituá-lo a sofrer as asperezas e fadigas, - é mortificação. Nós devemos ter só temperança e moderação, mas verdadeira mortificação na demasiada curiosidade do nosso olhar, no prazer da música, no comer e beber… É preciso que a nossa natureza saiba sofrer. A mortificação interna, consiste na mortificação das potências da alma. Mortifica o seu entendimento, quem com intensidade o aplica ao conhecimento da verdade, e principalmente da verdade útil e proveitosa para a vida eterna; - quem o afasta da falsa doutrina e da curiosidade, que leva a gente direitinha para o erro e para a heresia; - quem o educa de forma a aprender primeiro o mais necessário, em seguida o útil, depois o agradável, mas nunca o ilícito. Bom é saber muito. Mau é saber demasiado. Bom é adquirir conhecimentos, mau é adquirir conhecimentos falsos. Mortifica a vontade, acostumando-a a querer, não o que é agradável, mas o que é bom; a aborrecer, não o que a desgosta, mas o que é mau. A mais necessária de todas é a mortificação da vontade. Por ela seremos bons ou maus. Ela nos perde e ela nos salva.

Mortifiquemos, pois, sobretudo, as nossas sete paixões: a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja e a preguiça, e principalmente, aquela que dentre todas elas em nós sobressaia; Mortifiquemo-las, para que todas obedeçam à razão, e a razão a Deus, e assim irmos andando no caminho da perfeição espiritual, e podermos alcançar a felicidade do Céu.

Adaptado de: Padre José Lourenço de Mattos in "O Paraíso do Cristão", 1914


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