quinta-feira, 8 de maio de 2025

À espera do fumo branco

Enquanto aguardamos que saia fumo branco da chaminé da Capela Sistina, não podemos deixar de nos perguntar: quais serão as primeiras palavras que o novo Papa dirá da loggia da Basílica de São Pedro? «Irmãos e irmãs, boa noite», como disse o Papa Francisco, ou «Louvado seja Jesus Cristo», como disse João Paulo II? 

Ou ainda uma fórmula como a de Bento XVI, que, após afirmar: «Depois do grande Papa João Paulo II, os cardeais elegeram-me a mim, um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor», acrescentou: «Na alegria do Senhor ressuscitado, confiantes na sua ajuda em todos os momentos, sigamos em frente; contamos com a ajuda do Senhor e teremos Maria, sua Mãe Santíssima, ao nosso lado»?

As palavras e os gestos com que o futuro Papa inaugurar o seu pontificado serão indubitavelmente reveladoras de uma certa tendência, proporcionando um primeiro elemento de discernimento ao sensus fidei do povo católico. Independentemente do nome que assumir, quererá o pontífice eleito pelo Colégio dos Cardeais colocar-se na esteira de Francisco ou em descontinuidade com o seu pontificado, que foi, na opinião de muitos, uma catástrofe para a Igreja?

A este respeito, a candidatura do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Papa Francisco, levanta graves problemas. De facto, na modernidade – e à excepção de Pio XII –, nunca um secretário de Estado foi eleito papa, porque, de uma maneira geral, os cardeais eleitores pretendem sublinhar, com a sua escolha, que cada pontificado é diferente do anterior. Por outro lado, a assunção da mitra pontifícia pelo ex-secretário de Estado assinala o maior elemento possível de continuidade entre o antigo e o novo Papa, porque há inevitavelmente uma certa osmose entre o sumo pontífice e o seu colaborador mais directo. Se isso acontecer, o conclave será breve; se, pelo contrário, a candidatura do Cardeal Parolin, apoiada pelos grandes meios de comunicação social, se esfumar, é de prever um conclave prolongado, no qual se manifestem abertamente as diferentes tendências actualmente existentes na Igreja.

Como reagiriam os meios de comunicação social a um conclave que durasse cinquenta dias, como o que elegeu Gregório XVI, ou três meses e meio, como o que elegeu Pio VIII? Um conclave de apenas trinta e seis dias, como o da eleição de Pio VII, ou mesmo de vinte e seis dias, como aquando da eleição de Leão XII, seria provavelmente suficiente para suscitar pressões e interferências mediáticas no próprio interior da Capela Sistina. Mas o Espírito Santo, que é o Espírito da Verdade, não apressa os cardeais eleitores.

Seja quem for o novo Papa, a primeira questão fundamental que terá de abordar é a questão da justiça. De facto, a ênfase dada à misericórdia no pontificado do Papa Francisco levou a uma diluição não só do significado da justiça, mas também do seu exercício prático dentro da Igreja.

A Igreja é uma realidade social, que exige e postula normas externas, dotadas das características que são próprias do direito. O conjunto das diversas leis e normas vigentes na Igreja Católica constitui o direito canónico, que nada tem que ver, evidentemente, com o direito que vigora nas ordens democráticas, dado que tanto o seu fundamento como o seu exercício são diferentes dos que regem as democracias.

Ao direito opõe-se a arbitrariedade, que é uma consequência do abandono do carácter jurídico da Igreja. Nos anos conciliares e pós-conciliares, alguns teólogos, que pretendiam opôr a caridade ao direito, travaram uma batalha antijurídica. Acontece que, privada do baluarte objectivo do direito, a «Igreja da caridade» corre o risco de se transformar numa estrutura na qual prevalece o mais forte. É exemplo disto o que aconteceu, durante o pontificado de Francisco, a muitas comunidades religiosas: à inspecção seguiu-se muitas vezes um decreto de supressão ou de completa reforma do instituto – sem uma fundamentação adequada –, na chamada «forma específica», ou seja, com aprovação pontifícia e sem possibilidade de recurso.

O instrumento mais frequentemente utilizado contra sacerdotes individuais também não tem sido o processo judicial, mas o processo penal administrativo introduzido pelo novo código de 1983; em consequência, temos assistido a uma prática justicialista, em que o direito, que deveria ser um instrumento de verdade, se tornou um instrumento de poder por parte de quem governa. Daí a acusação de o Papa Francisco ter exercido o poder de forma arbitrária.

