segunda-feira, 10 de julho de 2023

Vida das Santas Rufina e Segunda, Virgens e Mártires

Aos 10 de Julho.

Tratando Jesus Cristo Nosso Senhor com os seus Apóstolos sobre as perseguições que tanto eles quanto os outros fiéis deviam padecer por amor de Seu nome, disse-lhes: “Virá o tempo que o irmão procurará a morte do irmão, o pai dos filhos, e os filhos do próprio pai”. Disto temos exemplo em duas Santas Irmãs, Rufina e Segunda, as quais, pelo nome de Jesus Cristo, foram perseguidas e espancadas até a morte, não pelo pai ou os irmãos, mas pelos próprios esposos [na verdade, eram noivos] os quais costumam ser aqueles que mais acariciam e se mostram amorosos com as suas esposas. A vida destas Santas, tirada de um livro antigo escrito a mão com os quais se acordam diversos Martirológios.

Rufina e Segunda, irmãs, foram donzelas ilustres e nasceram em Roma. O Pai delas chamava-se Asterio e a mãe Aurélia. Ocorre que, na perseguição de Valeriano Galieno Imperadores, eram martirizados muitos Cristãos em Roma, aonde Armentário e Verino, que iriam tornar-se esposos das duas irmãs, renegaram por medo das torturas, e passaram para o lado dos gentios. E, não contentes com a perda das suas próprias almas, procuraram persuadir o mesmo às servas de Deus. As santas donzelas, para fugir a esta injustiça que pairava sobre elas, recolheram as suas roupas, puseram-nas sobre carros e tomaram o caminho da Toscana, onde o pai delas tinha algumas propriedades.

Quando os esposos souberam disso, falaram com o Conde Agesilao, e disseram: “Faça justiça e defenda a honra dos deuses imortais, porque as nossas esposas [noivas] Rufina e Segunda, por indignidade delas e vergonha nossa, rejeitaram-nos e foram em direção da Toscana para poder lá mais livremente servir e adorar Jesus Cristo, o qual elas confessam por verdadeiro Deus”.

Quando Agesilao ouviu isso, tomou gente armada da sua companhia e pôs-se a segui-las; alcançando-as na Via Flaminia, a quatorze milhas de Roma. Fê-las voltar à Cidade, entregou-as em mão de Iunio Donato, prefeito, e disse: “Estas sacrílegas donzelas, desprezando a ordem doa nossos Imperadores, deixaram de adorar os deuses imortais para adorar um Homem crucificado, e haviam deixado Roma contra a vontade dos esposos delas. A mim, por ofício meu, cabe-me trazê-las de volta à Cidade, e a ti, agora, cabe fazer o resto”.

Iunio mandou-as colocar na prisão, separadas uma da outra. No terceiro dia, falou secretamente com Rufina e disse-lhe: “Sendo tu nascida nobre, como te puseste em tanta baixeza que julgas ser melhor estar na prisão do que ser livre e desfrutar com o teu marido”.

Rufina respondeu: “Este cárcere e estes liames terão fim e serão o meio de livrar-me da prisão que nunca terá fim”.  

“Deixa essas vãs imaginações - disse o prefeito - sacrifica aos deuses e poderás aproveitar o teu esposo e estar com ele muito anos”.  

Respondeu a Santa: “Gastas-te persuadindo-me [a fazer] duas coisas inúteis enquanto me prometes outra duvidosa e incerta. Primeiro, quererias que eu sacrificasse aos deuses, o que, se eu fizer, estou certa que perderei a alma. Quererias depois que eu aproveitasse o meu esposo carnalmente, e disso resultaria que eu perderei a virgindade, a glória e coroa particular que se dá às Virgens. Tu prometes-me, depois, que eu estarei com ele até ficar velha, o que é coisa duvidosa e incerta porque tu não sabes, e eu não sei, se estaremos vivos amanhã de manhã”.

O prefeito disse: “Cessarão as palavras quando se chegar aos factos”, e mandou que Segunda fosse trazida até ele, para que, vendo torturar a irmã, por medo que algo semelhante não acontecesse a ela, fizesse sacrifícios aos deuses. Assim que Segunda chegou, Rufina foi despida e começaram a açoitá-la cruelmente.

Quando Segunda viu tal coisa, disse ao Prefeito com voz irada: “O que é isso, homem perverso, inimigo do reino do céu? Por que motivo fazes digna de glória a minha irmã e me privas a mim? Se tu a fazes torturar por ela ser cristã, e porque não quer sacrificar aos deuses, eu ainda sou cristã e tenho ânimo de não fazer sacrifícios aos teus falsos deuses; se tu pensas que eu sou mais débil e não posso suportar as pancadas como ela, tu estás em erro, porque, quando me faltassem as forças, o meu Senhor Jesus Cristo m'as daria, conforme o desejo que eu tenho de padecer por Ele, que é muito grande. Se, então, eu estou nos mesmos termos nos quais está minha irmã, porque me fazes tão manifesta injustiça, fazendo merecedora a ela e privando-me a mim?”.

O Prefeito respondeu: “Tudo o que tu dizes é verdade, que em todas as coisas és igual à tua irmã quanto a merecer ser torturada e castigada como ela, contudo tu a superas em ser mais insana ainda do que ela, sendo as duas insanas”.

“A minha irmã e eu não somos insanas, disse Segunda, mas somos ambas Cristãs. Se tu a torturas por isso, eu não quero que tu me prives das suas torturas, porque isso é coisa certa [a fazer], porque quanto maiores forem as torturas que o Cristão padecer por amor de Cristo tanto maior e preciosa será a sua coroa no Céu”.

