quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Chesterton descreve na perfeição o que se passa com o Ocidente

Suponhamos que surja numa rua uma grande comoção a respeito de alguma coisa, digamos, um poste de iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de batina cinzenta, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica: 'Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da luz. "Se a luz for em si mesma boa…".

Nesta altura, o monge é, compreensivelmente, derrubado. Todos correm para o poste e deitam-no abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente pela praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz eléctrica; outros, porque queriam o ferro do poste; alguns mais, porque queriam a escuridão, pois os seus objectivos eram maus. Alguns interessavam-se pouco pelo poste, outros, muito; alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos municipais. Outros porque queriam destruir alguma coisa. 

Então, aos poucos e inevitavelmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, voltam a perceber que o monge, afinal, estava certo, e que tudo depende de qual é a filosofia da luz. Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora temos que discutir no escuro.

G. K. Chesterton in 'Hereges' (1905)


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7 comentários:

Anónimo disse...

Ah isso é porque um poste que ilumina pouco, até as estrelas iluminam mais na escuridão. Esta é a minha filosofia da luz. As evidencias não se discutem vêm-se…

Pedro d' Ajuda disse...

É bem verdade e vale como uma parábola.
Quando por qualquer motivo imprevisto a electricidade colapsa nos nossos lares a reposição da normalidade começa por acender um fósforo.
Há o telemóvel, está certo, mas nem sempre está no bolso e o fósforo pode encontrá-lo.
O fósforo acende a vela, o candeeiro a petróleo e tudo se vai refazendo até chegar ao habitual da vida.

Pedro d' Ajuda disse...

É curioso que as regras de segurança exigidas para o navio sair para o mar, incluam uma caixa de fósforos como artigo de primeira necessidade.
As capitanias exigem que nos espaços onde se alojam os faróis de navegação existam candeeiros a petróleo e uma caixa de fósforos com revestimento impermeável.
Porquê isto?
É que os faróis eléctricos podem falhar. E enquanto se conserta a avaria o navio não pode ir sem ser avistado. Os faróis têm de funcionar sempre.
Ora isto vale como uma parábola.
Os meios mais humildes são os mais fiéis, os que menos falham.
Não se podem dispensar
Ouro exemplo, o navio tem agulhas de marear de alta precisão, giroscópicas, electrónicas, tem GPS, enfim não falta nada do necessário à navegação.
Mas não dispensa a velhinha agulha magnética. Essa não falha.
É iluminada, a rosa dos ventos, com lâmpada eléctrica, mas não dispensa uma luz a petróleo, para ser acendida caso a electricidade falhar.
E isto ainda hoje faz parte dos mínimos e indeclináveis requisitos para o navio ser autorizado a navegar

Pedro d' Ajuda.

Anónimo disse...

Pois é, um fósforo pode atear um incêndio

Anónimo disse...

então e uma caixa de fósforos o que pode fazer?

Anónimo disse...

Pedro d' Ajuda... também concordo que é mínimos e indeclináveis requisitos para o navio ser autorizado a navegar: um fósforo, muito importante. Mas quando ele cai à água, não é de perder a cabeça?

maria José Martins disse...

No meu entender, esta parábola, ou chamemos-lhe o que quisermos, simplesmente exalta o valor da humildade, que nos faz descobrir a verdade, por trás da existência ou da funcionalidade, para que cada coisa foi criada.
O pobre monge, em sua simplicidade, fixou-se no ESSENCIAL, que era a luz, mas, os retóricos, vaidosos em sua ciência e modernidade... os oportunistas, como sempre, desviaram-se da verdadeira finalidade para que o poste a gás foi construído e, cada um, "puxando a brasa à sua sardinha", segundo os seus interesses, tentou provar a sua caducidade, pois, tudo o que é moderno é que é bom!
Só que se esqueceram de que nada é infalível e que, tal como refere um dos comentadores, quando a eletricidade colapsou, houve necessidade de regressar às origens, provando que é sempre bom termos uma alternativa, mesmo que nos pareça mais rudimentar, para não corrermos o risco de "perder pau e bola", como neste caso...
Aprendamos a ser GRATOS, SIMPLES e HUMILDES, em tudo, porque o descartar egoisticamente aqueles que nos "deram o ser", normalmente traz RETORNO, porque a vida acaba sempre por nos dar uma lição e isto, em todas as suas vertentes!

E, agora, vou transcrever por palavras minhas o que há já alguns anos aprendi com um Teólogo, comentador no Canal de História, depois de ter escutado as várias opiniões de outros comentadores, CIENTISTAS ATEUS, que punham em causa a Passagem Bíblica, referente à Travessia do Mar Vermelho, pelo Povo de Deus.
Ele somente disse: "O mal dos Cientistas é que, só porque descobrem um simples grãozinho da Verdade, na IMENSIDÃO do CONHECIMENTO, pensam logo, que já possuem a SABEDORIA TODA, tornando-se ARROGANTES, ao ponto de desprezarem a SUA ESSÊNCIA e, neste caso, DEUS!
Assim, iludidos, NUNCA aceitam as suas limitações, esperando, SEMPRE, que um dia CONSEGUIRÃO..."