O problema da justiça também diz respeito à actuação do Papa no difícil cenário da ordem internacional. Perante a guerra, a voz dos papas sempre se ergueu para invocar a paz; mas, para se alcançar uma paz verdadeira, ensinava Pio XII, a vida nacional e internacional «deve partir de Cristo, como seu fundamento indispensável, ser actuada pela justiça e coroada pela caridade» (encíclica Summi pontificatus, 20 de Outubro de 1939). Não basta deplorar genericamente a guerra e fazer apelos abstractos à paz; como recordava, uma vez mais, Pio XII, na sua mensagem radiofónica ao mundo de 24 de Dezembro de 1948, a «paz a qualquer custo» promove a segurança daqueles que preparam a agressão. O Magistério da Igreja ensina que as causas profundas e verdadeiras da guerra são espirituais e morais, e resultam da violação da ordem natural e cristã, ou seja, do abandono da lei de Deus. Só o respeito pela lei natural e a conversão a Cristo podem restabelecer a paz ao mundo e a glória da Igreja.

«Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo» (Mt 6, 31-33): estas palavras do evangelho são todo um programa de vida para qualquer pessoa, e podem sê-lo também para um pontificado. A justiça divina é uma ordem das coisas da Terra e do Céu pela qual tudo é referido e ordenado a Deus. É certo que Deus não é apenas infinitamente justo, é também infinitamente misericordioso; e não há julgamento divino que seja desprovido de misericórdia, assim como não há expressão da misericórdia divina que seja desprovida de profundíssima justiça. 

O mais belo exemplo deste abraço entre justiça e misericórdia é talvez aquele que nos é dado no sacramento da Penitência, no qual o pecador é julgado e absolvido. A maior preocupação do pontificado do Papa Francisco, expressa na exortação Amoris lætitia, parece ter sido a de atrair o maior número possível de pessoas ao sacramento da Eucaristia; agora, é necessário explicar a importância do sacramento da Penitência, que pressupõe o arrependimento dos pecados, sem o qual ninguém pode aproximar-se da mesa eucarística.

Aquilo que mais precisamos de pedir ao próximo papa é santidade, que é uma nota intrínseca da Igreja. Em tempos de mal-estar e de desorientação geral, escreve o Padre Garrigou-Lagrange na sua obra-prima, As Três Idades da Vida Interior, cada um de nós deve concentrar-se na única coisa que é necessária, e pedir ao Senhor santos que vivam apenas deste pensamento e que sejam os grandes animadores de que o mundo precisa. D. Prosper Guéranger vai no mesmo sentido quando escreve, em Le Sens de l'Histoire, que, na sua infinita justiça e misericórdia, Deus cumula de santos algumas épocas e decide não os conceder a outras, de modo que é o termómetro da santidade que nos permite avaliar o estado de normalidade de uma época ou de uma sociedade. Contudo, a santidade de um papa está ligada ao exercício do seu governo; neste sentido, Celestino V foi um santo, mas não foi um papa santo, ao contrário de São Pio V, São Pio X e tantos outros papas, que conduziram com virtude heroica o rebanho universal que lhes foi confiado.

Precisamos de um Papa firme, íntegro em matérias doutrinais e de costumes, e que seja capaz de governar a Igreja com firmeza e espírito sobrenatural. Esperemos que o termómetro da santidade, entendido no sentido atrás referido, atinja uma temperatura elevada dentro da Capela Sistina. Mas bastaria um papa plenamente católico. Caso contrário, os problemas explodirão, logo a partir das primeiras palavras que o novo Papa pronunciar na loggia das bênçãos.

Professor Roberto de Mattei publicado em atrevimentos.pt


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4 comentários:

Anónimo disse...

" Habemus Papam!"
Não conheço Leão XIV, mas segundo o seu discurso, está
para dar continuidade ao Papa Francisco.
Se for para clarificar muita ambiguidade, aproveitando, de verdade, o verdadeiro acolhimento, a verdadeira Misericórdia...rumando à CONVERSÃO, aí, podemos cantar Vitória...
Porém, se for para sedimentar, ainda mais, a CONFUSÃO, que Deus nos ajude!
Tenho esperança, de que o nome escolhido, o relacione com o Papa Leão XIII, aquele que quis Salvar a Igreja das garras de Satanás, com o célebre Exorcismo de S. MIGUEL ARCANJO, proibido de ser rezado no fim das missas, pela ala modernista, aquando do CVII...

Anónimo disse...

SILVEIRA ÉS UMA BESTA!!! AHAHAHA MESMO TIRANDO A CARTA EM ÁFRICA NÃO TE LIVRAS DE MIM!!!

Anónimo disse...

Já saiu. Saiu ontem. É um americano.

Anónimo disse...

Mais respeito e contenção, senhor anónimo. Se não é um troll, é muito inconveniente, no seu comentário, que, pelo que se pode depreender, nem tem nada a ver com o assunto em questão.
Ou, então, dê a cara...e tenha a coragem de se assumir!