terça-feira, 27 de agosto de 2019

A Inquisição exterminou 30 milhões de pessoas?

É comum vermos na literatura secular, em filmes e documentários, e pior ainda, nas escolas do ensino fundamental e médio e até em faculdades e universidades, a afirmação de que a Igreja “torturou e matou milhares”. Alguns dizem milhões de pessoas aniquiladas pela Inquisição. Há também diversos ambientes académicos em que é visível tal interpretação; são muitos autores e professores universitários a partilhar dessas objecções.

É inegável a actuação da Inquisição, assim como os julgamentos, qualquer contraposição é uma aberração, um erro grotesco de história. A crítica veiculada neste texto é dirigida aos números de mortes e incidentes referentes aos cerca de 386 anos de actuação deste tribunal eclesiástico.

Muitos podem até dizer que os números não importam, que o que importa é que ela “matou e torturou”. Mas a questão é que nesta situação os números representam o maior pretexto e fonte de contradições sobre esta temática, pois tendem a alimentar e propagar a ideia de uma tragédia histórica, sem controle, um crime, um perverso e criminoso acto, perpetrado pela Igreja contra a humanidade. Não levando em conta os factores, o contexto e as posições religiosas da época seria correcto colaborar com estas argumentações e afirmações? Teria sido uma ferramenta de perseguição e extermínio de quem ousava pensar diferente? Ou trata-se de posições subjectivas oriundas do homem contemporâneo?



Vale a pena salientar que estas sociedades estavam claramente ligadas ao bem e ‘alegria social’ (Pernoud, 1997) e à religião “em função da fé cristã” (Daniel Rops, Vol. III. p. 43). Tinham como ferramentas de prevenção a condenação de grupo ou do individuo, para evitar a contaminação de confusões e divisões que ruíam ‘todo o sistema e ordem social da época’ (Gonzaga, 1994) além de evitar a propagação de heresias e divisões entre os fieis na Cristandade. Sendo assim, os códigos penais abraçavam e previam comumente a tortura e a morte do réu. E o povo entendia que estes eram os princípios jurídicos e inquisidores (cf. Mt 18,6-7) que evitavam a expansão de cismas e heresias.

Mas seriam verdadeiros estes dados sobre a Inquisição? Ou é maquinação vinda dos inimigos da religião que tiram proveito não só da Inquisição ou das Cruzadas, centrando-se também nos erros e falhas morais de alguns filhos da Igreja e fazer disso um “cavalo de batalha na sua guerra contra a religião e para perpetuamente as lançar à cara da Igreja” como disse o historiador W. Devivier, S.J. Um facto é que "é da natureza da Igreja provocar ira e ataque do mundo" segundo Hilaire Belloc.

A principal finalidade do artigo não é amenizar os efeitos da Instituição ou fazê-la mais branda, mas trazer à tona os factos e verdadeiros números da referida instituição, cujos estudiosos sérios testemunham para que possamos construir uma justa interpretação do tema, sem nos veicularmos a nenhuma propaganda anti-católica.

Vamos tomar como referência as Actas do grande Simpósio Internacional sobre a Inquisição, em que participaram 30 grandes historiadores vindos de diversas confissões religiosas, para tratar historicamente da Inquisição, proposta motivada pela Igreja. O Papa João Paulo II afirmou certa vez: “Na opinião do público, a imagem da Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. E perguntou “Até que ponto essa imagem é fiel à realidade?”

O encontro realizou-se entre os dias 29 e 31 de Outubro de 1998. Com total abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do Índice. As Actas deste Simpósio, foram anos depois reunidas e apresentadas ao público, sob forma de livro contendo 783 paginas, intitulado originalmente de “L’Inquisione” pelo historiador Agostinho Borromeo, professor da Universidade de La Sapienza de Roma.

As actas documentais do Simpósio já foram utilizadas em várias obras de historiadores, e continuam a ser pois tais documentos resultaram duma profunda pesquisa sobre os dados de processos inquisitórias. As afirmações seguintes foram feitas pelo historiador Agostinho Borromeo.

Sobre a “famigerada e terrível” Inquisição Espanhola

“A Inquisição na Espanha emitiu, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.”

Sobre as famosas “caças as bruxas”

“Dos 125.000 processos da sua história [tribunais eclesiásticos], a Inquisição espanhola condenou à morte 59 “bruxas”. Em Itália, 36 e em Portugal 4.”

E a propaganda de que “foram milhões”

Constatou-se que os tribunais religiosos eram mais brandos do que os tribunais civis, tiveram poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que mataram milhares de pessoas.

Sentenças de uma famoso inquisidor

“Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canónicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 “entregas ao braço secular” ([citado em] AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1 ed. Cleofas. Lorena. 2009, p. 23).

O Simpósio conclui que as penas de morte e os processos em que se usava a tortura, representam números pouco expressivos, ao contrario do se imaginava e foi propagado. Os dados são uma verdadeira demolição e extirpação de muitas ideias falsas e fantasiosas sobre a Inquisição.

“Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da Inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate encaminhou-se para o ambiente histórico com estatísticas sérias.” (Historiador Agostinho Borromeo, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998).

É bom que tudo isto tenha mudado a forma de olhar para a Inquisição  é sinal de esperança. Tomara que haja uma nova reconstrução “hermenêutica”, é um necessidade histórica. Que com uma justa crítica acurada, se superem as ambiguidades historiográficas.

É pena que as correntes históricas se pendurem aos teóricos antigos. Os "conceituados” continuam a ser as referencias “fidelíssimas” na prática pedagógica e histórica; seja superior (académica) ou média e fundamental (ensinos públicos), continua a ritualista tradição a-histórica, não transparente sobre os acontecimentos e de tom alienado, incluindo dentre destes, muitos estudiosos, professores, e jornalistas. “Há milhões de pessoas que odeiam o que erradamente supõem que seja a Igreja Católica.” (John Fulton Sheen, Bispo americano).

Referências:

AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1º ed. Cleofas. Lorena. 2009.

DEVEVIER, W. A Historia da Inquisição, curso de apologética cristã. Melhoramentos, São Paulo, 1925.

L’INQUISIONI. Atas do Simpósio sobre a Inquisição, 1998.

PERNOUD, Régine. A Idade Média: Que não nos ensinaram. Ed. Agir, SP, 1964.

ROPS. Henri-Daniel. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Vol. III. Ed. Quadrante, São Paulo. 1993.

adaptado de veritatis.com.br


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4 comentários:

Unknown disse...

Quem é o autor do texto?

João Silveira disse...

Ja acrescentei. Obrigado pela lembrança.

Unknown disse...

Só curiosidade. abr

pedro disse...

Recomendo este documentário da bbc https://youtu.be/CY-pS6iLFuc

sobre a inquisição espanhola (1994)

Que reafirma os dados que aqui estão