Disse o Prefeito: “Se tu queres que te tenha por sensata e perspicaz, roga à tua irmã que deixe a sua obstinação, e ambas adorai os nossos deuses e desposai os vossos esposos”.

Agesilao, que as havia capturado, disse: “Já não é possível que elas possam casar, porque o sacrilégio que cometeram em desprezo dos nossos deuses fá-las indignas de se poderem casar”.

Respondeu a Santa virgem Segunda: “Tens-nos por indignas de ter marido por sermos cristãs, como se nós o desejássemos. Podes acreditar verdadeiramente, Agesilao, que nós somos do mesmo parecer de ser Virgens como de ser cristãs; porque sendo tais seremos mais amadas por Jesus Cristo, Que nos fará favores particulares na Sua celeste Corte”.

Disse, então, o Prefeito: “Que faria, pois, se vós perdesses a virgindade contra a vossa vontade? Como se portaria o vosso Cristo convosco em tal coisa?”.

Respondeu Segunda: “Quando nos fosse feito força, Jesus Cristo nos daria um prémio particular por ter suportado este agravo: de modo que: forçamento, violência, acoites, bastões, pedras, espadas, fogo e quaisquer outros instrumentos que imagines para nos torturar serão ocasião para nós adquirirmos mais glória”.

O Juiz mandou colocar ambas numa prisão escura e mandou fazer muito fumo, fazendo queimar estrume e esterco; o qual, havendo enchido a prisão onde estavam as Santas, não apenas não fediam ou enojavam o olfacto, mas deleitavam-no e parecia que fosse odor de musgo e âmbar. 

Além disso, a grande escuridão daquele lugar desapareceu, tendo vindo um grande esplendor do Céu. O Prefeito mandou-as tirar daquela prisão e mandou colocar ambas numa grande caldeira cheia de óleo, depois mandou acender por baixo o fogo, o qual ardeu durante duas horas seguidas, até que o óleo foi todo consumado, e as Santas permaneceram sempre dentro, sem lesão alguma. 

Foi avisado disso o Prefeito, ficando maravilhado; contudo, tornando-se cada vez mais cruel, mandou tirar as Santas da caldeira e levá-las ao Tibre, onde mandou pendurar nelas uma grande pedra no pescoço e atirá-las ao rio. As Santas donzelas caminharam quase meia hora sobre as águas, sem afundar, e, no final, as ondas do rio conduziram-nas à margem e as suas roupas estavam secas, como se não tivessem tocado na água. 

Foi feito um relato disso ao Prefeito, que, muito mais maravilhado do que antes disse ao Conde Agesilao: “Aquelas duas donzelas que tu me trouxestes ou são bruxas e encantadoras, ou são muito santas. Tu m'as entregastes em mãos, eu t'as devolvo. Condena-as tu à morte, ou livra-as, como mais te apetecer”.

Agesilao mandou-as levar para fora de Roma, para um bosque, que era uma propriedade chamada “Busso” [ou “Dusso”], e lá mandou cortar-lhes a cabeça, às duas, e ordenou que os corpos delas fossem devorados pelas feras.

Era dona daquela propriedade, onde estava o bosque, uma Matrona Romana chamada Plautilla, a qual viu em sonho as duas santas Mártires vestidas de riquíssimas vestes e coroadas de joias e pérolas de grandíssimo valor, e estavam sentadas sobre duas cadeiras, como se se tivessem casado, e diziam à matrona Plautilla: “Tire já da sua alma os falsos deuses e não os adore, mas creia em Cristo, para que receba d'Ele o prémio que nós possuímos. E se quiser saber quem nós somos vá até à sua propriedade onde encontrarás os nossos corpos, e rogamos que lhes dê sepultura”. Foi Plautilla imediatamente à sua propriedade, onde encontrou os corpos das Santas Virgens sem mau cheiro ou lesão alguma, a não ser a que o carnífice fez quando lhes cortou a cabeça. Plautilla adorou a Deus e converteu-se à Fé, mandando construir um sepulcro às Santas Virgens naquele mesmo lugar, onde permaneceram alguns anos.

Após algum tempo, os corpos delas foram levados para Cidade, na Igreja Constantiniana, e sepultados próximos da pia de Baptismo. A Igreja celebra a festa destas Santas no dia do martírio delas, que foi a 10 de Julho do ano do Senhor 252, imperando Valeriano e Galieno.

Alfonso Vigliega di Toledo in 'Il Perfetto Leggendario della Vita e dei Fatti di Nosso Signore Gesù Cristo e di Tutti i Santi...' 


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


Rezemos, para que todas estas mártires e outros intercedam pela Igreja, pois, "pelo andar da carruagem", o que se vislumbra não augura nada de bom, para os que ainda têm uma Fé minimamente coerente, com os VALORES que professam!
É só analisar, com com "olhos de ver", o que a fação Política--DITA TOLERANTE, EMOCRÁTICA e AMIGA DA LIBERDADE--está a fazer a TODOS os que ainda resistem às suas leis, mesmo aos pais!
Acredito piamente que, no espaço de um ano, estejamos, para além de confinados, completamente AMORDAÇADOS e PERSEGUIDOS, relativamente a TUDO o que seja Palavra de Deus e "muitas outras liberdades; não que tenham CORAGEM de o assumir claramente, mas de forma hipócrita e VELADA, esses senhores arranjarão maneira de nos IMPOR as suas aberrações, baseando-se nas normas LEGALIZADAS, por ELES!!
É só ver o que, neste momento, se está a passar na HUNGRIA!