segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Preparação para o matrimónio: a sexualidade é fonte de alegria e prazer

A preparação para o Matrimónio não pode desprezar uma reflexão sobre a sexualidade na vida do casal. A formação oferecida pela Igreja será um dos poucos momentos onde o casal poderá reflectir tal realidade pelo ponto de vista cristão, em contraposição à avalanche de informações, distorcidas na sua grande maioria, que invadem os meios de comunicação.

Todos, especialmente os jovens (mais vulneráveis), são bombardeados pela indústria que ganha rios de dinheiro com o sexo livre. Para dar um exemplo, comento que ganhei como brinde uma revista sobre automóveis e levei-a para casa. Dias depois, percebi que esta revista tinha duas páginas inteiras com publicidade preservativos e com imagens indescritíveis. Como deixar um material destes em minha casa? Situações como estas fazem-me concluir que o mundo está intoxicado com a propaganda do sexo como a coisa mais importante da vida.

Estes estímulos ganham força com outra realidade de hoje: o adiamento do casamento para as idades mais maduras. Embora não justifique, isto estimula a vida sexual dos noivos. Conceitos como "amamo-nos e vamos mesmo casar" são frequentemente utilizados pelos noivos. Num mundo onde a vida sexual perdeu o seu sentido original e as pessoas se entregam até a quem não conhecem, somos tentados a crer que amor e compromisso são justificativas razoáveis. Os cristãos parecem ter esquecido os 10 mandamentos, a castidade e desconhecer que o pecado existe.

Devemos ajudar os noivos a reflectirem e construírem o noivado como tempo de conhecimento, mas “infelizmente, para alguns este período, destinado à maturação humana e cristã, pode ser perturbado por um uso irresponsável da sexualidade que não chega à maturação do amor esponsal. E, assim, alguns chegam a uma espécie de apologia das relações pré-matrimoniais” Ponto 17 da Preparação para o Sacramento do Matrimónio (PSM).

Aqui, o documento PSM faz-nos pensar se, enquanto agentes que ajudam os noivos, também teremos feito apologia às relações pré-matrimoniais. Pode ser que não as incentivemos, mas vamos achando tudo normal e ficamos tímidos na proclamação da verdade.

Tais comportamentos estão abordados no documento, quando, no parágrafo 12, cita os "fenómenos que confirmam esta realidade e que reforçam a dita cultura estão ligados a novos estilos de vida que desvalorizam as dimensões humanas" e ainda comenta que um desses fenómenos é o "permissivismo sexual".

Sabemos que é um grande desafio falar deste tema aos noivos do nosso tempo. Mas precisamos apresentar-lhes a proposta de vida como caminho de santidade. Não faz sentido reuni-los para repetir os conceitos que vão desestruturando as famílias. “Esta preparação deverá, contudo, garantir que os noivos cristãos tenham ideias exactas [...] sobre a sexualidade.” (PSM 35)

Os agentes que acompanham os noivos nesta etapa precisam estar convictos desta realidade e cheios do Espírito Santo para proclamá-la, amparados no estudo e amor pastoral, para serem firmes na doutrina, amorosos e não discriminar aqueles que ainda não a vivem. Lembre-se que a Igreja espera que “colaboradores e responsáveis sejam pessoas de doutrina segura e fidelidade indiscutível ao Magistério da Igreja” (PSM 43).

Mas, falar de sexualidade cristã é mais que falar de relacionamento sexual. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina-nos que “a sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma.” (CIC 2332). Seria bom falar sobre disto com os noivos, mostrando que belo projecto de Deus é o ser humano!

Num curto tempo de preparação próxima (encontro/curso de noivos) não podemos deixar de levá-los à reflexão que não podem casar-se baseados em impulsos sexuais. Um casal não pode pensar que vai viver o relacionamento sexual durante toda a sua vida, além de ser necessária a abstinência em vários momentos (saúde, viagens etc). Assim, devem saber que o amor não se baseia no vigor sexual. Gosto de fazer perguntas incómodas aos noivos para provocar esta reflexão, baseado em factos reais, como:

Se, ainda no seu primeiro ano de casado, a sua esposa sofrer um acidente e ficar com algum tipo de lesão que não a permita, nunca mais, ter contacto íntimo, abandoná-la-ia?

De outro lado, é muito importante terem contacto com a bela doutrina sobre o relacionamento sexual, onde "no casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e um penhor de comunhão espiritual". (CIC 2360) Deve ser proclamado como algo bonito e aprazível, que pode e deve ser bem vivido pelos casais.

Mas ainda encontramos pessoas que pensam a relação sexual matrimonial como pecado. Para estas, entre várias citações da Igreja, gosto de citar o Papa Pio XII, que no ano de 1951 (anterior à chamada revolução sexual!) ensinava: “O próprio Criador estabeleceu que nesta função os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou”.

Contudo, devem ser advertidos que a vida sexual pode passar por dificuldades, mas não pode ser deixada de lado. O diálogo, que gera conhecimento, também aproximará o casal para conhecer as suas dificuldades e procurar caminhos numa verdadeira amizade. E também não podem esquecer a força que “a graça do sacramento do matrimónio exerce sobre todas as realidades da vida conjugal, e, portanto, também sobre a sua sexualidade: o dom do Espírito, acolhido e correspondido pelos cônjuges, ajuda-os a viver a sexualidade humana segundo o plano de Deus.” (FC33)

André Parreira in Zenit

André Parreira (alparreira@gmail.com) é autor de livros sobre a preparação para o matrimónio. Empresário, casado e pai de 6 filhos, colabora na formação de jovens e casais.


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2 comentários:

Anónimo disse...

"Se, ainda no seu primeiro ano de casado, a sua esposa sofrer um acidente e ficar com algum tipo de lesão que não a permita, nunca mais, ter contacto íntimo, abandoná-la-ia?"

Existem milhares de formas de dar e receber prazer sexual além do convencional sexo vaginal. Portanto esta pergunta é traiçoeira, a não ser que a esposa tenha sofrido uma coma e esteja em estado vegetativo no hospital.

João Silveira disse...

Caro Anónimo, o "sexo vaginal" não é convencional, como se alguma convenção tivesse decidido que esta é a forma correcta de ter uma relação sexual.

A vagina foi feita para acolher o pénis, como se percebe quando se estuda minimamente o corpo humano. O mesmo não pode ser dito para mais nenhuma parte do corpo feminino (nem masculino).